sábado, 30 de setembro de 2017
Crônica.U.003.Um amor especial - Jéssica Gardner
Quando Jéssica veio ao mundo, trazia a cabeça amassada e os traços deformados, devido ao parto difícil vivido por sua mãe. Todos a olhavam e faziam careta, dizendo que ela se parecia com um jogador de futebol americano espancado. Todos tinham a mesma reação, menos a sua avó. Quando a viu, a tomou nos braços, e seus olhos brilharam. Olhou para aquele bebê, sua primeira netinha e, emocionada, falou: "linda." No transcorrer do desenvolvimento daquela sua primeira netinha, ela estaria sempre presente. E um amor mútuo, profundo, passou a ser compartilhado. Quando a avó recebeu o diagnóstico, anos depois, de mal de Alzheimer, toda a família se tornou especialista no assunto. Parecia que, aos poucos, ela ia se despedindo. Ou eles a estavam perdendo. Começou a falar em fragmentos. Depois, o número de palavras foi ficando sempre menor, até não dizer mais nada. Uma semana antes de morrer, seu corpo perdeu todas as funções vitais e ela foi removida, a conselho médico, para uma clínica de doentes terminais. Jéssica insistiu para ir vê-la e seus pais a levaram. Ela entrou no quarto onde a avó nana estava e a viu sentada em uma enorme poltrona, ao lado da cama. O corpo estava encurvado, os olhos fechados e a boca aberta, mole. A morfina a mantinha adormecida. Lentamente, Jéssica se sentou à sua frente. Tomou a sua mão esquerda e a segurou. Afastou daquele rosto amado uma mecha de cabelos brancos e ficou ali, sentada, sem se mover, incapaz de dizer coisa alguma. Desejava falar, mas a tristeza que a dominava era tamanha, que não a conseguia controlar. Então, aconteceu... A mão da avó foi se fechando em torno da mão da neta, apertando mais e mais. O que parecia ser um pequeno gemido se transformou em um som, e de sua boca saiu uma palavra: "Jéssica." A garota tremeu. O seu nome. A avó tinha 4 filhos, 2 genros, uma nora e seis netos. Como ela sabia que era ela? Naquele momento, a impressão que Jéssica teve foi que um filme era exibido em sua cabeça. Viu e reviu sua avó nos 14 recitais de dança em que ela se apresentou. Viu-a sapateando na cozinha, com ela. Brincando com os netos, enquanto os demais adultos faziam a ceia na sala grande. Viu-a, sentada ao seu lado, no natal, admirando a árvore decorada com enfeites luminosos. Então Jéssica olhou para ela, ali, e vendo em que se transformara aquela mulher, chorou. Deu-se conta que ela não assistiria, no corpo, ao seu último recital de dança, nem voltaria a torcer com ela pelo seu time de futebol. Nunca mais poderia se sentar a seu lado, para admirar a árvore de natal. Não a veria toda arrumada para o baile de sua formatura, ao final daquele ano. Não estaria presente no seu casamento, nem quando seu primeiro filho nascesse. As lágrimas corriam abundantes pelas suas faces. Acima de tudo, chorava porque
finalmente compreendia como a avó havia se sentido no dia em que ela nascera. A avó olhara através da sua aparência, enxergara lá dentro e vira uma vida. Então, lentamente, Jéssica soltou a mão da avó e enxugou as lágrimas que molhavam o seu rosto. Ficou de pé, inclinou-se para a frente e a beijou. Num sussurro, disse para a avó: "você está linda."
Se desejas ensinar a teu filho o que é o amor, demonstra-o. Não lhe negues a carícia, a atenção, a palavra. O que faças ou digas é hoje a semeadura farta de bênçãos que o mundo colherá, no transcurso dos anos dos teus rebentos. E o mundo te agradecerá, por teres sido alguém que entregou ao mundo um ser que saiba amar, de forma incondicional e irrestrita. Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. Linda, de autoria de Jéssica Gardner, do livro Histórias para aquecer o coração dos adolescentes, de Jack Canfield, Mark
Crônica.U.002.Uma sólida amizade - William J.Bennett
No século IV A C., em Siracusa, na Sicília, havia dois amigos inseparáveis. Nada havia que um não fizesse pelo outro. Certo dia o rei de Siracusa, Dionísio, aborreceu-se ao tomar conhecimento de certos discursos que Pítias vinha fazendo. O jovem pensador andava dizendo ao público que nenhum homem devia ter poder ilimitado sobre outro. E que os tiranos absolutos eram reis injustos. Presos ambos os amigos, Pítias reafirmou perante a autoridade real as suas idéias. O que dizia ao povo era a verdade e portanto a sustentaria, custasse o que custasse. Acusado de traição, Pítias foi condenado à morte. Como seu último desejo, pediu ao rei que o deixasse dizer adeus à sua mulher e filhos e por os assuntos domésticos em ordem. Dionísio riu do desejo do condenado. "Vejo que além de injusto e tirano, você também me considera um tolo. Se sair de Siracusa, tenho certeza que nunca mais voltará", disse o rei. Foi nesse momento que Damon adiantou-se e ofereceu-se como garantia. Ficaria em Siracusa como prisioneiro, até o retorno do amigo. "Pode ter certeza de que Pítias voltará. Nossa amizade é bem conhecida. Eu ficarei aqui." Ainda um tanto desconfiado, Dionísio examinou os dois amigos. Alertando Damon que, se Pítias não voltasse, ele morreria em seu lugar, aceitou a oferta. Pítias partiu e Damon foi atirado na prisão. Muitos dias se passaram. Pítias não voltava e o rei foi verificar como estava o ânimo do prisioneiro. Estaria arrependido de ter feito o acordo? "Seu tempo está chegando ao fim", sentenciou o rei de Siracusa. "será inútil implorar misericórdia. Você foi um tolo em confiar em seu amigo. Achou mesmo que ele voltaria para morrer?" Com firmeza, Damon respondeu: "é um mero atraso. Talvez os ventos não lhe tenham permitido navegar. Talvez tenha tido um imprevisto na estrada. Guardo a certeza que, se for humanamente possível, ele chegará a tempo." Dionísio admirou-se da confiança do prisioneiro. Chegou o dia fatal. Damon foi retirado da prisão e levado à presença do carrasco. Lá estava o rei, sarcástico, gozando sua vitória. "Parece que seu amigo não apareceu. Que acha dele agora? " Perguntou. "É meu amigo. Confio nele", foi a resposta de Damon. Nem terminara de falar e as portas se abriram, deixando entrar Pítias cambaleante. Estava pálido, ferido e a exaustão lhe tirava o fôlego. Atirou-se nos braços do amigo. "Graças aos céus, você está vivo" - falou soluçando. "parece que tudo conspirava contra nós. Meu navio naufragou numa tempestade. Depois, bandidos me atacaram na estrada." Recusei-me, contudo, a perder a esperança e aqui estou. Estou pronto para cumprir a minha sentença de morte." Dionísio ouviu com espanto as palavras. Era-lhe impossível resistir ao poder de tal lealdade.
Emocionado, declarou: "a sentença está revogada. Jamais acreditei que pudessem existir tamanha fé e lealdade na amizade. Vocês mostraram como eu estava errado. É justo que ganhem a liberdade. Em troca, porém, peço um grande auxílio." "Que auxílio?" Perguntaram os amigos. "Ensinem-me a ter parte em tão sólida amizade."
Amizade é mais que afinidade. Envolve mais que afeição. As exigências da amizade - franqueza, sinceridade, lealdade incondicional e auxílio a ponto do sacrifício - são estímulos poderosos para o amadurecimento moral e o enobrecimento. A amizade genuína requer tempo, esforço e trabalho para ser mantida. A amizade é algo profundo. De fato, é uma forma de amor.
Crônica.U.001.Um Amigo - Danusa Leão
Eu quero ter um amigo que não saiba de nenhuma dessas coisas que todo mundo acha que tem de saber. Que aprecie um bom prato, mas que não tenha conhecimentos sobre a alta gastronomia e que nunca tenha ouvido falar no restaurante El Bulli. Esse homem deve ser tão mal informado que nem sabe que existem pessoas que pagam a outras pessoas para escolher móveis, quadros, tapetes, objetos e lençóis da casa onde vão morar.
Na sala desse homem devem existir apenas uma estante, um sofá e uma poltrona forrados do mesmo tecido, talvez um abajur de pé e um piano com uma flanela sobre as teclas. Não que ele saiba tocar, é apenas o piano da família que foi ficando porque ninguém mais quis (e quando alguém passa levanta a tampa e pressiona uma ou duas teclas assim, para nada, no máximo toca o bife). Faz bem
ter um piano numa casa.
Crônica.R.003.REENCONTRO - EDNA FEITOSA
Estamos distantes demais
Embora nos esbarrando a todo instante...
Por favor, vamos conversar um pouquinho?
Se nos for dada a responsabilidade
De nos ouvirmos mais
Será muito melhor pra nós ...
Isso! Fiques aqui, sem pressa...
Tu colocas uma flor em meu cabelo
Eu coloco uma em teu bolso
Assim... numa responsável inocência...
E conversaremos horas a fio
Sem vermos o tempo passar...
Te falarei espontaneamente
Dos meus castelos de areia
Ou dos planos que tenho
Para daqui a mil anos.
Comentarei sobre as utopias que imaginei
E que me trazem alegria sincera de vida.
Depois nos sentaremos numa nuvem
E eu te falarei da saudade...
Ah, saudade!... Nobre sentimento
Que retrata o amor, a dor e o desejo de reencontro.
Voltaremos no tempo e no espaço...
Viveremos vidas e lutas do passado
E seremos um, presentes em plena sintonia.
Entenderei de tua vida
Coisas que somente tu sabes
E te farei presente de todo o valor
Que a vida me deu:
As flores sempre-vivas
E os sulcos profundos, marcados
Por falhas bastante úteis...
Compreenderemos juntos que em todo amor
Deixamos um pedaço fundamental de nós...
Numa entrega total
Ainda que etérea, tantas vezes...
Reservaremos num lugar do coração
Um escrínio de luz
Com os pedaços de todos
Os que se fizeram nossos...
E muitos dos nossos próprios pedaços...
Finalmente nos sentaremos mais perto...
E não diremos nada!
Permaneceremos num silencioso abraço
Certos de que, se semeamos ou entregamos
Algum pedaço pernicioso de nós
Foi por completo descuido
Mas nunca por ausência de diálogo,
Nunca por omissão ou intenção...
...E assim, nessa entrega sem reservas
Nessa sintonia onde o silêncio diz mais que as palavras,
Nesse abraço quieto, forte e sereno
Nesse entendimento mudo, consumado
Sentiremos que fomos capazes de concretizar
A alegria desse tão sonhado e necessário reencontro!
Crônica.R.002.RIFA-SE UM CORAÇÃO - CLARICE LISPECTOR
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que
Tim Maia estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva
a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste
em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que abre
sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.
Crônica.R.001.REGRAS BÁSICAS - LISIÊ SILVA
Regras
básicas para ser Feliz
com alguém que é indispensável
para você...
Aceitar a pessoa como ela é...
e não querer mudá-la... Lembre-se: ninguém é perfeito para ninguém. Evitar os ciúmes.
Não pensar nele com outra,
se ele está com você,
É porque você é importante para ele.
E quando você sentir ciúmes,
lembre-se o quanto ele é indispensável para você.
O quanto você é feliz quando está com ele
e o quanto sofre quando não está com ele.
Elogiá-lo, destacar seus pontos positivos,
ninguém gosta que lhe apontem
os erros, os defeitos, o que ele tem feito de ruim.
o que te magoou.
Leve a situação com calma, tranqüilidade...
sem cobranças, sem ansiedades,
sem acusações...
esteja sempre calma, tranqüila e alegre.
Se ele consegue ser assim,
Porque você não?
Dê sempre uma boa impressão a ele,
pois ele sempre faz assim com você...certo?
Faça com que sua vida transcorra normalmente,
não deixe de fazer nada no seu dia-a-dia,
para ficar disponível caso ele te ligue,
Lembre-se, pode ser uma espera inútil,
se ele não te ligar.
Evite fazer convites,
espere que ele os faça.
Mantenha-se sob controle,
controle sua saudade, seus impulsos,
e controle principalmente seus pensamentos.
Controle seu ciúme. Não fique imaginando coisas.
Não fique deprimida...controle a tristeza...
Telefone de surpresa de vez em quando,
ele vai gostar. Mas seja sutil.
Mande mensagens.
Demonstre seu amor de forma carinhosa,
sempre que estiver com ele.
Mas sem sufocá-lo.
E para você conseguir fazer tudo isso,
lembre-se de quando vocês terminaram,
dos dias que você não teve nenhum
contato com ele...
as lembranças, a saudade, o sofrimento...
quase que você não sobreviveu.*rs
Lembre-se que ele também sofreu muito,
esperou por você...
Ele quer se sentir amado,
ele quer que você o procure,
ele quer que você se declare para ele.
Demonstre seu amor sempre,
em tudo...não economize amor.
Amar de verdade é dar Amor a alguém,
não queira só receber Amor.
Porque Amar é fazer o outro feliz...
sendo assim invariavelmente
você será feliz também.
Aprenda isso enquanto é cedo...
Se você acha que ele é realmente
o Homem que você sempre procurou,
que você esperou a vida inteira...
Então não deixe que os problemas
atrapalhem seu relacionamento.
Siga essas regras para não se arrepender depois...
Não deixe para descobrir isso quando já for tarde demais.
Porque se você o perder, não terá como reconquistar
o que foi perdido...
Se você tem hoje uma pessoa que você ama,
saiba conduzir este relacionamento
da melhor forma possível...
Não tenha medo de ser feliz...
M.024.Meu amigo internauta - Mariza Almeida
Uma palavra carinhosa, um consolo...
A sensação de um carinho sincero,
A ilusão da presença,
A explosão da alegria...
Uma cumplicidade infinita,
nos sonhos do dia a dia...
Que importa a distância??
És a presença constante
Nas emoções da minha vida...
Um dia, quem sabe, o destino caprichoso,
que na geografia nos separou,
possa nos colocar frente a frente...
Pra num momento sublime,
selar a amizade que ele mesmo criou...
M.023.Murmúrio - Cecília Meireles
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!
M.022.Mulher - Bruno Kampel
Não quero uma mulher
que seja gorda ou magra
ou alta ou baixa
ou isto e aquilo.
Não quero uma mulher
mas sim um porto, uma esquina
onde virar a vida e olhá-la
de dentro para fora.
Não espero uma mulher
mas um barco que me navegue
uma tempestade que me aflija
uma sensualidade que me altere
uma serenidade que me nine.
Não sonho uma mulher
mas um grito de prazer
saindo da boca pendurada
no rosto emoldurado
no corpo que se apoie
nas pernas que me abracem.
Não sonho nem espero
nem quero uma mulher
mas exijo aos meus devaneios
que encontrem a única
que quero sonho e espero
não uma, mas ela.
E sei onde se esconde
e conheço-lhe as senhas
que a definem. O sexo
ardente, a volúpia estridente
a carência do espasmo
o Amor com o dedo no gatilho.
Só quero essa mulher
com todos seus desertos
onde descansar a minha pele
exausta e a minha boca sedenta
e a minha vontade faminta
e a minha urgência aflita
e a minha lágrima austera
e a minha ternura eloqüente.
Sim, essa mulher que me excite
os vinte e nove sentidos
a única a saber
o que dizer
como fazer
quando parar
onde Esperar.
Essa a mulher que espero
e não espero
que quero e não quero
essa a mulherportoesquina
que desejo e não desejo
que outro a tenha.
Que seja alta ou baixa
isto ou aquilo
mas que seja ela
aquela que seja minha
e eu seja dela
que seja eu e ela
euela eu lá nela
que sejamos ela.
E eu então terei encontrado
a mulher que não procuro
o barco, a esquina, Você.
Sim, você, que espreita
do outro lado da esquina, no cais,
a chegada do marinheiro
como quem apenas me espera.
Então nos amarraremos sem vergonha
à luz dos holofotes dos teus olhos,
e procriaremos gritos e gemidos
que iluminarão todas as esquinas.
Será o momento de dizer
achei/achamos amei/amamos
e por primeira vez vocalizar o
somos, pluralizando-nos
na emoção do encontro.
M.021.Motivo - Cecília Meireles
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
nada mais!
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