E.059.Enchente - Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Tudo pode ceder à água da chuvarada
à água da enxurrada:
pedra, argamassa, cimento/
concreto,
tudo pode ceder
à sua fúria
insana.

As águas de verão
levam objetos, pessoas,
dejetos, veículos,
lavam fundo a sujeira das ruas,
elevam à superfície tudo que é
mais leve
que sua massa fluída.

Se há enchente,
perde-se as boas maneiras,
saias são levantadas,
gritos se desprendem das
gargantas
e são tantas
as perdas, as queixas, as dores,
que tudo mais parece relativo.

Só o aguaceiro é absoluto.
Rivalizam com ele, apenas
as lágrimas das vítimas,
rolando sem cessar
pela terra dos rostos
perplexos.

E.058.Elogio da pedra - Clevane Pessoa de Araújo Lopes

A pedra não se move
apenas na aparência...
não se move, não se modifica,
obstrui o caminho,fere...
no entanto,no decorrer das eras
a pedra lentamentissimamente
caminha sem a pressa dos viventes...
a cada século, ostenta suas cicatrizes
causadas pelos viventes
pelas intempéries
por qualquer impressão
em sua superfície...
ensina aos viventes
a soberba a humilde arte
de aprender a contornar
para alcançar desejos ou necessidades...
tantas e quantas vezes a pedra que feriu
a pedra que matou
foi apenas instrumento de defesa?
Ah, a pedra semovesemovesemove...
a pedra terá novas faces qualquer dia
a pedra estava um dia no caminho do poeta
como esteve um dia no caminho
do homem da pedra.

E.057.Eu sou, eu tenho, eu faço - Celito Medeiros

Sinto saudade do tempo que passa
Das coisas boas que foram
E quero tudo de novo.
Renovo, invento e prossigo
Buscando um mero abrigo
No tempo que vivo e revivo.
Gostei do que fiz
Mas faço mudanças
Que corto pela raiz
Nas minhas andanças.
Por que dizer
Que sempre fui certo?
Não, não mesmo...
Deslizei, sucumbi
E feito um certo zumbi
Acordei para a realidade.
Ainda que passe o tempo
Agora mais livre
Mais atento, reinvento...
O Tempo
A massa
O silêncio.
O espaço
A energia
O movimento!
Eu infinito
Aprecio tudo
A vida
A existência...

E.056.Esperei - Celito Medeiros

Um dia imaginei que você existiria
Um dia sonhei com sua imagem
Postulei que ao mundo viria
Uma mulher cheia de coragem.
De fato não me enganei
Aí está e não deu pane
A filha que me alegrei
Tem o nome de Adriane.
Pensei ter um genro
Surgiu como uma pluma
Um sujeito ainda tenro
Que atende por de Luna.
Desculpe se insisto
Mas aguardo pelas crias
E disto não desisto
Pois me darão alegrias.
Não importa se demora
Pois ainda não é tempo
Aguardarei como outrora
Faça sol, chuva ou vento.
Portanto vão trabalhando
Lorota não dá em nada
Já estarei esperando
Para agradecer minha fada.
Que me traga a este mundo
Um ser de grande qualidade
Pois o meu sonho profundo
Que vire logo realidade!

E.055.Esperando netos - Celito Medeiros

Venha numa noite serena
Convidar minha filha morena
Para sair e passear.

Leve para a noite
Curitibana
Esta linda prenda
Pois fiz dela a oferenda
Do meu mais belo exemplar.

Já está muito apaixonada
Por um certo ladrão
Que roubou seu coração
E logo a verei casada.

Mas ele é um bom Caudilho
Trará muita felicidade
Já o tenho como um filho
E dela terei saudade...

Sigam adiante meus
afetos!
Que bom estarem se amando
Só não esqueçam meus netos
Que vou ficar esperando.

E.054.Era uma prisão - Celito Medeiros

Saí da toca
Deixei a dormência
E sem paciência
Corri para o longe.
Abandonei minha praça
Que por tanto tempo
Foi minha prisão.
Bati cabeça
Em lugares danados
Com povoados
Sem ter um amigo
Por isso eu digo
Estou de volta.
É aqui minha vida
Não outros lugares
Pois por longos mares
Naveguei por um tempo.
Chequei tudo à volta
Encontrei dissabores
Nem mesmo os amores
Conseguiram o encanto.
Encantei-me com o mundo
Mas digo no fundo
Não existe prisão!

E.053.Enraivecido - Celito Medeiros

Explode a bomba
Retumba o sibilo
Que corta a carne.
Empalidece o dia
Sacode na fúria
A vida sublime.
Num arremesso
Gesto grotesco
Que fere e pune.
Em desalento
Corta o vento
Espalha o medo.
Diz que vence
Mas tudo perde
E nada percebe !

E.052.E o que vem? - Celito Medeiros

Se tropeço
Insisto
Caio
Levanto
Sigo.
Desejo
Procuro
Às vezes alcanço.
Nem sempre venço
Sempre luto
Sem luto enterro.
O fracasso
O sonho..
Parto
Sem dor
Sem queixa
Sem lamento.
Apenas suporto
Tudo o que passa.
Só então
Se vai a noite
O escuro se vai.
Amanhece
Vem o sol
O que foi
Lá fica.
Já tudo vem
O novo, de novo
Aceito!

E.051.É bom sonhar - Celito Medeiros

Ah! Doce imaginação...
Em quantos caminhos me tem colocado?!
Por quantos feitos esteve ao meu lado?
Andei pelos reinos de outrora
senti o amor e a discórdia
lutei por tantos ideais.
Estive no futuro distante
Voei pelos ares
solto, feito viajante.
Ah! Doce imaginação!
Tem-me feito forte quando fui fraco
Segurou-me pelas alças da persistência
e não me deixou na ignorância.
Fincou-me os pés no presente
Mostrou-me tudo de fato
o que é vida, o que é sonho!
Aqui estou
querendo mais
e mais...
O quanto mais posso esperar?
Posso?!
Mas, qual é a conta?
Nada!
É só chamar?
Então venha...
Mas para ficar!

E.050.Espera-me - Carolin@

Prepara com esmero minha chegada,
Enche de guizos os portais por onde eu vou passar.
Abre as janelas de tu´alma apaixonada,
Pinta de cores este teu peito onde vou morar!!!
Tenho pressa...
Vou correndo, quero tanto te encontrar!
Braços abertos, ansiosa,
depressa quero chegar...
No teu abraço, delirante mergulhar.
No teu recanto quero ver o sol nascer,
chuva miúda, lua cheia, entardecer,
canto de pássaros, sinfonias, madrigais,
Festa de cores,
Toques, beijos, cheiros e odores,
Corpos se amando, inventando,
loucos folguedos matinais...
Espera-me!!
Estou chegando...
Prepara-me o teu sorriso,
Deixa-me ver o brilho sedutor de teu olhar,
Abre-me os braços e me acolhe docemente,
Em meus ouvidos tua voz a murmurar
Enfim chegaste...!!!
Vamos comer
do fruto pronto, maduro,
nova semente
que o nosso orvalho vai germinar !!
Cheguei,
o amor em festa de tua amada
será nossa morada !!