segunda-feira, 29 de março de 2021

B.020.Beijo - Andréa Borba Pinheiro


Quando os lábios se tocaram, não restou dúvidas,
não restou razão, sobrou emoção e amor.
A aproximação tímida, tornou-se íntima,
convidativa, irrecusável.

Toda as dúvidas e apreensões de ambos evaporaram.
Corpos próximos, coração acelerado,
respiração entrecortada,
olhos fechados.

Línguas em uma suave carícia,
linda, lenta, interminável.
Medo, satisfação, loucura.
O definido confundiu-se,
e o confuso, definiu-se.

Era tudo incerto,
nublado, embaçado.
Todavia, correto.
Feio? Pecado? Vulgar?
Não... nada disso... era amar!!...

Desculpa.

Por todas as besteiras que fiz,
Pelas vezes que menti,
Pelas outras bocas que beijei,
Pelos " eu te amo " que te falei.
Por todas as situações constrangedoras,
Pelas vezes que te enforquei mentalmente,
Pelas outras pessoas que ouvi,
Pelos desaforos que a ti desferi.
Por todas as palavras rudes,
Pelas vezes que não te amei o máximo que pude,
Pelas outras brigas que tivemos,
Pelos incontáveis dias a partir de hoje, nos quais, não nos veremos.
Por todas as verdades que omiti,
Pelas vezes que passaste a noite em claro, pensando em mim,
Pelas outras noites que tentaste me abraçar, e te repeli,
Pelos erros que cometi.
Por todos os equívocos,
Pelas vezes que te neguei um afago,
Pelas outras idiotices que fiz assim, sem pensar,
Pelos sentimentos, pelo amor que um dia nos uniu.
Por saber.
Pelas vezes que não quis saber.
Pelas outras vezes que você precisava saber,
E eu não contei.
Por estar longe.
Pelas vezes que te enganei... dizendo que estaria aí com você.
Pelas outras vezes que sonhei...
Pelos sonhos impossíveis que idealizei e não tive coragem de realizar.
Escuta, eu sei que você não vai entender...
Nunca vai entender...
Mas eu fui racional perante a cegueira da paixão,
Amor, eu feri, para poder proteger o teu coração.
Lembra de mim, tá?...
Quando você estiver em casa, sentado com a sua esposa,
Com os filhinhos correndo de um lado ao outro...
Lembra de mim, como alguém que te amou mais que a si mesma.
E, por favor...
Desculpa.

B.022.Bilhete em Papel Rosa - Adélia Prado


A meu amado secreto, Castro Alves.

Quantas loucuras fiz por teu amor, Antônio.
Vê estas olheiras dramáticas,
este poema roubado:
"o cinamomo floresce
em frente ao teu postigo.
Cada flor murcha que desce,
morro de sonhar contigo".
Ó bardo, eu estou tão fraca
e teu cabelo tão é negro,
eu vivo tão perturbada, pensando com tanta força
meu pensamento de amor,
que já nem sinto mais fome,
o sono fugiu de mim. Me dão mingaus,
caldos quentes, me dão prudentes conselhos,
eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido,
a tua boca de brasa, Antônio, as nossas vias ligadas.
Antônio lindo, meu bem,
ó meu amor adorado,
Antônio, Antônio.
Para sempre tua.

B.021.Beijo de Borboleta - Ana Paula Pedro


Pêlos curvos e aveludados
como beijo de borboleta
como as curvas de nossos corpos
como pêlos que se tocam
Fecham-se.

Viva, projeto minha língua e sinto
Sinto muito!
o calor de tua boca
o toque de teus lábios
a força de teus dentes
pálidos como as pontas de tuas unhas
que rasgam minhas costas
tornando vermelho sangue,
a palidez da minha existência.

Abro meus braços
mordo meus lábios
cedo meu gozo
tremo meus olhos
treme meu ventre em busca de mais.
Ofereço-lhe o leite ao sugar meus seios.
Ah! Teu cheiro
essência de divino sabor
A água dos sedentos
Salivo
encontro de águas
Lágrima que lava meus pêlos
Abre meus olhos
Te reconheço.
Me reconheço,
Tua .

B.019.Barca dela - Almeida Garret


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela, Oh pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela, Oh pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela, Oh pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la, Oh pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela Oh pescador!

B.018.Balada Quase Metafísica - Abgar Renaut


Eu estou assim:
absolutamente irremediável
por dentro e por fora, acordado ou dormindo
na Duração, no Tempo e no Espaço.
Eu estou assim:
sem cômodo comigo, sem pouso, sem arranjo aqui dentro.
Quero sair, fugir para muito longe de mim.
Todas as portas e janelas estão irrevogavelmente trancadas
na Duração, no Tempo e no Espaço.
Que é que eu vou fazer?
Não fica bem, assim sem mais nem menos, falecer.
Queria rezar, mas eu sou isto, meu Deus!,
e da minha reza, se reza fosse,
não ouvirias uma só palavra.
Tem pena, uma pena bem doída de mim,
meu Deus, e ouve para sempre esta oração,
e ampara isto que sou eu
a Duração, no Tempo e no Espaço.

B.017.Balada dos casais - Affonso Romano de Sant'anna


Os casais são tão iguais,
por isto se casam
e anunciam nos jornais.
Os casais são tão iguais,
por isto se beijam
fazem filhos, se separam
prometendo
não se casarem jamais.
Os casais são tão iguais,
que além de trocar fraldas,
tirar fotos, acabam se tornando
avós e pais.
Os casais são tão iguais,
que se amam e se insultam
e se matam na realidade
e nos filmes policiais.
Os casais são tão iguais,
que embora jurem um ao outro
amor eterno
sempre querem mais.

B.016.Balada da Irremediável Tristeza - Abgar Renaut


Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...

Eu hoje estou inabitável...
A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...

A.180.Ato de amar - Angela Bretas


Sentir na pele a paixão explodir
Num êxtase sem igual
Dois corpos unidos
Trêmulos de ardor
Duas vidas entregues
Sem receio
Ou pudor
Ao ato total
Loucuras do amorPrazer e ternura
Fortemente presente
Duas almas tão puras
Indecentes
Inocentes
Carentes
Entregues ao ato de completa fissuraRespiração ofegante
Gemidos ocultos
Suor escorrendo
Pele ardente
Latejante
PulsanteA sensação que se sente
Que momentos assim
Repletos de tamanha emoção
Só acontecem
Plenamente
Realmente...
quando o amor está presente!

A.179.Aprendizado Constante - Ângela Bretas


Procuro nas nuvens,
decifrar o tempo...
Busco na brisa,
o carinho de um afago...
Encontro no sol,
raios de luz..
Reconheço na natureza,
reflexos de paz...
Espero que o dia,
me mostre um caminho...
Anoitece
Procuro na lua,
decifrar a beleza...
Busco nas estrelas,
a certeza de tudo...
Encontro no universo,
um cantinho secreto...
Reconheço no ar,
a certeza da vida...
Espero que a noite,
me presenteie com um novo amanhecer...

A.178.Apaga-me de ti - Andréa Borba Pinheiro


Apaga da tua memória os beijos que te ofereci.
Apaga do teu coração os carinhos que te dei.
Apaga de você todo o riso que contigo ri.
Apaga tudo, pois você foi embora, e eu fiquei.

Apaga o desenho no teu armário.
Apaga o "Eu e você" nele escrito.
Apaga minha imagem de todos os lugares.
Apaga as palavras carinhosas que eu havia dito.

Apaga do teu peito arfante os sentimentos de amor.
Apaga do teu braço a tatuagem com meu nome.
Apaga, mesmo que mentalmente,
O semblante do meu rosto no teu subconsciente.

Apaga e passa a borracha em tudo que passamos.
Pois foi tudo escrito à lápis.
Tínhamos medo de errar,
e escrevemos assim... somente coisas inúteis.