segunda-feira, 31 de maio de 2021

E.090.Eu e voce - Andrea Borba Pinheiro


De repente, envolto em chamas,
Meu corpo precisa do teu.
Meus poros transpiram, minha mente se assanha,
E não sei mais o que fazer sem teus lábios nos meus.

Penso em nós dois...
E que tristeza...estás tão longe!
Fico aqui no meu canto, deixo tudo pra depois...
E penso nos nossos dias juntos...em um único instante!

Não sei descrever o que sinto por você,
Ora, fogo que queima,
Ora, carinho delicadeza, bem querer,
Ora, choro que não deixo cair...
Mas ele teima em rolar!

E me encontro derrotada
Arrasada, dilacerada, apaixonada...

Se tivesses noção do quanto te amo...
Se não te vejo hoje...choro!
Amanhã...morro!
Vou afundando cada vez mais,
nesse poço de te amar...

Minha vida e meus dias,
se tornam tão lindos com você...
Inspirando você,
expirando você,
querendo você!

Teus lábios, não posso beijar,
muito menos teu corpo abraçar.
Só me resta mesmo, te amar!
E cumprirei minha pena,
presa no teu coração,
sem reclamar.

Irei tocar-te o rosto, ao dormires,
e dar-te o melhor beijo que já provastes!
Com carinho...devagar...
E com ousadia, tocar-te.
" sonhando "...

Brincar com o teu cabelo,
dar um novo significado à amor.
Descansar, dormir, com o rosto recostado em teu peito.
Ir com você, pra onde você for...
" sonhando... "

E.089.Estorinha de Rubem Braga - Affonso Romano de Sant'anna


Rubem Braga não era de falar muito. Em geral, pontuava as conversas alheias com observações precisas e irônicas feitas com a cara mais séria do mundo.
Mas, vez por outra, punha-se a falar. Era raro, mas punha-se a falar seqüencialmente sobretudo quando tinha uma estória a contar.
Estávamos num bar com Moacyr Werneck de Castro, Doc Comparato e Ziraldo, quando o velho Braga começou a narrar essa insólita estória de amor.
Vivia ele lá em Cachoeiro do Itapemirim. E entre as professoras que teve na escola primária, uma, sobretudo, ficou para sempre em sua memória.
Vamos chamá-la de Violeta Tímida. Não que esse não fosse o seu nome. Era mais que isto, era o seu pseudônimo. E nós sabemos que o pseudônimo escolhido pode revelar muito mais que o nome imposto a uma pessoa. O pseudônimo expressa a alma.
Pois dona Violeta, a Tímida, porque era tímida e tinha a delicadeza da violeta, cansada de esperar pelo príncipe que viesse num corcel branco para arrebatá-la em seus braços, resolveu tomar uma atitude prática.
O que era atitude prática naquele tempo em que a moça tinha que pescar namorado e marido passivamente da janela de sua casa ou na saída da missa?
A atitude mais ousada era arranjar um correspondente. Uma pessoa de longe, descoberta numa dessas seções tipo "Corações solitários", que as revistas publicavam. Era tudo muito romântico mas também funcionava. Funcionava talvez mais do que as seções das revistas e jornais que hoje articulam encontros de amantes, revelando logo as medidas físicas de cada um e as pirotecnias que sabem fazer na cama. Naquele tempo o amor era espiritual e começava de longe. Trabalhava-se primeiro a aproximação das almas e, depois, a dos corpos.
Violeta Tímida botou seu nome no Jornal das Moças revelando que estava desejosa para corresponder-se com um cavalheiro de tais e tais qualidades. E apareceu-lhe um.
Era um moço lá de Blumenau. E começaram a se corresponder. Em pouco tempo a cidade sabia que a professora Violeta estava se correspondendo seriamente com um rapaz do Sul. E carta vai, carta vem, a relação foi ficando séria. Evidentemente já haviam trocado retratos. Feitas as primeiras aproximações puramente sentimentais, era hora de o corpo começar a aparecer.
Violeta Tímida julgou que seria melhor apresentar um retrato à altura de sua alma. Pediu ao fotógrafo para retocar aqui e ali a sua foto. Não podia decepcionar o candidato.
Como naquele tempo casamento era um ritual bem mais complexo e como morassem os noivos um longe do outro, os padrinhos começaram a servir de intermediários. Eram eles um deputado de Cachoeiro do Itapemirim, terra da noiva, e outro deputado de Blumenau, terra do noivo. O namoro, então, prosseguia não apenas através das cartas, mas através dos dois parlamentares.
Mas o amor era tanto, que o noivo do Sul, antes de casar, foi conhecer a noiva em pessoa. Aí, o choque, a grande decepção. Descobriu que o original não combinava muito com a foto que recebera e resolveu cancelar tudo.
Imagine-se o trauma para a tímida alma de Violeta. Mas o deputado padrinho da noiva não se conformou. Foi atrás do noivo e lhe disse:
- Que estória é essa que o senhor não quer mais se casar com dona Violeta? Ela não pode ficar lá em Cachoeiro desonrada desse jeito. Ou casa ou leva bala.
O rapaz do Sul apressou-se logo a dizer que tinha havido um mal-entendido, que, ao contrário, estava até desejoso de se casar.
Mas o deputado, acostumado às mumunhas dos acordos políticos, foi logo adiantando:
- Falar não basta. Quero ver isto dito lá na igreja. E tem o seguinte, se no altar quiser voltar atrás, também leva bala.
O resultado foi que se casaram. Casaram-se na terra do noivo.
Mas depois de casados, o deputado ainda disse:
- Agora temos que ir para o Espirito Santo, porque a moça não pode chegar lá assim, tem que haver festa e tudo mais.
Resultado: trinta anos depois, Rubem Braga encontrou a sua ex-professora numa cidade do Sul. Era uma bela e sólida senhora, felicíssima. Até mais bonita.
O casamento tinha dado certo. Casaram-se e foram felizes para sempre.

E.088.Estrela amorosa - Affonso Romano de Sant'anna


Posso fingir que nada aconteceu
após esse telefonema?
Olho pela janela, a montanha, os prédios.
Posso sair, comprar roupa nova,
ir ao cinema, ao bar, concerto,
respirar fundo, dizer, tinha que acontecer,
dizer, amei-a muito, pensar
que o passado já começou.
O telefonema em mim ressoa.
Sobre um sentimento assim não se põe uma pedra
e se segue em frente
Mesmo que eu siga, sem olhar pra trás
a pedra
florescerá
secretamente

E.087.Este inferno de amar - Almeida Garret


Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma...quem foi?
Esta chama que atenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

E.086.Este coração - Angela Bretas


Este coração tão grande
Repleto de amor
Não sabe dizer não
Não reclama de solidão
Não se cansa de querer
Este coração tão puro
Carregado de emoção
Não deixa de sofrer
Não se queixa em não ter
Não insiste em desistir
Este coração tão nobre
A tudo e a todos recebe
Sem perguntar a razão
Sem questionar o porquê
Sem negar sentimentos profundos
Este coração tão meu
Está sempre disposto
Está sempre querendo mais
Está batendo dentro de mim
É um coração feliz
É um coração humano
Regado pela paixão
Da vida

E.085.Estão se adiantando - Affonso Romano de Sant'anna


Eles estão se adiantando, os meus amigos.
Sei que é útil a morte alheia
para quem constrói seu fim.
Mas eles estão indo, apressados,
deixando filhos, obras, amores inacabados
e revoluções por terminar.
Não era isto o combinado.
Alguns se despedem heróicos,
outros serenos.Alguns se rebelam.
O bom seria partir pleno.
O que faço? Ainda agora
um apressou seu desenlaçe.
Sigo sem pressa. A morte
exige trabalho, trabalho lento
como quem nasce.

E.084.Essas mulheres maravilhosas - Angela Bretas


Sexo frágil demostra sua força
Tido como o sexo frágil, a mulher vem conseguindo através dos anos demonstrar que é muito mais forte do que aparenta.
Sua imagem feminina revela sensibilidade, acompanhada de cooerência e capacidade; qualidades as vezes obscuras, do ponto de vista masculino, pela simples razão de ser mulher.
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, que é celebrado mundialmente no dia 08 de Março, nada mais justo do que mencionar alguns nomes que merecem ser lembrados e homenageados:
Margareth Thatcher:
Foi Primeira Ministra da Inglaterra, comandou com uma competência extraordináia revoluções conservativas na Inglaterra. Seu nome figura entre as mais importantes pessoas do século.
Indira Gandhi:
Filha do lider J.P.Nehru da Índia, foi uma perseverante Primeira Ministra e ajudou a construir Bangladesh. Foi assassinada em 1984.
Madre Teresa de Calcutá:
Nasceu na Yugoslávia, tornou-se freira e criou mais de 3.000 missões. Sua face caridosa foi vista em áreas de terror como nas ruínas de Beirut, em Bhopal, nos campos devastados por terremotos na Armenia, nos desertos famintos da Ethiopia e no Sul da Africa, nas zonas mais pobres da India, nos hospitais aidéticos de Nova Iorque, entre outro tantos outros. Foi vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1979.
Maria Montessori:
Italiana, era doutora e resolveu criar em Roma uma casa de amparo para crianças privadas de educação. Defendia com furor a educação e criou uma metodologia de ensino que foi adotada por vários países europeus. Seu nome é tido como uma defensora dos direitos humanos, entre eles o da educação.
Margaret Sanger:
Nasceu em Nova Iorque, era enfermeira, também foi editora de um magazine chamado
'' Woman's Rebel''. Através de muito esforço, após ter sido presa e julgada, conseguiu em 1937 que a pilula anticoncepcional fosse legalizada nos EUA. A mesma defendia o direito da mulher de optar pela gravidez através da pílula.

Golda Meir:
De origem Russa e educada nos EUA, Meir mudou-se para a Palestina em 1921 e lutou pelos Judeus. Foi primeira Ministra de Israel durante os anos de 1969 a 1974. Foi a primeira mulher a ocupar esse posto no Oriente Médio.
Corazon Aquino:
Quando seu marido foi martirizado, Corazon Aquino se rebelou, comandando uma revolução popular que derrubou o corrupto líder Ferdinad Marcos em 1986 e assumiu a Presidência das Filipinas. Exemplo de mulher de garra.
Rachel Carson:
Era escritora, americana. Escreveu livros como The Sea Around Us, The Edge of The Sea e Silent Spring. Suas escritas, repletas de um lirismo surpreendente despertaram a atenção para milhares de leitores sobre a importância da preservação da natureza. Sua cruzada em preservar o planeta, rendeu-lhe prêmios, best-sellers, admiração de ecologistas e políticos, batalhou até que conseguiu a aprovação no Congresso para o ''Earth Day'' ( Dia da Planeta).
Marie Curie:
Austríaca, era cientista. Foi ela quem descobriu o ''Radium'', a radioatividade e revolucionou a medicina. Foi vencedora no ano de 1911 de dois prêmios ''Nobel'' , o de Física e de Química. Morreu em 1934 vítima de exposição a radiotividade; ironicamente o mesmo elemento químico que a tornou famosa foi o causador de sua morte.
Certamente essas mulheres descritas acima, de frágil não tinham nada, são exemplos dignos de admiração. Há muitos outros nomes de mulheres que despontam diariamente como verdadeiras guerreiras, atuando no cenário político, filantrópico e científico. Há também as que são idolatradas pela mídia por suas aptidões musicais e artísticas; calando assim o falso clichê que a mulher deve ser admirada apenas por sua beleza física.
Como forma de prestar uma pequena homenagem às mulheres, finalizo com uma frase especial a todas as mulheres, de autoria do magnífico Victor Hugo:
"O homem está colocado onde termina a terra; e a mulher, onde começa o céu..."

E.083.Essa não é a questão - Andrea Borba Pinheiro


Não é uma questão de achar alguém.
Não é uma questão de te esquecer.
Não é uma questão de have um "porém".
Não é uma questão que eu possa resolver.
Não é uma questão de ordem psicológica.
Não é uma questão de cunho simples.
Não é uma questão sintática.
Não é uma questão de pontos sensíveis.
Não é uma questão racional.
Não é uma questão de mudar o pensamento.
Não é uma questão emocional.
Não é uma questão de tempo.
Não é uma questão de fingir.
Não é uma questão de fazer e desfazer.
Não é uma questão de conseguir sorrir.
A questão é: Será que sem você, conseguirei viver?

E.082.Esquecer - Andrea Borba Pinheiro


Eu queria esquecer,mas é difícil...
Lembro das cartas, das juras, do beijo...
E, machuca, não poder tê-los novamente,
machuca, não conseguir te tirar da minha mente.
É complicado o que sinto,
nem eu mesma entendo,
melhor esquecer, assim como você...
Mas, é difícil, continuo te querendo...
E, à noite, lembro de tudo, outra vez...
Seu sorriso, seus olhos, seu jeito,
seu beijo carinhoso, seu abraço aconchegante,
mas, não posso mudar nada, agora já está feito.
Quanto mais eu tento esquecer,
mais eu lembro...te quero!
Só me diga...
Sim ou não...
Te espero...

E.081.Esperando voce - Andrea Borba Pinheiro


Espero ansiosa pelo dia,
em que hei de te encontrar.
Conto os segundos e os milésimos,
morrendo de nervosismo, querendo lhe falar.
Falar tudo que engasgo no telefone.
Gesticular, te beijar e me mostrar.
Meu amor, eu tenho fome.
Fome de te amar.
Você permanece na foto,
sorrindo contente pra mim.
Você permanece no meu peito,
iluminando meu coração, colorindo meu jardim.
Sinto teu carinho na brisa que me arrepia.
Abraço miragens tua, nos quatro cantos.
Em minha mente, você desfila,
para os meus olhos não santos.
Eu não choro as lágrimas de ontem,
nem as de amanhã.
Vivo o hoje, e faço o melhor que posso,
sempre sonhando com teus lábios de avelã
E esperando, esperando,
nem vi que tu chegaste!
Espera um minuto,
vou abrir a porta!

E.080.Espelho e Reflexos: Reflexos - Alexandre Bairos de Medeiros


Bata-me na cara,
Se digo que sou
O que não sou.
Tira-me a vara,
(De pescador de ilusões)
Até que me torne
Visionário.
Chama-me "Ô Cara,
Donde vem tua
Poesia e presunção?"
Respondo-te: "Rara
E superficialmente
Sei pronde vou."

E.079.Escritora reconta a história de quem encontrou o verdadeiro American Dream - Angela Bretas


Entre a Maria que, grávida veio aos Estados Unidos para encontrar o pai do seu filho - e seu destino- e a criadora de Maria, Ângela Bretas, que também chegou no país em 1985, grávida, não se sabe quanta diferença existe. Não se sabe onde termina uma e começa a outra. A própria Ângela deixa pairar a dúvida, meio que se protegendo e fica é difícil saber se assim como Maria, em Sonho Americano, a autora foi assediada por patrões ("De repente duas mãos entrelaçam sua cintura. Em um ímpeto absurdo o homem lhe pede que deite-se com ele pelo dobro do preço que recebe para limpar a sua casa"*), sentiu-se humilhada e discriminada ("...era um ser humano incompleto aos olhos deles. Não podiam por um momento imaginar que aquela pessoa que limpava o chão, os banheiros e a louça pudesse ter sonhos, aspirações..."*) e se no meio do trabalho duro Ângela também tinha tempo de apreciar a natureza ("Era delicioso estar ali naquele jardim, desfrutando a bela vista e o calor do sol... entretanto não estava naquele jardim para desfrutar de sua beleza. Fora contratada para limpar o local e por isso segurava uma mangueira, com um balde, sabão e esponja aos seus pés descalços"*). A única certeza é que todos os sentimentos descritos por Ângela fazem parte, de alguma forma, da vida das brasileiras imigrantes, assim como Maria.
E a inspiração para criar Maria foi o espelho. Foi na segunda gravidez- já tendo perdido um filho em um aborto espontâneo, em meados de 85, na fria Boston- que Ângela resolveu começar a escrever sua história, que não tinha intenção de virar livro; tinha a pretensão de ser um diário e morrer em uma gaveta . "Eu passei a escrever para aliviar a solidão", conta ela, que naquele tempo era recém-casada e ficava em casa enquanto o marido ia trabalhar. "Naquela época era difícil; não havia internet, jornais brasileiros e telefonar [para os parentes] também era difícil e caro", lembra.
Um dia, com 25 dólares no bolso, foi em um órgão que ajuda necessitados para comprar um casaco usado. O frio já havia chegado e Ângela não tinha como se proteger. Em meio aos casacos Ângela viu algo que chamou a sua atenção: um máquina velha de datilografar. Não pensou duas vezes e voltou para casa com o novo mimo, ignorando o frio. "Eu não comprei o casaco mas nem senti o frio tamanha a alegria em ter comprado a máquina", conta.
Na velha máquina começou seu "diário". Não tardou, porém, que a necessidade a impulsionasse a buscar trabalho. E então "Angela/Maria" começou a sentir na pele o que é ser imigrante; e também passou a colocar no papel histórias de imigrante. Trabalhou como secretária, garçonete, raspou neve das ruas e entrou para o fantástico mundo do clean, o mais óbvio trabalho enfrentado pelas brasileiras. Em anos trabalhando como house cleaner viu, ouviu e escreveu histórias.
Das experiências que viveu conta várias em Sonho Americano. Quando questionada sobre os piores trabalhos que enfrentou, diz que não foram os mais pesados mas aqueles em que foi alvo de discriminação. "Uma vez trabalhei numa festa, pendurando casacos nos cabides, e os convidados me olhavam de cima a baixo. Eu me sentia inferiorizada", conta. "Se é honesto, você não tem que ter vergonha do que faz", destaca Ângela, acrescentando que aprendeu "a ser mais humilde aqui" e que usou a sua vida nos EUA para aprender. "Eu soube não ofuscar minha vida de imigrante".
Em 1998 veio para a Flórida, para oferecer melhores condições de vida ao ar livre, longe do frio, para os dois filhos Hugo e Bruno. Fazia então um ano que tirara suas histórias da gaveta e as transformara em um livro, Sonho Americano, pela Alternative Press,em 1997. Na época teve que pagar 2 mil dólares para publicá-lo.
Os tempos de imigrante ficaram para trás e Ângela já experimentava o gosto de ter liberdade e tempo para escrever. Aqui foi dando continuidade aos seus trabalhos literários e passou a atuar também nos jornais locais - já escrevia para o Brazilian Times (para o qual ainda escreve) e havia trabalho para o Gazeta Brasileira, em Marlboro, de 89 a 91. Aqui escreveu para o Flórida Review, o Brazilian Sun e o Brazilian Paper, sempre como colaboradora.
Se perguntam como surgiu na sua veia a inclinação para escrever, ela apenas lembra: "há poeta nato e poeta apto", afirma, sem saber exatamente em qual dos dois se encaixa. "Acho que poderia me enquadrar no tipo poeta apto, que é aquele que se esforça para aprender e sobressai; mas há quem diga que eu sou nato", diz.
Sobre seu desempenho como escritora ela afirma que não fez mais do que perseguir um sonho. "Às vezes a pessoa tem um dom e não sabe encontrar esse dom. Eu encontrei o meu. Porque não importa se você limpa casa, trabalha no brick, ou num restaurante, se você tem um dom, se gosta de fazer alguma outra coisa, ou tem um outro objetivo como exercer a profissão que exercia no Brasil, tem que buscar realizar esses anseios", conclui Ângela, que parece ter descoberto nas letras o seu verdadeiro American Dream.
*Trechos do livro Sonho Americano, que foi lançado dia 18.
Ângela tem outros dois livros no prelo e já escreveu outros dois: Éramos Quatro (romance) e Conversando com as estrelas (verso & prosa), além de ter participado de coletâneas
Lançamento e noite de autógrafos
A escritora Ângela Bretas lançou a segunda edição de Sonho Americano com uma noite de autógrafos no dia 18 de novembro próximo passado, no restaurante Feijão Com Arroz. O convite custou 15 dólares com direito a coquetel e 1 livro autografado (com a opção de escolher outros livros da autora). Parte da renda foi revertida para a Brazilian Mission.
Na ocasião foi servido coquetel com a participação de vários músicos locais. Houve recitais de poesia e sorteio de brindes.
AcheiUSA

E.078.Errando no museu Picasso - Affonso Romano de Sant'anna


Picasso
erra
quando pinta
e erra
quando ama.
Mas quando erra,
erra
violenta e
generosamente,
erra
com exuberante
arrogância,
erra
como o touro erra
seu papel de vítima,
sangrando
quem, por muito amar, fere
e sai ovacionado
com banderilhas na carne.
Pintor do excesso
e exuberância,
Picasso
é extravagância.
Ele erra,
mas nele,
o erro
mais que erro
- é errância.

E.077.Epitáfio para o século XX - Affonso Romano de Sant'anna


1.
Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.
2.
Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.
3.
Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
-nux vômica.
4.
Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado,empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.
5.
Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.
6.
Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.
7.
Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas,sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.
8.
Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.
9.
Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
-já vai tarde.
10.
Foi duro atravessá-lo.
Muitas vezes morri, outras
quis regressar ao 18
ou 16, pular ao 21,
sair daqui
para o lugar nenhum.
11.
Tende piedade de nós, ó vós
que em outros tempos nos julgais
da confortável galáxia
em que irônico estais.
Tende piedade de nós
-modernos medievais-
tende piedade como Villon
e Brecht por minha voz
de novo imploram. Piedade
dos que viveram neste século
per seculae seculorum.

E.076.Entrevista - Affonso Romano de Sant'anna


Telefonam-me do jornal:
-Fale de amor-
diz o repórter,
como se falasse
do assunto mais banal.
-Do amor? -Me rio
informal. Mas
ele insiste:
-Fale-me de amor-
sem saber, displicente,
que essa palavra
é vendaval.
-Falar de amor? -Pondero:
o que está querendo, afinal?
Quer me expor
no circo da paixão
como treinado animal?
-Fala...-insiste o outro
-Qualquer coisa.
Como se o amor fosse
- qualquer coisa -
prá se embrulhar no jornal.
-Fale bem, fale mal,
uma coisa rapidinha
-ele insiste, como se ignorasse
que as feridas de amor
não se lavam com água e sal.
Ele perguntando
eu resistindo,
porque em matéria de amor
e de entrevista
qualquer palavra mal dita
é fatal.

E.075.Entrevista - Adélia Prado


Um homem do mundo me perguntou:
o que você pensa do sexo?
Uma das maravilhas da criação eu respondi.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
e esperava que eu dissesse maldição,
só porque antes lhe confiara:
o destino do homem é a santidade.
A mulher que me perguntou cheia de ódio:
você raspa lá? Perguntou sorrindo,
achando que assim melhor me assassinava.
Magníficos são o cálice e a vara que ele contém,
peludo ou não.
Santo, santo, santo é o amor que vem de Deus,
não porque uso luva ou navalha.
Que pode contra ele o excremento?
Mesmo a rosa, que pode a seu favor?
Se "cobre a multidão dos pecados e é benigno,
como a morte duro, como o inferno tenaz",
descansa em teu amor, que bem estás.

E.074.Ensinamento - Adélia Prado


Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

E.072.Encantamento - Abgar Renaur


Ante o deslumbramento do teu vulto
sou ferido de atônita surpresa
e vejo que uma auréola de beleza
dissolve em lua a treva em que me oculto.

Estás em cada reza do meu culto,
sonhas na minha lânguida tristeza,
e, disperso por toda a natureza,
paira o deslumbramento do teu vulto.

É tua vida a minha própria vida,
e trago em mim tua alma adormecida...
Mas, num mistério surdo que me assombra,

Tu és, às minhas mãos, fluida, fugace,
como um sonho que nunca se sonhasse
ou como a sombra vã de uma outra sombra...

E.073.Enquanto a noite vem - Andressa Ioshi


Quando a noite cai e a lua brilha alto
Encobrindo o dia que a tanto se passou
Do céu nascem três anjos sombrios
Como damas da noite que velam nossos sonhos,
Sonhos que vagam por esse vale sem fim
Nuvens escuras encobrem a lua
E varrem para longe
Aquelas cuja melodia encantam os sonhos
Sussurros de medo e alegria
Se revelam nas canções
E a eterna sinfonia da vida se repete
Três virgens, aquelas que nos embalam
Três deusas, perfeitas em todo o seu ser
Três mulheres, que como tantas nós vemos
Três destinos, três vidas, três caminhos
E como a noite elas se acabam,
Levam consigo nossos sonhos,
Mas com o crepúsculo se renovam.

E.071.Edital - Affonso Romano de Sant'anna


Por este instrumento faço saber
que é verdade
o que de mim dizem.
É verdade o que alardeiam os inimigos
e os amigos enfatizam.
Sou tudo o que me pespegam.
Quando me acanalham, é verdade,
e é verdade
- quando me embalam.
Jovem, indignado,
tentei com engenho & arte
separar do trigo
a outra parte.
Já não consigo. Renegar o joio
é ter o trigo empobrecido.