quarta-feira, 29 de junho de 2016

O.039.O Abraço - Chis Fonte (Pandora)


Tristonhos e intermináveis são teus olhos
Delicados e lavados em lágrimas de lama
És um espírito encoberto por um tênue véu
Levas consigo uma névoa de curiosa mistura

Gótica e ornada de malícia e demência
És como imponente edifício de estuque
Estás a flutuar num céu escuro e pesado
Dançando entre mundos estranhos

Tua boca temível e faminta, teus cabelos
Breves toques de morte trazes em tuas mãos
Perseverança em profundos olhos ocres
Caçando, levando, me matando a golpes

Para um tom de vinho teus olhos mudam
É a hora de teu espetáculo apavorante
Tua boca a tocar minha vida, sugando meus dias
Tórrida e faminta, além de toda órbita mentias

Com profunda alegria tomava minha vida
Levaste-me ao altar de teus desejos de tua fome
E lá eu só via a chuva de teus olhos intranqüilos
Teu rosto branco reluzia de uma lenta razão

Então num esplendor de imagens hediondas
Conduzias a lama minha alma que enfim abatias
Eu já podia ver a luz bruxulenta de uma nova dinastia
O que seria então a vida depois daquele abraço...

Me olhou com ternura mui fria, como uma pedra de jaspe
Presenteando-me com uma cripta de mármore branco
Com encanto abriu a tão doce, e molhada boca
Consolou meu ser inquieto dizendo: "Bem vindo a tua nova vida"

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