sexta-feira, 29 de julho de 2016

P.027.Poema de despedida - Vilma Galvão


Quando eu não estiver mais aqui,
sei que todos os meus pensamentos e idéias
serão aproveitados por outras pessoas.
Sei que todos as minhas buscas
terão continuidade por alguém.
Alguém lembrará de mim quando por acaso
encontrar os meus poemas, minhas escritas
e até mesmo meus rabiscos,
alguns nem chegaram a sair dos meus cadernos
meio amarelados pelo tempo...
Lembrarão de mim,
quando ouvirem as músicas que eu gostava,
talvez lembrem mais profundamente o que fui,
ou apenas deixem minha imagem
desaparecer na mente...
Pode ser que alguém sinta a minha falta,
quando lembrar do meu bom humor
que tanto elogiavam.
Pode ser que alguém tenha más lembranças
pela franqueza de meus julgamentos e respostas,
pela minha sinceridade agressiva,
ou até pela minha suposta fortaleza no coração...
Tudo será muito imprevisível,
Causei ódio,
lágrimas,
sofrimentos...
mas também,
despertei sorrisos,
fiz renascer esperanças,
criei laços de amizades,
dei carinho e conforto...
Vivi muito,
não digo isso medindo pelo tempo,
mas pelo cansaço,
pelos amores que tive
pelas saudades que cultivei,
pelas alegrias que transmiti,
pelas angústias que senti,
pelas grandes perdas que tive,
pelos sonhos não realizados,
pelas coisas que não pude fazer,
pelos sorrisos que não dei,
pela própria vida diferente que apresentei.
Deixarei tudo para trás,
comigo levarei apenas o que aprendi,
o que de bom senti ao tentar viver em paz.
Ficará neste mundo,
as coisas fúteis,
o que não aproveitei,
o que eu não precisarei levar,
destas coisas,
não terei saudades alguma...
Deixarei os frutos bons que ajudei a plantar,
em algum lugar,
permanecerão os lemas que criei,
as iniciativas que nasceu em mim...
Se fui feliz;
não me lembro se foi plenamente.
Alguns momentos de alegria,
mas muito mais para chorar.
Se fui infeliz,
também não me lembro...
Todos os momentos que passei
foram sempre quase que obrigatórios,
muitos por acomodação,
poucos por aceitação...
Vida,

Não sei o que ela foi para mim,
passei todo tempo me enganando,
e as pessoas se enganando comigo também,
mesmo não querendo enganar
transferia para as pessoas
um lado forte que nunca tive,
uma alegria de vida que nunca experimentei,
um otimismo que no fundo não acontecia,
uma segurança que era puro medo,
e por ser poeta,
inventei um amor que nunca me amou,
e que em meu coração nunca esteve...
Quando eu não mais estiver aqui,
lembrarão de mim como me viam,
não como realmente eu me senti a vida toda.
Não quero que pensem que fui má
escondendo tudo isso de todos,
quero apenas que se lembrem de mim
como alguém que tentou ser alguém,
que tentou ajudar a todos,
que tentou ter amigos,
que tentou amar,
que tentou apenas ser feliz...

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