quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
V.023.Versos sem musa - Clelio Carreira
Chuva repentina, todos andam rapidamente,
pessoas molhadas, cabisbaixas, apressadas
carros na avenida
vejo tudo por uma fresta na janela semi aberta
uns poucos apartamentos nos prédios da frente
a moça da loja que limpa tudo pela enésima vez
atos mecânicos, impensados
um verão quente e úmido
um ar pesado, difícil de respirar
sem sustento, só ar
nada traz.
Dias assim, sem expectativa, sem sentido
dias assim doem na alma vazia
espera-se somente que a hora passe
espera-se que o dia mude, espera-se que o dia acabe
espera-se
O esforço de mim se esvai nos meus versos
eles se nutrem de minha pouca energia
nutrem-se de minha ausência
nutrem-se de sua ausência
nutrem-se de minha ansiedade
de minha inconstância nesses dias tristes
os dedos tocam no teclado feito magia
escrevem palavras, formam frases,
fazem versos
versos para ninguém, versos sem musa
o coração parece frio e inerte
embora esteja bêbado de sangue
embora pulse um nome em cada batida surda
e os dedos escrevem a vontade de ver
a vontade de ter,
sentindo a pele ao toque da tecla fria
o dia arrasta-se assim , sem nada
enquanto tudo passa, a chuva cai
mais mansa agora
displicente, sem força sequer de molhar,
chuva fina, fria, alma fria
ate mesmo as pessoas parecem estar inertes à chuva
parecem conformadas
não se protegem mais
deixam-se molhar
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