sexta-feira, 23 de março de 2018
Crônica.E.002.Eu, o ser e a dúvida - Angelo Rodrigues
O quarto é uma selva de neurose. É ofegante a permanência, é persistente o desejo, vontade tão própria de inovação.
Uma porta e uma janela são a novidade do cativeiro. Tudo se conhece; um conhecer terrível e espantado que se dilui em interrogação.
Diz-me, ar perplexo de mundo, onde está a fuga? Tu, visitante assíduo e perspicaz que vagueias por este meu Inferno. Chega-te à cama minha universal, repouso dos sonhos que sugam o meu inquieto pensamento. Chega-te cá, meu perdido dualismo, que reflectes sem saber quando e porquê, que divagas viajando na essência abstracta e pura de um Não-Ser das coisas e não-coisas.
Não te rias de mim, vida repouso de deuses-demónios; não esperes que eu tombe a teus pés, imagem talhada de Incerteza.
Mata-me só hoje, nobre tempestade de silêncio; afaga os gritos escaldantes de um ninguém que não é daqui, que viaja sem destino e com todos os destinos, que...
Recôndito raio de sol que penetras com esforço essa janela amedrontada, vem um pouco mais a mim, aquece, ilumina este meu Não-Ser, dúvida agitada e agitante de ser Ser sem saber o que é Ser e porque é Ser na imensa frustração que é ser Ser.
Vem tu também, imagem do meu último sonho que será sempre o primeiro; vem e envolve-me na pleura do teu fascínio, tu que tens o poder da deusa profana que me encanta, que me beija o espírito, que me adormece em divino ócio
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