quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
C.027.Ciúme - Francisco Gonçalves
O ciúme é um vulcão,
Em rubra explosão
De indômito fogo
Que a alma incendeia
Suas lavas audazes,
irrompem capazes
De pôr tudo imerso
Tal qual Pompéia...
É o cupido doente,
e é paixão ardente
Tornando a existência
Em tufões de horror!
É o nefasto ciúme,
Cintilando lume
Devastando a vida
Sinistrando o amor...
Os mais perseguidos,
E mais atingidos
Da sanha ferina
Do monstro cruel;
São os bem amados
E os recém casados
Na ânsia dos beijos
Da lua de mel.
Quando namorados
Se vão aos bailados,
A brasa do ciúme
Começa a queimar;
Por certo à mulher
Se há outra qualquer
Fitando o rapaz
Ao vê-lo dançar.
Se já é marido
E olhar distraído
Até sem malicia
sem nada visar...
A jovem casada
De raiva enciumada
Se fecha no quarto
E se vinga em chorar.
Se o vê à janela
Fitando uma bela...
Que por mero acaso
Pela rua passa;
No lugar de beijos
Ela tem desejos
de tudo esmurrar:
E quebrar a vidraça
É só nessas fases
Que as chamas vorazes
Do fogo sinistro
Provoca explosões;
Agora os ciumentos
Já tem seus rebentos...
Fazendo esquecer
ingênuas questões.
Ao meio da vida
É chama extinguida
Apenas há brasas
Com pouco calor;
Já não há lamúrias
Atritos e fúrias,
E agora os trovões
têm pouco fragor
Depois na velhice
Aquela tolice,
Baniu-se da história
P'ra não mais voltar;
de tais leviandades
Só restam saudades...
E os velhos agora,
Sé querem rezar.
O inverno chegou
O sol se toldou,
E o tombar dos anos
Soterrou o ciúme;
Das chamas de outrora
Só restam agora,
Escombros sombrios
E cinzas sem lume...
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