terça-feira, 30 de junho de 2020

A.122.A Serenata - Adélia Prado

Uma noite de lua pálida e gerânios ele viria com boca e mão incríveis tocar flauta no jardim. Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa. Eu que rejeito e exprobo o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão. Quando ele vier, porque é certo que ele vem, de que modo vou chegar ao balcão sem juventude? A lua, os gerânios e ele serão os mesmos - só a mulher entre as coisas envelhece. De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?

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