quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A.169.A Pétala e o caderono - Ângela Bretas


Viçosa dentro do botão que a acolhia, transpirava uma fragância suave.
Bela, sensível e frágil tremulava ao vento.
Pela mão de um amante solitário, poeta sensível e apaixonado, foi colhida.
O poeta a escolheu entre todas as pétalas da rosa. E, carinhosamente na palma da mão, acariciou-a ... amou-a.
Tornou-se admirada... exalada...
Secou.
Perdeu seu perfume, seu encanto, sua vitalidade...
Mas, o destino bendito, tal qual um cupido disfarçado, sabia que sua beleza e sensibilidade não poderia morrer assim.
As mesmas mãos que a colheram, a depositaram dentro de um caderno.
E ela renasceu maravilhada, em seu leito solitário, lendo belas poesias, escritas pelas mesmas mãos que a admiraram e a amaram um dia. Versos secretos do poeta enamorado.
E a cada poesia que lia, ela dengosa, gemia e suspirava os sonhos do poeta, entre as folhas do caderno companheiro.
Sua beleza frágil de pétala de rosa, despertou no caderno algo novo... ele deixou de ver as letras gravadas em suas entranhas como um peso, aprendeu a gostar delas... pois notava
como a pétala chorava solitária e expelia um aroma de desejo que começava a impregnar seu corpo.
Caderno esse, esquecido na gaveta como ela... Que, antes solitário, vibrava agora com a sensibilidade da pétala...
e espremia ainda mais suas folhas para sentir seu aroma esquecido... para sentir o seu delicado corpo...
Juntos, pétala e caderno, apaixonaram-se pelas letras... enamoraram-se.
E foram embalados pelos doces sonhos do poeta, que estavam descritos em prantos líricos exaltando a suavidade e a dor de um amor distante... ausente... carente...
E eles aprenderam a importância de se ter alguém próximo, compartilhando os mesmos sonhos... de amor... de carinho... de desejos...
Unidos como estavam. Tal caderno esquecido. Tal pétala seca. Sentiram a leveza do amor chegar...
Esquecidos numa gaveta. Gozaram... da liberdade. Corpos colados. Tornaram-se um só.
Juntos, deram um novo colorido as folhas brancas... tornando-as amareladas... E cor âmbar tornou-se intensa, alastrou-se...
Tornaram-se marcas do fruto desse amor recheado de poesia...
Mal sabe o poeta, que seus amores, pétala e caderno, conseguiram encontrar o amor que ele, incansávelmente, continua procurando em sua busca solitária...

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