segunda-feira, 30 de maio de 2022

R.033.Realidade - Lucelena Maia


Não adianta brigar com a realidade,
Ou colecionar todas as decepções;
Nem sempre o estranho vem de fora,
Às vezes, confusas são nossas emoções.

Há quem faça, da vida, um projeto rabiscado,
sem nunca conseguir tirá-lo do papel;

há quem queira vitória para todos os atos,
mas não entra na disputa de acertos;

há quem passe uma vida brigando para ser jovem,
sem perceber a corrida do ponteiro do relógio;

há quem planeje o futuro, fazendo-o eterno,
desperdiçando o momento presente;

há quem chore o passado, em branco,
sem ter aprendido a colorir, com ele;

há quem escreva páginas de um livro,
sem que ninguém jamais possa lê-las;

há quem jogue xadrez, sem perceber
estar, sempre, em cheque-mate;

há quem seja o próprio tabuleiro do jogo,
ou rainha, cavalo, peão - jamais rei;

há quem se deixe derrotar, sem haver obstáculos,
e quem não se conhece, pela própria mão;

Há quem permaneça estático, perante a vida,
e quem faz drama, comédia, romance;

há quem conte uma fábula, na madrugada,
e quem seja cinderela, fugindo da meia noite;

há os que não correm, mas tropeçam na escada,
e os que perdem o sapato de cristal e jamais o encontram;

há quem tenha, na vida, um grande amor
e quem se satisfaça com o sapo;

há quem atravesse a linha do horizonte
e quem seja feliz de verdade;

há quem queira ser feliz, fugindo da realidade,
e quem aproveita a realidade para ser feliz...

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