segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023
R.046.Rouxinol - Nathaly Guatura
Que saibamos deixar ser com naturalidade
Como o invasivo princípio extravasado
Jamais desesperemo-nos pelo passado
E vivamos com a força de uma saudade
A plenitude da felicidade que se conteve
Dentro das palavras ditas pelo teu olhar
E da bela distância que não nos deteve
No ímpeto desta coragem de nos ganhar
Que saibamos deixar ser com naturalidade
Um encontro pelo fio das moiras fadado
Se agora desenlace desprovido de ebriedade
Quiçá pelo irônico e cego acaso propiciado
Que saibamos deixar ser com total naturalidade
Essa estranheza que não cessa em seu manifesto
Que não se deterá tampouco por desespero deste gesto
Que saiba eu, meu amor, respeitar nossa tenra idade
Que a singularidade de nosso repentino e devasso querer
Finde natural maneira surgiu, não sabendo se manter
Que eu seja capaz de suportar ao encontrar a compreensão
De que jamais a naturalidade inibiu da dor, sua total ascensão.
R.045.Romance analfabeto - Lucas Menezes Maida
Eu sabia seu ponto “G”,
Mas na hora “H” do dia “D”
Um plano “B” que improvisei
Veio a calhar
Apertei a tecla “F”
E num blefe disse “Mova-se”
Eu só volto quando eu for seu plano “A”’
Resolvi me despedir, vou por aí
Vou botar o pingo no “I”
E deixar um “Q” de saudade
Assim ela ficando só
Talvez perceba que é o “Ó”
Não ser amado de verdade
Seu corpo era uma curva em “S”
Sua boca, o quociente em fração
Seu coração inconsequente
Bombeava sangue quente
Seu consciente era o “X” da questão
Todo dia ao amanhecer
Ela era vitamina “C”
E aumentava a minha imunidade
Era azeite de dendê
Mas eu quis Vitamina “D”
Sair na rua e tomar sol pela cidade
Dentre “N” opções
Entre bares, corações
Rodas, amigos e canções
Eu te escolhi
Esse B.O não é mais meu
Eu não plantei o que tu deu
Pra tá colhendo o que eu colhi
Seu corpo era uma curva em “S”
Sua boca, o quociente em fração
Seu coração inconsequente
Bombeava sangue quente
Seu consciente era o “X” da questão
R.044.Retrospecto - Humberto de Campos
Vinte e seis anos, trinta amores: trinta
vezes a alma de sonhos fatigada.
e, ao fim de tudo, como ao fim de cada
amor, a alma de amor sempre faminta!
Ó mocidade que foges! brada
aos meus ouvidos teu futuro, e pinta
aos meus olhos mortais, com toda a tinta,
os remorsos da vida dissipada!
Derramo os olhos por mim mesmo... E, nesta
muda consulta ao coração cansado,
que é que vejo? que sinto? que me resta?
Nada: ao fim do caminho percorrido,
o ódio de trinta vezes ter jurado
e o horror de trinta vezes ter mentido!
R.043.Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
R.042.Relacionamentos intensos - Rupi Kaur
“Não quero ter você
para preencher minhas partes vazias
quero ser plena sozinha
quero ser tão completa
que poderia iluminar a cidade
e só aí
quero ter você
porque nós dois juntos
botamos fogo em tudo.”
Quando uma pessoa se conhece por inteiro, ela se basta.
Quem procura um relacionamento para fazer isso, nunca vai estar realmente satisfeito
Sempre algo estará faltando. Já quem faz o contrário, e se completa antes de procurar um amor, vive relacionamentos muito mais intensos e transformadores.
R.041.Rei de Roma - Lucas Menezes Maida
Nunca vou decifrar os enigmas do universo
Tudo pode ser uma falácia
Nunca vou saber os motivos que unem versos
Por rimar em apenas uma galáxia
Se o mundo é redondo
O último já está na frente do primeiro
E se o mundo dá voltas
A posição não importa
E não muda o roteiro
Sou a tempestade em copo d’água
Por ser um fenômeno intenso
Em um recipiente pequeno
Sou a hipérbole das minhas mágoas
Por escrever o que penso
E destilar meu veneno
Desconfie de tudo
Até a palavra “oxítona” é proparoxítona
Desconfio de todos
Mesmo que a reverência soe uníssona
“Em cima do muro” já não é mais o termo
Pois não sabem se constroem ou se destroem
Indeciso, sem partido e sem governo
Vendo reinos em ruínas de ratos que se roem
É preciso choro para ter vela
É preciso ter muita boca para ser o rei de Roma
O rei do morro tem todas e não saiu da favela
E o rato roendo a roupa de quem não tem diploma
A carne tem papelão
Mas não é o mesmo do morador de rua
Pois ele dorme no chão
E a verdade nunca foi tão carne crua
Falsos ativistas atravancando caminhos
São cordeiros em pele de lobo
Mostrando ser o que não são para a mídia
Mais falso que carta arrependida de ator da Globo
Passo por passo, marcha a opressão
Eles andarão, nós Andorinha
Adoraria que a minoria fizesse verão
Só para o inverno sair de linha
R.040.Revele-se - Douglas Farias
Revela-se para mim Como o sol no raiar do dia Sua verdade e segredo A mim não se permitia
Uma amizade, uma afeição Por tempos se seguia Não pude imaginar O que mais sentia
Mesmo que percebesse Um jeito eu daria Por mais que afastasse Perto de mim estaria
Seu silêncio dificultava Algo que se revelaria O medo de perder a amizade Era o que temia
Agora aqui estou Em sua companhia Fale para mim Aquilo que gostaria
R.039.Razões do amor - Rogéria Breves
Se amar fosse apenas olhar para o céu
Não haveria razões para haver estrelas.
Se amar fosse apenas sorrir
Não haveria motivos para que alguém sorrisse conosco.
Se amar fosse apenas caminhar
Não haveria razões para a existência dos bosques encantados.
Se amar fosse apenas ver os pássaros
não haveria motivos para ouvir seus cantos.
Se amar fosse apenas olhar as nuvens
Não haveria Razões para deixar nossa imaginação atravessá-las
Se amar fosse apenas viver
Não haveria motivos para se ter coração.
Se amar fosse apenas falar
Não haveria razões para se ouvir.
Se amar fosse apenas a beleza da rosa
Não haveria motivos para se ter o espinho.
Se amar fosse apenas fazer
Não haveria razões para ajudar.
Se amar fosse apenas dizer eu te amo
Não haveria motivos para se provar isso.
Se amar fosse viver sem você
Não haveria razão então de viver...
R.038.Reflexo - Pablo Neruda
Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
tem que ter reflexo.
R.037.Rei dos reis - Um Poeta Vagabundo
Caminhava um abismotão escuro, triste e sóquando veio um braço fortetão gentil e salvador...
maravilhado...
com a força e com a luz suas mãos tão maltratadas a fé que nos conduzperguntei pelo seu nome ele disse:
Jesus perguntei se eras pobre ele me disse que era rei com sua coroa de espinhos ele é o Rei dos reis
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