segunda-feira, 31 de março de 2014
Cronica - A.004.A Mestra Com Carinho - Edna Feitosa
Faz dias que quero contar uma coisa que me aconteceu,
apenas com intenção de estar dividindo uma experiência
e uma lição de vida...
Mas, como ainda me dói contar esperei uns dias...
Hoje já consigo e queria dividir isso com vocês.
A semana passada recebi os alunos de volta das férias.
Como é habitual, ficamos conversando um bom tempo
sobre o que fizemos nas férias...
Esperei que todos contassem (aproveitando pra lembrar da
importância de saber ouvir) ...enfim, atividade normal...
Normal, não fosse a imagem da garota Marina me olhando
fixo e com uma expressão silenciosa como se desejasse
que eu perguntasse apenas a ela...
Entendi isso e perguntei onde ela havia passado as férias
e com quem...
Ela se levantou do lugar, se dirigiu a mim, encostou sua
cabecinha em meu peito e começou a chorar...
Depois falou:
-Passei uns dias em Jales, com todos os familiares.
Sem entender, comentei:
-Puxa! Mas isso é motivo de alegria...
E por que você chora, Marina?
E ela:
-Professora, nós tivemos que nos reunir em Jales,
porque tivemos que enterrar minha mãe lá.
Ela morreu na semana passada (com 34 anos de idade)...
Bem, vocês podem imaginar o que senti na hora,
não é mesmo?
Eu a abracei e apenas disse que entendia o que ela sentia...
Depois falei pra que ela fosse tomar água e, enquanto isso,
conversei rapidinho com os alunos, pedindo a eles que nada
perguntassem, mas que em casa orassem pra que a
amiguinha se recuperasse rápido dessa dor.
Passei um dia sem rumo...
Tudo estava difícil...
eu confesso que fiquei meio desnorteada, não sabia direito
como conduzir a aula.
Resolvi brincar de Pandora (lenda grega) com eles,
apesar de minha "sem-graceza"...
Durante essa brincadeira , as crianças pegam numa caixa
(sem olhar, claro) alguma palavra
(palavras que eles haviam escrito em dias anteriores)
E têm que falar o que quiserem sobre ela.
Apavorada vejo na mãozinha do Arthur a palavra
Morte!... gelei!
Pensei: "puxa! justo hoje?"...
Daí, vejo um sorriso nos lábios dele, olhando para a marina...
Foi quando ouvi:
-Para mim, morte é vida, começo e reencontro
Com os anjos...
É o jeito que deus arruma pra mandar as
Pessoas que a gente ama, pro céu na nossa
Frente, pra quando a gente for, não se
Sentir sozinho.
Lágrimas escorreram dos meus olhos.
Nesse dia eu entendi a mensagem de paulo freire quando
Afirmou que "mestre é aquele que de repente aprende."
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