quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

P.011.Partida e Chegada - R. Simonetti


Quando observamos, da praia,
um veleiro a afastar-se da costa,
navegando mar adentro,
impelido pela brisa matinal,
estamos diante de um espetáculo
de beleza rara.

O barco, impulsionado
pela força dos ventos,
vai ganhando o mar azul
e nos parece cada vez menor.

Não demora muito e
só podemos contemplar
um pequeno ponto branco
na linha remota e indecisa,
onde o mar e o céu se
encontram.

Quem observa o veleiro sumir
na linha do horizonte,
certamente exclamará:
já se foi.
Terá sumido?
Evaporado?

Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.

O barco continua do mesmo
tamanho e com a mesma
capacidade que tinha quando
estava próximo de nós.

Continua tão capaz quanto antes
de levar ao porto de destino
as cargas recebidas.
O veleiro não evaporou, apenas
não o podemos mais ver.

Mas ele continua o mesmo.
E talvez, no exato instante
em que alguém diz:
já se foi",
haverá outras vozes,
mais além,a afirmar:
lá vem o veleiro.

Assim é a morte.

Quando o veleiro parte, levando
a preciosa carga de um amor
que nos foi caro, e o vemos sumir
na linha que separa o visível
do invisível dizemos:
já se foi.
Terá sumido?
Evaporado?

Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.

O ser que amamos continua
o mesmo.
Sua capacidade mental
não se perdeu.
Suas conquistas seguem
intactas, da mesma forma que
quando estava ao nosso lado.

Conserva o mesmo afeto
que nutria por nós.

Nada se perde, a não ser
o corpo físico de que não mais
necessita no outro lado.

E é assim que, no mesmo
instante em que dizemos:
já se foi", no mais além,
outro alguém dirá feliz:
já está chegando.

Chegou ao destino levando
consigo as aquisições feitas
durante a viagem terrena.

A vida jamais se interrompe
nem oferece mudanças
espetaculares, pois a natureza
não dá saltos.

Cada um leva sua carga
de vícios e virtudes, de afetos e
desafetos, até que se resolva
por desfazer-se do que julgar
desnecessário.

A vida é feita de partidas
e chegadas. De idas e vindas.

Assim, o que para uns parece
ser a partida, para outros
é a chegada.

Um dia partimos do mundo
espiritual na direção do
mundo físico; noutro partimos
daqui para o espiritual, num
constante ir e vir,
como viajantes da imortalidade
que somos todos nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário