terça-feira, 30 de maio de 2017

Crônica - Q.002 - Quem morre - Pablo Neruda


Quem Morre?

Morre lentamente que não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor,
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o negro sobre o branco
E os pontos sobre os “is”
Em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos
dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está
Infeliz com o seu trabalho
Quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir
dos conselhos sensatos .

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se
Da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto
antes de inicia-lo
quem não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito
maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um
estágio esplêndido de felicidade.

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