quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Crônica.C.005.Carta a minha mãe - Edna Feitosa



Na verdade, mãe, li não sei onde, que mãe é esse ser sagrado, abençoado, protegido em especial pelos anjos. Deve ser. Mãe é pra cedo, à tarde, à noite, sem descanso. Mesmo que ela tenha rosto jovem ainda e esse cheiro de talco e sabonete que você deve ter ainda e me dá tanta saudade. Mãe é pedra por fora, trasgos dessa vida e doce de leite por dentro, vontade de Deus. E a nossa mãe, é sempre a mais bonita, a mais inteligente, a mais-mais.. E você pra mim, é a mais importante de todas as mães juntas: é a minha mãe! E não é só por isso que é especial não. É porque você me ensinou coisas que talvez não estejam em nenhum manual das mães dos outros: confiar no mundo, acreditar na vida e nas pessoas, respeitar e gostar de literatura, café com leite e... tentar sempre! Me ensinou a fazer da experiência do fracasso, uma lição para o futuro. E mais: ensinou que o amor é a coisa mais importante que existe nesse mundo e que a liberdade total que se dá aos filhos nem sempre é amor, é rendição, irresponsabilidade, descompromisso para com a vida deles. E foi por isso mesmo que você me bateu muitas vezes, mas me abraçou muito, compreendeu , perdoou e ensinou milhares de vezes mais... Sei que se pudesse ler isso, você que é puro doce de leite, iria chorar feito eu no seu colo quando menina. E, então, aproveito pra dizer que até chorar você me ensinou. Que é bom, alivia... Que depois do choro, tudo vira arco-íris. E é um arco-íris que eu te mando agora, pra você por em sua testa ao redor dos cabelos. Pra que quando os anjos a virem passando, fiquem sabendo que você sempre foi a mãe mais amada do mundo! ...Nós estamos longe agora, de novo, como tantas vezes. E a saudade chega doendo mais que as chineladas que levei. Receba meu beijo estalado como aqueles beijos tão gostosos que te dei quando menina! Nota da autora: trasgos: termo regional, uma espécie de aparição, lado ruim e duro da vida (na concepção da palavra, seria uma espécie de assombração (algo que incomoda a alma)
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