terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Crônica.A.007.Amor a moda antiga - Cybele Russi de Carvalho


E esta, na minha humilde opinião de leiga, talvez seja a chave do sucesso das famílias "que dão certo".

Não existe a família certa, assim como não existem as pessoas certas. O que existe são pessoas claras, firmes, decididas e coerentes com seus princípios e com seus valores. Não importa muito se o casal vive junto, se é separado, se se ama apaixonadamente, ou se vive aos trancos e barrancos.

Na verdade, os filhos parecem pouco se importar com o tipo de relação que existe entre os pais. (A importância das brigas dos pais para o resto de nossas vidas é tão irrelevante, que raramente nos lembramos disso depois de adultos.) Mas, o que lhes importa diretamente e vai definir seu caráter para o resto da vida é a clareza e coerência dos pais, não importando se estes vivem juntos ou separados pelo oceano. É a clara definição dos papéis e a delimitação dos limites que forma caráter dos filhos.

Estou certa disso. Pai é pai. Mãe é mãe. Filho é filho. Sim é sim. Não é não. Pode, pode. Não pode, não pode. E estamos conversados.

Não importa nem mesmo quem vai assumir o papel de pai ou de mãe, mas que alguém o faça de forma clara!

Foi assim na época dos nossos tataravós, dos nossos trisavós, dos nossos bisavós, dos nossos avós, dos nossos pais, e de nós mesmos. Mas, infelizmente, não é assim na época dos nossos filhos.

E o que se vê hoje é isto que está aí: uma sociedade totalmente perdida, sem referenciais, sem saber para que lado correr.

Os problemas intra-familiares sempre existiram. O Mundo é o mesmo, desde sempre.

Violência sempre existiu. Doenças sempre existiram. Fome sempre existiu, e antigamente muito mais do que hoje. Dificuldades, falta de dinheiro, falta de emprego, falta de perspectiva, perdas, dores, sofrimentos, famílias desamparadas, sem-teto, sem-terra, sem-roupa, sem-remédio, sem-escola, sem-estudo, sem-educação, sem-dinheiro, sem-nada, não são invenções do Lula, nem do Fernando Henrique, nem do FMI, nem do neoliberalismo. Isto tudo sempre existiu desde que o homem está na terra.

A diferença é que no passado havia uma coisa chamada LIMITE, que não existe mais hoje.

No passado, o pai podia ser um cafajeste muito do safado, mas sua palavra era lei.
A mãe, podia ser a pior mãe do mundo, mas ninguém ousava desrespeitá-la. E o filho sabia exatamente a hora de botar o rabinho entre as pernas e se retirar para o seu quarto. E quem ousasse discordar das regras vigentes era convidado a arrumar sua trouxinha de roupas e se retirar, sob o aviso de que "a porta da rua era serventia da casa."

Infelizmente, com a "evolução"(?!) da nossa sociedade, houve uma inversão total dos papéis. São os filhos que mandam na casa, que ditam as normas, que estabelecem as leis, os horários, que negociam as notas do colégio, que chantagiam, que subornam, que compram indulgências.

São eles que determinam se a família vai tirar férias, ou não. E se eles entrarem em qualquer faculdade mixuruca de beira de estrada, os pais têm que dar graças a Deus, afinal, eles já fizeram muito!

A culpa de tudo isso não é do casamento que fracassou, nem do pai, que perdeu o emprego, nem da mulher, que foi trabalhar fora e procurar sua emancipação social. A culpa é do pai e da mãe que perderam o bom-senso, que não são capazes mais de dizer SIM; que não sabem, menos ainda, dizer NÃO; que não sabem que, para bem educar uma criança não é preciso recorrer a nenhum manual de psicologia ou de pediatria.

Basta saber distinguir SIM de NÃO e ser coerente com seus princípios e valores, independentemente do que acontece na televisão ou da opinião do vizinho. Por excesso de zelo, de medo de errar, os pais vivem coagidos pelos filhos. Por excesso de cuidados, não sabem mais como agir, são incapazes de assumir a autoridade e, principalmente, a autenticidade de seus sentimentos.

Ninguém mais ousa expressar sua raiva, sua indignação, seu descontentamento. Para tudo se tem uma justificativa fajuta. Os filhos sempre são inocentes, nós é que erramos em alguma coisa, ou em algum momento.

Erramos, sim. E muito! Erramos em não saber gritar de vez em quando e mostrar quem é que manda nesta casa. E erramos infinitamente mais em confiar mais nos manuais do que no nosso próprio amor.

Quem acredita na força do seu amor não tem conflito educacional nem existencial, deixa que os cães ladrem e a caravana passe.

O que não dá, e não dá mesmo, é para inverter os papéis, e deixar que a criança seja o Senhor do Castelo.
Quando a criança tem claro para si os papéis e os limites de cada um, ela sabe exatamente até onde pode ir e onde deve parar.

Arriscar e buscar o novo, não só é bom, como é essencial para o crescimento saudável da criança e para o desenvolvimento da maturidade e da autonomia do adolescente. Entretanto, só pode levantar altos vôos a ave que sabe os riscos que corre ao sair do solo... E para isso, ela foi treinada durante a vida toda reconhecendo seus próprios limites.

Quem não tem consciência próprios limites, se atira no primeiro precipício da vida. E é a esse filme que todos nós estamos assistindo de camarote, de braços cruzados, sem saber o que fazer. Jovens e crianças se atirando de precipícios, porque não têm limites.

E o limite é o corrimão da vida, é onde a gente se segura para não cair.
Voltando à velha tecla da comparação com o passado, precipícios sempre existiram, eles não foram inventados pela sociedade contemporânea, muito menos a curiosidade e o desejo.

Quem disse que minha bisavó não tinha desejo pelo meu bisavô antes de se casar? Ela tinha sim, e muito. E a sua também tinha!

Acontece que no tempo das nossas tataravós não existia a pílula, nem a camisinha, e o aborto era uma prática altamente perigosa e impensável. A gravidez fora do casamento era uma enorme vergonha para a família e motivo de expulsão do meio social. A menina já crescia sabendo de tudo isso.

Então, as nossas bisavós, que eram tão bonitas, atraentes e sedutoras como nossas filhas o são elas também já foram jovens um dia!

Tomavam o maior cuidado para não ultrapassar os limites, porque sabiam que aquilo poderia ser um caminho sem volta. Elas tinham muito claro para si qual era o limite.
Hoje, eu sei de inúmeras mães que acompanham as próprias filhas em clínicas de aborto. ( Não que eu seja contra ou favor do aborto, não é essa a discussão.) A discussão é que a menina sabe que não vai acontecer rigorosamente nada com ela se engravidar aos quinze anos. E é por isso que a gente tem visto essa quantidade absurda de mães-crianças, que, além de engravidarem por que não tiveram seus limites delimitados, não têm a mínima condição psíquica, emocional, financeira, cultural e social de assumir essa maternidade precoce.


Por que na nossa geração, a dos anos 60, nós não engravidávamos antes de casar, apesar de toda a pregação existente na época do Amor-Livre? Porque se a gente engravidasse já sabia que ia ter de "puxar o carro" de casa; que o nosso papaizinho não iria assumir a educação do netinho, como acontece hoje.

A isto, por mais chocante que possa parecer, se dá o nome de LIMITE.

Nós conhecíamos os limites e as regras da casa.

E a gente tinha que dançar conforme a música, se não, já sabe, "a porta da rua é serventia da casa".

Voltando ao caso da nossa protagonista, a Srta. Suzane von Richthofen, que matou os pais e foi transar no motel em seguida.

Por que ela agiu assim, em vez de se mandar da casa dos pais com o namorado, já que ela o "amava" tanto?

Naturalmente, porque foi educada acreditando que podia fazer tudo o que bem quisesse, que nunca seria punida.

Quem ousaria punir uma bonequinha loira, tão lindinha?

Naturalmente, ela é fruto da famosa educação "liberal", em que tudo pode ser discutido e negociado, menos os direitos dela, de namorar e sair para transar com quem quiser, desde que com o dinheiro dos pais, bem entendido, porque em nenhum momento foi dito que ela trabalhava e se auto-sustentava.

Não, não adianta a gente querer culpar a sociedade. A culpa foi dos pais, sim.

Quando o pai resolveu dizer NÃO e pôr um basta na situação, já era tarde demais, a cobra já estava criada.

É duro ter de admitir, mas a sociedade não é responsável pelos crimes de nossos filhos. Nós somos os únicos responsáveis.

Não adianta a gente querer agora ficar procurando os bodes expiatórios. Responsáveis somos todos nós, que um dia parimos e demos à luz uma criança. Ela é nossa responsabilidade para sempre, ad eternum, e não adianta a gente querer fugir disso.

Como diria a minha velha e sábia avó, "Quem pariu Mateus, que o embale!" Sabias palavras. Traduzidas em miúdos: quem gerou que cuide, que crie!

Infelizmente, esta é a dura realidade da nossa sociedade contemporânea. Infelizmente, quem tem causado todo o estrago social a que hoje assistimos são os próprios pais, que não querem, literalmente, embalar seus filhos, e os jogam para que a escola, o berçário, a creche, o psicólogo, a psicopedagoga, o particular alguém-pelo-amor-de-deus dê um jeito neles.

Ter filhos é duro. Cansa tanto! Cansa tanto ter de ficar ensinando, dizendo, repetindo, dizendo o dia todo sim, não, não, sim, não, não, sim, sim, pode, não pode.

É um desgaste! É um desgaste mesmo. Mas só quem tem uma "paciência de Jó" deve ter filhos. Quem não tem, não deveria se atrever.

Eu estou aqui, pensando na família Richthofen, e algo me diz que, se Sr. Manfred Alfred von Richthofen tivesse dito a sua filha Suzane "olha lindinha, já que você gosta tanto do seu namorado, pega a suas coisas, cai fora daqui e vai viver sua vida com ele, mas deixa a chave do carro e o talão de cheques em cima da mesa, porque a partir de agora, é tudo por sua conta", eles hoje estariam almoçando todos juntos, tomando um bom vinho, rindo daquele namorado tão bobo, de quem ela nem gostava tanto assim.

Mas agora é tarde, ele não soube deixar Suzane de castigo no quarto na hora certa, agora, ela vai ter que ficar de castigo por muito mais tempo.


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