quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Crônica.D.009.De cima pra baixo - Arthur Azevedo
Naquele dia o ministro chegou de mau humor ao seu gabinete, e imediatamente mandou chamar o diretor-geral da Secretaria. Este, como se movido fosse por uma pilha elétrica, estava, poucos instantes depois, em presença de Sua Excelência, que o recebeu com duas pedras na mão. — Estou furioso! — exclamou o conselheiro; — por sua causa passei por uma vergonha diante de Sua Majestade o Imperador. — Por minha causa? — perguntou o diretor—geral, abrindo muito os olhos e batendo nos peitos. — 0 senhor mandou-me na pasta um decreto de nomeação sem o nome do funcionário nomeado! — Que me está dizendo, Excelentíssimo?... E o diretor-geral, que era tão passivo e humilde com os superiores, quão arrogante e autoritário com os subalternos, apanhou rapidamente no ar o decreto que o ministro lhe atirou, em risco de lhe bater na cara, e, depois de escanchar a luneta no nariz, confessou em voz sumida: — É verdade! Passou-me! Não sei como isto foi... — É imperdoável esta falta de cuidado! Deveriam merecer-lhe um pouco mais de atenção os atos que têm de ser submetidos à assinatura de Sua Majestade, principalmente agora que, como sabe, está doente o seu oficial-de-gabinete! E, dando um murro sobre a mesa, o ministro prosseguiu: — Por sua causa esteve iminente uma crise ministerial: ouvi palavras tão desagradáveis proferidas pelos augustos lábios de Sua Majestade, que dei a minha demissão!... — 0h!... — Sua Majestade não o aceitou... — Naturalmente; fez Sua Majestade muito bem. — Não a aceitou porque me considera muito, e sabe que a um ministro ocupado como eu é fácil escapar um decreto mal copiado. — Peço mil perdões a Vossa Excelência — protestou o diretor-geral, terrivelmente impressionado pela palavra demissão. — 0 acúmulo de serviço fez com que me escapasse tão grave lacuna; mas afirmo a Vossa Excelência que de agora em diante hei de ter o maior cuidado em que se não reproduzam fatos desta natureza. 0 ministro deu-lhe as costas e encolheu os ombros, dizendo: — Bom! Mande reformar essa porcaria! 0 diretor-geral saiu, fazendo muitas mesuras, e chegando no seu gabinete, mandou chamar o chefe da 3a seção, que o encontrou fulo de cólera. — Estou furioso! Por sua causa passei por uma vergonha diante do Sr. Ministro! — Por minha causa? — 0 senhor mandou-me na pasta um decreto sem o nome do funcionário nomeado! E atirou-lhe o papel, que caiu no chão.
0 chefe da 3a seção apanhou-o, atônito, e, depois de se certificar do erro, balbuciou: — Queira Vossa Senhoria desculpar-me, Sr. Diretor... são coisas que acontecem... havia tanto serviço... e todo tão urgente!... — 0 Sr. Ministro ficou, e com razão, exasperado! Tratou-me com toda a consideração, com toda a afabilidade, mas notei que estava fora de si! — Não era caso para tanto. — Não era caso para tanto? Pois olhe, Sua Excelência disse-me que eu devia suspender o chefe de seção que me mandou isto na pasta! — Eu... Vossa Senhoria... — Não o suspendo; limito-me a fazer-lhe uma simples advertência, de acordo com o regulamento. — Eu... Vossa Senhoria. — Não me responda! Não faça a menor observação! Retire-se, e mande reformar essa porcaria! *** 0 chefe da 3a seção retirou-se confundido, e foi ter à mesa do amanuense que tão mal copiara o decreto: — Estou furioso, Sr. Godinho! Por sua causa passei por uma vergonha diante do sr. diretor-geral! — Por minha causa? — 0 senhor é um empregado inepto, desidioso, desmazelado, incorrigível! Este decreto não tem o nome do funcionário nomeado! E atirou o papel, que bateu no peito do amanuense. — Eu devia propor a sua suspensão por 15 dias ou um mês: limito-me a repreendê-lo, na forma do regulamento! 0 que eu teria ouvido, se o sr. diretor-geral me não tratasse com tanto respeito e consideração! — 0 expediente foi tanto, que não tive tempo de reler o que escrevi... — Ainda o confessa! — Fiei-me em que o sr. chefe passasse os olhos... — Cale-se!... Quem sabe se o senhor pretende ensinar-me quais sejam as minhas atribuições?!... — Não, senhor, e peço-lhe que me perdoe esta falta... — Cale-se, já lhe disse, e trate de reformar essa porcaria!... *** 0 amanuense obedeceu. Acabado o serviço, tocou a campainha. Apareceu um contínuo. — Por sua causa passei por uma vergonha diante do chefe da seção! — Por minha causa?
"— Sim, por sua causa! Se você ontem não tivesse levado tanto tempo a trazer-me o caderno de papel imperial que lhe pedi, não teria eu passado a limpo este decreto com tanta pressa que comi o nome do nomeado! — Foi porque... — Não se desculpe: você é um contínuo muito relaxado! Se o chefe não me considerasse tanto, eu estava suspenso, e a culpa seria sua! Retire-se! — Mas... — Retire-se, já lhe disse! E deve dar-se por muito feliz: eu poderia queixar-me de você!... *** 0 contínuo saiu dali, e foi vingar-se num servente preto, que cochilava num corredor da Secretaria. — Estou furioso! Por sua causa passei pela vergonha de ser repreendido por um bigorrilhas! — Por minha causa? — Sim. Quando te mandei ontem buscar na portaria aquele caderno de papel imperial, por que te demoraste tanto? — Porque... — Cala a boca! Isto aqui é andar muito direitinho, entendes? — Porque, no dia em que eu me queixar de ti ao porteiro estás no olho da rua. Serventes não faltam!... 0 preto não redargüiu. *** 0 pobre diabo não tinha ninguém abaixo de si, em quem pudesse desforrar-se da agressão do contínuo; entretanto, quando depois do jantar, sem vontade, no frege-moscas, entrou no pardieiro em que morava, deu um tremendo pontapé no seu cão. 0 mísero animal, que vinha, alegre, dar-lhe as boas-vindas, grunhiu, grunhiu, grunhiu, e voltou a lamber-lhe humildemente os pés. 0 cão pagou pelo servente, pelo contínuo, pelo amanuense, pelo chefe da seção, pelo diretor-geral e pelo ministro!... "
Crônica.D.008.Doar-se ao outro - Manoela Almeida
Doar-se ao outro...
O trabalho, as agitações do dia-a-dia sempre vão existir, mas o irmão que está ao nosso lado, não sabemos até quando estará conosco.
Muitas vezes sem pensar "matamos" os nossos irmãos. Esta palavra pode parecer dura ("matar"), mas na realidade o ato de matar o outro não acontece só de maneira física.
Matamos o outro quando o anulamos, quando só exigimos dele, mesmo sem saber como ele está, quando só fazemos as nossas vontades e sem perceber passamos por cima e só o chamamos de irmão quando precisamos.
Infelizmente, tudo em nossa volta está tão corrido, cada um querendo terminar o seu trabalho, os seus deveres... Deixamos tudo para amanhã. Damos a desculpa a nós mesmos: "amanhã eu vou amar", "amanhã eu pensarei no meu irmão", "depois eu pergunto como ele está", e vamos deixando tudo para depois...
O mundo nos leva a sempre pensarmos em nós mesmos, queremos amor, atenção e não percebemos que o outro também precisa. É preciso saber que: "O amor não se improvisa, o amor é uma conquista!".
É necessário gastar o precioso tempo que Deus nos deu para se doar ao outro.
O trabalho, as agitações do dia-a-dia sempre vão existir, mas o irmão que está ao nosso lado não sabemos até quando estará conosco.
Deus nos convida a viver intensamente esta frase:
Que nunca deixemos os nossos para trás.
É muito fácil acusarmos o irmão quando ele desiste ou erra, o difícil é aceitá-lo e ajudá-lo a levantar, o difícil é deixarmos a nossa posição, as nossas vontades e descer do degrau mais alto para levantar o outro que está embaixo.
Vamos juntos pedir a Deus a graça de deixarmos de ser egoístas, e passarmos a doar, nem que seja um minuto ou um sorriso, mas que seja doado com amor, pois cada vez que nos doamos aos outros, esquecemos a nós mesmos.
Assim teremos a graça de experimentar a verdadeira alegria - a que não passa, a de doar a vida pelo irmão.
Hoje, Jesus nos convida a amar concretamente, não com grandes atos, mas com pequenos gestos; gestos esses que são capazes de tirar o nosso irmão do abismo.
Crônica.D.007.Dois em um, um que vale por dois - Marino Silva
Para uma boa crônica (frases de duplo sentido)
Para morar (apartamento duplex com duas vagas na garagem)
Para a proteção (dupla camada protetora)
Para ouvir (álbum duplo/duplo deck)
Para enfeitar a sala (rack de dois corpos)
Para jogar (segundo tempo)
Não fazer nada sem pedir uma (segunda opinião)
Saber que você sempre tem uma (segunda opção)
E para o perigo (dupla dinâmica)
E para a segurança (dupla embalagem)
Para a justiça (duplo grau de jurisdição)
Para a mente (dupla personalidade)
Para uma pena pesada (homicídio duplamente qualificado)
Para mentir (duas caras)
Para cortar (faca de dois gumes)
Para lavar roupas (sabão dupla ação)
Para escovar os dentes (creme dental dupla ação)
Para redigir texto (espaço duplo)
Para valer o contrato (duas testemunhas)
Para treinar a habilidade (treino em dois toques)
Para pagar as contas (cartão de crédito com duas datas)
Ora, nunca um é suficiente sempre é preciso dois?
Será que sempre tem que haver um segundo motivo?
Tudo tem que ser duplo?
Então deve ser por isso é que um amor muitas vezes nos faz mais triste do que feliz
Ou seja, será que precisamos encontrar um segundo amor?
Dois amores? Um amor duplex?
Será que é isso?
Crônica.D.006.Deixe a lágrima rolar - Letícia Thompso
Quando sentir vontade de chorar, chore! Deixe a lágrima rolar! Qual adulto, idoso, criança, pode se gabar de não ter sentido um dia a necessidade de colo? Quem atira a primeira pedra? Por mais que sejamos fortes, não podemos fugir às tempestades da vida. São as decepções, as perdas ou simplesmente nossas expectativas que não são correspondidas que nos fazem, independente da nossa idade ou situação, nos sentir pequenos o bastante para desejarmos colo. E nem sempre é fácil admitir isso. Homens não choram? Choram sim! Mulheres choram fácil demais? Elas se fazem duronas também. As crianças choram à toa. Todo mundo chora. Pelo menos todo mundo precisa chorar nem que seja uma vez ou outra, para aliviar a alma, para diminuir o peso do cansaço e da solidão. O choro é sempre um sinal de apelo. E um sinal que sempre encontra um bom samaritano no seu caminho. Difícil resistir a alguém que chora! É quando olhamos para alguém que vemos os olhos marejados que sentimos que esse alguém precisa de colo; nem sempre de palavras, mas colo, sempre. Colo que pode representar um abraço mudo e apertado, um olhar compreensivo, um aperto de mão... nada toca mais nossa alma do que olhar nos olhos de alguém que chora. E nada toca tanto alguém que chora quanto sentir a presença de alguém que o compreende. E nas lágrimas que rolam, rola a tristeza, a insatisfação, o tédio, a dor, as dúvidas e medos. A alma fica lavada. Por isso chorar alivia. Por isso chorar dá sono. Quando acordamos depois de termos chorado, nos sentimos mais leves, nos sentimos prontos para encarar um novo dia, uma nova situação. Então... quando sentir vontade, não se contenha! Peça colo, peça ombro... Deixe a lágrima rolar! Ser forte não é ser durão ou durona; ser forte é ser capaz se reconhecer frágil e saber que dará a volta por cima; é saber que as marés podem ser altas ou baixas, mas que apesar de tudo as ondas nunca desistem do sonho de beijar a areia. E elas beijam sempre...
Crônica.D.005.Distribuir o troco - MICHELE STARKEY TRAD:SERGIO BARROS
Minha rotina pela manhã inclui uma parada em uma loja de conveniências para comprar o jornal. Certa manhã, há pouco tempo, a conveniência da loja mostrou-se inconveniente para as pessoas presas na fila atrás de dois pequenos meninos. Quando cheguei ao caixa para pagar pelo jornal, notei os dois garotos em pé na frente da fila - uma fila que crescia a cada minuto. O jovem atrás do caixa estava claramente irritado com os meninos e disse para eles, - Olhem, vocês precisam de mais dezenove centavos para pagar por este doce. Se vocês não têm, vocês não levam. Eu assisti como os pequenos meninos pareciam embaralhar os pés sem articular uma palavra, apenas olhando fixamente para o caixa com olhos entristecidos. As pessoas esperando impacientemente na fila começaram a reclamar ruidosamente, - Como é que é! A fila anda ou não anda? De repente, me senti na obrigação de intervir. - Eu tenho os dezenove centavos, - gritei de minha posição na fila - tome este dólar pelo meu jornal e use o troco para pagar pelo doce. O jovem do caixa pareceu aliviado por ter o assunto resolvido. Entreguei o dólar, sorrindo ao jovem do caixa e parti. Enquanto fazia meu caminho até meu carro, uma pequena voz gritou para mim, - Ei, senhora! Aquilo foi legal! Ele se foi. Eu suponho que tinha sido um "obrigado" e gostei de pensar que eu seria o assunto de suas conversas naquela manhã. Eu era a "senhora legal" que salvou o dia pagando pelo doce em um apressado e negligente mundo. Me fez sorrir imaginar que meu gesto clareou seu pequeno mundo, mesmo que só por um momento. Quando cheguei a minha própria loja, eu me deleitava com minha boa ação e procurava compartilhar minha história com minhas clientes. Quando terminei de contar a história para um grupo de jovens, uma delas virou-se para mim e disse, - Eu gosto de fazer pequenas coisas como esta, também.
Quando eu paro para tomar meu café diário, eu deixo alguns centavos no chão do estacionamento ou na calçada. Algumas vezes eu fico em meu carro e observo para ver se alguém encontra minhas moedas. Sempre faz as pessoas sorrirem e faz meu dia mais alegre, também. Eu tenho feito isto há anos.
Eu não podia falar. Fazer alguém sorrir ao achar uns centavos no estacionamento. Talvez eu tenha sido uma das que receberam seu presente. Ela admitiu timidamente que nunca tinha contado isto à ninguém. - E eu aqui, alardeando minha "generosidade", pensei comigo mesma. Eu aprendi que devemos fazer nossas boas ações sem fanfarra e sem esperar reconhecimento. Humilhada, decidi não contar meu episódio matutino para mais ninguém. Ficaria apenas entre Deus e eu. Naquela tarde, a caminho de casa, eu parei em um café para comprar donuts. Quando deixei a loja, notei uns brilhantes centavos na calçada. Em vez de curvar-me e apanhá-los, eu ajoelhei e coloquei mais uma moeda. Afinal, centavos são presentes de anjos e os anjos sempre sorriem quando nós dividimos nosso troco.
Crônica.D.004.Do coração de uma mulher - Luciene Machado
A bem da verdade, não sou essa mulher fatal que você pensa que eu sou. Aquelas histórias de sedução foram todas inventadas e esse ar superior, de quem sabe lidar com a vida, é apenas autodefesa. Aquelas frases filosóficas, foram só pra te impressionar, pra te passar essa ilusão de intelectual... na verdade eu ainda nem sei se acredito nos valores que me ensinaram, quanto mais em frases feitas e opiniões formadas! Senta aí, vai! Deixa eu tirar os sapatos, desmanchar o penteado, retirar a maquiagem... quero te mostrar que assim de perto não sou tão bonita quanto pareço, por isso uso todos esses artifícios. É que no fundo tenho um medo terrível de que você me ache feia, de que você encontre em mim uma série de imperfeições. Sabe, não quero mais usar essa máscara de mulher inatingível, de mulher forte com punhos de aço... No íntimo me sinto uma pequena ave indefesa, leve demais para enfrentar o vento, e, deseja ficar no aconchego do ninho e ser mimada até adormecer. Olha pra mim, às vezes minha intimidade não tem brilho algum e você terá que me amar muito para suportar essa minha impotência. Deixa eu tirar o casaco, tirar o cansaço... essa jornada dupla me deixa tão carente... A convicção de independência afetiva? É tudo balela! Eu queria mesmo era dividir a cama, a mesa, o banho... Queria dividir os sentimentos, os sonhos, as ilusões... um pedaço de torta, uma xícara de café, algum segredo... Ah, eu tenho andado por aí, tenho sido tantas mulheres que não sou! Quantas vezes me inventei e até me convenci da minha identidade. Administrei minha liberdade. Tomei aviões, tomei whisky... troquei a lâmpada, abri sozinha o zíper do vestido... decidi o meu destino com tanta segurança! Mas não previ que na linha da minha vida estivesse demarcada uma paixão inesperada. Agora, cá estou eu, trinta e poucos anos e toda atrapalhada, tentando um cruzar de pernas diferente, um olhar mais grave, um molhar de lábios sensual... mas não sei direito o que fazer para agradar.
Confesso que isso me cansa um pouco. Queria mesmo era falar de todos os meus medos, "dos seus medos?" você diria, como se eu nunca tivesse temido nada. Queria te falar das minhas marcas de infância, dos animais que tive, do meu primeiro dia de aula... queria falar dessas coisas mais elementares, e te levar na casa da minha mãe, te mostrar meu álbum de retrato (eu, me equilibrando nos primeiros passos), ah, queria te mostrar minha primeira bicicleta, com truques.
Ela ainda existe! Queria te mostrar as árvores que eu plantei (como elas cresceram!) e todas essas coisas que são tão importantes pra mim e tão insignificantes aos outros. Ah, você queria falar alguma coisa? Está bem! Antes, só mais uma coisinha: estou morrendo de medo que você saia desta cena antes de mim, que você saia à francesa desta história, e eu tenha que recolocar minha máscara e me reinventar, outra vez.
Crônica.C.008.Carnaval - Bruno Kampel
"Sabendo que ela viria, escolhi qual seria o evento para melhor recebê-la. Carnaval, anunciava o calendário. Pois que seja Carnaval, pensei. E com o ritmo da noite que se aproximava já correndo-me nas veias da impaciência, iniciei os preparativos. Contratei 6 nigerianos , imponentes, para que batessem o tambor, o tamborim e o reco-reco. Tranquei no armário da garagem todos os fantasmas que habitualmente circulam livremente pela sala da minha memória. Despachei a minha espanhola para Andaluzia sem lhe dar mais explicação do que uma vaga promessa de um futuro melhor. Corri os móveis para aumentar o espaço. Troquei os lençóis, escolhendo uns de cetim negro, comprados em Paris numa dessas noites em que o dolce farniente levou-me até um dos grandes armazéns. Veuve Clicquot esfriando, caviar Beluga esperando pacientemente a sua hora de ser degustado. E enquanto arrumava os últimos detalhes, o whisky descia suavemente, encontrando terreno propício para alimentar esperanças. E assim, esperada, ela chegou, inaugurando o desfile da única Escola convidada para o evento que instaurava oficialmente o verdadeiro carnaval nos meus salões mais íntimos, transformados em lupanar digno de príncipes e sultões. Os batuqueiros, como adivinhando que a hora era essa, começaram o repique, ao som do qual, bamboleando sinuosamente, ela adentrou, fantasiada de convite irrecusável, vestindo a mais ensolarada das epidermes, oferecendo ao único espectador a certeza de uma noite inesquecível. No alto da carroça, recoberta com o suor que ela mesma fabricara, balançando o seu desejo ao som do batuque, mexia nas minhas cordas mais sensíveis. E sem saber como, deixei o camarote e pulei para a avenida imaginária, subindo até o púlpito desde o qual ela rezava seu cântico erótico, e juntei-me à coreografia, balançando-me no seu compasso, apoiando-me no seu ritmo, agarrando-me no seu suor. E assim continuava o desfile, apoteótico, transmitido em cadeia para todos os meus poros, para cada um dos meus sentidos. Por isso, custou-me escutar o silêncio que tomara conta do espaço, até que olhando para o lugar onde os imponentes nigerianos deviam estar cumprindo a missão para a qual haviam sido contratados, vi que eles tinham abandonado os tambores, tamborins e reco-recos, e, hipnotizados, tinham os olhos postos nela, tocando-a de longe, acariciando-a lascivamente com os olhos, roubando-me a primazia e o privilégio. Sem pensar duas vezes expulsei a orquestra, e assim, ficamos os dois, molhados de expectativa, pendentes do que sabíamos seria o passo decisivo. Ajudei-a a descer, e cantarolando um samba nos agarramos, e o beijo pareceu uma ordem peremptória que nos empurrou pela passarela iluminada até o altar de cetim que desde cedo nos esperava.Masoquistas, adiamos o encontro, molhando o desejo no champanhe, enchendo nossas bocas com caviar, conhecendo-nos, averiguando-nos. A pesquisa, que começou prudente, adquiriu proporções de terremoto, pondo a prova a nossa capacidade de conjugar esforços para encontrar um resultado equivalente. Sim, foi delirante. O beijo no lugar esperado, a carícia na hora certa, a música de fundo composta de ais profundos, palavras sem nexo, e o sexo, explícito e profundo, imperando soberano. Fomos, ora trotando, ora galopando, ora descansando, e outra vez o trote e o galope e o descanso, e outra vez, e tantas, que parecia estarmos num paraíso feito de caviar e suor, de seda e champanhe. Quando o amanhecer bateu na janela do quarto, ela, já despida dos trajes nupciais com que a luxúria a vestira, concedeu-me a última valsa, e dançando a lembrança da noite que passara, esfumamo-nos no despertar da realidade."
Crônica.C.007.Caminhando & Amando - Carolin@
Não, a paisagem não vai mudar... O que vai mudar são nossos olhos... Acredite na miragem, está lá um oásis interior que lhe pertence... Permita-se... Dê ao seu coração este bálsamo! Fale a palavra contida, Grite o gemido de dor, Alce vôo... Somos apenas um trecho da estrada... Simplifique, Não é fácil... eu sei... Nossas maiores dificuldades estão nas decisões, Não é fácil. Aprendi que algumas coisas devemos decidir, Outras, por si se decidem... O momento é de "sentir", fluir e fruir... Sem mergulhos vertiginosos, Sem colocar desejos pessoais em evidência. Devo entregar o que trago em minhas mãos; Você também tem o que entregar. Hoje parece que estamos acumulando nuvens sobre nossas cabeças... Amanhã, quem sabe, o vento pode soprar, Levar as nuvens, descortinar um lindo céu, A bruma do amanhecer pode ser uma surpresa... Quem sabe, oculta nossos vultos, protegendo-os... Quem sabe oculta nossos rastros, Únicas testemunhas de nossa passagem...... Se não estivermos preparados para caminhar desse jeito, Não estamos ainda no ponto de percorrer com sucesso, O resto do trajeto que nos foi confiado... Alegre-se... A vida seguirá seu rumo, independente de nossas vontades... Podemos escolher: Podemos ser o grão de areia que o vento carrega sem rumo... Podemos ser a partícula que agrega força e energia... Esculturas que vamos construindo e abandonando, nos acostamentos dessa estrada, grande incógnita... aberta passo a passo, pelos pés de quem está Vivo! Caminhando e Amando! Você pode parar de Viver... mas não pode parar de Amar. Paradoxo. Amar é Viver. Viver é Amar.
Crônica.C.006.Comunidade do amor - LISIÊ SILVA
"Olá, Meus amigos! Vocês já pararam para pensar o que significa estarmos aqui na internet e fazermos esse trabalho que estamos fazendo? Hoje eu parei para pensar nisso... E constatei que nós somos a ""Comunidade do Amor"". Constatei o quanto é importante essa dedicação que temos, o tempo que dispomos para estarmos aqui a escrever, enviar ou repassar nossos textos em favor do Amor, da paz, dos bons sentimentos e das virtudes que engrandecem a vida dos seres humanos. Sim, meus amigos! É isso mesmo! Nós somos a ""Comunidade do Amor"". Por que o mundo precisa de nós! e nós precisamos viver nesse mundo. Por que as pessoas precisam de nós! e nós precisamos amar as pessoas. Por que Deus precisa de nós! e nós precisamos estar com Deus. A Comunidade do Amor somos todos nós, não somente eu e os meus amigos que fazemos sites, os escritores, os poetas, mas também todos vocês, Sim! Vocês! Que são nossos leitores, que são nossos amigos, que recebem nossas mensagens e repassam para outros amigos. E nesse repassar contínuo de mensagens, vamos formando essa maravilhosa comunidade virtual de amigos em que o interesse maior é divulgar os bons sentimentos... Vamos ver o quanto é importante essa nossa união? Vejam só... Há pessoas que não gostam de internet, e acham que o que fazemos aqui é ""coisa de quem não tem o que fazer"". Eu tenho muito o que fazer, mas sei dividir o meu tempo. Faço o meu trabalho (comercial) na parte da manhã, cuido dos meus 3 filhos, da casa e da empresa, e consigo reservar algumas horas da tarde para estar aqui e falar de sentimentos. Assim como muitos de vocês, que eu sei que também trabalham, que tem suas responsabilidades, e no intervalo ou final do expediente, entram aqui na internet para se ""abastecer"" de coisas boas, e ficarem mais fortes para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia. Tem também vocês, meus amigos, que já trabalharam por quase toda a vida e agora, aposentados ou não, vem aqui na internet ""pegar"" um pouco de equilíbrio para continuar com suas lutas terrenas, e repassar esse mesmo equilíbrio para os seus amigos que também precisam. Há também vocês, amigas que não trabalham fora, mas trabalham em dobro dentro de casa, a cuidar de filhos e maridos, e quando sobra um tempinho, entram aqui para recuperar suas energias através da leitura, encontram bons momentos de lazer, e lembram das outras amigas e repassam o que recebem para proporcionar aos outros momentos agradáveis! Sabe como se chama isso? AMAR as pessoas! e contribuir para um mundo melhor! Sim, meus amigos!!! É isso que todos nós fazemos! E temos ""muito o que fazer"" aqui! Imaginem se pensássemos como os que não gostam de internet? Viveríamos no sub-mundo das nossas tristezas, sem alimentarmos o nosso espírito, e conseqüentemente o que teríamos a passar para as pessoas? Somente tristeza e nada de bons sentimentos... Por que estaríamos vazios por dentro... Nós somos o equilíbrio, meus amigos! Porque no momento em que os ""Homens"" que estão no poder, instauram a guerra, a ganância e o ódio, nós falamos de Paz! de Vida! de Deus! de Amor! E há que ter esse equilíbrio no nosso planeta! Enquanto ""Homens"" doente-fanáticos pelo poder liberam sua ira, e só pensam em derrotar uns aos outros, aqui estamos nós a elevar uns aos outros... falando de amor... pedindo a paz! Somos aqueles que divulgamos toda a forma de amar... Por que somos nós os sensíveis! Somos nós que nos emocionamos com os sentimentos mais belos que existem: Amor, saudade, paixão, esperança, amizade!!! Nossa sensibilidade se contagia com esses sentimentos, ao lermos um texto, e transmitimos essas emoções para outros e assim formamos nossa maravilhosa comunidade de amizade, amor e paz! Esse é o equilíbrio! Por que enquanto os ""Homens"" dito ""poderosos"", esquecem as leis de Deus e usam de raciocínios ilógicos, ameaçando o nosso mundo, munidos dos piores sentimentos, como vingança e orgulho próprio em busca do domínio de um continente, sem se importar com a vida de milhares de seres humanos, Aqui estamos nós, a orar, a refletir, a pedir a ajuda divina, e a amar uns aos outros! Nós somos o equilíbrio, meus amigos... A terra gira em favor da energia que ela recebe... Nós, aqui na internet, estamos sempre a emitir boas energias! Através das mensagens e poesias que recebemos e repassamos. Por que quando nós lemos uma mensagem que fala de bons sentimentos, nós estamos canalizando estes bons sentimentos para o plano superior... Não precisa nem repassar a leitura, pois só o fato de você ler, e sua mente assimilar aquele sentimento de amor, você já está canalizando as boas energias. A nossa mente é construtora! Nossos pensamentos criam formas! Sentimentos de Amor criam boas energias! E como o nosso planeta precisa dessas vibrações boas! Eu acredito firmemente que em tudo que há de bom, há a mão de Deus. Eu acredito firmemente que todos nós que estamos aqui, usando a internet como um veículo de paz, amor e esperança, estamos sendo guiados por Deus. Deus nos guia, para ""distribuirmos"" para as pessoas, os nossos bons sentimentos... Por que Deus sabe que o nosso planeta está constantemente ameaçado por aqueles que não acreditam no amor ao próximo. E Deus sabe que nada podemos fazer a não ser orar, pedir, e amar a vida dos seres humanos... Esse é o equilíbrio que o nosso planeta precisa. Beijos super carinhosos! da amiga, Lisiê Silva."
Crônica.A.018.A voz do silêncio - Osvaldo Straguetti
Pior do que uma voz que cala, é um silêncio que fala.
Simples. Rápido. E quanta força.
Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio
me disse verdades terríveis, pois você sabe,
o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão!
O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para
acabar com o clima de tensão.
Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente
Não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas
mas não fica aí parado me olhando". É o silêncio de um
Indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos
Dois gritar: "diz alguma coisa, diz que não me ama mais,
mandando más notícias para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo.
Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente.
Para os seguranças dos shows, o silêncio é uma megasena.
Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto.
É quando ninguém bate a nossa porta, não há recados na
secretária eletrônica e mesmo assim você entende a mensagem.
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