quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Crônica.A.018.A voz do silêncio - Osvaldo Straguetti
Pior do que uma voz que cala, é um silêncio que fala.
Simples. Rápido. E quanta força.
Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio
me disse verdades terríveis, pois você sabe,
o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão!
O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para
acabar com o clima de tensão.
Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente
Não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas
mas não fica aí parado me olhando". É o silêncio de um
Indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos
Dois gritar: "diz alguma coisa, diz que não me ama mais,
mandando más notícias para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo.
Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente.
Para os seguranças dos shows, o silêncio é uma megasena.
Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto.
É quando ninguém bate a nossa porta, não há recados na
secretária eletrônica e mesmo assim você entende a mensagem.
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