segunda-feira, 30 de julho de 2018

S.078.Sereia - Alessandra Bandeira


Velejando barco a vela
Lampião, luz de velas
Iluminam a escuridão
Do mar, imensidão.
O vento assovia,
O frio arrepia...
Até que uma voz
Flecha o pescador, veloz
Domina-o,
Assassina a solidão,
Enfeitiça o coração
Chama por ele, chama...
Acende a chama da paixão.
Canta, clama por ele,
Diz que me ama!
Mas quem? Ele diz.
Não consigo vê-la!
O vento aumenta,
Apagam as velas...
Ele suplica, grita por mim!
Assim como o vento que assovia,
Não me vê,
Mas me senti, arrepia-se...
Fecha os olhos,
Tentando imaginar o rosto
Entre a melodia da voz...
E num ato fugaz,
O pescador entrega-se ao mar...
Foi quando sentiu meu afago
Adornou-me em meus braços
Meu beijo foi teu ar,
Deixei-o respirar !
E disse:

Deixa eu te amar ?
És meu amado!
Ele abriu os olhos,
Encantado com meu canto,
E percebendo que
Dos meus olhos saiam lágrimas
Ele pergunta: por que o pranto?
E respondo: Não podes me amar!
Pois metade de mim está na terra,
A outra está no mar,
Metade quer andar contigo pelo mundo,
E a outra quer nadar...
Metade de mim é alma,
A outra é corpo,
Alma fêmea !
Pobre pescador,
Não posso cair em sua rede,
Pois enquanto metade de mim é amor
A outra seria dor...
Não combino com seu mundo
Mesmo sendo tão profundo
O que sinto por ti.
Te quero, te amo, te venero
Mas não posso tocá-lo, desespero...
Oh, amor proibido,
Que aflora a libido!
Por que meu Deus?
Por que fazes isso comigo?
Quero ser mulher!
E o pescador me diz:
Mas tu és !
E eu sussurrei:
Não sou! Não sou mulher inteira!
Sou só metade, sou sua sereia.

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