sexta-feira, 19 de novembro de 2021
P.124.Primeira chuva no deserto - Ana Paula Pedro
Fecho os olhos e imagino a primeira chuva no deserto. Vejo-te sentado no estreito balcão, mudo, olhos vidrados no trajeto de cada gota. Fico ao teu lado observando esta imprevista chuva e após alguns instantes atiro-me nos úmidos braços celestiais; deixo a chuva lavar minha alma e meu corpo, entrego-me às surpresas do deserto, refaço-me inteira. Quando volto meu olhar para ti, vejo que, assim como o deserto, tu também estás a chover. Lágrimas que parecem não ter fim. Não me apiedo de ti, o tempo por vezes parece demasiadamente curto, a eternidade se encerra em um segundo, a vida por vezes é urgente.
Precipito meus braços em tua direção. Observo teu lento caminhar e quando finalmente estás diante de mim, dançamos ao som dos estalos do encontro da água com a areia... esfoliando nossas almas das dores da vida, vimos um novo dia raiar, dançando juntos a música que nos habita.
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