quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

D.123.Do branco ao púrpura - Mia Sodré


Onde estás tu, que adoças meus dias? 
Para onde fostes ao despertar de meus sonhos?
Fugistes como tantos, pois esta é a minha sina, 
ou te encontras nas trevas, resistindo aos meus encantos? 

Sombras da noite me fazem perceber
que um leve engano de meus delírios
poderiam me afastar de você. 
Matarei meus medos tal qual Goya,
e não resistirei aos meus desejos. 
Pois tudo o que vejo e que percebo agora 
é o reflexo virginal de outrora. 

Viestes de tão longe para aquecer minha pureza. 
Vestiu-a de púrpura e a despiu de esplendor
No qual Vaste, mesmo em toda sua loucura
Sucumbiu, ao precioso sabor. 

Sabor este que produz deleite
Prazer tal qual não se verá jamais
Pois como a virgem, ao perceber o falo
Se rende ao gozo e perdição fugaz. 

E eu, que já não espero mais sentir
Ao toque de tua derme me percebo flor
No calor de teus braços, tal qual virgem
A quem te negas, ao mínimo de dor.

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