quinta-feira, 25 de abril de 2024
E.138.Exaltação - Florbela Espanca
Viver!… Beber o vento e o sol!… Erguer
Ao Céu os corações a palpitar!
Deus fez os nossos braços pra prender,
E a boca fez-se sangue pra beijar!
A chama, sempre rubra, ao alto, a arder!…
Asas sempre perdidas a pairar,
Mais alto para as estrelas desprender!…
A glória!… A fama!… O orgulho de criar!…
Da vida tenho o mel e tenho os travos
No lago dos meus olhos de violetas,
Nos meus beijos extáticos, pagãos!…
Trago na boca o coração dos cravos!
Boémios, vagabundos, e poetas:
Como eu sou vossa Irmã, ó meus Irmãos!…
E.137.Emoção e Poesia - Fernando Pessoa
Quem quer que seja de algum modo um poeta sabe muito bem quão mais fácil é escrever um bom poema (se os bons poemas se acham ao alcance do homem) a respeito de uma mulher que lhe interessa muito do que a respeito de uma mulher pela qual está profundamente apaixonado.
A melhor espécie de poema de amor é, em geral, escrita a respeito de uma mulher abstrata.
Uma grande emoção é por demais egoísta; absorve em si própria todo o sangue do espírito, e a congestão deixa as mãos demasiado frias para escrever.
Três espécies de emoções produzem grande poesia - emoções fortes e profundas ao serem lembradas muito tempo depois; e emoções falsas, isto é, emoções sentidas no intelecto.
Não a insinceridade, mas sim, uma sinceridade traduzida, é a base de toda a arte.
E.136.Eu cantarei de amor tão docemente - Luis Vaz de Camões
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dous mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que o amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.
E.135.Estar contigo - Suely Ribella
Estar contigo
é não ver o tempo passar,
não sentir o mundo girar,
é viver o amor e a paz,
o carinho e a paixão,
é sentir a emoção
em cada gesto, cada olhar,
é ser capaz de não lembrar
que o mundo não somos nós,
que a vida está além de nós...
Estar contigo
é ter a exata noção
que acabamos de nascer,
que não esperamos
por nada, por ninguém,
que tudo esperou por nós,
que sempre fomos nós,
sempre seremos nós,
sem começo, sem fim...
E.134.Exaltação do amor -
Sofro, bem sei... Mas se preciso for
sofrer mais, mal maior, extraordinário,
sofrerei tudo o quanto necessário
para a estrela alcançar... colher a flor...
Que seja imenso o sofrimento, e vário!
Que eu tenha que lutar com força e ardor!
Como um louco talvez, ou um visionário
hei de alcançar o amor... com o meu Amor!
Nada me impedirá que seja meu
se é fogo que em meu peito se acendeu
e lavra, e cresce, e me consome o Ser...
Deus o pôs... Ninguém mais há de dispor!
Se esse amor não puder ser meu viver
há de ser meu para eu morrer de Amor!
E.133.É ela! É ela! É ela! É ela! - Alvares de Azevedo
É ela! É ela! - murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou - é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura -
A minha lavadeira na janela!
Dessas águas-furtadas onde eu moro
Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!
Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Como dormia! Que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!
Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido...
Oh! de certo... (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dela... que amanhã de certo
Ela me enviará cheios de flores...
Tremi de febre!
Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
Eu beijei-a a tremer de devaneio...
É ela! É ela! - repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! Meu Deus! Era um rol de roupa suja!
Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas
Se achou-a assim mais bela - eu mais te adoro
Sonhando-te a lavar as camizinhas!
É ela! É ela! meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! É ela! - murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou - é ela!
E.132.Eu, eu, eu, eu - Rosa Pena
Não aprecio aqueles que para valerem os seus direitos usam até de violência.
O motorista que se o sinal estiver aberto pra ele, atira o carro no transeunte para mostrar que ele está com a razão.
O inflexível na fila com um carrinho lotado que não deixa a moça com só um artigo passar, pois ela que vá para a caixa de poucos volumes.
Na sala de espera do doutor o senhor com o rosto contorcido de dor tem que aguardar, pois a vez é da senhorita executiva que não pode perder um segundo.
Aqui caberiam mil exemplos do “Eu estou correto, logo não abro mão de nada”, ainda que esse tipo de atitude sacrifique uma sociedade que poderia ser mais entrosada, atuante e menos agressiva.
Não tenho nada contra os direitos de cada um em si, mas a sua execução nas mãos de gente mesquinha é uma faca afiada.
Nada de concessões absurdas, mas vale lembrar o jeito debilitado de nossa vidinha por conta de uma altivez medíocre, que em vez de fazer valer à vera os direitos dos cidadãos, desmorona os princípios de coletividade.
quarta-feira, 24 de abril de 2024
E.131.Estrelas não ouço - Angélica T. Almstadter
Não Bilac, não ouço tuas estrelas,não que com elas não converse.
Há muito tento ouví-las, entendê-las;acho que minha prosa de nada serve.
Amar talvez não tenha aprendido;não de fato, para ouvir estrelas,diria que por certo tenho esquecidode acarinhar a alma para merecê-las.
Ora direis ouvir estrelas!
Invejo-te!Tão distantes dos meus olhares;não ouço ruído sequer!
Rogo-te!
Dá-me um tanto de teus sentirespara que um dia; eu as ouça.
Peço-te!
Caso contrário meu chorar há de ouvires!
E.130.Eva proibida - Cristina Pires
Eva proíbida
Cristina Pires
Dizia-me Sebastião, que deveria escrever -
Pelo menos, pelo menos! - uma crónica, ou conto, por mês.
Esta comecei-a há seis anos, e só hoje a dou por terminada.
Olha, escreve sobre a tua vida! Achas que a minha pouca vivência tem algo que possa despertar a curiosidade de um leitor? Vamos lá! ao menos um leitor, tens! Eu, por exemplo. Tu escreves, e eu leio. Para isso tenho que ter tempo, caneta, papel e ânimo. E neste momento sobeja-me, papel e caneta. Pois eu podia contar-te a minha vida, inteirinha! E tu, escrevias. Sobeja-me papel e caneta, repeti.
Tu lembras-te do Carlos? Devo ter ficado com cara de espanto. Olhe o leitor se eu lhe perguntasse se se lembra do Zé. Zés há muitos, sua palerma! - tenho a certeza que seria isso que pensaria. Um nome pessoal, só, torna-se impessoal, se não for acompanhado de um apelido que o valha: o Zé do talho, o Zé da mercearia, o Zé Favinha, etc., etc. Só para o meu tio Duarte, é que são todos Zé Maria do Pincel, quando não conhece o apelido que o valha.
Do Carlos Alberto, pá. Aquele que te esfolou o joelho quando eras miúda. O da Dona A.! Não me esfolou o joelho. Caí e esfolei o joelho por causa dele. Não é o mesmo. Ainda tenho a cicatriz. Aquele, sim, é que era um mariquinhas. Sabes que se tentou matar duas vezes? Sei, ou já te esqueceste que vivia no prédio ao lado do meu? E, na primeira tentativa, quem ficou esfolada fui eu. Tudo por causa do Comandante Koenig, das luas e dos céus. Quem quase foi para o céu, foi ele, e eu para o purgatório porque me esqueci que a directora da escola queria falar comigo, e quase que não apareço. Que grande barraca foi aquela, hã? Pois foi. Ele tinha más notas, e o pai castigou-o sem o espaço. Não fez outra, enfiou um frasco de comprimidos goela abaixo, e cá vai disto ó Evaristo. E tu que foste a correr para falar com a directora. Se não tivesses um peso na consciência, não tinhas ido a correr.
Quase que lhe esmurrei a gargalhada. Estávamos, afinal, a falar de coisas sérias e antigas. Coisas com um quarto de melancólico século. Como o tempo se esvai...
Estou, agora, a lembrar-me dele, à varanda, no primeiro andar. Primeiro aparecia a mãe, e depois, ele. De tarde, cruzavam os braços e as pernas sobre uma mandriice descarada, e ficavam no parapeito da janela à espera dos burburinhos. Gostava de coscuvilhar, o malvado. Mas também era útil. Às vezes avisava a vizinhança, aos berros, quando chovia: - Ó D. Sara, olhe a roupa! D. Zezinha, tem o canário cá fora. Ó D. Maria do Carmo, está a chover.
A casa, sempre um brio. O meu Carlos Alberto, limpa a casa melhor que eu, dizia a Dona A. a quem a quisesse ouvir. Também me lembro, que era ele que assava as sardinhas. Punha o grelhador à janela, apoiado nos ferros da corda de secar a roupa. Depois, era uma azafama a limpar os vidros da marquise. Ah! mas não pense o leitor que o Carlinhos não avisava, antes, que ia assar sardinhas. Corriam a fechar janelas, com medo daquele cheirinho, que, agora, deu-me saudades. Coitado. Quantas vezes não lhe chamei borboleta e ele não se incomodava. Dizia-me que gostaria de ser uma: alegre e livre. Pior eram os que lhe chamavam menina Carlota. Cheguei a zangar-me com aquela malta. Até à porrada andei.
O gajo tinha jeito para o teatro, e para o ballet, não tinha? Pois tinha, mas proíbiram-no, que essas coisas eram coisas de menina. Fizemos teatro juntos. Então, eu não sei! E porque é que não continuaste? Até me lembro da tua mãe, sempre a dizer que tu tinhas muita queda para o teatro, só não tinhas era onde cair.
Desfigurei-o. Meti-lhe a mão à boca, desapertei-lhe as bochechas, enfiei-lhe o braço até às entranhas, e arranquei-lhe os bofes. Bofete-ei-lhe as gargalhadas insolentes. Na próxima crónica, mato-o, esfolo-o! Deixo-o como um cristo. Desvendo-lhe os mistérios, como ele desvenda os de Carlos.
Tu achas que ele já nasceu com aquela tara, ou...? Nã! Então, tu não sabes que a coisa pega-se? Tens com cada uma, Sebastião. Diz-me, tu eras muito amigo dele. Andavam sempre juntos... Chega para lá essa boca! Ele é que não me largava. Até para ir ao baile dos Penicheiros, tinha que ir com ele atrás. E de miúdas, nada! Aquilo afugentava as miúdas todas. Deixa-te de coisas. Bem que aproveitaste. Quantos copos é que ele não te pagou, diz-me? Ora, pagou-me o tempo que o aturei, e ainda ficou a dever-me.
Mas o tempo não queria aturar o Carlos, pensei. Não sinto pena dele. Sinto que não era compreendido pelo tempo, e que o mesmo ainda hoje lhe deve. Nunca ninguém lhe conheceu uma namorada. Amigos, tinha alguns. Uns para cada ocasião. Sebastião quando andava penado, achegava-se a ele. Outros... achegavam-lhe. Um, mais que os outros.
A segunda tentativa que fez para acabar com a vida, já era adulto. Saía furtivamente de casa, durante a noite, e regressava de madrugada, antes do acordar da vizinhança. A mãe fechava os olhos, mas o pai arregalou-os até ao branco, até ficar cego. Proíbiu-o de sair de casa, e de ir ver o Adão. Desta vez não engoliu comprimidos. Atirou-se da janela do quarto.
Para mim, nunca ele tentou matar-se, ou suicidar-se. Engraçado! Existe furtar e roubar. Furtar é apoderar-se de algo alheio, sem violência. Roubar, é subtrair para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência. Chego ao término desta crónica sem saber se Carlos furtou-se ou roubou-se. Uma coisa é certa: roubaram-lhe o paraíso.
E.129.Engasgado - Angélica T. Almstadter
Um sonho engasgado, dormiu no meu peito
Tantas pontas tinha o danado;
Que me fez em tiras, o peito dilacerado.
Dentro desse sonho perfeito,
Guardei desejos desesperados;
A fala rouca, a fina flor exposta
Em camadas mutiladas de saudade.
Doeu tanto que cresceu arranhado,
Apertado e sem proposta.
Quando me acenava de felicidade,
Na poça de sangue derramado;
Brindei com um aceno breve,
Cerzi os rasgos com coragem
E bem antes que recobre a razão,
Me espalho em pedaços na brisa leve;
Meu prenúncio de estiagem,
Recheado com acessos de solidão.
segunda-feira, 8 de abril de 2024
E.128.Estrela artifical - Angélica T. Almstadter
Uma estrela solitária que brilha e brilha longe dos olhos da razão
outrora meiga e solidáriade luz, acercada ilha alegrava meu coração
outras galáxias hoje habita visitando belos cometas na realeza do universo
na solidão das crises se agitan a ilusão dos betas na teoria do reverso
entre fótons e cósmica poeiras e afasta da mãe Gaia prepotente estrela primeira
seu brilho audaz se esgueira na ressonância primária impressa na antiga soleira
E.127.Espaços - Angélica T. Almstadter
Grande esse vazio que cresce espande por todo o espaço.
Enormes esses nadas que se amontoa mamoldando formas vazias e sem cor.
Dentro desse infinito espaço que a nenhuma lógica obedece; verdadeiros, só os sons que ecoam mutilados por vozes em dor.
Deslocando-se de lá pra cá,de cá pra lá, à deriva,trombam com silêncios ácidos,falas ocas e criações pífias fingindo possuir gentil sabor.
Tantos compartimentos azuisrosas e furta-cores, já emboloram sob o cansaço da luz tênue que se apaga.
Foram recolhidos os sóis, as luas e seus mistérios surdos,não mais razão para colecionar:ilusóes, sentimentos, nem chuvas doces;atrás do pano a vida envelheceude tanto esperar...
E.126.Egolatra - Angélica T. Almstadter
Olha o seu umbigonão, não deixe que chovaos cartazes da cidadeespalham seus odores
Mais um dia de solpara sua glóriaa vida respira de mansinhoprostrada aos seus pésvocê é a mais nova eleita
Seu perfume inalatodo vapor destiladodas gentes nada é mais forte que a sua presença
Apesar dos sinaissua retina não retémas novas informaçõesseus olhos passeiam vaziospela órbita da vida
E.125.Egoísta, eu - Angélica T. Almstadter
Eu dependo de mim porque sou de mim pai, mãe e inteira descendência de Eva.
Sou de mim o alvocomeço e o fim apoteose da vida.
Tenho em mim a semente benfazeja a energia vital,o dom sobrenatural,o sangue da realeza.
Eu me contenho e me basto em um único cálice.
Sou anjo doce,criação original esculpida no ápice.
Onde estiver serei primeira e única,de mim e para mimexalando a essênciada melhor existência.
Meu diário: a franqueza sem motivos,sem objetivos para o augúrio de alguma beleza.
Cultivo o desprezo por ser herdeira hiláriado cenário patético do meu imaginário.
E.124.Esfriando - Angélica T. Almstadter
Borrei a pintura enquanto esperavana bandeja meus olhos clarosse escondiam da luz teimosa uma lágrima suave bailava e eu tecia esses alinhavos
a conversa se espalhava cheirosa dentro das xícaras fumegantes entra e sai de passos leves sorriam em abraços aconchegantes pela maquiagem escorrida não era adeus, apenas acenos breves
entre uma e outra fala aborrecida altas doses de adoçante e o que era vaga costumeira foi ficando distante derramou-se todo a caldano confuso tabuleiro nunca mais voltou a calmaa os meus verdes timoneiros...
E.123.Este é o meu caminho - Lucelena Maia
Por entre rios, ribanceiras,
Por entre florestas, campinas,
Num casebre, sou moleque descalço;
No palácio, chique rainha.
Por entre sonhos desabitados,
Finco-me à realidade, semente.
Por entre pedregulhos e chão quente,
Sou andarilho, sem medo do que virá à frente.
Sigo o meu caminho, acompanhada de momentos...
Na bagagem, levo doce saudade,
Por onde passo, deixo leves pegadas.
E sigo...
Banhada por tantas fragrâncias,
Perto ou distante da felicidade.
Como pássaro, fujo em debandada...
Depois, retorno à estrada,
Às vezes, com a alma esfolada,
Sem ter conseguido evitar os tropeços.
Este é o meu caminho...
Por entre curvas, atalhos, fins e recomeço.
E.122.Enganando-me - Lucelena Maia
Quantos braços me abraçaram,
Em quantos braços me joguei.
Fui revolta, não importa,
Como consequência, viciei.
Quantas bocas me beijaram,
Quantas bocas já beijei.
Foi despeito, não importa,
O resultado é que gostei.
Quantos homens me despiram,
Quantas vezes me entreguei.
Foi obsceno, não importa,
Ao destino, me abracei.
Quantos anos se passaram,
Desde a primeira cama em que deitei.
De todos os homens que me amaram,
Foste o único que eu amei.
Quanta humilhação. Tu não me amavas.
Fui objeto de aposta e de prazer...
Embriagada de ódio, tornei-me ousada,
Deite-me com todos e fiz saber.
E.121.Eu faria assim - Lucelena Maia
Entraria, sem bater à porta,
Lentamente, caminharia, para não te acordar,
Nem a luz eu acenderia,
Para, na penumbra, te admirar.
Caminharia, com o olhar fixo no todo,
Percorrendo, lentamente, a explorar,
Membros fortes e relaxados,
Em movimentos leves, o teu respirar.
Observaria, com extremo zelo,
Os pontos fortes que me fazem gelar.
Com os meus lábios, os tocaria,
Com cuidado... Para, ainda, não te acordar.
Se o teu cheiro me entorpecesse,
E, fora de mim, eu desejasse te amar,
Tentaria me conter, por alguns instantes,
Mas não seria louca de só no desejo ficar.
Com as mãos eu te despertaria,
Em um bom-dia doce, a te ofertar,
Da minha boca, mil beijos tu receberias,
E, do meu corpo, o direito de voltar a sonhar.
Ao teu corpo, definido e forte,
Ofereceria o meu, com sabor de pecado,
Da inocência do sono, tu entrarias para a realidade,
Acreditando estar sonhando, jamais acordado.
E.120.Eu sou - Lucelena Maia
Eu sou o perfume romântico da vida
Eu sou senhora do desvelo inabalável
Sou leve fragrância, no ar, indefinida
Sou esse brilho de estrela, inesgotável
Eu sou o bem-estar da paixão inquietante
Eu sou a lua, cheia de beleza e vaidade
Sou tudo o que persiste por alguns instantes,
Sou também o que segue pela eternidade
Eu sou saudade sem ser ela desventura
Eu sou o tempo em contratempo co'amargura
Sou burburinho cortejando a quietude
Eu sou o homem e a mulher em sintonia
Eu sou dois corpos desnudando a poesia
Sou o pôr-do-sol expressivo em atitude
E.119.Eu queria escrever - Lucelena Maia
...Um poema que afrontasse
a minha discrição,
saísse das entranhas
como um filho herege
a devorar a passividade
dessa que o descreve.
...Um poema flecha,
certeiro nos versos
a derrubar alvos.
... Tivesse linhas indecifráveis
ao tirano
e compreenssiveis
ao humano.
... Um poema forte,
direto na boca
da fome,
da tristeza,
da amargura,
da incerteza,
concluindo-se proeza.
...Que fosse sem regras,
versos sem pregas,
solto e real
como eu o pressinto.
...Um desabafo de improviso
sem que para isso
eu perdesse a razão ou o juízo.
Eu queria
ver-me ao avesso
cuspindo o que penso
na cara do mundo
indiferente a opiniões...
...Mas veja o que ocorre,
foge de mim o afronto
por certo este é bronco
ou está ele de porre!
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