quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

C.012.Criando - Mellíss


Por um momento, vozes falam em mim
e dizem coisas sem fim, contam histórias
que me conduzem a outras realidades,
desenham paisagens no meu peito,
abrem sentimentos que descubro,
mostram emoções que desconheço ...
Viajo por noites maravilhosas, amanheço em
dias de azul intenso, vislumbro o horizonte
cor de rosa das tardes mornas, mergulho
entre as refrescantes ondas de um mar imenso,
amo com a ternura dos anjos
ou com a fúria das tempestades,
sou flor e borboleta,
chama e estrela,
água a fluir em cascatas cristalinas,
terra fértil e generosa, desafiando
o poder que se oculta nas tímidas sementes ...
Por um momento, vozes falam em mim,
e me transformo em lágrima ou sorriso,
sou parte do infinito: inferno ou paraíso,
e a poesia insiste em me dizer que Vivo.

C.011.Conhecer-me - Dayse Maria R.Moraes


Repouso, sob teu olhar inquieto,
curioso, audacioso, pura ternura.
Me espreito pelos teus braços,
te abraço, me apertas,
no desejo de me conhecer...
Eu de face cálida,
olhar irreverente, transparente,
ora malícia, ora inocente,
entrega, sempre...
Repouso sob teu olhar perdido,
de ao tentar me conhecer, silenciar.
E tudo poderia ser tão simples...
Bastaria que me ouvisses sussurrar,
igual onda que mareja,
anunciando o que é o mar...

C.010.Chora Passarinho - Vanderly Medeiros


Ah! Como queria ser um passarinho e sair voando de meu ninho
Ah! Como sinto minhas asas alquebradas e cansadas e tanto lutar
AH! quanto mais luto mais sinto a corrente me apertar

Passarinho, sai de seu ninho, ruma aos céus a voar
Passarinho ganha tua liberdade com teu canto e encanto
Passarinho, não deixe suas asas atrofiar
Veja o mundo que tens para tu explorar
Veja que belo é o mar!
Veja que bela é a Mata!
Veja que belo é o céu!
Veja que bela é a vida!

Passarinho senti seus soluços que brotaram d'alma
vive em um ninho sem amor e repleto de dor
vive encarcerado em sua dor

Por que maltratar o bichinho que nasceu para voar?
Por que se julgam no direito de aprisionar quem nasceu para nos céus voar?
Por que o que é belo querer aprisionar?

Ajudem o pobre passarinho a curar suas asinhas e voar
Ajudem o pobre bichinho que esta a definhar
Acudam o passarinho que tens nos olhos o pranto da desilusão
No formoso bico o canto de Adeus e solidão!!

C.009.Clara Lembrança Azul - Edna Feitosa


Não sei, não me lembro como foi mas aconteceu mesmo assim:
Teus olhos de anjo cintilavam tal qual estrelinhas azuis
Enquanto, perplexa, eu te olhava, reconhecendo esse olhar
E segurei o pranto, enquanto a emoção me dominava.
O azul radiante, inocentemente angelical
Trazia-me “ de volta” o abraço
Há tantas vidas guardado.

Eu sei que é assim... sinto que é assim!
Como dois amantes separados
Pela vida, por inexplicáveis distâncias
Reencontrando-se, sem poder encontrar-se...
Que sonho é esse, meu amor?
Que doce mistério é esse que,
Embora nos obrigando a andar paralelamente
Não nos permite tristezas ou revoltas?

Acredito, meu menino, no preparo de nossas almas
Para que um dia não mais tenhamos distância alguma...
E, nesse dia, homem amado, alma eleita pela minha,
Sinto que nunca mais nos separaremos!

C.008.Chantagem Emocional - Silvana Duboc


Chantagem emocional
É tudo igual
Primeiro você diz que me ama
Depois que me tem saudade
Aí reclama da distância
E em seguida da nossa amizade
De repente você começa a me absorver
A tentar me dominar
A me envolver
Me faz sentir culpada
Quando lhe mostro
Que em você eu não estou amarrada
Você é assim
Pensa que é dono de mim
Que pode comandar meus passos
Que no meu mundo só existem os seus abraços
Pois eu decidi que vou me libertar
Desse seu amor doentio
Desse seu gostar que me dá calafrio
Fique sabendo que essa sua chantagem emocional
Não está normal
Pára de me perseguir
Por todo canto que eu resolvo ir
Desse jeito eu vou fugir
Nunca mais você vai me ver
Vou lhe bloquear na minha vida
Deletar do meu dia a dia
E você aflito
Vai fazer escândalo só pra se mostrar
Capaz de querer se matar
Vai gritar para o mundo
Que eu lhe reneguei
Que da minha vida, eu lhe expulsei
Quando só eu sei
Que sua escrava eu virei

Então, presta atenção
Vai cuidar da sua vida
Me dá um tempo pra viver a minha
Deixa eu ter os meus segredos
Minhas fossas
Meus medos
Me deixa ter um pouco de individualidade
Me deixa sentir de você, saudade
Em alguma hora isso há de acontecer
Mas pra isso você precisa entender
Que tem que me deixar viver
Em algumas estradas, sozinha terei que passar
Algumas luas terão que nos separar
Alguns sonhos precisaremos não contar
Alguns segredos teremos que ter
Algumas decepções precisaremos sofrer
Aí então...
Quando a gente se encontrar
Vai ser muito mais gostoso de se amar.

C.007.Certeza - Fernando Sabino


De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos começando,
a certeza de que é preciso continuar e
a certeza de que podemos ser
interrompidos antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho novo,
fazer da queda um passo de dança,
do medo uma escola,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro...
E assim terá valido a pena existir!

vale a pena, pois
você existe, que bom! ! !
abraços ! ! !

C.006.Caixa de Fotografias - Silvana Duboc


Quando a caixa de fotografias
entre quinquilharias
eu encontrei
nossas fotos avistei

Tão amareladas pelo tempo
como se tivéssemos dado, a elas, o consentimento
para envelhecerem

Atrás de cada uma, alguns dizeres
memórias de um passado
que ali ficou registrado

Hoje, custa-me crer que tudo aquilo foi verdade
parece-me que a atual realidade
conseguiu apagar
o que tentamos eternizar

Desbotadas, sem vida
algumas até sofridas
e eu, imaginando-as gritar
Tentem me salvar
como se nos tempos atuais
elas pudessem chegar

Roupas fora de moda
detalhes de antigamente
penteados diferentes

Não somos mais aqueles, definitivamente
e se nem o nosso exterior nos é possível resgatar
o que dirá
tudo que trazemos lá dentro
todo aquele sentimento
que apodrecido pelo tempo
fugiu de nós dois

Hoje te procuro nas ruas
e elas, às escuras
me negam você
pelo simples fato
de não termos mais nada
um ao outro a dizer

E volto às fotografias
onde, antes, sorríamos
e tento fugir dessa agonia
que nem um de nós merecia.

C.005.Clamo Sozinho - Armando Souza


Clamo sozinho neste lugar longe do inferno
Fora de casa frio de rachar; dentro calor terno
Não há santinhos pintados nem cornos e diabos
Existem dois seres que de amor estão saciados

Ainda gostamos de viver, ver do mundo tanta beleza
O azul do firmamento; estrelas brilhando centelhando
As vozes que ouvia outrora; moço fugaz, cantando
Musica serena dos muros a jorrar, eu e ela a dançar

Por vezes estalando um beijinho, abraços de carinho
Penso por vezes nas caras que vejo; mascaras de dor
Posso notar nelas a hipocrisia que atraiçoou seu amor
Olho-a, digo-lhe ao ouvido baixinho...belos tempos...
Enfim ... recebo um beijinho....

Mas aos deuses não clamo, não acredito que os haja
Pelo menos a mim nunca se quiseram mostrar
Mas sim hipócritas e ladrões para meu suor sugar
Digo-lhes pegai numa enxada, ide a natureza trabalhar

Nesta terra de neves eternas, mas onde o sol aquece
Há seres que nascem, crescem; trabalham, envelhecem
O sol torna no rodar da vida, dá todo o calor e alimentos
Nós vamos para o ceio da mãe natureza, ficam rebentos

Livro na mão jurando à hipocrisia a verdade sempre sorrir
Amor existe em meu pensamento, coração bate certo por ti
Amanhã é tarde se ele hoje deixar de bater, digo hoje, te amo
Teus beijos não me deixam esquecer, sozinho eu clamo

Hoje estou clamando voz abafada em frente do computador
Tu repousas sozinha, tranqüila na minha mente meu amor
Amanhã é o dias dos namorados, quero chegar-te ao coração
Viver mais um dia como se fosse o ultimo; de grande paixão

C.004.Conversando com as Estrelas - Ângela Bretas



Diz para mim estrela brilhante
Como faço para suprir a falta de um alguém
Que me faz sentir completa, confiante
E me leva muito mais do além...

Conta para mim estrela cadente
O que é que digo ao meu coração
Que agora encontra-se doente
Recordando uma doce paixão...

Me mostra o caminho estrela guia
E me ensina a lutar contra esta dor
Acabe com esta agonia
Não me deixe morrer de amor...

Ilumine meus caminhos estrela cintilante
Ajude-me a acreditar em um sonho bonito
Acabe com esta ausência distante
Traga prá perto meu tesoro infinito...

Me escuta estrela d'alva
Ouça esta prece de quem tanto precisa
Que nasce do fundo d'alma
E eleva seu desejo em forma submissa...

Não me deixa sozinha estrela do céu
Faça eu acreditar no verbo amar
Me enlace com seu sagrado véu
E me leve para bem longe, além do mar...

Vem comigo estrela de luz
Me embala em sua doce visão
Seu brilho que tanto reluz
Ameniza a dor da solidão...

Acredita em mim estrela distante
Quando rogo por sua piedade
Sua força é grande, é possante
E pode me levar novamente ao encontro da felicidade...

C.003.Coração do meu Abandono - J.G.de Araújo Jorge


Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Que importa se as ruas estão cheias de mulheres
esbanjando beleza e promessa
ao alcance da mão?
Se tu já não me queres
é funda e sem remédio a minha solidão.

Era tão fácil ser feliz quando tu estavas comigo!
Quantas vezes, sem motivo nenhum, ouvi o teu sorriso
rindo feliz, como um guiso
em tua boca?

E todo momento
mesmo sem te beijar eu estava te beijando:
com as mãos, com os olhos, com os pensamentos,
numa ansiedade louca!

Nossos olhos, meu Deus! nossos olhos,
os meus
nos teus,
os teus
nos meus,
se misturavam confundindo as cores
ansiosos como olhos
que se diziam adeus...

Não era adeus, no entanto, o que estava em teus olhos
e nos meus,
era êxtase, ventura, infinito langor,
era uma estranha, uma esquisita, uma ansiosa mistura
de ternura com ternura
no mesmo olhar de amor!

Ainda ontem, cada instante era uma nova espera... Deslumbramento, alegria exuberante
e sem limite...

E de repente,
de repente eu me sinto triste como um velho muro
cheio de hera
embora a luz do sol num delírio palpite!

Não, depois de te amar não posso amar ninguém!

Podia até morrer, se já não há belezas ignoradas
quando inteira te despi,
nem de alegrias incalculadas
depois que te senti...

Depois de te amar assim, como um deus, como um louco,
nada me bastará, e se tudo é tão pouco...

... eu devia morrer...

A.047.Apelo de uma Maior Abandonada - Vanderly Medeiros


Ando
sem destino
sem leme
solta ao sabor do vento
do tempo
do desalento
caminhando vou
buscando...

Em um futuro incerto
alguém que tenha o poder
de curar toda essa dor

Estou como passarinho
sem ninho
a procura de carinho
alguém que adote
um maior abandonado

Como criança estou
a procura de arrimo
de alguém que tenha muito amor
e não tem a quem amar
para as chagas de meu coração
curar

Estou aqui
como menor abandonado
ao seu lado
implorando sua atenção
seu colo
seu amor

Por favor me olhe
me de atenção
não vê que de tristeza
estou partindo nessa solidão?!
Quando se der conta não mais estarei aqui
Não deixe esse virtual achar que tudo é irreal

Eu sou real
Minha dor é real
Meu apelo é real
Preciso de você
Estenda-me a mão
Aqueça meu coração
que está esgotando
nessa hemorragia de dor

A.046.Amor e Liberdade - Sarah Mengel


Você vê uma borboleta e a toma em suas mãos...

Você vê sua beleza e a coloca em seu coração...

Desejando mantê-la consigo,
você fecha as mãos em torno dela,
com receio de que voe e se vá...

Com grande alegria você pensa:
AGORA POSSO TÊ-LA PARA SEMPRE...

Logo a alegria se vai,
pois a beleza da borboleta já não é mais a mesma...

Parte de sua beleza era a sua liberdade...

A borboleta sente-se traída,
alguma coisa cruel afastou-a de sua liberdade...

Em pânico, ela se debate para libertar-se,
apenas fazendo você apertá-la mais forte...

Percebendo como a borboleta deve estar se sentindo
você abre suas mãos...

Ela voa novamente para longe,
agradecida por sentir-se livre outra vez...

Você, então, pensa
em palavras que há muito havia esquecido:

SE VOCÊ AMA ALGUMA COISA, DEIXE-A LIVRE.
SE VOLTAR, É SUA.
SE NÃO VOLTAR, NUNCA FOI...

A.045.Amo-te (2) - Vilma Galvão


Talvez eu já te desejasse plantado em mim.
Talvez nossa estrela já brilhasse ao mesmo tempo.
Talvez minhas mãos já sentisse saudades das suas.
Eu que ainda não conhecia um amor tão forte assim,
deliro-me em canções...

Sinto-te hoje como algo que já é conhecido,
vejo-te como íntimo nos meus desejos,
amo-te mais do que talvez já amasse...
Talvez,
pode ser que já nos conhecíamos...

A.044.Amo-te (1) - Vilma Galvão


Penso em você,
e me vem a vontade de te-lo ao meu lado
nas horas de solidão,
em que eu só desejo alguém para olhar,
mesmo em silêncio,
e poder ler nos olhos,
todos os segredos dessa vida.
Penso em você...
Muitas vezes me desespero,
e tento lhe encontrar de qualquer maneira,
saio as ruas e todas as pessoas,
se parecem com você...
Nessa loucura,
esqueço das horas,
esqueço de voltar pra casa,
permaneço assim, te procurando...
Sinto sua falta ao meu lado,
vivendo o amor tão desejado.
Sinto a falta dos seus carinhos,
sinto saudades de tudo o que vivemos...
Amo-te muito!
Sei agora o quanto já te amava,
quando o deixei partir,
e não tive a coragem de impedir...
Amo-te,
hoje, muito mais do que amava,
pois o amor sofrido, acompanhado de saudade,
fica ainda maior.
Penso em você,
saio fora da razão,
enlouqueço,
enfraqueço cada vez mais sem a sua companhia...
Amo-te muito...
Sempre...

A.043.Amor Virtual, Amor Real - Vilma Galvão


Finalmente ficamos
frente a frente...
Depois de tantas mensagens,
tantos telefonemas
tantos carinhos...
Nos encontramos...
Meio encabulados:
pela timidez,
pela expectativa,
pelas promessas que fizemos.
Olhando nos olhos e demos continuidade
a tudo que vivemos
numa tela de computador.
Tentamos animar o coração que quase desfaleceu...
A boca quase nada conseguiu dizer,
apenas os olhos observavam tudo atentamente
e tentam comparar com as novas e velhas fotos enviadas...
Um amor virtual,
agora tornou-se real.
E é real também os sentimentos,
toda euforia,
toda saudade agora transformam-se em emoções...
Somos felizes,
pois não nos enganamos um com outro,
somos exatamente o que éramos antes desse encontro...
Amor virtual,
real,
racional,
vivo...
Agora,
mais forte,
mais lúcido, mais lindo,
invencível...

A.042.Acredite - Vilma Galvão


Você precisa ter sonhos,
para que possa se levantar, todas as vezes que cair.
Acreditar que a toda hora,
acontecerá coisas boas e mudar o rumo da sua vida.

Você precisa ter sonhos grandes e pequenos,
os pequenos, são as felicidades mais rápidas,
os grandes, lhe darão força
para suportar o fracasso dos sonhos pequenos.

Você tem que regar os teus sonhos todos os dias,
assim como se rega uma planta para que cresça...
Você precisa dizer sempre a você mesmo:
-Vou conseguir! -vou superar! -vou chegar no meu sonho!

Fazendo isso, você estará cultivando sua luz,
a luz de sempre ter esperanças,
que nunca poderá se apagar,
pois ela é a imagem que você pode passar
para as outras pessoas,
e através dessa luz que todos vão lhe admirar,
acreditar em você e te seguir.

Mire na Lua,
pois se você não puder atingi-la,
com certeza irá conhecer
grandes estrelas...
ou quem sabe,
poder ser uma delas!

A.041.A Minha Saudade - Vilma Galvão


Minha saudade vai toda pra você,
saudade daquele olhar manhoso,
da fala rouca e das mãos leves sobre as minhas...

Toda saudade que carrego é por você,
e nesse sofrer por solidão,
descubro o quanto você é importante,
muito mais do que eu imaginei...

Sinto falta da sua voz tranqüila
a me confortar a alma.
Do seu andar apressado ao meu encontro
para me embalar num abraço.
Do seu beijo que aquietava meu coração...

Sinto saudades de você,
de tudo que sua presença me causava,
até das noites mal dormidas
de nos entregarmos ao desejo...

Minha saudade é toda para você...
para o seu amor que me faz tanta falta,
para o brilho dos seus olhos
que me embriagavam,
para a seu riso que me enfeitiçavam,
para tudo que você representou em minha vida!

Crônica - D.003 - Da Ressureição ao Espanto - Ângelo Rodrigues


«Penso que o fragmento é a forma que reflecte melhor esta realidade em movimento que nós vivemos» Octávio Paz, 1967 Ao Rodolfo
1. (...) e escarnecia do Sistema fingindo que profetizava. E assim ficou a contemplar a complexidade da condição humana. Ansiava desse modo, uma interpretação subtil, própria e provisória que os deuses lhe dariam. Afinal, sempre quisera vencer a Esfinge da intemporalidade e cantar vitória em cima de uma nova Torre de Babel.
2. Sinto o braço pesado porque tenho o Infinito doente deitado na palma da minha mão. Assim, já sei que pertenço ao Tempo da fusão entre a Matéria e o Espírito e por isso dei um chuto na Realidade - já não preciso dela. Acabei agora mesmo de lavar a parte mais suja da alma do Uni-Verso.
3. Devolva-me os meus olhos: eles teimam, Senhora, em não sair de seus adoráveis e divinos seios.
4. O encanto hipotético do angustiante esmagamento do cosmos provoca-me todo o Sentido, toda a Possibilidade. Entre a Noite e o Dia repousará o «HÁ QUALQUER COISA» de olhos fechados e assim se ouvirá o meu grito de libertação. E a Eternidade(?) É no contexto desta mentira inteligível que a mais-que-palavra VIDA deixará de soar como um veredicto. O território inacessível da Verdade e da Beleza partirá para o eterno desconhecido. Tenho já todo o direito a essa Beleza dionisíaca concebida pela minha embriaguez de «HÁ QUALQUER COISA» de olhos fechados. Só me resta talvez, esperar pelo convívio da alma. Só me resta a anti-palavra! Para estar no Infinito, basta apenas fechar os olhos.
5. O Mistério é o que fascina e espanta. O não-dito alimenta o Mistério e faz-me não desistir da caminhada. O dito é apenas indicação de outros caminhos com destino ao Mistério.
6. É um estar-no-tempo intenso, este que agora se-Nos interroga... Sinto-os grávidos de mega-sensibilidade mas desarmados neste dia também estúpido em que as palavras estão doentes e o Olhar cansado. Pela manhã, pergunta-se ao instante para que serve a condição-de-Ser. Dar corda nas asas e ir às putas do Infinito é o que parece ser mais razoável neste instante também estúpido, claro!
7. São as perguntas que impõem os limites e que nos dizem o que é existir - estar por cá.
8. Para prosseguir a leveza de Ser e de Estar preciso do aval da Alma coletiva e da promessa de todas as linguagens.
9. Não sei bem porquê mas hoje a minha alma encontra-se KITSCH.
10.Hoje, sem querer, rasguei três evólucros superficiais de três mulheres que sobre mim falavam. Quando os vi rasgados pareciam outra coisa que não três evólucros superficiais de mulher.
11.Estamos recônditos no momento: Eu e o Tempo. O que penso é do indizível. É aqui que estou bem. No indizível não me canso e posso, em provisória-paz, fazer o culto do Mistério.
12.O Silêncio tem olhos tão penetrantes quanto os do Uni-verso sobre nós.
13.Todas as palavras são estúpidas mas a solidariedade-palavra e a solidariedade das palavras permitem desculpar a condição estúpida das palavras.
14.Uma ideia é qualquer coisa de terrível. Fico perplexo quando as não tenho e com enxaquecas quando as tenho em demasia. Em qualquer condição tenho sempre ora a ideia de perplexo ora a ideia de enxaquecas. O mais fingido e o mais verdadeiro de nós é sempre e apenas uma Ideia. Uma ideia por si só não vale nada.
15.Hoje, sem estar a pensar nisso, vi o meu Ideal. Tinha asas, cores azuis e formas nunca vistas. Havia imensas outras coisas que não consigo Dizer em qualquer linguagem conhecida - talvez seja por isso possível eu ter visto o Ideal. O Ideal quis apenas que eu o visse e mais nada. Estarei inquieto e confuso até o ver novamente.
16.Não existem palavras-barco que consigam navegar o rio que vai de mim à tua alma. Para além disso, o rio de que te falo tem muitos bancos de areia. Qualquer palavra-barco teria imensa dificuldade em chegar à tua alma.
17.Pela asneira é que vamos: Porra! - Caca! - Chichi! - Pila! - Passarinha... A asneira é - definitivamente - uma profilaxia psíquica, uma catarse purificadora.
18.O Essencial não existe. O Essencial é apenas uma doenças das ideias.
19.É necessário dizer aos deuses - através de absoluta-arte - que eliminem em absoluto, os espelhos terráqueos.
20.Hoje perdi o alter ego. Na retrete, num movimento descuidado da alma, com as calças semi-vestidas, ouvi-o cair na sanita e sumir-se nas profundezas da canalização citadina. Gritou desesperado mas já não lhe pude valer. Não estou triste nem alegre; sinto até uma certa leveza não habitual, pois, como sabem, um alter ego ainda pesa. Agora vou ser mais exigente quando "arranjar" outro alter ego. «Há males que vêm por bem».
21.As palavras servem para interrogar e não para dar respostas. Qualquer resposta verdadeira nunca poderá ser veiculada por palavras. As palavras só servem para ficção.
22.Quis embebedar-me de palavras subtis e fazer-amor com a Vontade. Com este propósito, procurei por todo o lado os meus sentidos ocultos mas não os encontrei. Tentarei nova-mente os meus sentidos.
23.Creio que perdi o meu SENTIDO secreto - a essência de tudo e dos dias. Sinto-me arrebatado de irracionalidade có(s)mica e sofro avulso e momentaneamente de pulsões instintivas, de medos grosseiros e de fantasias azuis e incompletas. Acordar em outra dimensão e atitude é o melhor desejo que se me depara.
24.Há uma subtil razão do Tempo que anuncia a Eternidade. Há qualquer coisa a fazer de derradeiro nesta dimensão que só na Espera se tornará possível e com-sentido. Esperar é tudo o que resta... Não há nenhum Mistério aquém da Eternidade a não ser o Tempo e a Espera.
25.As grandes fruições dos deuses-menores são: orgasmos, jogo da cabra-cega e diários eróticos ilustrados. Alguns dos sonhos que temos despistam os deuses menores e deixam ver a vidinha das divindades quando a janela da nossa alma é grande.
26.Para além do Além estará não o fim mas um outro princípio... é tudo uma questão de eterno-retorno à maneira dos gregos. O desapontamento é sempre certo, portanto, não temos nada a perder e podemos e devemos continuar a espicaçar - com picadas de angústia - as "realidades" de aquém e de além pois a finalidade da nossa existência não se entende porque estamos desarmados de Sonho. A justificação positiva de nós e desta vida peregrina e aflita só terá sentido quando a MORTE for apenas uma recordação.
27.Sei que vivo numa fronteira. Sei que isso não basta.
28.Há Invisível - sagrado e profano - em tudo o que é visto. Os mortos habitam o vivo e os nossos desejos no Invisível. Morrer é ver mais e melhor. Morrer é também uma fusão para e enriquecimento do Invisível.
29.Um deus terá que ser um "sujeito" em permanente estado de tesão.
30.Eu só sou (e tu!?) sendo com os outros.
31.Algo me diz que na próxima encarnação, serei um gerente de almas perversas.
32.É difícil de conceber mas a-vida-para-além-da-vida não é apenas um desejo, algo de extraordinário - é uma necessidade da nossa própria humanidade - se assim não for, pouca coisa terá sentido e até a Estupidez terá um estátua.
33.Todos os maus cheiros são da Matéria. O Espírito - pela definição do negativo, que é o critério que ainda nos pode proporcionar alguma coisa de novo - é perfumado porque não se vê nem se apalpa, apenas se sente pelo cheiro. Estar-em-Espírito, é cheirar perfumes divinos e fruir.
34.Apetece-me falar de aves. "Pensando" um pouco no assunto, chego à conclusão de que poderei vir a ser pássaro ou então anjo de subtis asas. Lembro-me do pássaro do paraíso [ave-tonta bem conhecida dos místicos como eu]. Podia falar dos pombos de Lisboa que já me cagaram em cima por três vezes fora os ameaços; é, contudo, um tema de difícil tratamento poético.
35.É noite. Quase me arrisco a não escrever absolutamente nada hoje. Em retrospectiva direi que o dia foi estúpido. Sinto-me como se estivesse todo o dia à espera de algo importante. Neste preciso momento estou na sala de espera do Inferno. Tudo foi, é, e talvez será, Tempo e Espera - se nada mais se revelar, serei esmagado pelo peso có(s)mico da Vida e pelo fluxo de Espanto do Infinito ausente.
36.Abri a janela do escritório universal e olhei as nuvens demoradamente. Gostaria que no Futuro - em qualquer paraíso prometido - me fosse possível abrir todas as manhãs uma janela e olhar demoradamente as nuvens da Terra e as de outros pequenos mundos.
37.Apetece-me uma refeição de mistura có(s)mica com coração de pássaro. Tenho apetites esvoaçantes - e altos...
38.Adorei os seus femininos ecléticos devaneios, a sapiência prolixa e algo erudita-delicada. Contudo, do que mais gostei - e com que tenciono vir apenas a sonhar - foram as pernas de sublime arte fisiológica e os seios apontados que pareciam disparar desejos ao alvo inocente dos meus olhos lacrimejantes de espanto e de vontades quotidianamente sentidas.
39.O meu Desejo-Absoluto não se instalou pela presença reflexiva do peso-pesado da Morte - um simples e esquecido engano de um deus demasiado ocupado com jogos celestiais para "perder tempo" com banalidades humanas como a Morte. O meu desejo Absoluto é um Eu-Nós problemático e impaciente que se revela na contradição e na luta entre todos os limites da Vida. Esta é o verdadeiro e o falso, o positivo e o negativo onde tudo se desvanece e confunde perante a única e válida intuição: a Morte É o que ainda Não-É.
40.A Morte não se pode pensar; dela apenas intuímos por magia infantil, os limites possíveis; depois, talvez as concepções mais estranhas e impensáveis, virem realidade e novas concepções virão. A isto chamam "Eles", «Os Caminhos da Perfeição». O Universo que não-conhecemos não é perfeito, o que é perfeito é o que sobre ele nos será revelado quando a Morte for apenas uma recordação infantil. Esperamos... Algo, decerto, acontecerá.
41.Constato o consumismo desenfreado, o tempo dos objectos que cativam mais que o humano. Falta tudo! Falta viver o tempo dos homens. Somos funcionais e pouco. A humanidade é hoje quase uma primordial nostalgia de asas quebradas.
42.Anseio um grande dia de opulência e extravagância. No EXCESSO refaz-se a Luz que ilumina o simples e o que basta.
43.Os deuses não se provam; os deuses comem-se de uma só vez.
44.Escrevo aventuras-poemáticas PORQUE SIM. Se não fores - também - criança, nunca compreenderás.
45.As verdades são só e apenas de momento e circunstância. O Tempo está cansado e não leva muito a sério as verdades. No fundo, não servem para nada. Talvez sejam apenas mais uma doença do nosso espírito carenciado e frágil.
46.As palavras inseguras que escrevo dia a dia não são caminhos para ninguém nem para nada, não indicam sentidos nem supõem destinos; as palavras infiéis que escrevo dia a dia fogem de mim com medo do meu medo e do vosso. Eu queria que as minhas palavras inseguras e assustadas fossem pontes, túneis, canais, passagens - curtas que fossem - entre margens de desejos, de angústias e de vontades supra-reais.
47.Os porcos já não comem bolotas. Posso provar.
48.Conclui-se que chorar é uma arte maior. Uma lágrima é Um-Todo mais sublime que a mónada de Leibniz.
49.É preciso apaixonarmo-nos e amar as nossas limitações pois são elas que a certa altura nos fazem ver a figura de tolos que andamos a fazer.
50.Dai-me O EXCESSO!
51.Aproveitem hoje: acalmem esta vossa-minha alma inquieta, em desordem, em esboço...
52.Por agora, basta a ressurreição do espanto.

Crônica - D.002 - D'arte, Paixão e Poesia - Ângelo Rodrigues

Num dos primeiros escritos da sua juventude (1796/1797), Hegel afirmou que «(...) já não haverá nenhuma filosofia, nenhuma história, apenas a arte poética sobreviverá a todas as restantes ciências e artes». Apesar do risco da afirmação, no contexto e no âmbito da distância temporal, esta intuição profética do jovem Hegel, não é ainda realizável, não está em consonância com estes nossos tempos de perplexidades, confusão geral, falta de sentido e “algum” vazio espiritual; contudo, há algumas boas pistas, determinados trilhos que nos permitem afirmar que a reconciliação do homem e do universo pela criatividade e pelo artístico, está sendo preparada e que as próximas gerações irão assistir a um regresso - desejado e necessário - à Arte por excelência (uma espécie de deificação do Homem). Deixemo-nos de artimanhas progressistas e de fixações cibernéticas, tecnológicas e afins; a humanidade, em toda a sua essência, plenitude e dignidade, só continuará sendo possível pela Arte. As “aventuras” criativas (uma aventura é inicialmente uma surpresa e depois uma memória) serão património mítico/cultural e farão parte do imaginário de um povo intelectualmente ousado, se forem dignamente vividas. Viver-em-Arte (criando, fruindo e partilhando Arte) é fundir-se no Todo-Absoluto, é fazer pontes com os materiais estéticos da alma, reconciliando o apolíneo e o dionisíaco da Vida. Toda a Arte liberta e aproxima do essencial... A Eternidade não é, decerto, uma doença das ideias, ela revela-se na Arte verdadeira - a Arte despretensiosa, autêntica porque espontânea mas insatisfeita, sentida e amadurecida; dela brotará “infalivelmente” uma significativa revolução cultural e espiritual. O efémero, o passageiro, o banal, é próprio da radicalização dos opostos, é peculiar dos que desistem de aprofundar e descobrir poeticamente os pequenos-grandes enigmas da sua criatividade, muitas vezes adormecida pelo embalar conceptual e conservador das ideias feitas, fáceis e indiferenciadas. (...) (...) A insatisfação-permanente deve ser o critério máximo. Rasgar deve ser o gesto mais natural de um escritor, de um poeta. Contudo, escrevam... O que está dito e “registado” ficará sempre aquém do muito que falta por dizer. Temos todos a responsabilidade quotidiana de des-construir para construir a Vida - esse mistério tão rico de contradições e tão salutar de diferenças. Nem que seja apenas uma intenção, um sentimento, uma palavra ou um poema que se destaque (...) - valerá sempre a pena Dizer ao mesmo tempo que se procura coerência, sentido e autenticidade - alguém, poderá fazer disso que se diz e vive, a motivação e o ânimo para uma reveladora e interessante caminhada espiritual. «O caminho faz-se caminhando» e o escritor, o poeta, faz-se escrevendo, sentindo, amando, conquistando o Impossível a fim da máxima espiritualidade. Se chegares ao fim de uma caminhada, à beira de um abismo ou às proximidades de uma barreira, não fiques lá apenas a contemplar as aporias do mundo e a olhar os trilhos já por outros construídos e palmilhados - não deixes de usar o sonho, a vontade e a imaginação e continua a caminhada até ao fim, ultrapassando os obstáculos com os meios próprios da tua criatividade. Se te perderes na selva do mundo, faz mais um caminho... Se for um caminho bom e acessível, mais cedo ou mais tarde, muitos por lá irão passar.

Crônica - D.001 - Dia dos Namorados - Carlos Drumont de Andrade

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil por que namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrimas, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil . Mas namorado é mesmo difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem quer se proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia, pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira,basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes , dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas, do carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhadas quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo metrô, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado,fazer sesta abraçado, fazer compras junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e do amado e sai com ela para parques, fliperama, beira d´água, show de Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonho ou musical do metrô. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir, quem curte sem se aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, de madrugada ou no meio dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações, quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passar debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de conto de fadas. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente começar a fazer sentido”.