terça-feira, 31 de outubro de 2017
Crônica.M.004.Maneira de amar - Carlos Drumont de Andrade
O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhes confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhes as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida. O dono do jardim achou que seu jardineiro perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. - Você o tratava mal, agora está arrependido? - Não, - respondeu - estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso.
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