sexta-feira, 13 de agosto de 2021

R.026.Rainer Maria Rilke e eu - Rilke


quando queria fazer poemas
pedia emprestado um castelo
tomava da pena de prata ou de pavão,
chamava os anjos por perto,
dedilhava a solidão
como um delfim
conversando coisas que europeu conversa
entre esculpidos gamos e cisnes
- num geométrico jardim.
Eu
moderno poeta, e brasileiro
com a pena e pele ressequidas ao sol dos
trópicos,
quando penso em escrever poemas
- aterram-me sempre os terreais problemas.
Bem que eu gostaria
de chamar a família e amigos e todo o povo
enfim e sair com um saltério bíblico
dançando na praça como um louco David.
Mas não posso,
pois quando compelido ao gesto do poema
eu vou é pegando qualquer caneta ou lápis e
papel desembrulhado
e escravo
escrevo entre britadeiras buzinas seqüestros
salários coque'teis televisão torturas e
censuras
e os tiroteios
que cinco vezes ao dia
disparam na favela ao lado
metrificando assim meu verso marginal de
perseguido
que vai cair baldio num terreno abandonado

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