segunda-feira, 16 de agosto de 2021
T.048.Três visões horizontais no destino - Alexei Bueno
I
O sol é o último ferido da batalha
E sangra e oscila sobre um corpo que foi rei
Ao qual coroam sete espadas sobre a malha
E tantos reinos destruídos que eu não sei.
Tremulamente um estandarte a sombra espalha
E esta acena, como mão chamando a grei
Ou a afastando, se ela vier, para que valha
Um seu segundo esquecimento como lei.
Nada dói, exceto a dor não inflingida
Ao inimigo, que já longe em glória vai
E leva a dor, mesmo vencendo, porque é vida.
Aqui há um povo que se vence de esquecido
E assim sorri no desengano em que o sol cai
Sobre os escombros de um império nunca erguido.
II
A terra enxerga por viseiras destruídas
E rijos ferros dormem fundo após a guerra
Dentro de homens que se esquecem das partidas
Com o silêncio em cada boca que não berra.
Escudos, lanças, armaduras divididas
E uma espada em pé cravada sobre a terra
Lembrando cruz para a indulgência das feridas
Que já não doem numa carne que se encerra.
Antes da luta cada um lá estava certo
Que viveria após ter tudo se acabado,
Mas já ninguém se desilude no deserto.
E nem há dor pra quem não vê como a hora falha
E como é o corpo conduzido ao golpe errado
Pelo destino que se rompe igual à malha.
III
Desaba o sol e sobre a queda a noite cai
Mas ainda é dia em cada corpo pela vala
E ainda é a hora da ferida que não sai
Tal qual rugido de leão que ao mastro cala.
Numa fogueira um estandarte geme um ai
E o fogo é a luz dos olhos mortos soba pala,
E nem há órfãos, pois seguiu-se o filho ao pai
Que ri no chão quando seu pé na chama estala.
Agora tudo aprende o nada novamente
E falta algo em ver os corpos mais que a vida
Como a um cadáver de leão o medo ausente.
No vão dos pós não há mais sonho nem querer
E não querendo a tudo tem a grei vencida
Na derradeira sua vitória em se perder.
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