sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

A.195.A noite levou meu sonho - Douglas Farias


Pelo frio da noite, não sinto seu calor
Pela escuridão da noite, não vejo sua luz
Pelo silêncio da noite, não ouço sua voz
Pela solidão da noite, não te tenho mais

Levanto meus olhos para o céu
Tenho certeza que lá estás
Tão longe para lhe alcançar
Mas perto para contigo sonhar

Este lado não tem importância sem ti
Tudo ainda tem você
Seu perfume, seu calor ainda estão aqui
Nada será o mesmo sem ti

Enquanto tinha um lindo sonho
A noite me levou você
Meu sonho, minha luz, minha paz
A noite levou com você

A.194.A mais linda manhã de sol - Douglas Farias


Abra a janela deixe a luz do sol entrar
Deixe iluminar seu lindo rosto
Que possa irradiar todo seu corpo
Aqueça seus lábios com o teu calor

Doce manhã que clareia o dia
Não quero sair do seu lado
Seu sorriso brilha como os raios de sol
Que adentram nosso quarto

Mas que linda manhã de sol
Tenho minha amada aqui comigo
Torne este momento mais que intenso
Entregue-se nessa gloriosa manhã

Não se apresse meu amor
Essa manhã de sol trará muitas surpresas
Olhe em meus olhos, segure minha mão
Hoje só quero que comigo permaneças

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

A.193.As águas - Douglas Faria


AS ÁGUAS - Douglas Faria
Douglas Farias

Reflexo na água traz a imagem que não quero ver
Rosto cansado, olhar triste, sorriso esquecido
Quantos mais as águas desse rio correm
Não levam embora essa imagem ofuscada
As águas não podem levar, as águas não podem renovar
Eu tenho que me levantar, e renovar minhas forças
As lutas abateram meu caráter forçando-me ao chão
Mas cadê a fé que tanto busquei?
Se onze mil caíram em volta, por quê continuo de pé?
Sou forte para suportar essa dor?
Por quê não me responde?
Mesmo que não entenda suas escolhas
Eu posso, eu quero, eu vivo, eu tenho você.

A.192.Amo voce - Douglas Farias


Teu silêncio me deixou sem graça
Já esperava vir a negativa
Mas você sorriu...

Me preparava todos os dias
Até o momento de lhe encontrar
Agora você está aqui...

O que sinto por você
É muito mais que simples paixão
Permita-me lhe dizer...

Amo o seu jeito,
Gosto do seu perfume,
Adoro sua fala...

Você é muito linda
É tudo na minha vida
E hoje só quero lhe dizer...

Amo você...
Amo você...
Amo você...

A.191.Apenas mais uma noite - Douglas Farias


Sonhei em estar do seu lado essa noite
Perdi as contas de quantas vezes chorei
Pois, você não estará mais aqui comigo
Somente esse retrato que guardei

Apenas mais uma noite
Apenas mais uma noite
Apenas mais uma noite
Quero você aqui

Guardarei comigo todas as lembranças
Que juntos tínhamos vividos
Nas mais lindas noite
Só você e eu, eternos amigos

Apenas mais uma noite
Apenas mais uma noite
Apenas mais uma noite
Quero você aqui

Haverá uma linda noite
Que meu desejo irá se realizar
Ainda sei que essa noite
Para mim, você vai voltar

A.190.A mulher do especho - Elcimar Reis


Novamente me encontrei em um paradigma, em caminhos opostos, em questões indecifráveis.
Lá estava; do outro lado do objeto refletor, igual à mim, perfeita, usando as mesmas roupas;
o mesmo olhar, a mesma expressão de dúvida; de confusão. Como podíamos ser tão iguais?
Complexas e extremamente diferentes em tudo?

Para mim, o mundo era simples, composto por sentimentos, emoções e aquilo que conseguimos retirar dos mesmos.
Absolutamente nada mais do que a simples ternura. Para ela, aquela que estava vendo, o mundo era superficial;
voltado para as aparências, para a dramaturgia, um mundo em que podíamos ser quem quisemos.
Imitar quem quisemos, e ter a vida de quem quisemos.

Não somos assim!... Cada pessoa, possui sua ideologia, sua questão de vida, sua visão, seus olhos sobrenaturais.
Não podemos ser iguais. Existe do próprio ego existencial da humanidade, a necessidade de ser diferente; de formar diferenças.
Ela, quem estava vendo através do espelho, não era eu. Era outra pessoa, alguém que de algum modo não gostava mais, não me identificava.

Foi aí, então, que decidi me mudar, e seguir os meus sentimentos, que há muito estavam pulsando dentro de mim, em busca da liberdade,
em busca de uma pequena luz da qual pudesse sair e sobressair ao mundo.

A.189.A força do perdão - Sérgio Lopes


Perdoar é muito mais que estender a mão
E dizer eu te perdoo meu irmão
Usar a voz é fácil
Apertar a mão também
O difícil é revelar o coração

Mas se o coração perdoa é fácil perceber
Pois o coração é cúmplice do olhar
Perdão que sai do coração
É joia rara de encontrar
E está na sinceridade de um olhar

Se eu te machuquei, reconheço que errei
Eu agora percebi quanto mal eu te causei
Como vou falar de amor se eu não souber amar
Eu preciso de você para me ensinar

Eu me arrependi e revelei meu coração
Agora é sua vez de me ensinar uma lição
Preciso de você pra conhecer
A dor ou conhecer a força do perdão

A.188.A mulher dos meus sonhos - Douglas Farias


O seu perfume se converge em todos os cantos Lindo olhar é, ao raiar do sol pela manhã
Suave voz que distoce todos os sentidos
Sua pele clara lembra a neve, tão fria
Mas não deixa de me aquecer com seu corpo

Provoca-me com seu toque
Envolve-me com sua boca
Só você mexe assim comigo
Deixando meus dias mais felizes
És a mulher que sempre sonhei

Seja minha eterna namorada
Prometo que farei o possível
Só para nunca mais precisar
Derramar mais nenhuma lágrima
Todo dia dar motivos para você sorrir

Com você desconheci a solidão
Os frutos de nosso amor
Irão contemplar essa intensa paixão
Obrigado por me amar, amada minha
Desejo que para sempre minha serás

A.187.Amor e amor - Thaina Santiago


O amor queixa-se se esquivanças amorosas
Que por elas não se perdem as esperanças
E nem se esquece das lembranças

O amor que não sente mais pena das lembranças
Mas ainda teme as suas mudanças

O amor que é o atormento do coração
Onde trás enganos, desprezos e isenção
Que se sente magoado por erros
Que não pode haver perdão

O amor que é livre da maldade
Que deseja estar preso por vontade
É ter quem nos ouve com lealdade

O amor é não dar tanta importância aos olhos
Pois, sem olhos, vejo

O amor não é o que fala
Mas o que se respira
E ainda sim se inspira

Amo e amo tanto sem saber se sou amada
A não ser no momento em que me dizes:
"Eu te amo, amo, amo, amo"
De meia em meia hora
Se não for assim, anula-se
No tempo e o que outrora me falaste

Há o amor que fala sem língua

Ah tão cheia de amor estou
Tão enfadada estou
Que já não sei o que escrever
Nem ao menos o que falo

Pobre menina sou
Que tentei escrever
Sobre esse tal "amor"...
Thaina Santiago

A.186.Anjo negro - Thaina Santiago


   Ele que parece ser um ser angelical
   Ele que me faz bem
e que ilumina todos os
cantos meus sombrios
   Ele que traz a harmonia
e me tira o ar
só num olhar
   Ele que tem a feição rude
   Ele que tem os olhos
como os de um pomba
   Ele que tem os lábios carnudos
cobertos de maciez
   Ele que tem o corpo
de um homem formado
coberto por sua amelanina
   Ele que é um homem
mas, é uma criança por dentro
   Eu que tenho por ele
um sentimento incondicional
   Ele que é meu anjo negro
que aparentemente é um
anjo do mau
mas ele é merabolante
   Ele é meu ponto
meu ponto de paz
 Ele é a melhor parte de mim

D.137.Dor - Humberto de Campos


Há de ser uma estrada de amarguras
a tua vida. E andá-la-ás sozinho,
vendo sempre fugir o que procuras
disse-me um dia um pálido adivinho.

No entanto, sempre hás de cantar venturas que jamais encontraste...
O teu caminho, dirás que é cheio de alegrias puras, de horas boas, de beijos, de carinho...

E assim tem sido... Escondo os meus lamentos:
É meu destino suportar sorrindo
as desventuras e os padecimentos.

E no mundo hei de andar, neste desgosto,
a mentir ao meu íntimo, cobrindo
os sinais destas lágrimas no rosto!

D.136.Diz meu nome - Mia Couto


Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem
os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça.

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno.

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci.

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos.

No úmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome.

D.135.Destino - Mia Couto


À ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos.

Vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso.

Conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso.

Agora
que mais
me poderei vencer?

D.134.Desencontro - Walmir Becker


Onde estão todos vocês,
Meus amores de ontem,
Fui eu que os perdi,
Ou vocês é que me perderam,
Sem jamais me procurar.

Pois o tempo foi passando,
E assim tendo passado,
Passamos todos nós,
Sempre à procura de algo,
Sem jamais encontrar.

D.133.Descrevo que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia - Gregório de Matos Guerra


A cada canto um grande conselheiro,
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.

D.132.Desenho nas ondas - Douglas Farias


As ondas do mar me encorajam e me dão medo
O som do mar me traz alegria e profunda tristeza
A areia da praia me conforta e me incomoda
O cair do sol me dá esperança e provoca ânsia
A brisa do mar me alivia e traz a noite mais fria
Em frente ao mar continuo admirando
As mesmas sensações que dão-me o prazer
Causam em minha alma um certo temor
Um graveto na mão, desenho na areia
Um rosto sorrindo, um rosto triste
A onda vem e apaga o triste rosto
O sorriso ficou, e a onda meu coração levou
O triste rosto levava consigo marcas
Marcas que não podiam ser esquecidas
Marcas que não podiam ser apagadas
O sorriso no rosto esconde o coração ferido
Me faz esquecer um passado um dia pude viver
Me faz esquecer que um dia eu pude ter você

D.131.Doce futo - Douglas Farias


Doce fruto do sabor
Com carinho foste semeado
Cresceste cheio de vida
De tanto amor que te foi dado

Doce fruto da beleza
Com lágrima foste colhido
Apreciando-te num olhar
Permita-me fazer um pedido

Doce fruto do amor
Coração que queima de desejo
Colo meu rosto ao seu
Para desfrutarmos desse beijo

D.130.Do seu lado sempre estarei - Douglas Farias


DO SEU LADO SEMPRE ESTAREI
Douglas Faria
Corria contra o vento
Sentindo a brisa passar
Brincava com as flores
Como se comigo fossem falar

De longe te via
Com olhar admirado
Sabendo em seu coração
Que sempre estaria ao seu lado

Viu-me nascer
Confortou-me em seus braços
Logo percebia
Que teríamos grandes laços

Todas as noites
Olhando pelo vidro
Esperava seu carinho
Para ficar comigo

Só que um dia
Tive que partir
Mas uma vez em seus braços
Não te vi mais sorrir

Tenho a sensação
Que de novo seremos
Velhos amigos e
Que logo nos veremos

D.129.Dom do amor - Paulo de Tarso


Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos,
e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios
e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que
transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres,
e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,
e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso;
o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses,
não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas;
havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino,
discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem,
acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma,
mas então veremos face a face; agora conheço em parte,
mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor,
estes três, mas o maior destes é o amor.

D.128.Dentro de mim - Analí Sabino


Há algo dentro de mim:
Algo que me angustia...
Algo que queria...
Algo que desejaria...
Algo que aconteceria...
...se não fosse a minha falta de fé!

Eu não sentiria...
Eu não choraria...
Eu não pediria...
...se tivesse a certeza que este sonho um dia se realizaria.

Quando me libertarei?
Quando conquistarei?
Este dia, quando chegará?
Talvez esteja próximo.
Talvez nunca chegue.
É apenas um desejo, uma petição...
...que tanto alegraria o meu coração.

Venha meu amado, te espero há tanto tempo.
Saia dos meus sonhos, venha para o meu acalanto.
Ao meu lado é o teu lugar, desejo tanto te beijar.
Prometo-lhe nunca te deixar.
Prometo-lhe sempre te amar.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

D.127.Don Juan - Wilian Nascimento


Por muito tempo eu calei meu coração, quis sufocar
Esse sentimento que floresceu, como eu te explicar?
Você sempre me viu como amigo e um irmão
Por isso eu tive medo de arriscar errado
E perder de vez o teu coração
Por muito tempo evitei te olhar nos olhos, me escondia
Eu sempre me contentei, um beijinho, um abraço, isso já me servia
Quantas coisas já perdi, com medo de perder
Mas agora eu aprendi, não vou perder você

Te quero, comigo, mais que um amigo
Eu quero ser teu namorado
Te peço uma chance, pense com carinho
Nesse eterno apaixonado

Eu não sou nenhum Don Juan conquistador
Muito pouco eu sei do amor
Então eu entreguei tudo em oração a quem sabe
Quem melhor que o inventor do coração?
Sei que Deus está comigo e é por isso que eu me animo
Aceitei o desafio, e hoje estou aqui me declarando
Te quero muito mais que ontem, e hoje muito menos que amanhã
Eu me escondi por tanto tempo, mas hoje eu confesso eu sou seu fã

D.126.Delírio - Mia Sodré


Labirinto
Quando a vida se torna um espinho
Quando a rosa lhe fere o caminho
Quando já se perdeu a paixão.

Retiro
Há um lago aonde se vai sozinho
Na beleza da estrela azul
Na esperança de achar algum trilho.

Sozinho
Caminhando à margem de um rio
À esquerda há apenas vazio
À direita há paz na contramão.

Suspiro
O que resta é encontrar um alívio
Um sorriso que mostre uma ilha
Que é deixada na imaginação.

D.125.Deusa - Valdivino


Não posso me enganar
não poderia viver dessa maneira
para pagar e apagar qualquer bem

Assim como eu
vi o nascer do sol pelas
águas do mar

E queria saber como há tanta
beleza neste mundo 
inteiro

Pode ser meus sonhos que faz a
minha vida valer a pena
enquanto vale sonhar, fui trazido
para os meus sentidos

Estava cego, mas agora que eu posso ver,
que a natureza disse que você
pertence a mim.

D.124.Delineando - Mia Sodré


A alma revigora
O cansaço do tempo
Daquela dor, daquele tormento
Outrora era paz
Hoje, vento gélido
Seria eu capaz
De amar demais?
A poesia que nasce
Por um descuido alheio
Instalou-se, por fim,
Dentro do meu peito
Correndo ela vai
Por veias tão finas
Mandando sinais
Em forma de rimas.

D.123.Do branco ao púrpura - Mia Sodré


Onde estás tu, que adoças meus dias? 
Para onde fostes ao despertar de meus sonhos?
Fugistes como tantos, pois esta é a minha sina, 
ou te encontras nas trevas, resistindo aos meus encantos? 

Sombras da noite me fazem perceber
que um leve engano de meus delírios
poderiam me afastar de você. 
Matarei meus medos tal qual Goya,
e não resistirei aos meus desejos. 
Pois tudo o que vejo e que percebo agora 
é o reflexo virginal de outrora. 

Viestes de tão longe para aquecer minha pureza. 
Vestiu-a de púrpura e a despiu de esplendor
No qual Vaste, mesmo em toda sua loucura
Sucumbiu, ao precioso sabor. 

Sabor este que produz deleite
Prazer tal qual não se verá jamais
Pois como a virgem, ao perceber o falo
Se rende ao gozo e perdição fugaz. 

E eu, que já não espero mais sentir
Ao toque de tua derme me percebo flor
No calor de teus braços, tal qual virgem
A quem te negas, ao mínimo de dor.

D.122.Dever de sonhar - Fernando Pessoa


Eu tenho uma espécie de dever,
dever de sonhar, de sonhar sempre, 
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, 
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso. 
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas 
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho 
entre luzes brandas e músicas invisíveis.

D.121.Desculpa - Thaina Santiago


Desculpa...
Se te olho assim tão profundamente rente a um repente a ponto de constrangê-lo assim simultaneamente...
Desculpa...
Se te toco assim tão delicadamente a ponto de sentir dores e mágoas interiores,
capaz de sentir teus arrepios e calafrios, e toda dor que outrora essa sua pele já sentiu...
Desculpa...
Se te abraço assim tão genuinamente como se o mundo acabasse ali ou aqui nesse instante...
Desculpa...
Se te beijo assim tão apaixonadamente e impulsivamente como se pertencessemos um ao outro...
Desculpa...
Se te amo tão loucamente a ponto de sentir e ver seus medos e ancestrais, ou se amo assim tão abusivamente...
Mas te amo por inteiro sem qualquer devaneio, a cada segundo formado, cada vez mais exaustivamente...
Te amo...

D.120.Diferente - Rita Costa


Eu anoiteço.
O pensar é mais flutuante,
o olhar é mais falante,
o caminhar é mais adiante
e sigo...

pois sou fonte inesgotável
de um sonhar...
diferente

Eu amanheço.
O pensar é mais falante,
o olhar é mais adiante,
o caminhar é mais confiante
e sigo...
expandindo-me.

Sou um incontrolável realizar
e sigo...
diferente.

D.119.Dias escuros - Mitchell Pinheiro


Quando o passado não passa e o futuro não chega
O olhar perdido abraça o desassossego
Quando a enfermidade é certa e a cura incerteza
A mente reprimida conclama o desapego

Quando as flores não brotam mais
Quando a noite não se esvai
Pra onde foi a primavera?
Quando tudo é incolor e a dor não espera

O Sol se foi e a noite é fugaz
Apagaram as paisagens e esconderam a paz
Foi  tudo orquestrado pelo coração
Foi tudo tão sentido
Mas tudo foi em vão
Nada mais faz sentido

O amor não está perdido
O caminho ainda pode clarear
Basta a luz de um único sorriso correspondido
O dia renascerá

D.118.Diz amor - Douglas Farias


Todos os dias em que vejo o mar
Da vontade de me jogar
Até no fundo do escuro azul
Afim de te encontrar

Palavras mal ditas confundiram o olhar
Foram trocadas por um desamar
Não quis mais ouvir o que tinha a lhe dizer
Fiz sofrer aquela que me diz amar

Essas rosas e um cartão são pra ti mostrar
Sinceras palavras e não um lamentar
E tudo aquilo que realmente quis fazer
De todo coração meu amor para te dar

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

D.117.Diva da Noite - Douglas Farias


Fazes lindas minhas noites
Diva da mais linda noite
Sua imagem reflete no lago
Que banha o pé do monte

Meus encalços as águas alcançam
Banham e beijam-me os pés
Me olhas tão pequeno
Não enxerga-me o mais ralé

Trata-se de uma rainha
Governa em meus sonhos
Realiza-me os desejos
Dos simples aos medonhos

Na mais fria noite vagas
Procuras um coração quente
Atiras suas flechas de amor
Acertas o mais carente

Por quê me escolhe
Se ódio e rancor sou eu?
Não sou merecedor
Do amor que me ofereceu

Diva da mais linda noite
Queres algo de valor
Quando olhares pra mim
Receberás todo meu amor

D.116.Desejos vãos - Florbela Espanca


Eu queria ser o Mar de altivo porte 
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão é ate da morte!

Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!

E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...
Florbela Espanca - Fanatismo 

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida 
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não es sequer razão do meu viver,
Pois que tu es já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo , meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu es como Deus: Princípio e Fim!..."

D.115.Dois - Mia Sodré


Uma vez vi minha alma num espelho. 
Durante um sono ou devaneio. 
Era num dia 15 de novembro. 
O suor pingava de meu travesseiro.

O que vi, a ninguém desejo. 
Foi um assombro ou um simples lampejo? 
Só sei dizer que não era meu desejo 
conhecer as marcas de todos os meus erros.

Uma alma apareceu no desespero. 
Na tormenta, o reflexo de um milênio e meio. 
Era desbotada, mal cuidada, e havia medo 
de viver outra vez em vão, correndo.

D.114.De nenhuma maneira - Douglas Farias


Sou transportado para seu lado
Nas abrangências de meu sonho
Sinto-me firmado ao seu lado
Mais que união a ti proponho

Lento na ilusão, devagar na ambição
Que transpassam na minha mente
Quero mais que uma simples paixão
"Yo quiero un amor muy caliente"

Só a passagem que é corriqueira
Mostra a velocidade de nossa vida
De perto não saio de nenhuma maneira
Diz que não, mas pede que eu insista

D.113.Me deixa - Douglas Farias


Deixa o mundo ser meu sozinho
Ora ninguém mais tem que entrar
Olha o que fizeram com meu coração
Transformaram tudo em ilusão
Agora como em mim acreditarão?

Beijei rostos frios
Abracei árvores secas
Deitei em camas de gelo
Dei as mãos para a sombra
Sonhei com nenhum sonho

Falei para ninguém vir aqui
Meu espaço virou minha praça
Já não bastou tanta tormenta?
Vieram com falsas desculpas?
Saiam, já viram o que queriam

Não irei mais
Deixa eu aqui
Esse mundo agora é meu
Entorpecido estou
Por falta de amor

D.112.Dia do nosso casamento - Betânia Lima/Wiliam Nascimento


É, acho que vou chorar
É, quando eu te olhar
É, um clipe em minha mente vai passar
É, valeu acreditar
É, suportar e esperar
É, Nosso amor será pra sempre

Será só benção o nosso lar
Toda nossa casa vai servir a Deus
Nos completaremos
Em tudo aprenderemos
Meu amor o nosso tempo chegou

Hoje é o dia do nosso casamento
Oramos tanto por esse momento
Metade se unindo, o mel e a flor
Deus confirmando esse amor

Hoje é o dia do nosso casamento
E esse sonho lindo que nós dois vivemos
Por toda nossa vida vamos lembrar
Que Deus o abençoou

D.111.Da essência - Lu Tostes


Alguém disse
que só os poetas enxergam
as pequenas grandes coisas
do mundo.

Se a pena flutua por oito segundos,
enquanto a menina abraça o amigo,
se pende o balanço solitário,
quando estala a folha seca de outono,
se treme a flor no topo da árvore,
embalada pelo vento com cheiro de azul,
bem verdade é que o poeta nada vê.

Quem o faz 
é o especialíssimo leitor,
que capta com 
seus vastos sentidos
esse templo etéreo
de delicadezas.

O poeta amanhece, floresce,
flutua, abraça, 
agoniza, pisa, 
sopra, venta e voa.
Ele nasce, vive e morre  
cada um desses infindos
frêmitos de plenitude.

D.110.Dois corações - Luiz Sergio Marino


Você é a saudade que gosto de sentir
Você é a ternura que gosto de sentir
Você é a meiguice que gosto de sentir
Você é a paixão que gosto de sentir
Você é tudo, mesmo sabendo que não posso ter você.

Mas se um dia me quiser ter ao seu lado
Lembre-se que meu coração será só seu
Este coração estará aberto para receber o seu
Com muito afeto e com muita ternura

Lembre-se que gostaria de caminhar ao seu lado
Lembre-se que gostaria de participar de sua vida
Lembre-se que gostaria de participar de suas alegrias
Lembre-se que gostaria de participar de suas tristezas
Lembre-se que gostaria de participar de seus momentos

Mas principalmente lembre-se:
Nunca esquecerei de esquecer de você.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

D.109.Dessas despretenciosas alegrias que nos vêem - Lu Tustes


Nem sempre
meu jardim sorri em flores.
Por vezes
o jardineiro sequer abre
suas janelas embaçadas
e, entre nuvens,
o sol se esconde
com pequenos
lábios amarelados.

Mas a esperança
sempre prevalece
no dia
em que, alheias
à luz, às cores
e às pobres retinas riscadas,
passeiam borboletas distraídas,
tracejando sua estrada.

Segue o tempo natural
de todas as coisas
(expansões, recolhimentos),
enquanto as belas,
ainda que sós,
soluçam plenamente
a vida
por entre os girassóis.

D.108.Dia nublado - Mauricio Dieckman


Nessa manhã
Que o sol não apareceu
Lembro dos dias de chuva
Só você e eu

Do beijo molhado
Da cama quentinha 
De suas pernas
Roçando as minhas

Um filme
Qualquer na tv
Mas tudo o que importa 
És você

Sinto saudades
Desse tempo
Sinto falta
Daquele momento 

Mas hoje não chove 
Só está nublado 
É um bom dia
Pra lembrar do passado
Mauricio Dieckman (Sonhador)

D.107.Desculpem-me, sou carnívoro - Um Poeta Vagabundo


                Desculpem-me, sou carnívoro, saboreio cadáveres cozidos, fritos, assados ou grelhados, aprecio aquela  gordurinha  bem tostada de uma picanha ou contra-filé, adoro o cheirinho do frango girando na porta da padaria.               
Pobres bichinhos, escravos, nascidos e criados confinados, detento sem crime, condenados pelo meu paladar, pelo meu bel prazer humano, humanizo a dor, acho normal, justifico –me  “é para comer”, mas é para comer que desmatam as florestas  da Amazônia para criar gado, é para  comer que desmatam o pantanal, cada dia mais assoreado por conta das fazendas , é para comer que mudam a legislação para favorecer pecuaristas, e é para lucrar que morre tanta gente com os efeitos nocivos da carne vermelha e ainda assim é fomentado o seu uso, é para comer que transformam campos e florestas em plantações de soja para gado de gringo comer, enquanto um sem número de humanos morrem de fome, é para comer que as vacas tem suas tetas cheias de pústulas sangrando de tanto serem sugadas, mas nas embalagens de laticínios sempre tem uma vaca feliz, alegre, sorridente  e saudável, nos doando leite cheia de satisfação,   e os pobres touros tem seus testículos  esmagados, mutilados para engordarem rápido,  e os porquinhos, tão inteligentes como os cães,  sentem e percebem seu triste destino, que azar ser um torresminho ambulante, bacon, pernil, costelinha, pururuca, bisteca, que delícia, azar o deles não terem nascido cachorro, de preferência cachorro de madame, melhor tratado que muita gente por aí, sorte dos cães não terem a carne saborosa(embora os chineses apreciem)                
As vezes me pergunto:  se uma  outra espécie   vier do espaço, se elas forem mais fortes e ou mais engenhosas que nós e por isso acharem-se superiores a nós  “humanos” e se colocarem   no topo da cadeia alimentar, seria justo ou lícito nos criar  como seus escravos, forçando-nos a reprodução? Seria legítimo  nos castrar e nos  confinar até o dia em  que resolverem nos matar das maneiras mais cruéis  para depois nos destrinchar, esquartejar  e nos colocar exposto em balcões de açougue?  Seria hediondo girar nossos pedaços em espetos e festejar com nossa carne e dar nossos ossos para os animais “inferiores”?               
Ainda bem que não tenho do que me preocupar, somos o topo da cadeia alimentar.

D.106.Destino - Elvira


Às vezes, quando volta da escola, pega o ônibus mais barato. Só quando está com paciência. Criança, a barriga gritando por comida. O veículo vai por lugares não imaginados. Alguns muito bonitos: fazendas, gado, aves pernaltas e brancas junto a eles, casas grandes entrevistas no amontoado de árvores. Mas há casinhas pobres, sofás rasgados nas varandas. Para quem? Lá dormem gatos e cachorros da casa e até vira-latas da rua. Uma sempre lhe atrai o olhar, quando passa. Desde a primeira vez, quando nunca vira. Pois mesmo não tendo visto, sabia tudo. Sabia até o que havia por dentro. Um quadro de um casal, muito antigo, coisa do final do século XIX, preto e branco, na parede, a mulher abotoada até o pescoço, o homem, um bigode farto. Outro sofá bem grande. Verde. Um móvel na horizontal, dos que não se encontram mais. Uma cristaleira no canto, só achada, hoje, em antiquário. Um quarto só, com a porta dando para a sala. Uma cortina estampada com motivos também verdes separa os cômodos da cozinha pequena, atrás, dando para um avarandado com telheiro de zinco. Ao fundo, uma hortinha. Um sentimento confuso enche o peito. É atraído, mas tem medo. Uma mulher mexe nas hortaliças e ele lembra seu nome: Elvira. É fornida de carne e morena, os cabelos presos para cima, relaxadamente. Mas fica linda. Quando abaixa, os seios redondos brotam do decote, vêm saudar as couves, os tomates, as salsinhas. Parece que vai sentir saudade, porém um sentimento de horror e ódio, mais forte, atropela o outro. Quer tirar a casa e Elvira da cabeça. Ela, porém, está beijando um rapazote, um buço despontando, atrás de uma mangueira enorme, no fundo de um terreno baldio. Aos poucos se deitam no chão. Ela levanta a saia comprida do vestido vagabundo, para que o meninote se decida rápido. E tão enlouquecidos se tornam que não veem um vulto chegar, facão de cortar mato na mão. Com a mão no peito, ele abre os olhos e vira o rosto para a janela. Quer se concentrar na paisagem, que, recentemente, começou a conhecer. O coração, entretanto, ainda sacode violentamente. Quando o ônibus para, muito tempo depois, ainda não está sereno. Mochila às costas, cadernos e livros dentro, salta meio sonâmbulo ainda, medo de novamente encontrar

D.105.Do outro lado - Eliane F.C.Lima


Morreu. E foi direto para o inferno. Porque tinha feito em vida tudo que prejudicava o próximo. Sem nenhuma preocupação sobre isso. Seu único objetivo era atender a seus interesses pessoais, fossem eles desonestos ou não, ilegais ou não, desumanos ou não. Armou muitas trapaças, sempre com aquela finalidade. Morreu. E viu-se logo diante do diabo ou um seu representante, não sabia bem. Viu que o tal correspondia, na aparência, exatamente, ao que todos imaginavam. Embora ainda um pouco confuso pela mudança de estado, pensou, velhaco ainda, que aquilo podia ser para impressionar o recém-chegado. Mas não pôde evitar que o medo se apossasse de si. Seu interlocutor, com uma voz meio rouca, mandou que ele contasse tudo que tinha feito em vida. E que pensasse bem, que não mentisse, pois, se algum mal tinha feito antes, no mundo dos vivos, a mentira, agora, para ele, diabo, seria uma ofensa grave. E sorriu, mostrando um calhamaço de papéis, acrescentando que sua vida estava toda ali, nos mínimos detalhes. O homem já ia argumentar que, se o outro sabia de tudo, não fazia sentido, então pedir a ele para contar, mas calou-se a tempo, vendo que não estava em condições de fazer desaforos. E contou. Foi desfiando minuciosamente todas os seus ardis para garantir seu passado bem-estar. A princípio com um fio de voz, a garganta entalada, respirando com dificuldade, todo o corpo tremendo, o coração quase parando. Não de remorso, só de medo. Reparou, porém, que seu interlocutor, que, no começo estava escarrapachado na enorme cadeira, foi levantando o corpo, chegando-se para a frente, para a ponta do assento, como se não quisesse perder um lance que fosse do relato. E seus olhos brilhavam vivamente, os olhos grudados na boca do falante, adivinhando-lhe as palavras futuras, embebendo-se de suas feições. Todo ele era a própria encarnação do gozo. Para testar – uma das estratégias do ex-vivo, em vida, era conhecer o terreno onde pisava –, ele contou certos pormenores mesquinhos que poderia ter evitado. O outro sorriu, contente, deliciado. A palavra que veio à mente do que narrava foi “cúmplice”. No fim, ainda sorrindo, o demo deu um tapinha camarada na perna do homem. Esse, entendendo que aquele era o lugar perfeito para o perdão de seus pecados, ouviu do capeta, companheiro, que andava precisado de um auxiliar, levando-o, fraternal, às suas novas funções.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

D.104.Dia de sorte - Eliane F.C.Lima


Não tinha emprego nem casa. Chegava perto de uma quitandinha, dono colocando mercadoria na porta. Perguntava se podia ajudar em troca de umas frutas, no fim do dia. Levava muito “não”, mas, às vezes dava certo. E ia levando.
Um dia, família colocava montes de sacos de lixo na porta. Robustos os sacos e a mãe. Suor pingando da cara de todos.
Pediu para ajudar, no final, davam uns trocados para comprar comida. Meio na dúvida, a dona dos entulhos velhos aceitou.
Trabalhou como nunca, até móveis ajudou a desmontar.
Na hora do almoço, sem mais nem menos, a senhora trouxe um prato enorme: macarrão, feijão, legumes, até bife tinha.
À tarde, agradecido, ainda recebeu uma nota de dez.
Antes de ir pela rua, viu um pipoqueiro. Há quanto tempo não comia pipoca, só pelo nariz. Dinheiro era para comida, mas uma vezinha só...
Saco de bobagem na mão, olho nos sacos de lixo na rua. Beiral de loja era para sentar e pensar: será que tinha alguma coisa para aproveitar ali? Quem sabe vendia?
Lambendo ainda os beiços, foi abrindo os sacos, muito cuidadoso, não fosse espalhar nada...
Num deles, um envelope pardo, enrolado, bojudo, quase explodindo. Aberto, surpresa pura. Muitas, muitas notas de cem, em pequenos maços, elástico diligente.
Sacão de plástico preto fechado, envelope pardo debaixo do braço, respirou fundo. Podia retribuir a gentileza do prato de comida ofertado.
Passos firmes para a casa da família, agora homem de novo. Tocou a campainha: dignidade do coração até a ponta do dedo.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

D.103.Delicadeza e sensibilidade - Eliane F.C.Lima


Sempre fui uma pessoa muito sensível, desde menino. Ainda novinho, ia de árvore em árvore do enorme quintal de minha casa. Subia e, se achava um ninho com os ovinhos lá dentro, sem a mãe, acreditava que eles estavam abandonados. Pegava e levava para casa, deixando em uma caixinha que eu tinha ali. Sempre me frustrava. Não nascia nada e eles ainda estragavam. Quando via aquele monte de formigas no chão de terra, andando para lá e para cá, atarantadas, cria eu, morrendo de pena por ver a aflição delas, que estavam sofrendo muito e, desesperado, para acabar com aquilo tudo, arrastava o pé em todas elas. Foi assim com a história do gatinho. Sujinho e faminto, levei, escondido, para casa. O bichinho miava muito. Na minha inocência de criança, imaginei que ele tinha esquecido como é que parava de miar. Amarrei a boca dele com um pano. E para que ele não tivesse mais frio, guardei em uma caixa de papelão dentro do armário. Passados muitos dias, como tivesse me esquecido, comecei a sentir um cheiro esquisito. O pobrezinho tinha morrido, imagine a minha aflição. Para que minha mãe não descobrisse nada, joguei no lixo bem longe de casa e derramei meu vidro de perfume dentro do armário. Disse que tinha sido um acidente. Hoje, mesmo adulto, continuo com esse mesmo tipo de sentimento, imaginem. Continuo a salvar os bichinhos que encontro pela rua.
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D.102.Dor concreta - Eliane F.C.Lima


Gostaria de ser uma estátua de praça. Ver passar as pessoas apressadas. Ou ver os velhos ou os novos cansados, em busca de sombra, aquela moça lambendo um sorvete ou comento pipoca, sentados no banco de pedra fria, em volta de mim. Ou uma estátua daqueles casarões antigos, num grande jardim, limpo e organizado, mas onde nunca se vê ninguém. Com certeza, haveria outras como eu e poderíamos nos sorrir, se estivéssemos sorrindo, ou nos olhar languidamente, se estivéssemos nos olhando. Mas minha cabeça está voltada para baixo e minha mão esquerda pousada sobre o peito e a direita, levantada numa bênção. E meu rosto de anjo, concentrado e triste. Estou sentado à beira de um jazigo de uma família rica e tradicional. Mas isso não é bom. Há silêncio o tempo todo em volta de mim, a não ser quando toca aquele sino plangente e os cortejos vêm e passam por mim. Mas poucas vezes param. Porém, passando ou parando, sempre há lágrimas e desconsolo. Algumas pessoas têm de vir amparadas de tanta dor e desespero. E esses sentimentos me penetram e eu nem posso chorar. Petrificada nesse meu rosto bondoso, mas neutro, a solicitude de minha dor não pode ser notada e as pessoas passam por mim, recolhidas em seus sentimentos extremos e me devolvem a minha suposta indiferença.
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D.101.De Todas as Eras - Eliane F.C.Lima


Vive quieta na teia, casa própria. Não perde tempo com mitologia, Minerva, seu castigo implacável, inveja divina da antiga beleza de mulher. Afinal, que beleza maior do que aquelas pernas finíssimas, tantas, aquele corpo peludo e negro? Balança, em sua seda trançada, mais resistente que cabo de aço, feliz de sua aranhice convicta. Espécie de aracnídeo, nada sabe da Grécia, nova ou antiga, atravessado o Rio Letes do esquecimento. Só o tecer ainda o mesmo, trânsito entre os tempos e as formas. Perdida sua formosura humana – pudesse falar, discutiria a parcialidade do ato narrativo –, a paciência é sua maior virtude. Fica ali, dormindo, abraçada aos fios, casa-cama-caçada. Ao menor balanço, abre um olho: vento ou presa? No segundo caso, não se afoba. Deixa-se ficar algum tempo, cansando o almoço, não vá ter trabalho. Depois, toda preguiça, sem pressa alguma, caminha para o banquete. Nunca perde uma refeição: inseto que passe não é mais inseto. Como agora.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

D.100.Delírios - Guimarães Rosa


No parque morno, um perfumista oculto
ordenha heliotrópios…
Deixa aberta a janela…
Minhas mãos sabem de cor o teu corpo,
e a alcova é morna…
Apaguemos a luz…
Não sentes na tua boca
um gosto de papoulas?…
Passa o lenço de seda de tuas mãos
sobre minha fronte,
e não me digas nada:
a febre está, baixinho, ao meu ouvido,
falando de ti….

D.099.Dá-me a tua mão - Clarice Lispector


Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

D.098.Desejo - Gonçalves Dias


Ah! que eu não morra sem provar, ao menos
Sequer por um instante, nesta vida
Amor igual ao meu!
Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre
Um anjo, uma mulher, uma obra tua,
Que sinta o meu sentir;
Uma alma que me entenda, irmã da minha,
Que escute o meu silêncio, que me siga
Dos ares na amplidão!
Que em laço estreito unidas, juntas, presas,
Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem
Num êxtase de amor!

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

D.097.Desalento - Vinícius de Moraes


Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos

D.096.Desatinos - Eduardo Baqueiro


Que ando distante!
Sim! Eu sei que sou!
Mas, como a luz das estrelas,
Minha luz chega até você...
Talvez ela não te aqueça o corpo
Mas, certamente, te ilumina o caminho!
Tem coisas de mim que desconheces...
Dizem que não sou de confiança,
Não me importo com isto!
Eu apenas sou calado
E o meu silêncio pode ser
interpretado de várias formas...
Não me importo com o que dizem
ou pensam de mim.
Eu apenas sou o que sou!
Não preciso provar nada a ninguém!
Se quiseres me amar, ama
Mas me ame como sou...
Não me queiras ter como desejas
que eu seja,
assim eu não estarei livre...
e, preso, serei como um pássaro cativo,
esquecerei meu canto,
Deixarei de ser eu e não serei ninguém...
Se me amas, como dizes,
Me aceita como sou...
Não sou igual a ninguém,
Nem melhor, nem pior...
Apenas sou eu, nada mais!
E te amo!
Te amo do meu jeito,
Porque é impossível não te amar,
Porque aceito você do jeito que és,
Não importam teus medos,
Eles também são meus..
O que realmente importa é o amor
que nos une.
Somente isto faz sentido,
Nada mais.

D.095.De ti jamais esquecerei - Dalva Stolf


De ti jamais esquecerei.
Estou aqui ouvindo musicas que nos trazem recordações.
Desta ficaram em minhas lembranças do tempo em que juntos passamos.
Há amor!
Como era bom estar em teus braços, sentir teus carinhos.
Tuas mãos percorrendo todo meu corpo, depois, nos amando nos tornando um só corpo uma só alma.
Como me faz falta, estes teus carinhos, teus afagos, me desejando cada vez mais e eu a ti.
Amor meu, queria você aqui mais uma vez ,nem que fosse, a ultima vez e sentir-te bem junto de mim outra vez.
Amor pode passar anos deste amor por ti não deixarei de sentir, pois meu coração a ti entregou e meu corpo e minha alma também é todo teu.
Hoje, agora, neste momento, desejaria que meu mundo parasse e pudéssemos voltarmos uns anos atráz.
Ainda estaríamos um nos braços do outro, quem sabe corrigir onde erramos, e poder estar juntos novamente no dia de hoje.
Amor , sinto tanto tua falta,hoje e sempre te amarei.
De ti jamais esquecerei.

D.094.Desvario - Olga Matos


Fiz a trilha, bem feitinha, tirei pedras e espinhos, aplanei e contemplei...
plantei sementes nas beiras... o caminho floresceu..
Ficou lindo o meu caminho, sombras verdes, sol e lua passarinhos e ar puro...
mas a vida, minha vida caçoou e riu de mim...

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

D.093.Dia das mães - Angélica T. Almstadter 


Embora dia das mães seja todos os dias, alguém resolveu nos dar um dia especial que consta da folhinha, e do calendário de todas as lojas; para que os filhos pudessem gastar seu dinheirinho comprando um presente pra limpar a barra com a mamãe. Aqueles que não tem dinheiro para comprar nada abraçam beijam e dizem "eu te amo", mesmo que seja para cumprir tabela.Não, eu não duvido que ame, mas quem disse que precisa dia para abraçar a mãe ou para dizer : eu te amo? Nós mães fazemos isso todos os dias quando preparamos a comida, quando cuidamos com carinho de suas roupas para que fiquem limpinhas e cheirosas. É claro que não precisa babar em volta da gente, nós percebemos o quanto tem de obrigação esses gestos exagerados nesse dia, mas não deixem por favor esse dia passar em branco, sem um telefonema, um gesto carinhoso, porque embora a gente insista em dizer: não precisava...Vamos ficar muito tristes se constatarmos que nossos filhos não dedicam a nós nem um minutinho do seu dia. Dificil entender as mães não é? Pois é, a gente fica tão sensível quando se diz que esse dia é só para as mães que acabamos por ficar derretidas, mesmo quando dizemos que isso é uma bobagem e que nosso dia é todos os dias. O peso da data acabou por incorporar nosso calendário também porque para onde quer que olhamos vemos referências; seja no encarte do supermercado, nos autdoors, nas propagandas de tv e em todos os lugares possíveis se vê mães estampadas como garota propaganda! Assim, se preciso mesmo de uma data para que notem a importância da minha existência como tal,  porque ficou tão banal receber de mão beijada todo conforto que posso proporcionar aos meus filhos; quero-o com toda pompa e honra que possa merecer.Quero comida pronta, ou almoçar num bom restaurante onde haja comida limpinha e bem feita, como a minha, então filhos queridos nada de encher minha casa para o almoço! Antes que me joguem na cozinha cozinhando para um batalhão lembrem-se que o dia das mães é para dar alegria para essas míseras mortais e se eu disser que fico feliz nesse dia passando parte dele com a barriga no fogão e na pia, podem acreditar que minto, afinal faço isso o ano todo. Já que a data está instituída, vou gozar dela como posso e quero, terei um dia só meu e não adianta quererem me colocar no molde de mamãe padrão. Estou indo curtir o meu dia das mães me divertindo por aí! Estão rindo de quê? Se tivesse o dia dos filhos, o que vocês fariam?Fui....

D.092.Desapego - Angélica T. Almstadter


 Um pouco a cada dia, solenemente,
 Intensamente em cada hora
 Morro.
 Com satisfação e gozo.
 Delinqüente sobrevivente que sou antevejo a epopéia do desenlace,sufocada na agonia.
 Alma túrgida de funestos desejos.
 Abraço em desespero o caos que antecede o silêncio sepulcral.

D.091.Descobertas - Pastorelli


Estavam calados. Um de frente para o outro. E entre eles a toalha tendo em cima a guloseima que trouxeram.
O sol brilhava numa meia-luz projetando claridade plácida que a sombra da frondosa árvore proporcionava.
Cláudio sentia a morosidade do momento a se deslumbrar no horizonte de suas vidas.
Tinha o olhar concentrado no que fazia. Era esse seu jeito, sua característica a lhe dar requinte juvenil.
Sandro por sua vez, trazia no olhar o brilho perdido na distancia que ultrapassava aquele momento sereno, as vezes apático, corriqueiro, mas de raro fluir de sentimentos. Pensou em registrar algum som com sua voz de barítono, mas desistiu.
Não tinha competência para explicar o que se passava no pensamento.
E também não sabia se valia à pena, pois Cláudio talvez não estivesse interessado.
É idiotice pensar em falar e ficar quieto.- Idiota! - pensou.Cláudio continuava com a atenção voltada ao que fazia.
Comia um pedaço de pizza e bebia coca, isto é, entornava boca adentro o que restara da comida. Ao ver a esfomeação do amigo, uma pequena, mas nítida náusea subiu de suas entranhas, que foi preciso tapar a boca com a mão na tentativa de abafar o arroto.
Impossível. No olhar mudo e no gesto silente, Sandro entendeu como desculpa, mas o brilho dos olhos de Cláudio o traíram.
Aquela cena revoltava seu estômago. A gula do amigo ofendia o requinte do instante cálido em que estavam.
Surpreendido ficou com a justa raiva notada nos sulcos da testa que surgiram. Sandro notara todo o incrédulo ato de nojo que Cláudio tentou esconder em vão.- Ora! Não posso mais comer?Gritou o seu sentimento ofendido. Cláudio quieto, não respondeu.
Via na pergunta do amigo, irritação provocativa. Continuou a arrancar pequenos pedaços de grama. De viés olhou a raiva de Sandro.- Bobo! - pensou.Um sorriso sereno, de leve contraiu seus lábios finos. Não podia acreditar que Sandro estivesse realmente bronqueado com ele.
Pensando em quebrar o gelo que entre eles se formara, pegou um punhado de grama e jogou no rosto de Sandro.
Sandro ao ver a grama cair sobre sua cabeça, rilhou os dentes e praguejou:- Filho da puta! - e ao mesmo tempo jogou o conteúdo do copo em Cláudio.- Seu veado!Depois dessa troca de amenidades, se engalfinharam num corpo a corpo.
Primeiro Cláudio pulou em cima de Sandro não dando chance a ele de se safar. Rolaram esparramando tudo o que estava na toalha, copos, garrafas, comida, pizza. Num gesto brusco Sandro conseguiu empurrar o amigo que caiu batendo as costas.
Ao pensar ligeiro, Cláudio com os pés na barriga do amigo lançou o corpo franzino longe.
Novamente ele estava por cima, tentando esmurrar a cara de Sandro, que procurava aparar os golpes.
Num dado momento, sem que conseguissem explicar, talvez por ter girado o corpo, Cláudio perdeu o equilíbrio e quando perceberam suas bocas de leve se tocaram.No mesmo instante, petrificados como se o olhar da Medusa os atingisse, ficaram.
Minutos pequenos não se ouvia nem a respiração de nenhum dos dois.
O olhar duro um no outro gelava as entranhas. Ao mesmo tempo fizeram uma careta de nojo.-Argh! - fez Sandro.-Argh! - retrucou CláudioE rapidamente se separaram. Um bem longe do outro.
Sentiam a perturbação do inesperado a arder por dentro. Sandro conseguia ver a queimação lavrada num ardor intenso em seu rosto. Não decifrava o acontecido. E principalmente porque se revoltara ao sentir os lábios do outro tocando o seu.
Fora um acidente. Cláudio tenso segurava os nervos que tremiam por baixo da pele. Sua raiva extravasava o limite da razão. Com a feição endurecida queria ver o amigo longe. Que a terra se abrisse e engolisse Sandro. E assim ficaram. Sentados.
Sujos de comida e bebida e terra. Quietos. Só ouvindo o tempo correr no espaço.
Aos poucos Sandro se permitia sorrir ao lembrar da cena. Cláudio ainda meio tenso, perguntou:-Ta sorrindo do que, seu bobo?-Da sua cara de macho ofendido.-Vá encher o saco do outro.
Vamos é arrumar as coisas.- Ta certo, Sandro continuava rindo.Cláudio por fim se rendeu.
Se descontraiu e caiu na gargalhada. Guardaram o que restou da comida na cesta. E ao se encaminharem para o carro, Cláudio parou o amigo pondo a mão sobre o peito dele.-O que foi? - perguntou Sandro.-Há uma pequena folha de grama em seus cabelos.
Espere que vou tirá-lo.E com gesto proposital quase afetado, com delicadeza retirou a sujeira do cabelo do amigo.-Vá à merda!E quase numa retribuição, Sandro abre a porta do carro, fazendo uma saudação para o amigo entrar. Cláudio já estava dentro do carro quando gritou:
- Os peixes, os peixes, esquecemos dos peixes.E saiu numa desabalada carreira, voltando logo em seguida exibindo o troféu. Subiram no carro e deixaram o bucólico recanto das descobertas onde ainda a meia-luz da tarde resplandecia ao fundo.Pronto.
Colocou o ponto final. Será que gostarão? Não sei. Também pouco me importa se gostem ou não.
O importante é que eu gostei de escrever. Clicou no arquivo. Salvar. Fechou o word. Desligou o computador. Apagou a luz da sala e foi dormir.

D.090.Despedida - Conceição Pazzola


Quando algum dia eu morrer
Quero você sorrindo para mim
Lembrando que fomos felizes
Cuidando de nosso jardim

Quando algum dia eu morrer
Cercada de entes queridos
Frutos de mim de você
Sem lágrima e rancor antigo

Quando algum dia eu morrer
Faça chuva, faça sol lá fora
Não quero lhe ver entristecer
Cante baixinho nessa hora

Felizes de nosso alegre passado
Nada vai mudar meu amor
Sempre estarei ao seu lado
Seja por onde você for.

D.089.Dia do Circo - Lucelena Maia


Respeitável público!

O circo chegou na cidade
para alegrar a toda gente
chegou trazendo felicidade
desejando ver o povo contente


Tem
palhaço e equilibrista
acrobata e contorcionista
mágico e trapezista
picadeiro sem animais
atrações imperdíveis e mais...


Hoje tem marmelada?
Tem sim senhor...

Tem apresentação da cultura popular
com performances inteligentes
espetáculos bem diferentes
fazendo o circo perpetuar...


Senhoras e senhores...

Apresentamos
Instituição fomentadora do riso
que é a arte da intelectualidade
e
para fazerem rir de verdade
os homens do circo,
improvisam...

D.088.De coração para coração - Lucelena Maia


Meiroca, assim você é para mim...
sinônimo de força e de bom coração
qualquer coisa de grande explosão
de brilho, de felicidade... Enfim,

Uma das pessoas mais admiráveis
por sua conduta e forte estrutura
porque carrega a boa ventura
e a sabedoria dos inconjugáveis

E, porque é minha irmã, eu amo você
por tudo de cumplicidade que vivemos
e porque juntas ou sozinhas aprendemos
que a vida jamais será algodão-doce;

Eu juro! Quantas vidas me forem dadas
quero ser sempre sua melhor amiga
e mesmo que eu venha como formiga
no seu açucar farei minha morada

Tenho muito orgulho do seu sorriso
e desde menina eu já pensava assim
talvez porque nele há muito de mim
também, da mãe, do pai, da Dinha...do paraíso.

Sim, tudo estava escrito e com fervor;
juntariam-se os Pastres e os Maias
resistentes às dores e às tocaias
por fidelidade à crença no amor...

Feliz Aniversário, Meire, eu lhe desejo
receba meu abraço e um beijo
quentes como a um pão-de-queijo
e porque sou poeta, receba meus versos cortejos...

Parabéns, querida irmã!!!!

D.087.Dança do vento - Afonso Lopes Vieira


O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e redopia
e tudo baila em redor!

E diz às flores, bailando:
- Bailai comigo, bailai!
E elas, curvadas, arfando,
Começam, débeis, bailando,
E suas folhas tombando
Uma se esfolha, outra cai,
e o vendo as deixa, abalando,
- e lá vai!...


O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e redopia
e tudo baila em redor!

E diz às folhas caídas:
- Bailai comigo, bailai!
No quieto chão remexidas,
as folhas, por ele erguidas,
pobres velhas ressequidas
e pendidas, como um ai,
bailam, doidas e chorando,
e o vento as deixa, abalando,
- e lá vai!...

O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e redopia
e tudo baila em redor!

E diz às ondas que rolam:
- Bailai comigo, bailai!
E as ondas no ar se empolam,
em seus braços nus o enrolam,
e batalham,
e seus cabelos se espelham
nas mãos do vento, flutuando,
e o vento as deixa, abalando,
- e lá vai!...

O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e redopia
e tudo baila em redor!

D.086.Descabidos - Lucelena Maia


São os dias, nas grandes cidades.

Estejam limpos, nublados,
chuvosos ou ensolarados
nada muda
pessoas apressadas,
buzinas disparadas,
trânsito infernal,
estômago digerindo mal,
come-se prato frio,
passa-se horas a fio
dentro da condução
que leva ao trabalho.


Tempo esgotado,
sorriso foge dos lábios,
problemas amontoam-se,
não se caminha fácil,
olhares perdem-se no asfalto,
sobra cansaço,
escasso são os minutos,
não se tem segurança
e, o trânsito
continua
um insulto...


Os dias nas grandes cidades
não se encaixam,
são repetitivos,
solitários,
cansativos,
suados...
Enquanto uns vão, outros vêm,
no ônibus,
no metrô,
no carro,
no trem.

D.085.Das minhas saudades - Lucelena Maia


Sinto minha alma buscar, em devaneio,
Na soleira do tempo, a fazenda e a casa.
Do alpendre, resgato o olhar na estrada,
E as vezes que desejei nunca partir
Daquela infância regada de simplicidade,
Do mundo de céu azul e cristalino riacho,
Da lua cheia, invadindo o pequeno quarto,
Do uivo feroz, penetrando o ouvido,
(Era do lobisomem, meio gente, meio folclore)
Da chaminé, que anunciava a hora do café,
Da cozinheira na luta, barriga molhada,
Do fogão a lenha, em plena atividade,
E da família indo, outra vez, para a lida...
Sobre a toalha xadrez, migalhas de pão
E farelos das boas risadas trocadas...

D.084.Dor e medo - Thaina Santiago


Há muitos que conhecem
há misteriosa dor e o tal medo
são eles mesmo o causador
dos gemidos de uma criança
que extingue o brilho no olhar,
quebram a beleza do sorriso,
as lágrimas me verdade são suas filhas...
Dor e medo, dão e tiram
a vida do homem,
engrandecem o gênio,
educam o próprio espírito...
Medo e dor transformam o homem
em um bravo ou valente
e o faz um santo.
Esses sentimentos trazem
contínuo sofrimento,
profunda tristeza e
desolação extensa...
Andam por todos os lugares,
não são prazerosas,
mas se não fosse por eles:
como poderíamos explicar a saudade?
Que graça teria o amor,
sem um desses dois?
Mas na verdade esses são
uns dos sentimentos
que nos guiam para o caminho
do Perdão!

D.083.De volta ao um - Brian McKnight


É inegável que devemos ficar juntos
É inacreditável como eu dizia que jamais me apaixonaria
Você precisa saber
Se já não sabe como me sinto
Então deixe-me mostrá-la agora que eu estou falando sério
Se todas as coisas, na hora certa, o tempo revelará
Sim...

Um: você é meu sonho bom
Dois: só quero estar com você
Três: Garota, é evidente
Que você é a única para mim
E quatro: repita os passos de um a três
Cinco: e se apaixone por mim
Se algum dia eu achar que meu trabalho está terminado
Então voltarei para o primeiro passo
Sim...

É tão incrível como as coisas acontecem sozinhas
É tudo emocionante quando você descobre do que se trata, ei
E é indesejável que nós fiquemos separados
Eu jamais teria ido muito longe
Porque você sabe que tem as chaves do meu coração
Porque...

Um: você é meu sonho bom
Dois: só quero estar com você
Três: Garota, é evidente
Que você é a única para mim
E quatro: repita os passos de um a três
Cinco: e se apaixone por mim
Se algum dia eu achar que meu trabalho está terminado
(Então voltarei para o primeiro passo)

Diga adeus a escuridão da noite
Eu vejo o sol se aproximando
Sinto-me como uma criança cuja vida está começando
Você chegou e trouxe uma vida nova dentro deste meu coração solitário
Você me salvou na hora exata

Um: você é como um sonho que se tornou realidade
Dois: só quero estar com você
Três: Garota, é evidente
Que você é a única pra mim
E quatro: repita os passos de um a três
Cinco: e se apaixone por mim
Se algum dia eu achar que meu trabalho está terminado
Então voltarei para o primeiro passo

D.082.Dona - Douglas Farias


Ei dona, você deixou uma lágrima cair
Achei que fosse de tristeza
Então, deslumbrou um belo sorriso
Um alívio que afastou toda preocupação
Tenha calma! Eu consegui voltar
Não como eu planejava, mas estou aqui
Aqui, de onde nunca deveria ter partido
Mesmo que o desespero superasse todas as esperanças
Não poderia ter te deixado sozinha Ei dona, essas marcas vão me fazer lembrar
Essas dores vão trazer uma certeza
De que a luta não foi em vão.
Sei que perdi mais do que ganhei
Mas o que ganhei superou tudo que há de mais valioso
Conquistei seu amor, seu respeito e sua confiança. Ei dona, estou aqui, voltei para seus braços
Você me esperou todo esse tempo
Quis acreditar que um dia seu amor voltaria
Foste sua fé que me trouxe de volta
Tudo que eu mais desejava naquele lugar
Era simplesmente olhar outra vez seu lindo rosto
Nem que fosse um único segundo Ei dona, irei tomar partida de onde paramos
Esse longo tempo não mudaste o que somos
Acendeu ainda mais nosso amor
Os nossos sonhos e planos iremos realizar
Não tenha dúvidas, por você eu lutarei ainda mais Ei dona, nós sabemos que um dia terei que parti de novo
Mas seja aonde estiver, aonde for, ou como for
És a dona, a dona do meu amor.

D.081.Dons - Elcimar Reis


Há pensamentos para tudo. Há pessoas que dizem que possuímos algo especial e não conhecemos, ou não descobrimos oque é ainda.
Há pessoas que insistem em correr atrás dos sonhos, não importa o quão impossíveis sejam.
Há pessoas, que assim como eu, enxergam o mundo com outros olhos, mais simples, mais sublimes.
Essas pessoas não estão erradas em suas maneiras de pensar e de ver o mundo.
Elas possuem este dom, que talvez, todos deveriam possuir. Somos seres falhos, com ideias, com momentos de fraqueza.
Certo dia, há um mês, tentei me distanciar de um dos meus dons. Estava me matando.
Afinal, quando se tranca algo dentro de você, algo que busca a liberdade, que busca ser publico, que buscar ajudar os outros, naquele momento sua vida perde cores; perde sentido. Descobri uma, que possa ser uma das lições mais importantes da minha vida.
Não se pode guardar dons. Não se pode fugir deles, trancá-los, aprisioná-los.
Eles nasceram para ser livres. Não se destrua. Descubra seus dons, e simplesmente deixe-os soltos, libertando outros pelo mundo.

D.080.Desejo - Luciano de Souza


Se o universo vive em sincronia
Porque o homem não o copia?
O sol nasce e faz o dia
A terra gira e faz a tarde
Um outro giro e a noite invade
Então as estrelas se acendem brilhando e guiando
Há milhões de anos coadjuvando com a lua
No firmamento acontece tudo em perfeita estrutura
Diferente daqui das nossas vias e ruas
Onde carros se chocam e as motos colidem
Com pessoas que brigam por motivos banais
É tão triste quando filhos enterram seus próprios pais
Mais triste ainda quando os pais enterram seus próprios filhos
Contrariando com isso as leis naturais
Eternos rivais, seguem destilando ódio
Quantos nesse dia morrerão na guerra pelo petróleo
Quantos mais nessa noite fecharão os olhos
Não tornarão abri-los quando o dia raiar
Isso é triste, mas temos que continuar
E que na sombra do Onipotente você venha descansar!

D.079.Dom da sabedoria - Neil Barreto


"O medo é fé na derrota!"

"Quem não espera se desespera!"

"A pior ordem a ser obedecida é aquela que não foi dada!"

"Para crescer não se faz força é natural!"

"Felicidade não é aonde se chega, e sim a maneira como se vai!"

"O problema não é o que fizeram comigo, mas o que eu faço com o que fizeram comigo!"

"Sabe muito quem sabe que não sabe, pois quem pensa que sabe, ainda não sabe como convém saber!"

"Quando não souber o que fazer não faça nada!"

"Deus não trabalha em cima de ações e sim de intenções!"

"Fé é o combustível que move Deus em nosso favor!"

"Ter inveja não é querer ter o que o outro tem, mas sim querer que o outro não tenha aquilo que você também não tem!"

"Não morra antes da morte chegar!"

"Deus prefere te perdoar do que te perder!"

"Se nós adorarmos a Deus sem razões, ELE nos dará muitas razões para adorá-lo!"

"A Vitória é dos fracos que sabem lidar com as fraquezas!"

"A dor é inevitável. O sofrimento é opcional..."

"A qualidade das más companhias não podem roubar de nós a capacidade de achar as boas."

"Não é pecado estar fraco, pecado é se entregar a fraqueza sem luta"

"Mais vale uma rebelião que é produto de coragem do que uma obediência que é produto de covardia" 

"A benção de Deus sobre a sua vida, não está na ausência da dor, mais sim na capacidade de superá-la" 

D.078.Do seu lado sempre estarei - Douglas Farias


Corria contra o vento Sentindo a brisa passar
Brincava com as flores
Como se comigo fossem falar

De longe te via
Com olhar admirado
Sabendo em seu coração
Que sempre estaria ao seu lado

Viu-me nascer
Confortou-me em seus braços
Logo percebia
Que teríamos grandes laços

Todas as noites
Olhando pelo vidro
Esperava seu carinho
Para ficar comigo

Só que um dia
Tive que partir
Mas uma vez em seus braços
Não te vi mais sorrir

Tenho a sensação
Que de novo seremos
Velhos amigos e
Que logo nos veremos

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

C.158.Companheiros - Mia Couto


Quero
escrever-me de homens,
quero
calçar-me de terra,
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho.

E quando ficar sem mim,
não terem escrito
senão por vós,
irmãos de um sonho.
Por vós
que não sereis derrotados.

Deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros,

Mas não lego
mapa nem bússola,
por que andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver.

Hei-de inventar
um verso que vos faça justiça.

Por ora
basta-me o arco-íris,

em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos,
mas que permaneceis sem preço.

Companheiros

C.157.Chuva Bendita - Neusa Marilda Mucci


Chove a chuva, assim mesmo, a quero em redundâncias! Ela precisa ser homenageada e bem acolhida, pois é música ao coração em novas esperanças e cores para a natureza humana, a fauna e flora. Cada gotinha que cai é uma joia preciosa, um presente que vem do céu, tem valor inestimável, porque jamais poderá ser comprado ou vendido por alguém. Dependemos da água para que a vida continue e essa melodia da chuva, composta pelo Maestro criador de todas as sinfonias da natureza é a mais aplaudida onde chega, principalmente se o estio se prolongava.

Quando a chuva vem, tudo se renova em cores e sons, germinam sementes, dançam as folhas das plantas esbaldando alegria e os animais também percebem a mudança. No coração do homem sedento e entristecido pela estiagem nasce uma oração. É de agradecimento e quiçá cada um entenda que é preciso preservar toda a natureza, economizando seus recursos sempre, para que a vida continue plena, abastecendo de alimentos e água todo ser vivo. Respeitar a natureza sempre!

Ela é mãe e quando quer ensinar, mostra a sua força.

C.156.Cartas de amor - Lucas Menezes Maida


Ridícula igual todas as outras
Esdrúxula igual Álvaro um dia escreveu
É ridícula por ser de amor
E digna de quem já sofreu

Escrevo mesmo assim
Sem vergonha de ser patético
Cético a ponto de acreditar
E acreditando a ponto de ser cético

Você me fez voar mais alto do que Dumont
E escrever melhor do que Drummond
Eu sei que vou te amar em cada despedida
Mais do que a música do Tom

Ave de rapina, sofisticada como anis
Minguante como 1/3 da lua
Depois de 14 beijos, eu pedi bis
E lembrei ¼ de você nua

Estudei as três do romantismo
Para chegar à fase que estou
Inexplicável e surreal como Ismália
Que por um sonho se jogou

Vivo a “Lira dos Vinte Anos”
Cantando a “Canção do exílio”
Boêmio urbano
Postiço como um cílio

Descartável igual flecha
Fiz cego ver, milagre de um cupido
Dancei com o seu cabelo
E te ganhei com uma fala mansa ao pé do ouvido

Prometi a mim mesmo
Que não ia escrever uma carta de amor
Mas escrevi, não só para depor
Mas para não ser
Ridículo

C.155.Capitão - Lucas Menezes Maida


Que você sinta fome
Mas, sempre de bola

Que você faça falta
Mas, nunca na escola

Que você coloque os adversários no bolso
Mas, nunca as coisas dos outros

Que você faça gols de placa
E, nunca desmanche um Gol sem placa

Que você seja o capitão
Nunca, o olheiro

Que a festa na favela acabe em gols
Nunca, em tiroteio

Que você seja quem quiser ser
Buarque com Luiz Gonzaga
Ataque com juíz com zaga

Que você frequente o campo e a concentração
Mas, nunca os dois juntos

Que você seja o primeiro na capital
No Brasil e no mundo

Que você seja o capitão
Nunca, o Nascimento
Tampouco do Mato

Que você fique livre
Da marcação

Da Fundação, da prisão
E do fardado

Que a única coisa que você precise roubar
Seja a bola do adversário

Que você tenha problemas no vestiário
Mas, nunca no vestuário

Que o seu esporte predileto
Seja o mesmo do Nazário

Que você molhe a camisa
De suor, nunca de sangue

Que a única coisa organizada que você veja
Seja a torcida

Que você seja artilheiro
Mas, nunca faça parte da artilharia

Que você fure bloqueios
Nunca moletons

Que você use colete
Nunca à prova de balas

Que você seja assunto na mesa redonda
Mas, nunca na quadrada

Que você seja o capitão
Nunca, o tenente

Que você arme jogadas
E, nunca as quebradas

Que você viva com a bola no pé
E, não morra com a bola no pé

Que você arraste as chuteiras no chão
Mas, nunca o grilhão

Que você bata tiros de meta
Mas, não tenha os tiros como meta
Tire-os da reta

A bola perdida...
A bala perdida…

Que você encontre a bola de bico
E, nunca receba a bala na bica

C.154.Cante pra mim - Neusa Marilda Mucci


Cante para mim
canções de amanhecer,
faça sua voz mais forte que o vento
que viaja pelo espaço,
deixe que a emoção reverbere
atingindo a amplidão,
poderá trazer carinho em cada compasso
e alegrará, mesmo que não percebas
o anoitecer em meu coração

C.153.Canção de mim mesmo - Walt Whitman


Walt Whitman, americano, um bronco, um kosmos,
Agitado corpulento e sensual....comendo e bebendo e procriando,
Nada sentimental....alguém que não se põe acima dos outros homens e mulheres
Nem deles se afasta....nem modesto nem imodesto.
Arranquem os trincos das portas!
Arranquem as próprias portas dos batentes!
Quem degrada uma pessoa me degrada....e tudo que se diz ou se faz no fim volta pra mim,
E o que eu faça ou diga volta pra mim,
A inspiração surgindo e surgindo de mim....por mim a corrente e o índice.
Pronuncio a senha primeva....dou o sinal da democracia;
Por Deus! Não aceito nada que não possa devolver aos demais nos mesmos termos.
Por mim passam muitas vozes mudas há tanto tempo,
Vozes das intermináveis gerações de escravos,
Vozes das prostitutas e pessoas deformadas,
Vozes dos doentes e desesperados e dos ladrões e anões, (...)
Por mim passam vozes proibidas,
Vozes dos sexos e luxúrias....vozes veladas, e eu removo o véu,
Vozes indecentes, esclarecidas e transformadas por mim.
Não cruzo os dedos sobre a boca,
Cuido bem dos meus intestinos tanto quanto da cabeça ou do coração,
A cópula não é mais indecente do que a morte.
Acredito na carne e nos apetites,
Ver e ouvir e sentir são milagres, como é milagre cada parte e migalha de mim.

C.152.Caminhos - Neusa Marilda Mucci


Ande trilhas interiores, busque nelas o que ache de melhor. Pise em pedriscos, mas desviando de buracos, canse, sorria e também chore alguma lágrima em dor, mas saiba que todo caminho tem surpresas boas e lá na curva de uma das trilhas, num lugarzinho inconveniente à algum tipo de vida, colha, em meio a ervas daninhas uma linda e rara flor. Qual o nome dela? Não se preocupe em saber, não consta em manuais, mas tem perfume e é bem colorida, chame-a esperança. Se cultivá-la bem, essa florzinha não morrerá jamais!

C.151.Cabimento - Nathaly Guatura


Não cabia, querido, e não cabe Que meu coração... Ele não sabe... Não sabe de nada! Pobre de mim, Pois eu era vasto. Ah! Eu era sim!
Mas depois de ti, eu sou curto. E eu sou curto e eu sou só. E não caibo em mim. E não caibo em ti.
Amor não cabível, Acabe!

C.150.Como criança - Douglas Farias


Hora pra levantar
Começar a agir
Ter disposição
Vivo, se sentir

Andar no caminho
Fazer o bem
Valorizar o pouco
Ajudar quem não tem

Saber dividir
Sorrir bem mais
Continuar sem parar
Viver em paz

Amar o que faz
Sonhar com esperança
Brincar até de manhã
Ser como criança

C.149.Certo de te encontrar - Douglas Farias


Certo de te encontrar estou
Louco por seu amor sou
Sensível à sua voz me deixou
Com sua beleza me cegou

Triste despedida que ficou
Lembranças o vento não levou
Só que o tempo passou
Nem um "até logo" falou

Aonde quer que eu vou
Seguirei por onde caminhou
Um dia seu amor me encontrou
Um dia certo de te encontrar estou

C.148.Cunhadas - Douglas Farias


Aquela que pouco incomoda
Tem essa que muito se folga
Uma tem cara de muito triste
Outra faz coisa que nem existe

Roqueira, pagodeira
Esquisita, engraçada
Muito doce, meia amarga
Meia doida, ou quase nada

Aquela que é inteligente
Essa que até pra mãe mente
Uma com muita simplicidade
Outra que esconde até a idade

Todas lindas, todas minhas
Boas risadas, boas companhias
Estamos juntos nessa estrada
Amo todas, minhas cunhadas

C.147.Cores da Vida - Douglas Farias


Sonhos são cores, a vida, uma tela a colorir
Pinte o azul e saberá que a fé é tão infinita
Quanto o azul do céu e o azul do mar
Pinte o vermelho e conhecerá o poder do amor
Como o vermelho do sangue que bombeia o coração
Pinte o amarelo e possuirá riquezas
Como o amarelo do ouro de uma medalha
Pinte o verde e terás esperança
Como o verde de uma muda que nasce e cresce
Pinte na tela o branco, pois emite luz e paz
Para que sonhos possam ser realizados
Para que a vida possa ser vivida
Para que nunca se perca a fé
Para que o amor possa gerar frutos
Para que a vitória venha com honra
Para que todos o dias renove a esperança

C.146.Código - Douglas Farias


Código
Douglas Faria
Somos um nesta noite
Onde olho pro céu
As estrelas à brilhar
E a lua à iluminar
Parece um código
Que está a nos chamar
Uma química rola
Um som se ouve
Algo acontece
Um longo beijo
Suor escorre
Perde-se o folego
Código pra gente se amar
Código do nosso amor

C.145.Chuva - João Pedro B Prado


Todas as chuvas
Venham
Venham e me tragam
Inspiração

Mesmo que seja
chuva de verão
Só quero que venha
Sem ter que fazer dança

Apenas venha
E me traga esperança
De uma mudança
ao olhar-te, apreciar-te
Contemplar-te

Enquanto tomo um gole de café
Leio
Ou escrevo este verso
Ou só penso em fazer tudo isso

Venha
Toque minha pele
Deixe-me sentí-la
Deixe-me deixá-la
Purificar-me

Deixe-me deixá-la
Comandar uma revolução
Dentro
De meu coração

C.144.Canto ensolarado - Jade Dantas


Resta meu nome sussurrado
como se o beijasses, teus olhos perturbados
resta teu cheiro, teu toque, corpo, lábios

resta tua alma tímida, linda, poesia
onde te decifro e te sinto e já não sei
se sou eu ou se és tu que sinto

onde me teço e me refaço

resta a essência guardada, a melodia
restam os sonhos guardados
no canto ensolarado das palavras

na vã procura da emoção perdida
resta a saudade deixada
resta o amor e o vazio

C.143.Chuva na alma - Anali Sabino


Quando a chuva cai em um momento muito necessário, normalmente é bem-vinda.
O barulho discreto da chuva tem um ritmo tranquilizador e os pensamentos se voltam para coisas aconchegantes.
Fazer bolos, ler um bom livro, tomar um delicioso chocolate quente ...
Em certos dias de chuva, seja na terra ou na alma, criaturas temperamentais, como nós, podem fazer com que a melancolia se instale.
Nós não somos nada bons quando se trata de tristezas.
Ficamos melancólicos e dentro de casa, nos isolamos.
A chuva na lama provoca auto piedade.
Algumas vezes, parece que chove sobre os justos porque os injustos estão sempre roubando os guarda-chuvas dos justos.
Mas nós temos uma escolha: reclamar da chuva ou dar graças pelo guarda-chuva.
Olhem para cima, nunca há nenhum problema grande demais para Deus e não existe nenhum tão pequeno que não possamos levar até a Ele.
Entreguem suas lutas, medos e imperfeições a Deus, só assim a chuva na alma dará lugar ao dia ensolarado.

C.142.Com o tempo - Douglas Faria


Com o tempo dizia não querer te amar
Mas sinto tanto quando não posso te tocar
Te ver... sem o seu nome chamar
Esperando um momento para trás olhar
Não ter... aquela chance de falar
O quanto meu coração aperta por te amar

Com o tempo esperava o amor acontecer
De repente o momento em que vim lhe conhecer
Um olhar... expressava mais que um dizer
Seu sorriso fez me apaixonar por você
Desde então... como posso te esquecer
Você, o sonho mais lindo que pude ter

Com o tempo perdi o que me fazia sorrir
Você foi e não disse pra onde poderia ir
E eu... chorei muito até em pranto cair
Não há felicidade sem alguém pra dividir
Outra vez... sua voz não posso mais ouvir
O que aconteceu pra você querer partir?

Com tempo dizia não querer te amar
Com o tempo esperava o amor acontecer
Mas, com o tempo perdi o que me fazia sorrir
Com o tempo tive que aceitar esquecer você

C.141.Coadjuvante - Douglas Faria


Deixa eu te dizer o que vale
Uma história tendo dois finais
Estar num felizes pra sempre
Ou arruinada, que diferença faz?

Agregada à mesma cena
Repugnada à mesma ação
Incompreensível na mente
Minha torpe contribuição

O que pude mostrar e sentir
Era digno de mínima honra
Emoções miravam um lado
Do outro, só vi a vergonha

Como numa linda homenagem
Ou pelo menos numa lembrança
Estar na sua vida, ser a principal
Um dia, eu sei, anelo em esperança

C.140.Confissão - Hafez Goethe


O que é ruim de esconder? O fogo!
Pois de dia a fumaça o entrega,
E à noite a chama, o monstro, o ogro.
Pior de esconder (e que macega):
O amor; guardado em cura calma,
Pula ágil fora d’alma.
O pior mesmo: esconder um poema,
Pois cobri-lo dá o maior problema.
Se o poeta o recém-cantou,
De poesia ele se encharcou;
Se o poeta o escreveu com classe,
Quer que todo o mundo o abrace.
A todos lê, alegre e forte;
Azar de nós – ou será sorte?

C.139.Celular - Moisés oliveira


Não lembro a última vez que te vi chamar.
Quem sabe ontem, hoje ou agora, não vou acertar.
Me prejudica, eu nada faço, só sei te esperar.
É angustiante, frio, lancinante, o teu não cantar.
As vezes brinco, imagino e rezo por sua atenção.
Quanta bobagem, um sonho lindo sem exatidão.
Tu me consolas, me tira o sopro, cala o coração.
Quando tu tocas, não vejo a hora de te ter na mão.
Grite celular, já está na hora, me tire essa dor.
Me chame agora, traga notícias do meu amor.

C.138.Coincidências - Douglas Faria


Coincidências que a vida me propõe diante de toda atenção e de uma distração
Tu estar perto de mim no mesmo dia em que uma paixão resolver me agarrar
Aquele copo não cairia a toa de sua mão e parar justamente aos meus pés
Seu sorriso de agradecimento quando lhe entreguei e de repente se fez lembrar

Muitas pessoas nesse mundo passam por nossas vidas todos os momentos
Quase que uma força incomum de atração, a encontrei novamente
Depois do sorriso, um oi, um beijo no rosto e aí recorda nossas histórias
Como algo que tem seu breve e feliz momento, ela foi tão envolvente

Nunca pensei em vê-la, nem mesmo fiz com que essa situação acontecesse
Outra vida temos agora e nada há para nos arrepender do que viemos a viver
Bons momentos juntos esse dia nos proporcionou, ficando claro uma coisa
Era apenas uma coincidência da vida, e agora sei que nunca esqueci você

C.137.Caminhante - Augusto Cury


Sou apenas um caminhante 
Que perdeu o medo de se perder
Estou seguro que sou imperfeito
Podem me chamar de louco
Podem zombar das minhas ideias não importa!
O que importa é que sou um caminhante
que vende sonhos para passantes
Não tenho bússola nem agenda
Não tenho nada,Mas tenho tudo
Sou apenas um caminhante 
À procura de si mesmo.

C.136.Chuva de verão - Thomas Bernhard


Pássaros calem-se,
nenhuma tarde
me consola, por cima
da ponte cai a chuva
na minha tristeza, nenhum
rumor de Verão
me faz mudar,
nenhum vento
me impede de dormir…

Amanhã de manhã
não quero ir
para debaixo de nenhuma árvore,
as minhas pálpebras anseiam pelo sono
do Inverno e da neve,
quero, à chuva,
regressar
às folhas
e às arcas sombrias.

Pássaros, calem-se, tenho frio,
a minha sombra
cresce por cima
da noite
para os bosques,
aí descansam
sob flores negras
os mortos,
os mortos errantes.

C.135.Cerejeira Japonesa - Simone Drumond


Com amor, carinho e doçura,
Elas estão presentes em nossa vidas.
Respeitem a natureza,
Ela nos alerta com beleza,
Jamais deixe de respeitar o que
Ela nos dá com amor e
Inteligência.
Ramos de flores coloridas,
Amorosas e
Salutar.

C.134.Coronelagem - Um Poeta Vagabundo


Aqui por essas bandas coronelado ficou velho e nem por isso ultrapassado escreveu não leu, pau comeu por aqui é praticado e como tudo que passa...volta maquiado
a rua esta cheia de bandidos é véspera de eleição ameaça vislumbrante vote em mim , que eu serei bom
bom para quem? Bom para poucos só quem faz parte deste clã engorda os bolsos
os coroné se uniu com a bandidagem por aqui só tem coronelagem

C.133.Cúmulo do egoísmo - Um Poeta Vagabundo


Não que eu seja reclamão, mas tem cada ‘humano’ por aí que envergonha a espécie, se não fosse pouco criarmos bichos em cativeiro, para depois sacrificá-los friamente, esquartejá-los, queimá-los e comê-los , ou capturar animais selvagens nas poucas florestas que ainda restam para expô-los em zoológicos, como se fossem tela ou escultura de artista famoso, usá-los para testar remédios e cosméticos ou torturá-los em circos, rodeios ou rinhas(sim, isso ainda acontece mundão afora), ainda há nos tempos de hoje caçadores de pássaros silvestres, traficantes de vidas, bandidos que roubam a natureza, a liberdade de viver, roubam o céu , Luiz Gonzaga retratou na canção ‘Assum Preto’ a prática de furar os olhos do bichinho, para ele achar que é noite e cantar o dia inteiro, como se o cativeiro não fosse maldade suficiente. então me pergunto qual a justificativa para aprisionar um ser alado, é crime ter um belo canto, voar ou ter uma bela plumagem? Tem limite a crueldade humana? Já ouvi cada desculpa esfarrapada, mas a pior delas é que ‘se eu não prender, outro prenderá’(ainda bem que os estupradores não pensam assim, já pensou?), mas a verdade é que há um mercado e ‘se ninguém comprar, não haverá’, e assim os mercadores de escravos vão ganhando seus trocos, suas misérias , e acabando com o pouco do belo que ainda nos resta. melhor seria visitar a natureza para ouvir os pássaros cantar, meditar, respirar um ar puro, espairecer da correria do dia a dia, mas o egoísmo é tamanho que tem que aprisionar os pobrezinhos para cantar só para eles, lembro de um poema que escrevi algum tempo atrás, se chama ‘Liberdade’ e é assim: O mesmo pássaro que canta pra mim Canta em outros portões Outras árvores, outros telhados Outras antenas, outros cantos Muitos cantos Cantam por aí, no céu Sempre fugindo dos gatos... E dos homens.
Será que esses carcereiros, algozes cruéis conseguem imaginar como deve ser bom voar?, ver o mundo de cima, o nascer , o por do sol, morar na copa de uma árvore, cantar a alegria de viver . Diz o dito popular: pássaro preso não canta , se lamenta; é como a origem do blues nos campos de algodão estadunidenses. Fica a última pergunta de indignação.  Não seria melhor plantar árvores em todos os quintais e calçadas, e cuidar do que nos resta dessas florestinhas urbanas? Certamente nossos amiguinhos alados viriam nos brindar com sua companhia e seus cantos divinos.

C.132.Caminhando pelos caminhos dos caminhos de São Tiago de Compostela - Um Poeta Vagabundo


Minha primeira passagem pelo caminho de Santigo vem de uma data imemoriável, as floresta tomavam todo o lugar, haviam animais de todas espécies, e de lá surgiu um mito, mas eu digo, afirmo e confirmo completamente verdadeiro, e dou fé.                
Éramos uma tribo, herbívoros por natureza e convicção,  acreditávamos que ao nos alimentar  dos vegetais devolvíamos a animalidade para eles, pois  quando incorporado ao nosso corpo sua energia extraída  da terra dava  vida ao nosso  corpo, numa interligação da trindade terra, água e ar resultando em energia.  éramos aquilo que comíamos, e para agradecer  a colheita farta e garantir  a próxima  colheita  ainda melhor,  oferecíamos  em sacrifício um  membro de nossa comunidade num ritual, a fogueira seria acesa ao surgir da lua por de trás das montanhas na primeira lua cheia da primavera, dançaríamos comendo a carne  queimada e bebendo o sangue do oferecido, fazendo este ser parte de cada um da tribo e se reintegrando a terra.                
Era começo de noite, uma claridade muito forte surgiu no campo distante, donde surgiria a lua , era naquela direção que  viviam touros e vacas selvagens, era como se todas as estrelas do céu começasse a girar e girar  se agrupando e cada vez mais próxima  iluminou o campo como se fosse meio do dia outra vez,ficamos com medo, seria o fim do mundo? Estávamos fazendo algo errado? Seriamos todos queimados? 
E centenas de estrelas giravam muito próximo, fazia um estrondo, um zunido no ouvido, a luz girou muito forte e depois e foi se espalhando  formando novamente a noite ainda sem luar, mas logo surgiu a lua por detrás das montanhas,  iluminando o campo com sua luz prateada, as fogueiras estavam apagadas, esperávamos pelo surgimento dela para acendermos e começarmos o ritual, era entrada de primavera e nossos campos estavam fartos.
Mas naquele dia tudo foi muito diferente de todos os outros e  ao iluminar da lua sobre o campo, notamos desenhos estranhos no pasto, era um campo sagrado para nosso grupo , pois as vacas caminhavam e nos fornecia material orgânico para nossas plantações. Ficamos encafifados com aquelas formas estranhas iluminadas pela lua, queria dizer alguma coisa que não compreendíamos,  naquela  noite não houve festa de primavera e nem sacrifico humano,  ficamos todos a observar e meditar sobre o que teria acontecido, o temor tomou conta da tribo e  naquele  primeiro dia ninguém se atreveu a caminhar por aqueles campos,  mas notamos que vacas e touros foram e comeram da grama deitada pela estranha luz e a princípio nada de anormal fora notado,os animais estavam bem. Nessa noite caiu uma breve chuva, e o próximo dia amanheceu quente e acolhedor.
Era trabalho dos homens colher o estrume dos animais para que as mulheres preparassem o fertilizante, já que fertilidade é assunto de mulher, os cuidados da roça eram delas, aos homens cabia arar, e carregar a colheita. 
O fato é que nesse dia encontramos sobre os estercos uma coisa, uma espécie de planta ou algo parecido, ninguém conhecia, nunca tinha visto nada nascer assim, levamos para nossa anciã que mais conhecia de vegetação e foi novidade para ela também, mas se é do mundo vegetal podemos experimentar  para conhecer se faz bem,  se fizer  poderá compor nosso parco cardápio, disse a sábia velha.
Então na mesma noite  cada um da tribo recebeu cinco destes  ‘frutos das estrelas ‘ , e para surpresa geral, todos embarcaram numa incrível viagem pelas estrelas, viajaram pelo Cosmo e perceberam que visitaram as mesmas luzes que deitaram a  relva naquela noite de primavera, o tempo adquiriu outra velocidade, a lua chegou ao seu cume , iluminando com sua lua prata toda a terra, e todos ficaram agradecidos, o amanhecer fez ela ficar discreta diante do sol, e todos dançaram  fantasiados de lua e sol. essa foi a primeira vez que caminhei pelos caminhos dos caminhos de Compostela.

C.131.Cadeira Alimental - Eliane F.C.Lima


A pequena aranha se arrastava pela parede, caminhar imperceptível para pegar o mosquito. Quando já estava quase em cima, Marta espantou o inseto, que voou. A aranha ainda permaneceu parada uns segundos, visivelmente frustrada. Ela não pôde deixar de sorrir do bicho. E pensou que a gente sempre fica ao lado da vítima, mesmo sendo aquele o caminho da natureza para manter os seres vivos. E não entendeu seu socorro ao mosquito, se, à noite, amaldiçoava todos de sua espécie, quando causavam tanto incômodo a seu descanso na frente da TV. Lembrou de um filme que viu na televisão em que uma onça, na Amazônia, caça uma anta, que se banha no rio. Não conseguiu deixar de ter muita raiva da primeira e pena da pobre que foi comida. Na hora do almoço, diante da travessa de coxas de frango, que tinha preparado com todo capricho, tão coradinhas, cheirosas e fumegantes, não se lembrava de mais nada, meio aranha e inteiramente onça.
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C.130.Campanha política - Eliane F.C.Lima


- É bom você amolecer seu coração, porque se endurecer mais, ele para. O rosto ficou vermelho, a camisa molhou-se mais de suor, corpo acostumado ao ar condicionado. Vereador, queria se reeleger.
Tinha de andar pelo sol, muitas caras morenas em volta, abraços demorados em corpos malcheirosos. Teve vontade de desancar, “sai da frente, sua embusteira!”, diante daquela imagem de feiticeira de tribo.
Não podia, tipo popular, o povo todo adorava. Até ele já conhecia histórias fantásticas. A mulher benzia pessoas, muitas curas, juravam. Era capaz de passar a noite toda acordada, umas palavras sussurradas e dando umas beberagens desconhecidas.
Dia seguinte, o tal levantava da cama. Conhecia o destino do vivente só olhando na cara. Acertava sempre. Todo mundo procurava na sua casinha de um cômodo só e banheiro. No meio do mato, construída por ela, tijolo por tijolo.
Quase não tinha móveis, nem panelas, tudo de barro. Não cobrava nada pelas adivinhações. Levavam para ela galinha, legumes, frutas, porquinho para criar. Morriam de velhos. Um dia, chuva forte, um de respeito parou o carro, abriu a porta.
Ela, que vinha passando na calçada, estacou, de repente. Pingando água, mandou levar o menino, que olhava do banco de trás, curioso, para o hospital. A criança não tinha nada. Mas, à noite, crise de apendicite, internado às pressas.
O pai, meio assustado, tinha deixado as chaves do carro à mão. O vereador foi embora aborrecido. E com medo. Era um trapaceiro. Foi à capital para um check up. Internado, após os exames, foi direto para a mesa de operação.
De volta a casa, visita: a mesma feiticeira, cabelos longos e lisos, cara de índia. Repetiu, devagar, a frase. Reunidos os assessores, marcou entrevistas com o povo. Passou a ouvir o que os pobres diziam, anotações feitas, melhorias para todos.
Alguns anos depois, por enquete popular, foi apontado o melhor prefeito do município de todos os tempos.
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C.129.Caiu na rede...fica imbécil - Eliane F.C.Lima


Será que a solidão me afetou realmente os miolos? Ainda bem que na Internet ninguém me vê. Nem meus amigos. No chat. No princípio, sentia-me ridículo e não
conseguia falar com ninguém. Não só por não conseguir descobrir como é que se entrava na conversa, tecnicamente – aquilo era conversa? –, como por não saber
a quem me dirigir.
Cheio de franqueza, dizia minha idade: 58 anos. Ninguém me respondia. Até “Ñ enxe tio eu to oculpada.”, eu li.
Assim mesmo, com x. Quando, finalmente, entendi o que ela queria dizer com aquele “oculpada”, quem se sentiu “culpado”, fui eu.
Quando alguém falava comigo, eu demorava tanto escrevendo uma resposta, que vinha outro e me arrebatava a garota.
Hoje, ñ escrevo +, teclo, quer dizer, “tcl”. Nas primeiras vezes, fiquei horrorizado. Lia um monte de besteiras e não conseguia me conformar com aquilo.
Saía da “sala” – na rede, é claro – e ia para a sala, ver televisão ou dormir. Ficava mal-humorado durante muitos dias.
Pela montanha de tolices que tinha lido, por ter entrado naquele bate-papo ridículo, por não entender nada do que falavam, não descobrir quem falava com
quem, por não fazer parte daquele mundo, enfim, ou por concluir, talvez, que eu não fizesse mais parte deste mundo.
Até que resolvi entrar, dizendo: “Aí, galera, sou Bad Boy 22. Foi o “Abre-te, Sésamo.”
Ficou quase impossível atender a todo mundo que me respondeu. Concentrei-me em um nome só, qualquer um, sem procurar escolher se as respostas tinham conteúdo
ou não. Afinal, nenhuma tinha mesmo. Era isso. Descobri a chave. E comecei a falar um monte de besteiras mentirosas.
Que era baiano. Mas tinha um ap no RJ, de meu tio carioca. E toca a abreviar tudo, para dar tempo e não perder a interlocutora.
Aprendi a fazer leitura dinâmica: pega-se um quê qualquer da fala da outra e responde-se àquilo. S
e não fizer sentido, não tem importância. O sentido não faz diferença, o que importa é teclar.
Escreve-se uma série de “kkkkkkk” depois e faz de conta que era só uma piada. Hoje sou o garanhão do chat.
Quando entro, ganho todas as atenções. O bom é que eu gargalho sozinho, sentado em minha cadeira, das idiotices que digo ali. Rio dos outros, muito... e de
mim.
Que garantia eu tenho de que Fofona20 não tem setenta anos?
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C.128.Crime Perfeito - Eliane F.C.Lima


Foi à delegacia se entregar. Contou a história ao delegado. Quarentão, morava apenas com a mãe em uma vila em Botafogo. Cotidiano pequeno, mas seguro. Morta aquela, viu-se só. Por pouco tempo. Sem ter planejado, conheceu uma mulher, não muito nova, na loja de discos. Papo agradável que só vendo! Descobertas as afinidades, se amaram. Amor de fim de verão. Sem calores e muito aprazível. Reformaram a casinha velha e tudo ficou na medida exata: saíam para trabalhar, encontravam-se no final da tarde, felizes. Bebiam vinho, ouviam suas músicas preferidas, viam seus filmes antigos. Perfeição absoluta. Perfeição demais, pensou a sorte. A companheira teve uma pneumonia e se foi. Sem a experiência de grandes emoções, viu-se no meio de um furacão. Passou por um estado de profunda depressão, amparado pela família herdada da mulher. Meio recuperado, voltou para a solidão da casa de vila, onde chorava todos os dias, chamando pela que se foi. Um dia, no quarto, viu-a, menos do que uma presença. Ela tinha vindo buscá-lo. Atravessara mundos para isso. Apavorado, colado à parede, gritou "Não!" e desmaiou. Quando acordou, nada havia. Ela tinha morrido para sempre. Ele a matara.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

C.127.Certezas - Mário Quintana


Não quero alguém que morra de amor por mim…
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim…
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível…
E que esse momento será inesquecível..
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre…
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém…
e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras,
alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho…
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons
sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente
importa, que é meu sentimento… e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca
cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter
forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe…
Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia,
e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas…
Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder
dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros…
Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim…
e que valeu a pena.