segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

M.085.Metade - Oswaldo Montenegro


E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos nem a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio
Que a musica que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece,
nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora se transforme
na calma e na paz que eu mereço
Que essa tenção que me coroe por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste, que convive comigo
mesmo, se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples
alegria para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar porque é preciso
simplicidade para faze - la florescer
Porque metade de mim é a platéia, e a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também
Quem sou eu
Quisera reverter o tempo,
ter o poder de corrigir os erros
apagar no passado um mal entendido...
E por tudo isso, hoje me pergunto:
Quem sou eu?
Que sou eu para você?
Apenas um papel colorido?
Palavras escritas?
Sou mais que isso para você?
Seu Anjo, sua asa?
Para mim, continuas sendo
meu acalento, meu descanso

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