segunda-feira, 30 de abril de 2018

Crônica.O.002.Oficina de "Escritor" - Ângelo Rodrigues



Alguém me perguntou: «então como vai a sua “oficina de escritor”?»
Achei piada. Cá vai a resposta possível.
A minha oficina de “escritor” está muito desarrumada. Quantas vezes tentei pôr tudo em ordem e nada – a preguiça fala sempre mais forte e abafa a voz da vontade e até da paixão. Costuma-se dizer que “de promessas está o Inferno cheio”. Parafraseando este provérbio, diria: de projectos está o dito a abarrotar; contudo, é minha intenção, até ao final do milénio (fica bem falar nisto agora - dá um ar místico à coisa), fazer algumas “coisinhas” de índole literária e afim, isto é, sem compromisso para ninguém e no âmbito da minha actividade secundária ou talvez quaternária (editor), tenciono continuar a revelar novos valores da literatura (sabe-se lá o que é isso!) e dar-lhes voz através da edição dos seus trabalhos, a organizar sessões de apresentação de livros e, vamos ver, talvez consiga dar forma ao novo projecto do CD de Poesia «Aventuras Poemáticas» - 30 “poetas” portugueses ditos pelos Jograis Orpheu (de Lisboa) de que faço parte e com produção minha. Certo é, a próxima edição de mais um volume da antologia POIESIS (cerca de 100 autores portugueses) e a edição de mais duas ou três colectâneas de poesia, prosa-poética e conto. Bem, no meu caso, isto é, só e apenas enquanto “escritor” ou poeta e sem arrogâncias nem pretensiosismos, gostaria de dar alguma ordem ao computador imprimindo os ficheiros espalhados por tudo quanto é sítio e organizar uma colectânea dos meus (assumidos) minimalistas escritos inéditos sobre tudo e sobre nada (é de gritos escrever sobre o Nada!) e que abarcam todos os estilos: aforismo, poesia, crónica, diário, conto, ensaio, filosofia, verborreia (este estilo que é muito meu, é mais utilizado quando chamo – com frequência - nomes feios ao Ministério da Educação – esta está pela hora da morte – ser professor é algo de heróico – se perguntarem porquê, eu explico – (de preferência pelo telefone).
Aproveito esta interessante oportunidade para vos apresentar o meu outro Eu: esse mesmo, o MIGUEL D’HERA (“artista plástico”- colagista), é alguém que usa apenas o meu corpo mas que tem outra alma – podia até falar um pouco de metempsicose, reencarnação e tal, mas... fica para outra altura – este outro que também sou eu, dedica-se também às Artes Plásticas e está sempre a dizer que vai realizar em breve uma exposição individual (colagens em cartolina e tela) que tenciona fazer circular um pouco por todo o país – até lá, e enquanto membro-criativo da Associação de Artistas Plásticos do concelho de Almada – IMARGEM, vai expondo colectivamente. Para não me alongar mais, direi: as minha colagens, perdão, as colagens do Miguel D’Hera, são “pura” poesia. Um dia, se estiverem a fim, explico-vos isto.
Talvez seja disparatado dizer-se – por esta via - que estamos a escrever um romance – um romance é realmente coisa séria e, com 35 invernos em cima da alma, talvez seja pretensioso querer escrever um romance. Meu d(eus)!, há tantos romances!, o problema é encontrar um BOM romance. Bem, se me deixar destas tretas e for sincero, direi que várias vezes olhei o computador, (tudo o que faço neste pequeno-grande mundo de escrita e de edição é feito ao computador e sem rascunhos – talvez seja por isso que me arrependo quase sempre do que escrevo!) o computador “olhou” para mim, nos apaixonamos, nos odiamos, escrevo sem parar qualquer coisa que na altura me parece interessante e que no

dia seguinte se apaga ao som de um singelo bocejo: mas que nódoa!, estive eu a perder tempo com isto..., melhor estivesse a dar uma... pois... Confesso: deixa-me um pouco melhor, tranquilizando a minha constante inquietação e insatisfação, aquelo amigo que ao vir jantar a casa diz: é pá, isto é interessante!; e eu respondo, talvez, mas... vai ter o destino dos outros, o doce vazio sideral. Porra, escrever é mesmo difícil! E debato-me sempre com aquela ideia que parece ter sido do Wittegenstein: já tudo foi escrito e dito, o mais importante é o que falta dizer. Estou eternamente condenado ao que falta dizer. Este texto não tem importância nenhuma. O meu texto está no futuro, no que falta dizer, no não-dito... é isso mesmo que me “consola”, tudo aquilo que não foi dito. Pois sim, falava eu do meu hipotético romance; prometo, quando for rotulado por um publicista, pois críticos não há, terá como rótulo algo parecido com isto: eis um romance cujo tema é aquilo que não foi dito e que faltava dizer. Talvez se venha a chamar: «É proibido voltar a este tema – está dito e mais nada há para dizer, se disserem será plágio». Sempre gostei de títulos grandes! Quantas vezes os títulos salvam as obras.
Conselho: Leiam poesia!, se possível, tentem viver poetica-mente – é preciso ressuscitar o espanto (onde é que eu já ouvi isto!)!

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