segunda-feira, 30 de abril de 2018
Crônica.F.005.Falando sobre depressão - Lisiê Silva
Olá, meu amigos!
Este é um tema delicado, há uns 2 meses eu estou ensaiando essa conversa com vocês, com a única finalidade de poder ajudar a quem está passando por alguma forma de depressão, pois há muitas pessoas que estão passando por isto, e muitas não sabem, não querem ou não podem, por motivos particulares, procurar ajuda.
O desenvolvimento deste texto demorou a fluir, não por falta de argumentos, afinal, eu já senti na alma o que é ter uma depressão, mas como eu não sou médica, para falar sobre as depressões, eu precisaria dar o meu próprio depoimento, falar como eu passei e superei, e vocês sabem como é difícil a gente começar a falar sobre os nossos sofrimentos, tocar em feridas que a cada dia, a gente tenta cicatrizar. Mas quando é por uma boa causa, e se de alguma forma, for útil para ajudar alguém, então vale à pena sim.
Eu não sou especialista no assunto e quero deixar bem claro que o melhor em caso de depressão, é fazer um tratamento com um especialista: Psicólogo, médico ou terapeuta. Há também as terapias alternativas.
Vamos somente conversar, ok?
Primeiramente, vamos entender o que seria a depressão: Ela é um estado de tristeza profunda, que chega de mansinho e aos poucos vai se instalando, tirando o nosso ânimo, a nossa alegria de viver e vai tomando conta da gente, perdemos a vontade de sair, de estar com amigos e vamos nos isolando no nosso mundo interior, até chegar ao ponto em que ela nos derruba.
Ops! Aí eu não concordo! Que ela venha e tome conta de nós, é até aceitável... visto que é algo que não podemos evitar... mas podemos evitar que ela nos derrube, sim!
No meu ponto de vista, existem várias causas para a depressão, mas vamos falar de duas: Aquela que é causada pela perda de uma pessoa querida, a morte de um familiar, alguém que gostávamos e que estava próximo de nós e de repente, sem nenhum aviso prévio, o destino nos separa de quem amamos. E vamos falar também daquela que acontece quando estamos em um período da vida que nos sentimos sem perspectivas.
A depressão me atingiu quando eu tinha 31 anos, foi quando o meu pai faleceu, e durante os 2 primeiros anos, eu sentia, todos os dias e todas as horas, uma tristeza que me dominava. Por que além de eu gostar muito do meu pai, que sempre esteve presente nas nossas vidas, esta foi a primeira vez que houve uma morte na família, é a tal coisa, quando não acontece com sua família, você tem apenas uma noção distante do que é... Mas quando acontece com a sua própria família, o contato é mais próximo... É quando você cai na real.
Isto foi há 10 anos atrás e eu estava no período de puerpério (resguardo) com o nascimento da minha filha, que tinha somente 1 mês de vida, e a conselho do meu médico, eu não deveria me emocionar, não poderia chorar, para o leite do peito não secar.
Pensando na amamentação de minha filha, eu engoli a tristeza e não chorei. O tempo foi passando e a tristeza foi acumulando, depois de 6 meses, ela me derrubou.
Quando perdemos alguém por falecimento, começamos a ter uma maior consciência de nossa finitude, de que nossa vida também terá um fim, isto aliado a saudade daquela pessoa que se foi, provoca uma imensa tristeza.
As fatalidades da vida são fatos que ninguém consegue aceitar de imediato, ou se conformar, você nunca está preparado para isso, ela sempre abala o nosso eu interior e geralmente nos leva à reflexão, e se essa reflexão não for bem conduzida, poderá se transformar em uma tristeza profunda.
O pesar era enorme, o pensamento era constante e a saudade doía. Mas eu tinha um bebê nos braços e não podia me deixar abater. De imediato eu nem sabia que aquilo era uma forma de depressão, mas sabia que eu estava decepcionada com a vida, eu sabia da tristeza que eu estava sentindo, e não conseguia me livrar dela.
A pior fase durou 2 anos, e durante esse tempo eu sentia que uma parte de mim havia morrido, havia ido embora junto com meu pai. Era como se eu estivesse metade viva e metade morta.
Hoje eu sei que o que morreu em mim foi a minha inocência, alguns sonhos, algumas alegrias, morreu em mim uma parte de encantamento pela vida.
Ao mesmo tempo, eu sentia uma grande necessidade de me sentir mais próxima de Deus, eu sempre tive o costume de rezar todos os dias, mas naquele momento eu queria conversar com Ele, mesmo sabendo que Deus me acompanhava e sabia de tudo. Eu queria rezar, eu queria ver o lado bom da minha vida e somente agradecer. Eu queria colocar as coisas boas acima das coisas ruins. Eu queria sair daquela tristeza.
Eu não queria esquecer do meu pai, mas eu queria apagar da mente aquele acontecimento, eu queria que a minha vida voltasse a ser como era antes desse trauma, quando eu nunca havia pensado ou refletido sobre a morte, eu queria parar de pensar em morte, mas eu não conseguia. Sozinha eu não conseguiria, e eu sabia que ninguém conseguiria por mim.
Eu sabia que só Deus poderia me ajudar.
Quando você está depressivo, você sente uma escuridão nos seus dias, mesmo se o sol estiver radiante lá fora. Parece que tem uma nuvem escura te rodeando.
Eu acreditava que só Deus poderia me ajudar, de alguma forma, mas seria um processo lento, demorado mesmo, então para ocupar o meu tempo, eu resolvi fazer um jardim.
Enquanto o meu bebê estava dormindo, eu estava plantando diversos tipos de plantas, a minha preferência eram as plantas com flores, e que fossem bem coloridas. Intimamente, era a necessidade de colocar cor na minha vida.
Nas muitas vezes em que os espinhos das roseiras feriram os meus dedos, eu sentia que aquela dor era mínima diante da dor interna que eu sentia.
Através do contato direto com a terra, e com as plantas eu me sentia muito bem.
Eu adorava preparar a terra, sentia uma sensação agradável em pegá-la com as
mãos, senti-la entre os meus dedos e depois lançar as sementes, ficava observando o crescimento das plantas e as flores se abrindo, de todos os tipos e todas as cores.
A minha dedicação ao jardim era diária, não importava se era segunda-feira, ou se era sábado, todos os dias eu sentia necessidade de estar tocando a natureza, a impressão era que ela me purificava, aos pouquinhos ela ia tirando a tristeza de dentro de mim.
A natureza foi a minha grande amiga, a aliada nos momentos mais difíceis. Ela me ajudou a superar, por quê eu me dediquei à ela. Fizemos uma troca. Enquanto eu cuidava dela, ela cuidava de mim.
Ou será que foi Deus que cuidou de mim através da natureza? Com certeza, sim! Por que primeiramente eu recorri à ele e em seguida, me veio a vontade de tocar a natureza.
E foi assim, que eu construí na minha casa, durante 2 anos, um imenso jardim.
Depois, eu sentia vontade de caminhar pelo parque que fica próximo da minha casa, e todas as manhãs eu saía para caminhar, observando as árvores.
De uma forma bem simples e bem natural, eu fui superando aquela tristeza.
Eu não posso dizer que voltei a ser exatamente como eu era antes, não voltei, por que todo sofrimento deixa marcas em nosso ser. Mas com certeza, eu me tornei mais amadurecida e mais forte.
Nesta época eu aprendi coisas muito importantes. Aprendi que sempre devemos agradecer à Deus, por tudo que somos, pelo que temos e pelas pessoas que fazem parte da nossa vida, agradecer aos nossos pais, agradecer aos nossos filhos, agradecer aos nossos irmãos, aos nossos amigos, aos nossos empregados.
Eu aprendi que devemos nos sentir felizes por coisas bem simples, mas que tem uma grande importância. Agradecer à Deus pela vida, pela natureza, pelas belezas deste mundo, enfim, agradecer a tudo e a todas as coisas.
É somente com o sentimento de gratidão que podemos sentir Deus. É somente mentalizando a força do bem que seremos felizes.
O que devemos ter consciência é de que este momento de tristeza é indispensável nas nossas vidas, é importante para nós, precisamos vivê-lo! precisamos senti-lo!
Uma vez eu li a seguinte frase: "A tristeza é um chiclete que precisa ser mastigado" e tem que ser bem mastigado para que possamos superá-la. Se você tentar passar por cima, fugindo da tristeza, engolindo o choro, ela não irá embora. Ficará te rodeando até que você a experimente, encarando-a de frente, chorando todas as lágrimas que tiver que chorar, pois enquanto isto acontece, interiormente você está se fortalecendo para que possa eliminá-la. Isto é algo que não é visível, perceptível... você só vai perceber isto depois.
Por quê enquanto você está depressivo, você não percebe que está, nem se dá conta... geralmente quem percebe são as pessoas que convivem conosco, que estão mais próximas, estas sim, percebem a nossa mudança de comportamento,
por quê geralmente perdemos a vontade de estar com as pessoas e a única vontade que temos é de ficar sozinho, não queremos nos expor, não queremos público, só queremos a nossa solidão.
Mas o que é mais importante, é saber que será passageiro, será apenas um período que você terá que enfrentar, pois nada dura para sempre, nem as alegrias e muito menos as tristezas. É um momento que precisa ser vivido e sentido para o nosso desenvolvimento espiritual.
Outra frase muito conhecida: "Assim como toda alegria é passageira, nenhum sofrimento será eterno!"
Imaginem o que seria de nós se tivéssemos somente alegrias nas nossas vidas? Se não tivéssemos nenhuma experiência triste? Provavelmente não teríamos força e nem preparo para viver e muito menos para morrer.
Temos que saber e aceitar que os traumas são muito importantes para todos nós.
Atualmente os médicos pediatras recomendam que nós não devemos poupar nossas crianças de terem traumas e decepções. É claro, que contrariando os conselhos médicos, nós que somos mães amorosas, sempre procuramos poupar nossos filhos de qualquer tipo de trauma, para que eles não sofram. Mas que eles são necessários, isto devemos saber. Se não pudermos evitar, que saibamos entender e ajudá-los a superar.
Na minha juventude, por volta dos meus 17/18 anos. Enquanto a maioria dos jovens se divertiam e curtiam com alegria suas juventudes, lá estava eu, no meu mundo particular, a me questionar sobre os por quês da vida. O por quê da violência, o por quê das brigas de rua, o por quê da maldade, o por quê da falta de amor, das decepções, dos desencontros, da pobreza, da escravidão, da falsidade, o por quê desse mundo ser tão diferente do que eu gostaria que ele fosse.
A minha revolta não era exterior, mas somente interior. Eu sempre fui muito calma, se eu não estivesse no colégio estudando, estava em casa escrevendo os meus diários, ou lendo algum livro.
É comum nos jovens, quando estão terminando os estudos e ainda não entraram na faculdade ou ainda não começaram a trabalhar, sentir algum tipo de depressão, isto se dá pela falta de expectativas, por um futuro incerto, pela transição da fase juvenil para a fase adulta.
É importante a conversa, o diálogo entre os pais e os filhos. É importante ser amiga(o) deles, acompanhá-los em todas as suas fases, mas principalmente nesta.
É importante o apoio, e ver o quê eles estão precisando. Através da conversa você descobre muitas coisas: os seus medos, as suas ansiedades, sua preocupação com a responsabilidade na fase adulta. Neste momento é importante transmitir à eles, todo o carinho que eles precisam. Elogiá-los, mostrando-lhes as qualidades que eles possuem.
É importante colocar novidades em suas vidas, pelo menos nesse curto período de transição. Tipo: colocá-los em uma auto-escola, ou em um curso, ou ajudá-los
a arrumar um emprego. É preciso evitar que eles fiquem com a mente vazia, é necessário ocupá-los com alguma atividade.
Meus amigos! Não pensem que a minha vida ficou restrita a momentos de tristeza, claro que não, as alegrias e os bons momentos também eram constantes na minha vida, assim como é na vida de todos nós. É claro que eu tive e tenho muito mais momentos de alegria do que de tristeza, mas como o assunto aqui é depressão, eu estou abordando mais sobre isso.
Se você está com depressão, eu tenho algumas sugestões para lhe fazer:
*Primeiramente converse com Deus, reze. Peça a sua ajuda divina. Entenda que Deus sempre nos atende, isso é inquestionável. Conte tudo para ele, mesmo sabendo que ele já sabe, por que Ele te acompanha integralmente.
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