segunda-feira, 30 de abril de 2018

Crônica.O.003.Os cavaleiros do apocalipse - Arnaldo Jabor


O sonho acabou. Adeus às ilusões. Good bye, globalização, esperança liberal, abertura de mercados, razão ocidental e utopias tecnológicas. O mundo vai mudar muito. Já estão aí os quatro cavaleiros do apocalipse, com suas bestas galopando para o Juízo Final: Osama, Saddam, Kim Jong II e, claro, Bush. Parece misticismo, loucura holística, mas eu estava nos USA quando senti que a barra ia pesar. Foi quando aconteceu aquela “comidinha” noturna de Clinton na Monica Lewinsky. Senti um arrepio quando vi que o presidente dos anos 60, o babyboomer que ria e seduzia o mundo, tinha pisado na bola. E aí, começou a vingança da direita cristã republicana, os horrendos seres góticos que são a banda podre dos USA, e que desde 91 tinham planos imperiais e ficaram desesperados quando o Clinton expeliu papai Bush do poder. Tudo começou com o espantoso ataque de Kenneth Starr, o procurador de enrustida sexualidade que dedicou sua vida a destruir Clinton, o “pecador” amante de Monica, filha de republicanos que morava no edifício Watergate, com sua “caixinha” de Pandora, de onde começaram a surgir os males do mundo atual, como uma ejaculação maldita. A sexualidade foi o ponto de partida. Depois, tivemos a fraude eleitoral e, em seguida, o 11 de setembro, legitimando tudo. E agora temos essa guerra anunciada, que vai se passar exatamente entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia, onde nasceu a civilização há oito mil anos. Será que vamos morrer onde nascemos? Pois, trata-se de uma batalha entre dois deuses: fanáticos do Alcorão contra fanáticos da Bíblia, os dois lados possuídos de raios e relâmpagos e adoradores da morte, da castidade e da ausência de prazer. Bush reza com assessores antes de despachar, como o Osama no deserto, que, aliás, é uma espécie de aliado do Bush. Osama criou Bush, estimulou-o, foi o Viagra que o tornou potente, fez dele um lugar-tenente para destruir tudo que o Ocidente criou no século XX, tudo que aprendemos na luta contra o nazi-fascismo, contra o stalinismo, tudo que foi conquista democrática, valores ecológicos, sexuais, raciais. Osama talvez seja o maior estrategista da História: sozinho, desestabilizou o planeta, usando as armas do inimigo e fazendo seu líder obedecê-lo como um robô idiota e desengonçado. Há algo de conjunção astral maligna, algo que talvez se tenha sentido nos anos 30, quando Hitler crescia. Osama fez o inconsciente bárbaro irromper de novo entre nós. A partir de agora, sob o comando de Bush, só vamos errar. Há períodos históricos em que parecemos precisar da morte. Surge uma fome de irracionalismo, como que uma libertação burra e animal dos freios da civilização.

É como se o Bush e sua turma apavorante dissessem: “Chega de frescuras de democracia, tolerância, bom senso europeu, cultura, arte... Chega de veadagens! Vamos botar pra quebrar!” Goya fez gravuras de guerra com o nome “Tristes pressentimentos do que há de
acontecer”. Na minha mediocridade, também arrisco profecias: acho que nosso
futuro vai ser um passado. O futuro para o Bush é o passado: “gimme that old time religion!”, como cantam os fanáticos. Bush é a vitória de “Forrest Gump”, a vitória do estudante fracassado, coisa de que ele se vangloria. Bush vai dividir a Europa e a Otan. Bush odeia a inteligência e só valoriza a força militar. “Dane-se o saber e a tradição dos europeus: quantas divisões eles têm?” — parece perguntar, com sua boquinha de desprezo por todos nós. Bush vai desmoralizar a ONU, esse “antro” de democracia, onde todos os países seriam “iguais”. Bush tem o entusiasmo funéreo do paranóico no poder. Quanto mais for odiado, mais se sentirá certo. Bush não confia a longo prazo na Arábia Saudita; quer se instalar para sempre sobre o mar negro de petróleo, e controlar o Oriente de dentro. Isso provocará um estado de guerra permanente, pois sabemos da obstinação islâmica para a vingança fria. Nascerão exércitos de novos homens-bomba. Milhares de atentados acontecerão. Aumentará muito mais a insegurança da América e da Europa. Meu pavor maior é que haja o surgimento de uma “cultura da morte”, uma cultura de eterna paranóia que justifique uma fascistização institucionalizada nos USA. Tenho muito medo que Bush consiga neutralizar e paralisar para sempre a reação dos democratas americanos, que ele consiga estruturar uma cultura bélica e estúpida, uma cultura do medo, que será sempre realimentada por filhos e netos de Osamas e Saddans... para sempre. O grande perigo é nascer uma cultura tecnológica, fria e puritana, “científica” e cristã, pragmática e mística, com um fundamentalismo que acabe de vez com a odiosa “complexidade” democrática da “boa” América. E tem mais: Bush ou um de seus filhos de guerra, um dia, ainda vai realizar o desejo da bomba nuclear, nem que seja apenas contra algum país “patife”. O grande desejo da cultura da morte é a raspagem, a limpeza higiênica dos detergentes. Bush vai lavar mais branco, como Truman fez em 45 em Hiroshima. Bush vai instalar no mundo a cultura da guerra, do puro poder das armas. Já está se preparando para seus novos inimigos, esses, sim, muito mais perigosos que terroristas barbudos. Bush já vai titilar a China para o grande duelo que um dia virá. Bush vai inaugurar uma política comercial com força militar.

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