quinta-feira, 28 de outubro de 2021
O.074.O negro realismo ornamentado pela reflexão - Almandrade
Reconheço que o pensar é uma tortura, quando o real é um código desagradável, admitindo uma possível entrada e saída, um passado e um futuro. Qualquer coisa de linear. O dilúvio das imaginações enuncia a beleza ausente para se tolerar o terror. O conceito toma o lugar do ser e o tempo assassina a memória. Uma angustia quase infinita como o riso amargo do anjo que anuncia o fim, faz-se presente no festim da razão absurda.
Reconheço a operação de traição à subjetividade, quando volto novamente a confirmar o vazio nesta armadilha de palavras. Limite aceitável quando se agarra um sentido. Afinal estou ou não estou no texto, falo ou falam de mim, assim como o medo encobre a transgressão ou a gramática desvia o sentido e tece um limite. A pulsão de falar e a eternidade do compromisso.
Para me livrar da tentação, retorno ao centro da noite fundamental indiferente ao tempo onde não existe respostas nem justificativas. O escuro tem a vantagem do infinito: nem ponto de partida nem estação de chegada. O pensamento não leva a lugar nenhum, a não ser a si próprio. Uma continuidade.
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