quinta-feira, 28 de outubro de 2021

O.086.Ode a Rasunda - Abelardo Romero


Torres coroadas de brasas
correndo atrás de comboios,
a rubra boca rotunda
dois faróis falando às vagas,
e nas balizas celestes
pipilo de estranhas aves.

Na orla da noite ornada
de luzes senta-se o Rio,
e, na escuridão profunda,
em vermelho sobre o negro
datilografa seu augúrio:
chove amanhã em Rasunda.

A manhã já não divulga
o chilreio das gaivotas,
nem o marulho dos cascos
de potros de escamas alvas
se contorcendo feridos
pela chama que os inunda.

O boi deitado no pasto
espanta com a orelha bamba
irisada mosca imunda
que lhe perturba a audição.
Galápagos colam o ouvido
ao planalto ressoante.

Os que falam dentro d’água
anunciam pelo mundo:
crisântemos sobre crisântemos
nas cadeiras numeradas.
Pálidas bocas ansiosas
de baleias moribundas.

Bravo! The kings of soccer.
Sie freunten sich wie die kinder
Ah, c’est un merveilleux ballet.
Es tu hijo, madre España!
Per jovem, il brasile é nato
col vivo pallone al pie.

Os suecos correm loucos,
pateiam como corceis
sobre seu campo de colza.
Enrugam o rosto no esforço.
O Brasil baila em alvoroço.
Brinca com a bola nos pés.

Viena, Londres, Moscou,
Paris, Berlim e Belfast
dilatam as órbitas ôcas
dos vídeos. E em Estocolmo
a língua dos galhardetes
vibra por nós em Rasunda.

Para o céu sobem lianas
pelas sebes de cimento.
Mãos e bocas, olhos soltos
saltando pelas persianas,
e no lagar dos conventos
mistura de pranto e mosto.

Sirenes, sinos, girândolas.
Não se janta. Ninguém ama.
E os rios descem salobros
na larga face fecunda.
Pais e filhos dormem juntos
sobre os louros de Rasunda.

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