sexta-feira, 22 de setembro de 2023
C.116.Celebração da Realidade - Rosa Pena
Ele se foi sem se despedir dela, caso contrário Ângela teria lutado para que ele não partisse. Seu filho morreu por conta de um marginal que o assassinou por um celular Vivo, o aparelho, seu menino Morto.
Ela não consegue sentir vontade de indultar quem o matou. Sente muita raiva do marginal -bomba, dos malditos direitos humanos que insistem em só abraçar a escória.
Ângela virou uma nuvem carregada de tristeza, uma neblina ambulante com constantes chuvas na menina dos olhos, que agora virou uma velha quase cega.
Mas, além da perda do filho (como se fosse pouco), ainda é obrigada a conviver com a culpa de não saber perdoar, de ter pensamentos de vingança. Sim! A paranóia reinante é não se enlutar, não dar vazão ao choro, que dirá desejar o pior para aquele que acabou com sua vida. Faz mal!
A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?
A Márcia Cabrita (atriz), recentemente numa crônica, afirmou que não nasceu para ser heroína. Ela não tirou de letra o câncer que apareceu em seu ovário. Não conseguiu imaginar a quimioterapia como uma viagem à Disney. Chorou todas e mais algumas e ficou muito grilada com seu justo sofrimento, pois diziam para ela, que só sobrevivem as doenças, pessoas de alto astral. Fique muito doente e sorria. Sofreu duplamente por não conseguir encarar um câncer com otimismo. Faz mal!
A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?
Quando eu parei de fumar entrei numa depressão terrível e não consegui sentir a tal felicidade que os “fodões” garantem como certa.
— É uma delícia viver sem nicotina! Estranhamente eu só conseguia pensar no Fernando Pessoa com o olhar entre fumaças na Tabacaria.
Já se passaram trinta meses e agora gosto demais do meu cheiro e de menos de minha contradição ao sem lenço e sem documento. Meu cagaço venceu minha liberdade. Costumo dizer que vou voltar a fumar quando completar setenta e cinco anos. Já ouvi diversos avisos: Cuidado com esses pensamentos contrários, pois assim você volta agora ao vício. Faz mal!
A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?
Atrai. Atrai. Atrai! Afinal... Atrai o quê? Castigos?
Quanta presunção dos mortais! Desde quando Deus classifica quem vai se dar bem ou quem vai só sofrer? Ele tem suas razões que a nossa razão desconhece. Que fé é essa que obriga as pessoas a mascararem seus sentimentos?
É permitido, mais ainda, é saudável chorar de dor, de medo, temer a morte, pedir castigo para o algoz que lhe feriu, sonhar que o ex morreu, ficar injuriada de abrir mão de um prazer e apesar de tudo acreditar que as coisas ruins acontecem assim como as boas num sistema de cotas. Cada um tem as suas.
Ele pode (sensação que vem com o luto) ter perdido a mão numa tela, mas a aquarela permanece com todas as cores e certamente novas serão pintadas com cores vivas, bem vivas como a Vida.
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