quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Crônica.P.005.PAIS E FILHOS COMPANHEIROS DE VIAGEM - ROBERTO SHINYASHIKI

Às vezes, imagino a vida como uma viagem de trem, feita com companheiros que a compartilham em determinados trechos, Quando nasci, entrei no trem em que estavam meus pais; eles já conheciam algumas coisas sobre a viagem e sobre o trem. Certamente parte de seus conhecimentos correspondia à verdade e outra parte não passava de ilusões. No meio da minha viagem nasceram meus filhos. A esta altura eu também já conhecia algumas coisas a respeito da viagem e do trem; igualmente, parte era verdadeira e parte não. Há pouco tempo meu pai deixou o trem e, com sua partida, a dor mudou a maneira de fazermos a viagem. Mas o trem continuou... Quando juntos, cada um dos companheiros de viagem faz suas descobertas e procura passá-las para os outros, sabendo que a riqueza da luz se amplia quando é compartilhada. Pais e filhos, somente companheiros. Nem guias, nem professores, muito menos proprietários... Pais e filhos, o maior e mais belo encontro da vida, cúmplices no aprender a desvendar os mistérios de cada um; amigos nas transformações, pois este é um dos grandes segredos da vida: quase tudo é provisório! O que hoje nos sacia, amanhã pode não mais faze-lo. De definitivo, somente os filhos e, por conseqüência, os pais: definitivo e eterno amor. No meio das ondas do ato de se viver e dos percursos das nuvens em se buscar definitivos e eternos simplesmente Companheiros de Viagem Texto retirado do livro : PAIS E FILHOS-COMPANHEIROS DE VIAGEM

Crônica.P.004.PEDIDO DE DEMISSÃO - MARIA CLARA ISOLDI WHYTE

Venho por meio desta, apresentar oficialmente meu pedido de demissão da categoria dos adultos. Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as idéias de uma criança de 8 anos no máximo. Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas. Quero acreditar que tudo é possível. Quero que as complexidades da vida passem desapercebidas por mim e quero ficar encantada com as pequenas maravilhas deste mundo. Quero de volta uma vida simples e sem complicações. Cansei dos dias cheios de computadores que falham, montanha de papeladas, notícias deprimentes, contas a pagar, fofocas, doenças e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe. Não quero mais ter que inventar jeitos para fazer o dinheiro chegar até o dia do próximo pagamento. Não quero mais ser obrigado a dizer adeus a pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida. Quero ter a certeza de que Deus está no céu, e de que por isso, tudo está direitinho nesse mundo. Quero viajar ao redor do mundo no barquinho de papel que vou navegar numa poça deixada pela chuva. Quero jogar pedrinhas na água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam. Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada. Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro caju, a primeira manga ou quando a jabuticabeira ficar pretinha de frutas. Quero poder passar as tardes de verão à sombra de uma árvore, construindo castelos no ar e dividindo-os com meus amigos. Quero voltar a achar que chicletes e picolés são as melhores coisas da vida. Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de bola de gude ou uma pelada. Quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda, a "Batatinha quando nasce..." e a "Ave Maria" e que isso não me incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor idéia de quantas coisas eu ainda não sabia. Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem nos preocupar ou aborrecer. Quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos no ar e na areia. Quero estar convencido de que tudo isso... vale muito mais do que o dinheiro! A partir de hoje, isso é com vocês, porque eu estou me demitindo da vida de adulto. Agora, se você quiser discutir a questão, vai ter de me pegar... PORQUE O PEGADOR ESTÁ COM VOCÊ!!! E para sair do pegador, só tem um jeito: Demita-se você também dessa sua vida chata de adulto, mandando esta mensagem para todos os seus amigos, principalmente os mais sérios e preocupados. NÃO TENHA MEDO DE SER FELIZ!!!

Crônica.P.003.Pai - Samelly Xavier

Campina Grande, 04 de abril de 2002. Pai: Hoje tenho uma difícil missão, transformar este aglomerado de sentimentos em uma carta para o senhor. Ela deve falar de saudade, sabe, pai ? Lembrei que a língua portuguesa tem em seu contexto uma única e imperativa palavra para falar desse sentimento: SAUDADE. Imagine se não fôssemos brasileiros? Como expressaria este meu sentimento? Pensando nisso, procurei no dicionário o significado aparente: Saudade s.f. (Do lat. solitas, solitatis, solidão, soledade) - 1. Recordação suave e melancólica de pessoa ausente ou coisa distante que se deseja voltar a ver ou possuir. - 2. Nostalgia. - 3. Pesar, mais pela ausência de alguém que nos é querido. Das três, gostei mais da última, porém não concordei inteiramente com nenhuma. O senhor acha possível sentir saudade de algo que nunca se teve? Pois é isso que acontece comigo... Sinto saudade das conversas que não tivemos, das permissões que nunca pedi, dos olhares que nunca trocamos,! dos filmes a que nunca assistimos, das atividades de casa que o senhor poderia ter me ensinado, de atrapalhar seu sono à noite por estar com medo de um pesadelo, do seu colo que poderia ter me acalentado enquanto eu chorava, do seu abraço que poderia ter me envolvido quando eu estava feliz. Sinto saudade das trocas de sonhos, até dos possíveis "sermões" eu sinto saudade, acredita? Sabemos que não houve culpado na nossa separação, certo? Uma doença não é motivo de alegria, também não deve ser alicerce para lágrimas e dores. Os médicos disseram que a doença se manifesta com grandes emoções, e foi no casamento com minha mãe que ela surgiu. Passaram-se 14 anos até que quase "milagrosamente" eu nasci. Disseram que o senhor teria uma probabilidade de melhorar ou de piorar, mainha me falou que durante um ano tudo ficou bem, porém depois o senhor ficou mais agressivo e teve que ir morar no hospital. Fui crescendo e ouvindo falar do senhor de duas formas: por minha mãe que sempre me mostrou o grande caráter que tem, pelas pessoas que parecem não entender minha falta de traumas. Uma coisa que me deixava com raiva eram os comentários dos colegas escolares, quando eu passava e ouvia "Essa menina é filha de um doido". Eu tinha vontade de responder: "Meu pai não é doido, é esquizofrênico, uma doença genética. Louco é um cara saudável que não se merece, se maltrata, se humilha". Na verdade nunca respondi nada. (Não ria de mim, viu?). Eu não sabia pronunciar direito a palavra esquizofrênico (tinha uns 7 anos), e para não me atrapalhar saía andando, fingindo que não ouvia. Sabe outra coisa muito engraçada? O modo como as pessoas falavam do senhor. As frases sempre começavam com "apesar de tudo, ele era ...", apesar de tudo o quê, meu Deus?. Diziam para eu não ter traumas, ao mesmo tempo que informavam ótimos psicólogos infantis para mainha. Eu pensava: "Mente de adulto não entende realmente nada de mente de criança"... Sabe por que eu era tranqüila, pai? Porque tive uma mãe maravilhosa que me falava do senhor apenas como era. Graças a ela sempre encarei a vida de frente. Não tinha um pai alcoólatra, drogado, ladrão ou que traíra minha mãe. Apenas tinha um pai doente, preso em seu inconsciente, alguém que tinha muitas virtudes. Por isso fico feliz quando falam que nos parecemos. Nos vimos poucas vezes, não foi? Para ser exata, quatro. Espero que o senhor entenda. Eu não me sentia bem naquele hospital (muito sofrimento...), e em outro lugar não poderíamos nos ver. Toda noite eu orava pelo senhor, algumas vezes pensando nessa saudade. Saudade tranqüila que não me arranca turbilhões de lágrimas ou arrependimento. O que sinto está liberto de imposições sociais. Transcende a matéria, acho que é saudade espiritual. O poeta Caetano Veloso disse que "de perto ninguém é normal". Compreendo quea doença cerebral o impedia de lidar com algumas coisas, porém seu espírito é esvoaçante. Hoje acredito que está muito melhor do que quando carregava um corpo. Poderão dizer que a louca agora sou eu... Escrever para alguém que já saiu deste mundo, mesmo assim sei que está lendo tudo que eu escrevo. Ao começar esta carta tive dois objetivos: O primeiro era homenageá-lo. O segundo diz respeito à frase que li no cartaz deste concurso: "Já imaginou o mundo todo lendo sua redação?". Pensei: "Isso é bom! Poderei finalmente expressar o que sinto, e o que realmente sinto é que nunca me senti a criança sem pai, traumatizada, problemática". Tento passar com isso que devemos sempre sorrir para a vida, já que ela não nos dá mais do que precisamos, nem menos do que merecemos. Obrigado, pai! Pelas lições de vida que me deu através do que minha mãe conta do senhor. É um grande exemplo, e, por mais que eu escreva, uma vida não cabe em palavras. Enfim, acabo de deduzir meu conceito de saudade, bem diferente do que o dicionário trouxe: Saudade (s. s. g. - substantivo sem gênero.) - 1. Ansiedade calma pelo dia do reencontro que com certeza acontecerá. Querido pai, até lá! !!! De sua continuação terrestre: SAMELLY XAVIER

Crônica.P.002.PARA QUE SERVEM AS MÃOS - MICHEL DE MONTAIGNE

As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever... As mãos de Maria Antonieta, ao receberem o beijo de Mirabeau, salvaram o trono da França e apagaram a auréola do famoso revolucionário; Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não matou Porcena; Foi com as mãos que Jesus amparou Madalena; Com as mãos David agitou a funda que matou Golias; As mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos gladiadores vencidos na arena; Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência; Os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte! Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço que os outros Judas não encontram. A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda; o operário construir e o burguês destruir; o bom amparar e o justo punir; o amante acariciar e o ladrão roubar; o honesto trabalhar e o viciado jogar. Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba! Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia! As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva. Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas protegemos a vista para ver melhor. Os olhos dos cegos são as mãos. As mãos na agulheta do submarino levam o homem para o fundo como os peixes; no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros. O autor do «Homo Rebus» lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida; a primeira almofada para repousar a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem. Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas. A mão aberta, acariciando, mostra a bondade; fechada e levantada mostra a força e o poder; empunha a espada a pena e a cruz! Modela os mármores e os bronzes; dá cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas formas eternas da beleza. Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza; doce e piedosa nos afetos medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos. O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento de felicidade. O noivo para casar-se pede a mão de sua amada; Jesus abençoava com as mãos; As mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes. Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o lenço no ar. Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias. E nos dois extremos da vida, Quando abrimos os olhos para o mundo e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem. Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino. E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida. E as mãos dos amigos nos conduzem... E as mãos dos coveiros nos enterram!

Crônica.P.001.PEDAÇOS - VANESSA J. TORRES DE MELLO

Quando menos esperamos a vida nos demonstra o quão pequenos somos diante de todo o seu poder. Sem que possamos ter a chance ao menos de implorar, ela nos tira pedaços, pedaços tão grandes que a vida vai se tornando vazia e sem sentido. O que nos dá a força de continuar são os pedaços que ficam e que são tão importantes quanto os que partiram. Mas somos humanos e por mais força que façamos é grande a dor dentro do coração, tão grande que algumas vezes parece que não conseguiremos suportar. Tudo isso nos leva a crer que se mais alguns pedaços nos forem tirados não seremos mais nada. Nós não somos nada mais que pedaços de muito amor, amor esse que não acaba nunca. E assim, a lei da vida segue, nos arrancando pedaços, até o dia em que tudo acaba e nada mais seremos que um pedaço de alguém.

Crônica.C.005.Carta a minha mãe - Edna Feitosa



Na verdade, mãe, li não sei onde, que mãe é esse ser sagrado, abençoado, protegido em especial pelos anjos. Deve ser. Mãe é pra cedo, à tarde, à noite, sem descanso. Mesmo que ela tenha rosto jovem ainda e esse cheiro de talco e sabonete que você deve ter ainda e me dá tanta saudade. Mãe é pedra por fora, trasgos dessa vida e doce de leite por dentro, vontade de Deus. E a nossa mãe, é sempre a mais bonita, a mais inteligente, a mais-mais.. E você pra mim, é a mais importante de todas as mães juntas: é a minha mãe! E não é só por isso que é especial não. É porque você me ensinou coisas que talvez não estejam em nenhum manual das mães dos outros: confiar no mundo, acreditar na vida e nas pessoas, respeitar e gostar de literatura, café com leite e... tentar sempre! Me ensinou a fazer da experiência do fracasso, uma lição para o futuro. E mais: ensinou que o amor é a coisa mais importante que existe nesse mundo e que a liberdade total que se dá aos filhos nem sempre é amor, é rendição, irresponsabilidade, descompromisso para com a vida deles. E foi por isso mesmo que você me bateu muitas vezes, mas me abraçou muito, compreendeu , perdoou e ensinou milhares de vezes mais... Sei que se pudesse ler isso, você que é puro doce de leite, iria chorar feito eu no seu colo quando menina. E, então, aproveito pra dizer que até chorar você me ensinou. Que é bom, alivia... Que depois do choro, tudo vira arco-íris. E é um arco-íris que eu te mando agora, pra você por em sua testa ao redor dos cabelos. Pra que quando os anjos a virem passando, fiquem sabendo que você sempre foi a mãe mais amada do mundo! ...Nós estamos longe agora, de novo, como tantas vezes. E a saudade chega doendo mais que as chineladas que levei. Receba meu beijo estalado como aqueles beijos tão gostosos que te dei quando menina! Nota da autora: trasgos: termo regional, uma espécie de aparição, lado ruim e duro da vida (na concepção da palavra, seria uma espécie de assombração (algo que incomoda a alma)
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Crônicas.C.004.Cadeira de Balanço - Ercília Ferraz de Arruda


"Será que foi tudo assim tão de repente, que não nos demos conta ? Puxa vida, quando penso, sobre tudo o que nos tem acontecido, sobre todas as incertezas que nos afligem a alma, começo a ter saudades de mim mesma ,e de um lugar no passado, onde todos se entendiam e onde a vida era leve, e o balançar da cadeira de balanço era uma música aos nossos ouvidos e um aconchego ao nosso coração ! Não me pergunte o porquê, desta afirmação, acho que simboliza um desejo íntimo de sossego e confiança absoluta, gerando uma tranqüilidade há muito perdida por todos nós !Estou continuamente me lembrando com saudades , de tempos passados onde , ainda menina, tinha uma cadeirinha de balanço em vime, e balançando cantava horas a fio, cantigas que as meninas da minha infância, ou quem sabe de minha família, aprendiam a cantar. Nada de pagode, nem reggae, nem punk, apenas cantigas ingênuas e alegres! Depois meu pai, comigo no colo, balançava, até que eu dormisse , e me carregava pra cama com carinho. Anos mais tarde, eu fazia o mesmo com meus filhotes... e cantava músicas gostosas, até que eles dormissem. Digam-me, havia casas sem cadeira de balanço? Hoje as coisas estão tão mudadas, ninguém mais tem tempo pra se balançar em cadeiras, e muito menos de cantar para que os filhos durmam... As crianças adormecem ao som da TV, ouvindo sobre guerras, vendo cenas de novelas para as quais suas cabecinhas não estão amadurecidas, e assistindo do sofá, a violência do mundo moderno, que desencanta até a nós adultos, que já vimos muito desta vida. Cá, com meus botões, me pego a pensar, como foi, quando foi, onde foi que o mundo passou a ser essa confusão geral e absoluta? Quando foi que a vida humana passou a ter tão pouco valor. Essa tal modernidade, a nos roubar a esperança, a nos minar os sonhos, a nos privar de ternura ! Haverá perdão a todos nós, que lavando as mãos como Pilatos, ou enterrando a cabeça na areia como avestruz, fingimos não perceber as mudanças que estavam ocorrendo sob nossos olhos, senão cúmplices, pelo menos fechados ?! E, assim sendo,continuando a levar nossas vidas com o egoísmo e a individualidade próprios desde século, fomos aceitando tudo passivamente ? É como disse alguém: “ ... estamos descuidados de tudo e de todos.” A eminência de uma terceira guerra, me deixa claramente a sensação da inutilidade da História... Será que não aprendemos nada com o passado? Teremos perdido junto com tantas perdas, também a memória? O mesmo homem que se emociona com uma sinfonia, que se enternece com a lua e as estrelas, mata seu semelhante, sem pestanejar. Lutamos pela preservação do mico - leão - dourado, e assistimos, sem ao menos nos descompassar o coração, a morte de crianças com fome, párias em sua própria pátria, sem ter um lugar que seja seu pra ocupar neste vasto mundo, neste lindo mundo, neste feio mundo ! Estamos nos tornando não só descuidados, mas também insensíveis a tudo e a todos, e quando abrirmos nossos olhos, ...era uma vez... Você, certamente, me dirá: “... mas que posso eu fazer ? Não tenho poder pra mudar nada ! ” Eu lhe direi pra exercitar o dom do amor. Ame a Deus, ame a você próprio e ame seu próximo mais próximo. Mas exerça o amor com verdade, sem medo ou dissimulação! Comece mudando pela sua casa, à placidez de uma vida bem vivida, onde o ser tenha prioridade sobre o ter.. Quer um conselho ? Corra comprar uma cadeira de balanço e embale seus sonhos adormecidos, de paz , de justiça, de amor e esperança !! Deixe-se embalar pela cadeira de balanço, cadeira de balanço, cadeira de balanço... Todos merecemos esse embalo !! "

Crônica.C.003.Crescimento atraves das pedras - Judith Viorst


As perdas são partes da vida. As perdas são importantes porque para crescer temos de perder, abandonar, desistir. A estrada de desenvolvimento humano é pavimentada com renúncia. Durante toda a vida crescemos desistindo. Abrimos mão de alguns de nossos mais profundos vínculos com pessoas muito queridas. Abrimos mão de alguns dos nossos mais profundos sonhos, relacionamentos, desejos, expectativas. Temos de enfrentar o fato de que jamais seremos tudo o que gostaríamos de ser. Que jamais teremos tudo o que gostaríamos de ter. Abrimos mão de algumas ilusões mais profundas sobre nós mesmos. Por mais inteligentes que sejamos, temos de perder. Nós temos de concordar: perder é muito difícil e doloroso. Consideremos, entretanto, que só através das perdas nos tornamos seres humanos verdadeiros, plenamente desenvolvidos. Na verdade, para compreendermos a vida, as nossas vidas, precisamos analisar como enfrentamos nossas perdas. As pessoas que somos e a vida que vivemos são determinadas pela maneira de enfrentarmos nossas perdas. Mas olhar para as perdas é ver como estão definitivamente ligadas ao crescimento, ao auspicioso GANHAR PERDENDO, ao começo de uma vida com sabedoria.

Crônica.C.002.Como eu posso ir - Silvana Duboc


"Como eu posso ir? Como posso chegar até aí? Como posso me transportar até você? Por favor, pode me dizer? Seria na cauda de um cometa? Guiada por um planeta? Equilibrando numa nuvem? Conduzida por uma constelação? Voando junto de uma ave? Nadando numa tempestade? Viajando de carona numa nave? Envolta num furacão? Não? Como eu posso então alcançar seu coração? Ao menos me dê a direção comprarei bússolas mapas de orientação mas preciso ao menos de uma pista porque não sou Maria nem João não espalhei pelo caminho migalhas de pão quando me afastei do seu coração daí, perdi a direçãoNão sei mais se é no norte ou no sul que fica o meu céu azul nem onde mora a minha felicidade mas com boa vontade sei que posso reencontrar e se você me auxiliar mais fácil vai ser eu chegar Caso você não possa me ajudar algum jeito eu hei de dar pra do seu coração me reaproximar e quando aí eu aportar finco a minha bandeira tomo posse do terreno não deixo nenhuma sem-terra invadi-lo e juntos vamos reconstruí-lo Então chegou a hora mande logo a tal orientação de como pegar o caminho de volta para o seu coração porque o meu, essa distância, não suporta mais não!"

Crônica.C.001.Crônica de Amor - Roberto Freire



Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo... Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a maior vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte para mim. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes os irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém.... Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida!