domingo, 30 de abril de 2023

V.090.Viver, existir e ser - Walmir Becker


Está, na sensação de viver,
A essência da vida,
De sentir, nos momentos vividos,
Todo o encanto de existir, de ser,
E de saber que ser é bem mais que existir,
Que ser é viver plenamente
Uma vida sentida
Essencialmente vivida,
Nessa busca infinita de outro ser.

V.089.Vinda do oceano revolto, a multidão - Walt Whitman


Vinda do oceano revolto, a multidão, chegou suave a mim uma gota,
Sussurrando, eu te amo, antes que um dia eu morra,
Fiz uma longa viagem, para meramente te ver, te tocar,
Pois eu não podia morrer até eu te ver uma vez,
Pois eu temia poder depois te perder.

(Agora nos conhecemos, nos vimos, estamos seguros;
Retorne em paz ao oceano, meu amor;
Sou também parte deste oceano, meu amor – nós não estamos tão separados;
Contemple a grande curvatura – a coesão de tudo, como é perfeita!
Mas, quanto a mim, a você, o irresistível mar irá nos separar,
A hora nos carrega, distintos – mas não pode nos carregar assim para sempre;
Não seja impaciente – por um pequeno espaço – Eu te conheço, eu saúdo o ar, o oceano e a terra,
Todo dia, no ocaso, por você, meu amor.)

V.088.Vigente - Lucas Menezes Maida


Tenho preocupações
Sobre o esgotamento da água
Sobre o esgoto a céu aberto
Sobre o Ser Humano e suas mágoas
Sobre o planeta descoberto

O que é potável?
O que é postável?
Depende do filtro...
Tenho cismas

Sobre o presidente eleito
Sobre o futuro da nação
E, a cada sonho REM, quando deito
Sinto que estou perdendo minha religião

Popularizou-se o termo “mimimi”
As ficções são baseadas em fatos reais
E o tempo em que Don Don jogava no Andaraí
Não volta mais

Quer estudar arte? Banksy
Quer fazer arte? Banque-se
Quer apagar arte? Eleja-se
Quer ouvir arte? Elis, já sei!

Mas não quero lhe falar
Das coisas que aprendi nos discos
Tanta coisa aconteceu (creio eu)
A música, hoje, toca na TV e sem chuviscos

Ficou na moda gostar de Raça Negra
Mão criminosa virou mão boba
Nosso discurso ficou limitado aos 15 segundos
E Pronome de Tratamento virou “@”

Quem pensa no tempo também ganha tempo
O futuro do presente me assusta mais que o do pretérito
Lamento...
O futuro presidente vê tortura e faz honra ao mérito
Tormento…
Inquérito...

Luar muda com a maré
Lembrar? Pra quem do futuro é
Vovó firmou na tina
O futuro vai ser ruim da cabeça e doente do pé

Vi gente roubar para comer
Vi gente avisando perigo na esquina
Vi gente roubar por querer
Vi gente do mal sendo bem-vinda

Amanhã foi um dia difícil e ontem será mais ainda

V.087.Vida - Walt Whitman


Sempre a desencorajada alma do homem
resoluta indo à luta.

(Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes
e outros mais novos.)

Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas ou recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras, palmas
de boas-vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje como sempre,
batalhando como sempre.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

V.086.Vanguarda - Lucas Menezes Maida


Substantivo feminino
Com todas as fases da literatura
Seu corpo é só poesia
E por isso prende a minha leitura

Seu cabelo, reticências
Suas pernas, versos prontos
Sua boca é uma cantiga
Suas pintas são os pontos

Uso a língua para marcar suas páginas
Torno meu hábito mais prático

Não deixo a sua aventura chata
Como um livro didático

Quero ler seu corpo desde as orelhas
Desde a contracapa até o prefácio
Sem ordem, objetivo e simples
Naturalista como José Bonifácio

Suas antíteses barrocas
Dividem meu desejo
Quero os prazeres mundanos
De tudo que eu vejo

A salvação está na paz bucólica
No “Fugere Urbem” do Arcadismo
Sua respiração é o Carpe Diem
Que me deixa à beira do abismo

Seus olhos simbolistas
Transcendem o surreal
Faz-te arte pela arte
Parnasiana, rigor formal

Capítulos divididos
O miolo eu sei de cor
Por isso que lhe traduzo
Em redondilha maior

Não te faço um haicai
Pois isso não lhe transcreve
Faço de ti um texto longo
Com conteúdo leve

Seu corpo é um manifesto
Estruturado em cada etapa
Em cada vírgula
Ah, se eu tivesse julgado pela capa...

vanguarda

V.085.Você não podia me ver - Letoya


Você não podia me ver
Então você não poderia me sentir
Tenho estado aqui sozinho
Cantando essa canção triste
Ficando aqui, bem aqui na frente de você

Você não pode ver
Então, como você estava
Para conhecê-lo
Em meu coração, eu estou te abraçando
Nas minhas orações, rezo por você
Eu te amo...

Oh, eu finalmente o vejo
Oh, como eu precisei de você
E você esteve aqui o tempo todo
Eu precisava de sua música
Eu te sinto...

Agora você pode ver
Oh, agora nós podemos sentir
Não sabe o quanto isso significa para mim
Obrigado por não desistir de mim
Eu nunca vou te decepcionar novamente
Eu nunca vou te decepcionar, meu amigo

V.084.Ventos e maresias - Fabão Silva


O vento é a roda da vida
Quando ela está quente demais
Ele sopra em brisa
Para refrescar...

Às vezes é preciso um vento mais forte
Para derrubar as folhas velhas
Sacudir nossos galhos
Para a vida nova surgir...

E quando ela se apresenta cruel e enfadonha
Vem os tufões arrancando tudo de lugar
E te levando a outros
Para te mostrar
Que nunca é tarde pra recomeçar...

V.083.Ver - Douglas Farias


O que você vê quando me vê?
Podes ver força,
Quando a derrota estar a me afligir.
Podes ver beleza,
Quando revela minha face o amanhecer .
Podes ver determinação,
Quando o desânimo me segura os pés.
Podes ver coragem,
Quando os muros e os abismos me fogem à visão.
Podes ver luz,
Quando no meu quarto escuro eu quero estar.
Podes ver alegria,
Quando no meu rosto as lágrimas estão a molhar.
Podes ver carinho,
Quando a mão não posso estender.
Podes ver amor,
Quando mil razões o desamor quer dar.
Podes ver fé,
Quando onze mil ao lado estão a cair .
O que você vê quando me vê?
O que eu vejo quando vejo você?

V.082.Viva a vida - Douglas Farias


Antes tarde do que tarde demais
Venha cedo o que cedo se foi
Seja agora quando o agora não satisfaz
Passe pelo passado que dor lhe impôs

Viva vivendo a vida que sempre quis
Faça de sua força energia pro que for preciso
Lembre na sua mente momento bons
Sonhe sonhos que lhe trarão de volta o sorriso

V.081.Versos Inversos - Douglas Farias


Sente o que sinto quando senti seus sentidos sem meus sentimentos
Pois na vida, vive sem viver o que vivo vivendo em sua vivência
Certamente estive certo em sua certeza que certa estaria
Mesmo que no amar, amasse como amo minha amada, valorizaria esse amor

V.080.Vontade Louca - Douglas Farias


Sabe aquela vontade louca de querer você aqui? É... hoje é um desses dias, pois... Hoje não a encontro Hoje não a tenho Hoje não a vejo Hoje não a ouço
Por mais que eu a procure, sei que não a acharei Só que perto você estás... Quando encontro aquele vídeo Quando tenho uma lembrança Quando vejo sua imagem Quando ouço sua doce voz
Sabe aquela vontade louca de querer você aqui? Ainda tenho...

V.079.Verdadeiro valor - Douglas Farias


Tenho talvez a melhor roupa para vestir Uma boa loção para perfumar Um belo carro para andar Que dirá dos lugares que tenho para ir Mas sem você nenhum valor há
As melhores universidades cursar Muitas línguas poder falar Muitos bens, então, possuir Mundos e riquezas poder ter Mas sem você nenhum valor há
Ainda que ganhasse confiança Ainda que conquistasse carinho Ainda que tivesse de tudo Ainda que não faltasse nada Sem você, eu não existiria

V.078.Voa flor - Douglas Farias


Brilha minha eterna luz
Voa minha linda flor
Vá o mais longe que puder
E traga de volta o meu amor

Siga a caminho das estrelas
Às milhares aonde estão
Não pare até encontrar
A dona do meu coração

Onze e meia eu quero estar
Não importa o jeito
No flutuar de uma nuvem
Vou ao encontro do seu beijo

V.077.Voce é demais - Douglas Farias


Uma pausa, recupera o fôlego
Seu beijo é tão intenso que me deixa louco
Me olhe desse jeito, que quero mais
Um desejo que ao delírio nos traz

Seu perfume, me atrai
Seu olhar, é demais
Sua boca, me atrai
Seus beijos, são demais

Toda noite quero continuar
Sente o clima que fez esse luar
Você em meus braços, carinhos e uns amassos
Mais que só prazer eu quero te amar

Seu perfume, me atrai
Seu olhar, é demais
Sua boca, me atrai
Seus beijos, são demais

V.076.Vida Longa - Taylor Swift


Eu disse, "Lembre-se desse momento"
No fundo da minha mente
Quando estávamos lá com nossas mãos tremendo
A multidão se levantava e ia à loucura
Nós éramos os reis e rainhas
E eles leram os nossos nomes
Na noite que você dançou
como se soubesse que nossas vidas
Nunca mais seriam as mesmas
Você manteve sua cabeça como um herói
Em uma página de um livro de história
Era o fim de uma década
Mas o começo de uma era

Vida longa às barreiras que atravessamos
Todas as luzes do reino brilharam só para mim e você
Eu estava gritando,
"Vida longa à toda magia que fizemos"
E tragam todos os impostores
Um dia seremos lembrados

Eu disse, "Lembre-se desse sentimento "
Passei as fotos adiante
De todos os anos que estivemos
lá do lado de fora
Desejando por agora
Nós somos os reis e rainhas
Você trocou seu boné de beisebol por uma coroa
Quando eles nos deram os nossos troféus
E nós os levantamos pela nossa cidade
E os cínicos estavam indignados
Gritando, "Isso é um absurdo"
Porque por um momento, um bando de ladrões
Em jeans rasgados conseguiram dominar o mundo

Vida longa às muralhas que invadimos
Todas as luzes do reino brilharam
Só para mim e você
Eu estava gritando,
"Vida longa à toda magia que fizemos"
E tragam todos os impostores
Eu não tenho medo
Vida longa à todas as montanhas que movemos
Eu tive o melhor momento da minha vida
Lutando contra dragões com você
Eu estava gritando,
"Vida longa à aquele olhar no seu rosto"
E tragam todos os impostores
Um dia seremos lembrados

Segure-se para girar ao redor
Confetes caem no chão
Que essas memórias amparem nossa queda
Você pode por um momento
Me prometer isso
Que você ficará ao meu lado para sempre?
Mas se Deus proibir, o destino interferir
E nos forçar a uma despedida
Se você tiver filhos algum dia
Quando eles apontarem para as fotos
Por favor, diga a eles o meu nome

V.075.Valores Distorcidos - Um Poeta Vagabundo


Devo estar ficando velho mesmo, percebo isso quando reparo nos valores de nossa sociedade, quando vejo a sexualização infantil através de músicas pobres, suas danças vulgares e letras chulas. Tanto fizeram as mulheres dos anos 1960, enfrentando a sociedade machista, queimando seus sutiãs como símbolo da luta, e para que? , cinquenta anos depois e a luta foi completamente distorcida, confundiram igualdade com sei lá oque , agora meninas dançam como as mulheres trabalhadoras do entretenimento masculino adulto, adolescentes vestem-se como estas profissionais, temos o aval da carne no carnaval, micaretas, bailes funk, raves etc e o incrível é que as casas de tolerância ainda assim continuam se proliferando por aí, aconteceu como na época do surgimento do cinema, que temiam acabar com o teatro, e não acabou, e a televisão que acabaria com o cinema e não acabou , e os videos domésticos (VHS,depois DVD) o atacaram e também não conseguiram, hoje temos a internet e todas essas outras mídia digitais convivendo em “harmonia”, assim como as “casas de tolerância” convivem bem com toda essa tolerância gratuita. Mas o que me causa mais espanto é que hoje nada mudou, pois querem as “santas” para casar e transforma-las em suas mães ou empregadas do lar, sim há homens que confundem suas companheiras com suas mães e suas mães com domésticas, e há homens que confundem mulher com objeto sexual, e o pior do pior é que tem mulheres que gostam de serem tratadas como bibelo de luxo, como objetos de desejo, como cachorra, égua de raça e coisas do gênero. Vejo academias lotadas, homens e mulheres em busca de serem boas peças nas vitrines, sendo escravos da vaidade em busca de algo que verdadeiramente não necessitam, são vítimas, todos somos vítimas de uma ordem abstrata que nos prende a padrões de comportamento imposto por uma mídia, que trabalha para a industria e comércio, vendendo modelos padronizados de vida, e as pessoas em busca de uma identidade própria encontra nos modelos impostos uma imagem que seja aceita; não quero generalizar, a intenção não é esta, no mundo tem pessoas de todos os tipos, com suas virtudes e vícios, ninguém é perfeito, mas já passou da hora de refletirmos sobre nossos valores, nossas buscas, nossos desejos e sobre oque realmente importa.

V.074.Volúvel - Eliane F.C.Lima


Observa da sacada o que o vento faz com um papel que roubou, indomável ladrão, de uma janela desavisada, no fim da rua: imprensa-o contra um muro em suas mãos invisíveis. Desde que caiu ali, o vento se diverte com ele, sem piedade. Só quando se cansar da vingança ou por sorte o desgraçado cair no bueiro próximo, estará findo seu suplício. Oprimido pela visão, sabe exatamente o que o pequeno mártir está passando. É exatamente assim que a vida fez com ele. Há muitos anos que um vendaval o joga daqui para ali, igualmente tonto, igualmente indefeso, igualmente vítima de uma vingança. De qual, não sabe. Quem saberá? Tantos passam pelo mesmo. Vivia tranquilo, inconsciente de sua felicidade. Que a gente só sabe da felicidade, quando não tem mais. Sem grandes exageros, ia seguindo seus dias de perfeição. Até tudo virar. Teresa morreu de repente. O filho resolveu trabalhar em outra cidade. A filha, sempre tão séria e estudiosa, se apaixonou por um malandro. Criticada, relacionamento não aceito, foi embora com o tal. E ele ficou ali, sozinho, tentando se agarrar nas lembranças boas do passado, as lufadas de vento forte já rodopiando com ele. E vieram as doenças: uma, duas, três. O médico disse que a causa era a depressão, o estresse dos problemas. A causa não importa. Ao papel, só lhe interessa que o vento pare ou que ele seja empurrado para dentro do bueiro escuro.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

V.073.Viés - Eliane F.C.Lima


“Eu dissociado”, diz a psicologia. Havia dois dentro dele. Um que dizia “faça isso” e outro que respondia, sacudindo a cabeça, veementemente: ”Não faço!” Mas, fora dele, muita gente sempre lhe dizia “faça isso”. E ele não respondia. E não respondendo também respondia: “Não faço!”. “Autista”, diz a psicologia. Mas havia dois dentro dele. Autistas? E, fora dele, muita gente também dizia para muita gente: “Faça isso.” E muita gente achava até que não fazia. Mas acordava de manhã para ir trabalhar, mas pegava o ônibus entupido de outra gente que também pensava que não fazia, mas tirava da garagem seu carro comprado à prestação em seis anos e ia para o engarrafamento de horas, mas gastava o pouco dinheirinho que sobrava no dia das mães, no dia dos pais, na véspera do Natal, no dia dos namorados, no CD do último cantor sertanejo, no show do cantor estrangeiro decaído que vinha ao país, tudo porque não aceitava o “faça isso”. Independente. Ele tinha a mesma roupa antiga, que durava muito. A mesma tevê que não era LCD. Andava a pé. Não aceitava cartão de crédito. “Sociopata”, diz a psicologia.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

V.072.Velório - Eliane F.C.Lima


Faz dois dias que Otília morreu. Ela ficou no escuro, o cheiro adocicado de flores e toda a transformação que deve estar ocorrendo em seu corpo. O ar viciado, um bafo quente e nauseabundo dominando seu pequeno espaço. Otília, minha querida Otília.
Me agarrei a seu corpo, não queria deixar fecharem o caixão, levarem embora. Os amigos tiveram de me tirar à força.
Armando queria me levar para a casa dele. Neguei. Depois queria subir comigo. A custo, eu disse que precisava ficar só. Ele concordou. Não, não, era Osmar.
As cortinas estão fechadas e o escuro domina a sala. Só me levanto para ir ao banheiro. Não como nada e já sinto uma tontura grande, as ideias se embaralham o tempo todo e tenho de ficar deitado. Não sinto fome, nem sede.
O telefone, desliguei, depois de ter tocado desesperadamente, nesses dias. Otília morreu há três dias. Ou foi ontem?
Escuto vozes no corredor. É isso? Vozes longe. No cemitério, também ouvi vozes longe. A campainha tocou muito. Bateram até na porta. Não sei mais quando foi. Talvez hoje de manhã.
Estão tocando a campainha novamente. E socando a porta. Gritam lá fora. Muitas vozes. Alguém chama meu nome. Parece que enfiaram uma chave. Eu tranquei os segredos.
Há um barulho grande. Estão forçando a porta. Sinto barulho de madeira partindo. Vão abrir o caixão?
- Otília, Otília, vão tirar a gente daqui!
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

V.071.Velho Anseio - Eliane F.C.Lima


Não tinha conhecido sua mãe. Tinha sido criado pelo pai, um homem simples. Mas sua história era um exemplo daquelas vidas que cheiram à vitória. Pelo menos financeira. Tinha conseguido criar uma rede de comércio e sua família, agora, não tinha a menor idéia do que ele tinha passado. Porque ele tinha passado maus pedaços. Para que o pai trabalhasse, tinha ficado na casa de uns e outro durante o dia. Na maioria das vezes, não acolhido de boa vontade. Diferença gritante entre as crianças da casa e ele. À noite, o homem sempre ia buscar o menino. A amizade do pai era quase consoladora. Mas faltava a ele uma mão carinhosa e feminina, as desculpas que uma mãe sempre dá para os malfeitos de filho, mesmo que erradamente. Ele via isso em relação aos outros pequenos. Ele sempre era o culpado. O que doía não era a injustiça, às vezes ele errava mesmo. As lágrimas eram por não ter ninguém que lhe passasse a mão pela cabeça e acreditasse nas mentiras dele, como faziam com menino comum. E ainda as brigas do pai depois, único momento em que poderia ter afeto. Cresceu meio durão, mas lá no fundo, bem no fundo, ficou o menino desejando colo. Seus filhos regalavam-se com as coisas boas que podiam ter agora. A mulher era boa e tinha sido escolhida mais por suas qualidades morais do que por seus dons afetivos. A lacuna sempre aberta. Um dia, já doente, chamou toda a família e alguns amigos. Entregou a um deles um documento que tinha feito em cartório, não confiante na palavra dos parentes. Depois de morto, nada de corpo cremado. Queria ser enterrado em um cemitério dos que havia agora – tinha comprado um lote –, muita terra e vegetação por cima, grama verdinha, natureza. Passaria o resto da eternidade acolhido no colo da Mãe-Terra.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

V.070.Vida Cara - Eliane F.C.Lima


Sentada na cama, as tralhas ensacadas. Lágrimas, não há mais. O rosto inchado, apenas observa em volta. Tarefa simples: um armário de duas portas, dentro do cubículo. Calor insuportável no verão; umidade entrando nos ossos no inverno. Tinha criado a filha com muito esforço, solteira, ingênua que fora. Nunca se queixou. A menina enchia-lhe a vida. Pobre, muita faxina tinha alimentado suas bocas, pago seu quartinho, a roupa pouca, os livros da pequena. Estudo reduzido, mas muita honradez ensinada pela mãe. Não tinha podido garantir sua velhice, contudo. Sobrava dinheiro para isso? A mocinha casara cedo, felizmente. Marido era um homem honesto, trabalhador. Nada faltava em casa. Mas sempre renegara a herança da mulher: a mãe. Naqueles anos todos, ela, “a velha”, como ele dizia, sem o menor acanhamento, tinha feito tudo para agradar ao genro: lavava as roupas dele, passava com carinho para ver se merecia ao menos consideração. Nada. O homem dizia que aquilo nem correspondia à parte do feijão comido. E o resto? Quarto – quarto? –, luz, água e tudo o mais? Que sina a dele ter de trabalhar o dobro para sustentar boca adicional! A filha, muito submissa, reclamava no quarto, à noite. As vozes se alteravam. A senhora se encolhia toda na cama. No dia seguinte, a própria mãe abraçava a outra, ambas lacrimosas, e aconselhava que não fizesse aquilo, imagine, atrapalhar sua felicidade. Os homens eram assim mesmo... e onde iria achar outro tão bom, cumpridor de seus deveres? A moça tentava acreditar. Agora ele tinha decidido e arranjado tudo. Descoberta uma prima dela, velha também e doente, no interior, tão longe, despachava a sogra para lá. Saindo pela boca, já, a saudade de sua menina. Mas conformava-se, pensando que libertava a filha para ser feliz. Fosse o que fosse, nunca mais a moça engoliria aqueles desaforos e, afinal – deu um suspiro fundo –, a prima era uma pessoa boa e pacata. Um “Mãe, tá na hora”, resgatou-a dos devaneios. Levantou-se, condenado à morte, convocado por guardas e padre que lhe batem à porta.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

V.069.Visio - Machado de Assis


Eras pálida. E os cabelos,
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espáduas caíam...
Os olhos meio cerrados
De volúpia e de ternura
Entre lágrimas luziam...
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam...

Depois, naquele delírio,
Suave, doce martírio
De pouquíssimos instantes,
Os teus lábios sequiosos,
Frios, trêmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes...

Depois... depois a verdade,
A fria realidade,
A solidão, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei... silêncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.

Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Lábios trêmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.

E agora te vejo. E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquele sonho encantado!
És outra – calma, discreta,
Com o olhar indiferente,
Tão outro do olhar sonhado,
Que a minha alma de poeta
Não vê se a imagem presente
Foi a visão do passado.

Foi, sim, mas visão apenas;
Daquelas visões amenas
Que à mente dos infelizes
Descem vivas e animadas,
Cheias de luz e esperança
E de celestes matizes;
Mas, apenas dissipadas,
Fica uma leve lembrança,
Não ficam outras raízes.

Inda assim, embora sonho,
Mas, sonho doce e risonho,
Desse-me Deus que fingida
Tivesse aquela ventura
Noite por noite, hora a hora,
No que me resta de vida,
Que, já livre da amargura,
Alma, que em dores me chora,
Chorara de agradecida !

V.068.Versos de Outrora - Lucelena Maia


O anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou...  
Pequenos versos, declamados quando criança,
Não doíam, eu brincava de passar aliança...
O tempo se foi, os versos ficaram esquecidos,
Mas o local onde os coloquei um dia foi remexido.  
Alguém abriu o baú, e os versos se espalharam...
Do meu âmago, um som ecoou abafado;
Era a fase adulta falando ao meu ouvido,
Em rimas que se me cravavam o sentido.  
Dos meus olhos verteram lárimas, em poesia,
A alegria de outrora, agora adulta, doía
Ao recordar o verso que, na infância, declamei.  
Brinquei com a realidade e não a conhecia...
Guarei os versos no baú, por eles não padecia. Ao vivenciá-los, sem inocência, chorei!

V.067.Vivo a arte de sonhar - Douglas Farias


Vivo a arte de sonhar
Trago à mente
Lindas canções
Eternas amizades
Paixões inesquecíveis
Passeios fascinantes
Risadas, gargalhadas
Esperança, e conquistas
Não quero acordar
Meu sonho é minha vida
Dele faço minha realidade
Vivo a arte de sonhar

V.066.Vou estar te esperando - Douglas Farias


Hoje as lembranças pesam um pouco
Pensamentos que me levam
Para um passado louco
Quando crianças tínhamos o tempo todo
Brincando, sorrindo, pulando,
Jogando água um no outro
Mesmo crescendo, sua companhia
Trazia-me seu conforto
Prometendo-me que não importa
O tempo, a distancia, o frio, o que for
Iria ao meu lado estar
Para sempre viver esse amor...

Não queria te magoar
Mas minha vida tinha que continuar
As circunstâncias não deixaram
Comigo você junto caminhar
Escolhi outro caminho e tive que andar
Tempo que não vai parar
Me assusta, quando percebo
Anos já estão a passar
Meus cabelos, meu rosto,
Minha pele, minhas manias
Já não estão no meu gosto
O tempo me fez perder...

Esses trinta, quarenta, cinquenta anos
Mesmo com lindos filhos
Não fizeram esquecer quem realmente eu amo
Só penso aqui, onde está aquele cara
Que prometeu estar pertinho de mim.
Espero um dia você
Batendo em minha porta
Repetindo o que sempre quis me dizer:
Eu vou estar, te esperando
Mesmo que um dia o tempo possa nos separar
Além dessa vida estarei sempre a te amar
Querido, ainda guardo seu lugar...

V.065.Viver ou juntar dinheiro - Max Gehringer


Li em uma revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico. Aprendi, por exemplo, que se tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, nos últimos quarenta anos, teria economizado 30 mil reais. Se tivesse deixado de comer uma pizza por mês, 12 mil reais.

E assim por diante. Impressionado, peguei um papel e comecei a fazer contas. Para minha surpresa, descobri que hoje poderia estar milionário. Bastaria não ter tomado as caipirinhas que tomei, não ter feito muitas viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que comprei. Principalmente, não ter desperdiçado meu dinheiro em itens supérfluos e descartáveis.

Ao concluir os cálculos, percebi que hoje poderia ter quase 500 mil reais na minha conta bancária. É claro que não tenho este dinheiro. Mas, se tivesse, sabe o que este dinheiro me permitiria fazer?

Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar em itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que quisesse e tomar cafezinhos à vontade. 

Por isso, me sinto muito feliz em ser pobre. Gastei meu dinheiro por prazer e com prazer. E recomendo aos jovens e brilhantes executivos que façam a mesma coisa que fiz. Caso contrário, chegarão aos 61 anos com uma montanha de dinheiro, mas sem ter vivido a vida.

V.064.Voce é Real - Douglas Farias


Perco tempo e me perco
Acho que não acho o que procuro
Ontem a noite eu tinha uma certeza
Sem estar lúcido encontrei minha fraqueza
Tenho você, mas não é real
Afinal, o que faz você real?
Nunca esteve aqui, não sinto você aqui
Vive viajando em meu sonho
Arranca meu coração e devolve medonho
Ouço a sua fala, observo seu olhar
Não sei o que quer de mim

Passo tempo e me levo
Junto a ti eu me encontro
De dia caminhas comigo de mãos dadas
Sóbrio da paixão que me cegou noite passada
Ainda tenho você, quero que seje real
Afinal, o que faz você real?
Quero que esteje aqui, quero sentir você aqui
Passeia em minha mente
Traga meu coração, mas saiba que é todo seu
Ouça eu te chamar, olhe em meus olhos
Torne-se real para mim

V.063.VAGALUMES - ADRIEL MENEZES/IVO MOZART/LUIZ TOMIM


E pra te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor,
Eu só quero amar você,
E quando amanhecer eu quero acordar... Do seu lado.

Vou escrever mais de um milhão de canções pra você ouvir
Que meu amor é teu, teu sorriso me faz sorrir,
Vou de Marte até a Lua, cê sabe já tô na tua,
Não cabe tanta saudade essa verdade nua e crua,
Eu sei o que eu faço nosso caminho, eu traço,
Um casal fora da lei ocupando o mesmo espaço
Se eu tô contigo eu não ligo se o sol não aparecer,
É que não faz sentido caminhar sem dar a mão pra você,
Teu sonho impossível vai ser realidade,
Eu sei que o mundo tá terrível mas não vai ser a maldade que
Vai me tirar de você, eu faço você ver,
pra tu sorrir eu faço o mundo inteiro saber que eu...

Vou caçar mais de um milhão de vagalumes por aí
E pra te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor
Eu só quero amar você
E quando amanhecer eu quero acordar... Do seu lado

Pra ter o seu sorriso descubro o paraíso,
É só eu ver sua boca que eu perco o juízo por inteiro,
Sentimento verdadeiro eu e você
ao som de Janelle Monaé, vem deixa acontecer,
E me abraça que o tempo não passa quando cê tá perto,
Dá a mão e vem comigo que eu vejo como eu tô certo,
Eu digo que te amo cê pede algo impossível,
Levanta da sua cama hoje o céu está incrível.

Vou caçar mais de um milhão de vagalumes por aí
E pra te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor
Eu só quero amar você
E quando amanhecer eu quero acordar... Do seu lado.

Faço dos teus braços um lugar mais seguro,
Procurei paz em outro abraço eu não achei eu juro,
Saio do compasso, passo apuros que vier,
Abro a janela pra que você possa ver...

Vou caçar mais de um milhão de vagalumes por aí,
E pra te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor,
Eu só quero amar você,
E quando amanhecer eu quero acordar.. Do seu lado.

V.062.VOLTAR A SEGUIR NO MEU CAMINHO - DOUGLAS FARIAS


Caminho nessa estrada sem saber o destino que sigo
Encosto, aciono o alerta, tento me orientar pela guia
Não consigo ler, não encontro a direção correta
Nenhuma mostra onde realmente quero chegar
Todas mostram onde realmente tenho que ir

Prossigo em meu caminho com o mesmo receio
Tenho medo do que vou encontrar
Pois já sei onde esse caminho vai terminar
Mas a direção que eu almejava, deixei para traz
E nenhum atalho vai me fazer voltar

Não encontro desvios nessa estrada
Peço para que eles não apareçam
Vão me servir como distrações
Por mais receoso nesse caminho
Sempre mantive o elo entre nós

O tempo passa, o tempo voa
Olho pelo retrovisor e não mais posso vê-la
Insisto em voltar e ter o caminho que desejava seguir
Ter outra vez vontade de continuar, mas não posso voltar
Sem saber se mostrará o caminho pra te encontrar

V.061.VOLTE PARA SEU PRESENTE - Douglas Farias


Lembro quando prometeu que nunca me abandonaria, suas palavras pareciam tão sinceras, que me fez acreditar, sonhar... passavam dias e noites, nada tiraria a certeza que havia em meu coração, cria que você sempre estaria comigo.

Minha vida não tem sentido se não estiver aqui, por onde quer que eu olhe, você está aqui. Será esta sua promessa? Seria esta a razão de não ter voltado ainda? Realmente posso te sentir, posso te ouvir, só não queria acreditar que era você.

Aquele presente que me deste na mesma noite em que pediu minha mão, ainda guardo comigo. Está com o seu jeito, ele tem seu cheiro, ele tem sua marca. E quero que veja como ele está, espero que volte logo e assim cumprir sua promessa.

Quero que saiba que vou continuar esperando você voltar, mesmo que ainda te sentindo desse jeito. Se podes me ouvir, ainda quero que cumpra sua promessa, agora são dois que ainda querem sua presença, ainda dá tempo de cumpri-la.