quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

C.032.Cantar dos passarinhos - Walderlino Arruda


É uma sensação de alívio imensamente feliz,
a certeza de estar vivendo,
num mundo feito por Deus,
um mundo natural, que ainda existe
mesmo quando não podemos ver
o vizinho do outro lado.


Gosto do cantar dos passarinhos,
bem entendido, dos passarinhos livres,
que podem voar e sobrevoar,
aqui, ali, em toda parte,
e onde se sintam bem,
donos do ar, do vento, do céu.


Um trinado de passarinhos
faz de uma manhã a sedução,
mais do que humana, quase divina,
azul, celestial, solo de claridade.


Canto de passarinho não tem só música:
tem luz, tem movimento,
tem cor, tem brilho,
diria mesmo que é perfumado,
de cheiros silvestres do meu sertão.

C.031.Confesso-te - Vanderly Medeiros


Hoje farei-te minha confissão de intenções para contigo
Confesso que tenho planos
Confesso que nesses planos envolvem muitas coisas ocultas
Confesso que nesses planos tens muito de ti neles.

Confesso-te e me julgo culpada!

Culpada por muito te amar.
Culpada por não me policiar e te deixar entrar.
Culpada, mil vezes culpada, por ceder aos seus apelos.
Culpada por querer fazer parte de seus dias.
Duplamente culpada por querer suas noites só para mim
Triplicamente culpada por querer todos os minutos de sua atenção.

Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa!

Confesso que nas noites a sós meu corpo pedi a teu.
Confesso que não aceitaria ser sua esposa
se junto ao cargo não me ofereces o papel de tua amante.
Confesso que tenciono tomar o café da manha entre seus beijos e..
algo mais...

Por fim confesso-te o que falta:

Meus planos é não te deixar nunca mais,
é ocupar seus espaços,
seus braços,
sua vida,
sua cama,
seus dias e suas noites...

Meus planos tem data de inicio,
mas..
Por ser esquecida, esqueci-me de marcar a data do fim..
Quem sabe em 2100 resolva para,
e pensar em marcar a data final!

Mas meus planos de encarcera-lo em meu amor,
está se esgotando em sua data..
Vem logo...
Preciso de ti..
Seu tempo longe de mim,
já venceu!!!

C.030.Castelos ao vento - Vanda Galvão


Às vezes construímos nossos castelos...
Colocamos nele tudo o que somos,
O que conhecemos, o que achamos.
E o que sonhamos,
passo a passo vamos edificando,
Em cada palavra ou em cada linha escrita.
e por ele viajamos entorpecidos,
Conhecemos lugares nunca antes imaginados,
Percorremos trilhas secretas
No delírio do êxtase do amor.

A cada dia vivenciamos,
uma felicidade crescente,
Aquela que faz valer a pena
Qualquer coisa que nos aconteça,
por mais simples, por mais desagradável.
Porque temos um coração feliz
Porque temos um alguém...

Um alguém que não sai de nossos devaneios diurnos,
E que a noite pega carona em nossos sonhos...
Um alguém presente, mesmo que tão distante,
que consegue fazer a diferença em nossa vida, em nosso ser.
Que nos dá a segurança de pisar em chão firme,
que nos dá asas para voar distante,
e nos dá a certeza de um amanhã de luz e de calor.

Durante muito tempo,
Vivemos tocando nessa areia macia,
ouvindo essas ondas incessantes,
sentindo toda a energia deste mar...
Mas um dia descuidamos,
sem querer, deixamos que uma tristeza nos envolva, nos domine,
e tudo aquilo que levamos tempo construindo,
vai ao chão.
Em seu lugar,

fica a incerteza,
o tempo nublado,
os dias solitários,
a falta de perspectiva,
a falta de sonhos.
E a vida volta a ser como antes,
com aquele vazio insuportável.
Que tanto lutamos para preencher...

Olhamos para trás e vemos apenas um monte de areia...
E num estado de quase demência,
ficamos parados, imaginando:
Se queremos outro castelo construir,
ou se desistimos de tudo,
e ficamos somente com a solidão
e o vento

C.029.Chuva - Lisiê Silva


A Chuva caía na noite...
Relâmpagos clareando o chão,
Por entre as poças de água.
Ninguém nas ruas,
Carros correm velozmente.
A chuva não passa...
Calçadas alagadas,
O Vento forte.
Batendo nas folhas verdes,
fazendo-as cair ao chão,
balançando árvores,
A chuva banhando o meu rosto,
Molhando os meus cabelos,
Relâmpagos fortes,
Arrepiando minha pele fria.
Os sapatos encharcados, deslizando...
A roupa fina encolhe,
O corpo sobressai-se,
Meu rosto vermelho...
A chuva não passa,
O Vento faz frio
e faz medo...
Ninguém nas ruas,
De repente um trovão
ecoou nos ares,
nas nuvens
O medo aumentou...
A chuva não passa...
A vida não passa...
Ninguém passa...
Nada passa...
Nada...

C.028.Com voce - Lisiê Silva


Com você, eu aprendi a amar...
Com você, eu descobri a beleza...
da vida, da natureza...
Com você que eu sonhava e madrugava...
Com o pensamento longe de tudo e de todos.
Só em você!

Com você, com a vida, com a natureza,
com as árvores, com os pássaros...
Mas sempre com você!
Como se você estivesse em tudo
que dá valor à vida.
Foi você que me fez ver a grandeza
das pequeninas coisas.

Com você, eu aprendi a Amar.
A ver, a admirar, a suportar,
a sentir, a pensar em ti, a te Amar!
Como se você fosse o meu agasalho
numa noite fria,
O meu Universo, onde eu me liberto.
Como se você fosse o meu Ser,
quando eu estou querendo me encontrar...

Como se você fosse o meu TUDO
na hora do NADA...


C.027.Ciúme - Francisco Gonçalves


O ciúme é um vulcão,
Em rubra explosão
De indômito fogo
Que a alma incendeia
Suas lavas audazes,
irrompem capazes
De pôr tudo imerso
Tal qual Pompéia...

É o cupido doente,
e é paixão ardente
Tornando a existência
Em tufões de horror!
É o nefasto ciúme,
Cintilando lume
Devastando a vida
Sinistrando o amor...


Os mais perseguidos,
E mais atingidos
Da sanha ferina
Do monstro cruel;
São os bem amados
E os recém casados
Na ânsia dos beijos
Da lua de mel.

Quando namorados
Se vão aos bailados,
A brasa do ciúme
Começa a queimar;
Por certo à mulher
Se há outra qualquer
Fitando o rapaz
Ao vê-lo dançar.

Se já é marido
E olhar distraído
Até sem malicia
sem nada visar...
A jovem casada
De raiva enciumada
Se fecha no quarto
E se vinga em chorar.

Se o vê à janela
Fitando uma bela...
Que por mero acaso
Pela rua passa;
No lugar de beijos
Ela tem desejos
de tudo esmurrar:
E quebrar a vidraça

É só nessas fases
Que as chamas vorazes
Do fogo sinistro
Provoca explosões;
Agora os ciumentos
Já tem seus rebentos...
Fazendo esquecer
ingênuas questões.

Ao meio da vida
É chama extinguida
Apenas há brasas
Com pouco calor;
Já não há lamúrias
Atritos e fúrias,
E agora os trovões
têm pouco fragor

Depois na velhice
Aquela tolice,
Baniu-se da história
P'ra não mais voltar;
de tais leviandades
Só restam saudades...
E os velhos agora,
Sé querem rezar.

O inverno chegou
O sol se toldou,
E o tombar dos anos
Soterrou o ciúme;
Das chamas de outrora
Só restam agora,
Escombros sombrios
E cinzas sem lume...

C.026.Correspondido amor - Carlos Q. Teles


Belo é recordar

num domingo de inverno

com o sol no coração
e um envelope amarelo

esperando no portão


Carta de namorado

é a felicidade mais pura!
Prazer intenso,

emoção que dura,
certeza de ser amada
por escrito e por extenso
Paixão que treme nos olhos

( prá que gastar tanta cola? )

amor que queima nas mãos

(...grudaram todas
as folhas!),

Carta de namorado é a glória

( ai, que letra mais

horrível...)

até mesmo quando a gente

não consegue entender nada!

C.025.Caminhos da vida - René Juan Trossero


Quando cortas uma flor para ti,
começas a perdê-la...
porque murchará em tuas mãos
e não se fará semente
para outras primaveras.

Quando aprisionas um passarinho para ti,
começas a perdê-lo...
Porque não mais cantará
no bosque para ti
nem criará outros passarinhos
em seu ninho.

Quando guardas teu dinheiro
começas a perdê-lo...
porque o dinheiro não vale por si,
mas pelo o que com ele se pode fazer.

Quando não arriscas
tua liberdade para tê-la,
começas a perdê-la...
porque a liberdade que tens se comprova
quando te atiras optando e decidindo.

Quando não deixas partir o teu filho
para a vida, começas a perdê-lo...
porque nunca o verás
voltar para ti livre e maduro.

Aprende no caminho da vida
a paradoxal lição da experiência:
sempre ganhas o que deixas
e perdes o que reténs.

C.024.Cinco sentidos - Alessandra Bandeira


Olhos abertos para admirar seus acertos
Olhos cegos para seus defeitos
Olhos brilhantes ao te ver chegar
Olhos confiantes para te ajudar
Olhos apaixonados para te amar
Boca sedenta para te beijar
Boca vermelha para te conquistar
Boca gostosa para te provar
Boca sorrindo para te convencer
Boca muda para não te xingar
Mãos suaves para te alisar
Mãos fortes para te segurar
Mãos estendidas para te levantar
Mãos cheirosas para você beijar
Mãos de anjos para te acalmar
Ouvidos abertos para te ouvir
Ouvidos ansiosos para você sussurrar
Ouvidos atentos esperando a porta abrir
Ouvidos alegres ao te ouvir sorrir
Ouvidos surdos para suas falhas não escutar
Perfume de rosas para te acordar
Perfume do pecado para te seduzir
Perfume de incenso para te enfeitiçar
Perfume da aurora para te relaxar
Perfume da paixão para te amar

C.023.Coisas do amor - Rubia Rossana Koglin


E de repente, o coração da gente bate desesperado...
E não adianta querer controlar.
Porque ele não sossega...
O Amor é estranho...
Ele chega fazendo a gente sentir uma série de coisas...
Coisas que nunca sentiu antes.
Uma porção de coisas pequeninas que ninguém faria...
Se não estivesse amando!
Coisas grandes que a gente só faz porque ama muito...
Faz e não se arrepende...
Dá e não quer de volta...
Espera e não reclama.
É o Amor não dá pra explicar.
O Amor faz rir, chorar, cantar e até mesmo brigar.
Mas continua sendo a coisa mais importante...
E mais linda que pode acontecer...
Entre um homem e uma mulher!
Pois quando o Amor vem, sentimos que vale a pena Viver!
Porque viver está em tudo que é feito por Amor.
Foi a dose de Amor e emoção com que foi feito...
E ofertado pela primeira vez...
Que deixou para sempre o sabor das coisas mais lindas...
Que o coração pode sentir!
Por isso e com estas palavras digo:
Ti Amo!!!

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

S.115.Sina de amor - Marici/Marcial


Amor... se nos leva à loucura,
é o que à vida traz ternura...
Amor... suprema realização,
que revitaliza o coração...
Amor... faz com que nossa vida
valha a pena ser vivida...
(Marcial)

Amor...Amor!!!
Doce loucura, doce emoção.
Numa realização completa.
Damos vida e vigor ao coração
Num louco amor que muito
O viver sabemos.
(Marici)

Esse amor vamos vivendo,
muito bem nos entendendo...
Sentimos a força do amor,
e o vivemos com ardor...
Esse amor que nos domina,
mostrando ser ela a nossa sina...
(Marcial)

Nos domina com arte
Numa sensualidade transcendental
Traz calor a nossa vida
Nesta nossa sina
Que abraçamos com fervor.
(Marici)

S.114.Seiva do amor - Marici/Marcial


Seiva da vida,
Seiva do amor,
Que rega e aquece
Meu corpo que estremece
(marici)

Nosso jardim interior,
todo feito de carinho e amor...
sempre com a seiva regada...
(Marcial)

Vem gostoso,
num querer e sentir
molhando a relva
de nosso jardim
(marici)

Nesse toque virtual,
tudo se tem...
a imaginação sobrevive,
e o prazer vem...
(Marcial)

O sentir é quase real,
Perfeito, num louco tesão
Onde amamos, nos tocamos
Num gozo final.
Explosão e saciedade
(Marici)

Se assim sentidos,
transcendem do virtual...
chegando ao corpo real...
com todas as sensações,
com todas as emoções.
(Marcial)
O sentir é verdadeiro
Arrepios e gemidos
escapam, neste maravilhoso
Prazer virtual,
Ou será Real?
(Marici)

prazeres assim sentidos...
prazeres virtuais... quase reais...
são prazeres verdadeiros,
sentidos por inteiro...
(Marcial)

o saborear foi intenso,
num louco tesão,
quase a desfalecer,
em teus braços,
languidamente me abandono,
num prazer saciado
(marici)

S.113.Sonhar, sonhar - Marici Bross


Sonhar... sonhar este lindo sonho
Sonhar que nos amamos
Chegar a realidade deste sonho!!

Uma doce realidade
Onde nos encontramos
E nos amamos
Onde temos a real felicidade
Do beijo amado

Sonhar...Sonhar
Como é bom!!!
É o despertar da vida
A consumação deste delicioso amar!

S.112.Sempre saudade - Marici Bross


Saudades da saudades
Daquele beijo amado
Saudades deste tempo
Há tão pouco vivido
Saudades deste amor
Que vivemos
Saudades de teu beijar
Saudades do teu amor
Saudades de um tempo bom.
Onde o amor teve seu lugar

S.111.Saber te amar - Marici Bross


Saber amar, meu querido
É a arte tão bem executada
Por amantes e amados

Saber amar é aceitar
Momentos bons e maus
É ter a palavra certa
Para a hora certa

É saber acarinhar
Com equilíbrio
Sem sufocar
É amar e viver este amor

Sempre, numa total doação
Num querer real
Que aquece e alimenta a alma

Saber amar, meu querido
É entender e querer
Enfim, saber amar
É o que fazemos

Neste nosso amor
Que tão lindo, é
Tão desejado
Tão leal e único.

S.110.Sonhos e loucuras - Maria Thereza Neves



sonhos e loucuras
na toca obscura
riscos nas sombras de boca com boca
corpos ondulam
instintos cheios de sabor
amor
sonhos e loucuras
na toca obscura
um gozo abismo
de carnes que gemem
enroscando como serpentes
inferno ou paraiso
perfume e melodia
amor
sonhos e loucuras
na toca obscura
em chamas
abrindo como flor
todas as portas, janelas
cortinas do amor

S.109.Sonhar um segundo apenas - Maria Thereza Neves


sonhar um segundo apenas
descobrir caminhos
encontrar escadas
atingir estrelas
caminhar breves espaços tempo
voláteis instantes
eternidade
segundos apenas
no compasso do olhar
do sentir
do ser
estar
?
sonhar um segundo apenas

S.108.Sol de verão - Maria Thereza Neves


o amanhecer me traz você
me traz o sol de verão
refletindo no mar aberto
elevando, mergulhando em ondas
que acalmam, agitam
movem espelho d'águas
surgindo, ocultando-se
raios de fulgor
gerando vida
curvas em contrastes
sombras na areia
sorrindo todo o verão
num amanhecer vermelho
que vem e vai
como tufão
aquecendo uma paixão

S.107.Silêncio da palavra - Maria Thereza Neves



Pe da ços
que ficam do silêncio da palavra
en-tre-la-çam
como se fossem únicos.

Teias escolhidas num absoluto do nada.

F l u

t u

a m

entre as asas do sonho
no olhar opaco da impenetrabilidade do ser

r u m o aos sentidos.

Invisibilidade que ilumina
em algum espaço.

S.106.Sempre sorriso - Maria Thereza Neves


quero sorrir com a boca rasgada
a alma lavada
agasalhar o amor
enxugar a lágrima
reflorescer alegria


quero um sorriso vibrante
com ecos em gargalhadas
derretendo nostalgias
esculpindo, dançando fantasias
marcando todas as esquinas

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Crônica.S.007.Simplesmente vida - Paulo Roberto Gaefke



Quando você acreditar que é o fim de tudo, quando não te restar mais esperanças. Quando você aceitar a derrota e não souber por onde começar, quando todos te disserem que é o fim, que você acabou. Quando as portas se fecharem na sua cara, quando os amigos sumirem. Quando o amor partir e deixar um rombo no seu coração, quando as dívidas forem maiores que a sua capacidade de pagar. Quando te faltar chão, o ar sumir, a vista escurecer, quando o medo for mais forte que a razão. Quando tudo for apenas uma saudade, lembre-se da vida, lembre-se dos milagres que acontecem a cada dia, a força do sol com seu esplendor, o Christopher Reeve na cadeira de rodas mexendo um dedo, a força da chuva trazendo vida às sementes. O Lars Grael recomeçando com uma perna só, A beleza das flores que se abrem para o dia, a luta do Gerson Brener para falar, a sensibilidade do canto dos pássaros, a resistência de Mandella nos quase 30 anos de prisão. Pense no equilíbrio dos mares, na reconstrução e na emoção do Herbert Viana, pense na grandeza das florestas, e por fim, pense em Jesus, que até no último suspiro lembrou-se de você e pediu: -Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem. Recomece a cada segundo, a cada minuto reconstrói os teus pensamentos, dirige-os para a luz, pois é assim que se constrói a verdadeira felicidade.

Crônica.S.006.Sou uma pessoa comum - Gabi Rian


Simples e humilde... Fui criada com princípios morais comuns. Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões e nossa única preocupação em relação à segurança era a de que os "lanterninhas" dos cinemas nos expulsassem devido às batidas com os pés no chão quando uma determinada música era tocada no início dos filmes, nas matinês de domingo. Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos, e/ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder deseducadamente a policiais, mestres, aos mais idosos, autoridades. Confiávamos nos adultos porque todos eram pais/mães de todas as crianças da rua, do bairro, da cidade. Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror. Ouvindo hoje o Jornal da noite, deu-me uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo o que meu filho precisa temer. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos. Matar os pais, os avós, violentar crianças, seqüestrar jovens, roubar, enganar, passar a perna, tudo virou banalidades de notícias policiais, esquecidas após o primeiro intervalo comercial. Agentes de trânsito multando infratores são exploradores, funcionários de indústrias de multas. Policiais em blitz são abuso de autoridade. Regalias em presídios são matéria votada em reuniões. Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos. Não levar vantagem é ser otário. Pagar dívidas em dia é bancar o bobo, anistia para os caloteiros de plantão. Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos. O que aconteceu conosco? Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas portas e janelas. Crianças morrendo de fome, gente com fome de morte. Que valores são esses? Carros que valem mais que abraço, filhos querendo-os como brindes por passar de ano. Celulares nas mochilas dos que recém largaram as fraldas. TV, DVD, telefone, vídeo game, o que vai querer em troca desse abraço, meu filho? Mais vale um Armani do que um diploma. Mais vale um telão do que um papo. Mais vale um baseado do que um sorvete. Mais vale dois vinténs do que um gosto. Que lares são esses? Bom dia, boa noite, até mais. Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente uma droga. O que é aquilo? Uma árvore, uma galinha, uma estrela. Quando foi que tudo sumiu ou virou ridículo?
Quando foi que senti amor pela última vez? Quando foi que esqueci o nome do meu vizinho? Quando foi que olhei nos olhos de quem me pede roupa, comida, calçado sem sentir medo? Quando foi que fechei a janela do meu carro? Quando foi que me fechei? Quero de volta a minha dignidade, a minha paz e o lugar onde o bem e o mal são contrários, onde o mocinho luta com o bandido e o único medo é de quem infringe, de quem rouba e mata. Quero de volta a lei e a ordem. Quero liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para tocar as flores. Quero sentar na calçada, e minha porta aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olho no olho. Quero a vergonha, a solidariedade e a certeza do futuro. Quero a esperança, a alegria. Eu quero ser gente e não peça de um jogo manipulado por TV a cabo. Eu quero a notícia boa, a descoberta da vacina, a plantação do arroz. Eu quero ver os colonos na terra, as crianças no colégio, os jovens divertindo-se, os velhinhos contando histórias. Eu quero um emprego decente, um salário condizente, uma oportunidade a mais. Uma casa para todos, comida na mesa, saúde a mil. Quero livros e cachorros e sapatos e água limpa. Não quero listas de animais em extinção. Não quero clone de gente, quero cópia das letras de música. Eu quero voltar a ser feliz! Quero dizer basta a esta inversão de valores e ideais. Quero mandar calar a boca de quem diz "a nível de", "neste país", "enquanto pessoa", "eles tem que", "é preciso que". Quero xingar quem joga lixo na rua, quem fura a fila, quem rouba um lápis, quem ultrapassa a faixa, quem não usa cinto, quem não paga as suas contas, quem não dignifica meu voto. Quero rir de quem acha que precisa de silicone, lipoaspiração, implante, dieta, cirurgia plástica, carro zero e quem sabe até um importadonho, laptop, bolsa XYZ, calça ZYX para se sentir inserido no contexto ou ser "normal". Abaixo a ditadura do "tem que", as receitas de bolo para viver melhor, as técnicas para pensar, falar, sentir! Abaixo o especialista, o sabe-tudo rodeado de microfones e câmeras! Abaixo o "TER", viva o "SER"! E viva o retorno da verdadeira vida, simples como uma gota de chuva, limpa como um céu de abril, leve como a brisa da manhã! E definitivamente comum, como eu,
ADORO MEU MUNDO SIMPLES, COMUM E HUMILDE

Crônica.S.005.Sonho e realidade - Edna Feitosa


Um dia sonhei ser Uma grande pianista. Meus dedos ágeis deslizaram no teclado e interpretei Chopin, Vivaldi,, Mozart, Liszt, Bethoven, e tantos mestres mais... Vivaldi,, Mozart, Liszt, Bethoven, Depois os dedos criaram firmeza, perderam a leveza e aprendi a segurar, com destreza, o colorido giz... Aprendi, por necessidade e prazer a interpretar Piaget, Montessori... Perrenout, Morin, Nóvoa, Freire, Hernández e tantos outros mestres mais... ...Por ainda acreditar nos sonhos, vesti-me com tules e organzas e fui a mais linda bailarina. Ponta dos pés , com os mais lindos colos... “Lago dos cisnes”, "Copéllia", "Sílvia" "Dom Quixote","Quebra - nozes" "Movimento Pop... Nos pés de Mirella, Ana Nelita... Edna... Pés sem colos, firmes no chão. De volta à realidade... Dedicação exclusiva ao trabalho, Amor incondicional às diferentes criaturas com as quais tive a alegria de uma convivência de muita troca, e muito amor...
" Enfim descobri que havia sonhos possíveis e busquei tintas, pincéis, arte com imagens na tela do computador, na lousa, nas telas... e descobri Michelângelo,Volpi, Renoir, Norma,""Mestre Mozart"", Odete, Flora, Marici, Raimundo, Teca, Alina, Karin, Maria Helena, Teca, Lili, Dani, Dirce, Tida, Kondor, Conchita, Angela... Edna... A necessidade de expressar sentimentos trouxe também o desejo de poetar... Os antigos escritos foram revistos. Os novos surgiram. Poemas, rimas, prosas, crônicas: Vinícius, Drummond, Thiago, Zetti, Jeff, Raimundo, Cecília Meireles, Tonho, Cris Cervo, Serena, André, Sílvia, Silvana, Lorenzo, Patrícia, Aloizio, Ana, Aldo, Ceminha, Vera, Soninha, Sara, Karl, Lenine, Leyla, Tenine, Taís, Benno, José Ildon, Odete, Nanda, Lili, Olga, Plínio, Ri, Tininha, Wilson,Carlos, Bene, Rose, Ce1so, Gilmar, James, Graça, Ivo, Thais, Tayane, José Vitor, Bel, José Carlos, Rosy, Iracema, Pri, Efi, Roberto, Lígia, Lara, Nelim, Diógenes, Moacir, Neide, Gerson, Kátia, Neyde, Bete, Carlos, Dalva, Elaine, Isa, Flor, Vera, Li, Lala, Lira, Eliane, Theca, Chico Prado, Hàmlid, Patrícia, Irlei, Eire, Lis, Margaret, Marcial, Van, Wall, Luciana, Zilda... Edna ... Um mundo novo se abriu. E veio o teclado... não do sonhado piano, mas permitindo também compor diferentes sons... trazendo o ritmo aos dedos... num bailado com rimas, enredos e tantos mestres... tornando assim, minha realidade um doce sonho e meu sonho uma possível realidade! "

Crônica.S.004.Sucesso - Nizan Guanaes


"Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, estou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos. Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo o coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. A propósito disso, lembro-me de uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". E ela responde: "Eu também não, meu filho". Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar, tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna. Meu segundo conselho: Pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega a viver como Homem. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia:"seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito"

É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e, caminhar sempre com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não use Hider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia! Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios. O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta, enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho. Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso.'

Crônica.S.003.Sim - Carolin@


""" Quero que seja meu destino.... Nunca pensei que pudesse desejar tanto esse desfecho! Quando já estava convencida de não abrir a porta para mais ninguém entrar... nem o coração para ninguém mais morar, descubro que você existe, que me quer tanto, que pensa em mim e me deseja... São coisas que me surpreendem porque de repente vejo meu universo povoado por alguém que galgou minhas barreiras, aquelas, imensas e camufladas; Derrubou meus muros, estilhaçou minhas vidraças... E como água de enchente, devagar e sorrateira, alagando meus porões, está afogando meus medos, como se o naufrágio de minhas falsas defesas cedesse lugar à inundação de sentimentos e emoções antes supostamente soterrados por marés bravas..... Você é responsável por isso... e principalmente por me devolver a noção de quanto estou e quero permanecer viva, apesar de já ter naufragado... Você há de me perguntar: ""Eu???? Mas se nem nos conhecemos!!!!"" E lhe respondo: ""Quanta gente você conhece e que nem sabe quem é???"" Realmente, essas coisas, a ""cabeça"" não explica. E agora, fazer o que? Soltar as amarras, içar velas, levantar âncoras... ajustar os aparelhos... com destino a nós!!!!! E ainda que atrapalhados, (afinal você também deve estar às voltas com essa viagem inesperada)... Ainda assim, teremos asas para nadar, pés pra voar... e caminhar, caminhar, até chegar !! "" "

S.105.Sementes no seu jardim - Maria Thereza Neves


... quantas sementes joguei!
... quantos grãos plantei!
... no Seu jardim!

Plantei rosas sorrindo
Violetas tristes
Flores abrindo alegria
... semeando Paz
colorindo harmonia
em plena sintonia.
Quantas sementes plantei no seu jardim?!

Você não cuidou
não regou
pisou
destruiu o mEu jardim!

S.104.Saudade do amor querido - Marcial Salaverry


Saudade, tenho daquele beijo,
cheio de amor e desejo...
Saudade, tenho daquela abraço,
inesquecível amasso...
Saudade, tenho daquele amor,
completo e cheio de calor...
Saudade, tenho de estar contigo junto,
fazendo amor em conjunto...
Saudade, tenho de te ouvir falar,
dizendo muito me amar...
Saudade, tenho de sentir-te perto,
quando me deito... quando me desperto...
Saudade, tenho de ter-te ao meu lado,
recebendo meu carinho apaixonado...
Saudade, tenho... de sentir saudade,
de viver essa felicidade...
Felicidade de saber que me amas,
e que minha presença reclamas...
Felicidade, de saber que te amo,
e que por teu nome, sempre chamo...

S.103.Saber amar - Marcial Salaverry


Saber amar, minha querida,
é saber suportar ausências,
é tolerar distâncias quando
inevitáveis são...
É saber tolerar a presença ,
mesmo quando não se está bem..
é saber entender um mau humor,
e saber desfrutar o amor...
É entender um capricho...
um dengo..
bem molengo...
sem deixar rabicho...
É gostar de uma flor,
quando dela ganhar...
é saber amar... acarinhar...
é nunca emburrar...
Saber amar é a distância aceitar...
é continuar a amar... se longe estiver
é a presença desejar...
e sorrir quando perto estiver...
saber amar é compartilhar
o que de bom e de mau acontecer
saber amar... é saber viver...
é nunca deixar morrer...
a linda chama do amor...
é mantê-la acesa, seja como for...

S.102.Soneto para um grande amor - Lupércio Mundim


Se olho para uma nuvem
lá vejo teu rosto estampado,
quando vou me deitar cansado
a lembrança do teu beijo vem...

Ah... meu amor, como te adoro,
como sua distância magoa meu coração,
que nos aproximem peço a Deus em oração,
pois como viver sem teu amor eu ignoro...

Da forma como estou encantado,
nem preciso mais em você gamar,
para não querer mais sair do seu lado...

Então uma nova vida vamos tramar,
para vivermos nosso desejo mais sonhado,
para que possamos para sempre nos amar...

S.101.Soneto da paixão - Lupércio Mundim


Vendo seus cabelos com o sol a banha-los
creio que seria deusa da beleza se quisesse,
neles uma rosa eu colocaria se pudesse
e passaria toda a minha vida a acarinha-los...

Seus olhos verdes e sempre brilhantes
me fascinam e fico ainda mais apaixonado,
adoro quando estão bem de perto me iluminando
por certo nunca vi olhos assim tão lindos antes...

Meus simples versos são tão tolos e pobres
que não conseguem descrever todo seu encanto,
para isto precisariam conter as rimas mais nobres...

Não pense que tudo está perdido, entretanto,
minhas atitudes são firmes como as piores febres,
eu te amo e você jamais poderá imaginar o tanto...

sábado, 29 de setembro de 2018

S.100.Soneto da dor - Lupércio Mundim


Queria tanto te amar
que me joguei por inteiro,
mas você brincou primeiro
para depois me fazer chorar.

Ai, mais uma desilusão,
não quero mais amores,
pois trazem tantas dores
que prefiro a solidão.

Vou levar uma vida calma,
sem sofrer de amor jamais,
quero apenas cuidar da alma.

No meu peito não cabe mais
a esperança que a dor acalma
pois, saiba, já sofri demais.

S.099.Silêncio - Lupércio Mundim


Você tão perto de mim,
vestindo um minúsculo short
me deixa tonto, me enlouquece,
quase me faz perder o juízo.

Sinto sua forte respiração,
seus seios arfando, que tesão,
cada um suplicando em silêncio
que o outro o deseje com ardor.

Afinal me descontrolo e ataco,
com violência te puxo pra mim,
você logo tenta reagir, dizer não,
era tarde, seu sorriso já dizia sim.

Com um beijo perdemos a timidez
e nossos corpos enfim encontram-se,
lentamente fomos nos despindo e acariciando
e nos amamos como se o mundo fosse acabar.

S.098.Sexta feira - Luércio Mundim


Hoje, com certeza, vou sair
e como um louco me divertir,
beber, conversar, sorrir,
até a hora do sol surgir.

Hoje também vou querer
amar uma linda mulher
e ao lado dela esquecer
todo o meu íntimo sofrer.

Hoje terei a sensação
de que existe a ilusão,
minha vida é um louco tesão
e é feliz meu dolorido coração.

S.097.Se voce sorrisse - Lupércio Mundim


O sol aqueceria os corações,
o luar faria com que o mal partisse,
as estrelas atenderiam as orações,
tudo isto apenas se você sorrisse...

Uma suave brisa as tardes refrescaria,
a chuva não incomodaria, por mais que caísse,
uma pequena flor os dias perfumaria,
tudo isto apenas se você sorrisse...

Os caminhos seriam cobertos de flores,
tudo melhoraria até que a dor partisse,
no mundo realizariam-se todos os amores,
tudo isto apenas se você sorrisse...

Mas se ao invés de sorrir você chorasse,
a sombra avançaria até que o mundo cobrisse,
a solidão viria sem que a procurasse,
e tudo se normalizaria apenas se você sorrisse...

S.096.Sabor de Hortelã - Lupércio Mundim



Passeávamos de mãos dadas
na bela praça daquela cidade,
enquanto não chegava a hora
do almoço na casa onde estávamos.

A fome já nos atormentava
porque tínhamos saído bem cedo
para viajar, sem tomar nem o café
e já passavam das quatorze horas.

De repente enfiei a mão no bolso
e encontrei uma bala de hortelã,
era apenas uma e resolvemos
não dividi-la e chupa-la juntos.

Começamos a passar a balinha
de boca a boca com as línguas,
com gostosos beijos nos intervalos
e nos esquecemos da maldita fome...

S.095.Sonho Bordado - Lucelena Maia


Começo o dia
Expulsando demônios,
Libertando anjos
Ajoelhando-me a meditar
Depois sento para bordar.
Desenrolo novelos
Brinco com os dedos
Entrelaço fios
Bordo pensamentos
Um pedaço de chão
O luar
A estrada
O portão
A poeira
O carro
A fumaça da chaminé
A mesa posta,
O café
Longe, muito longe ouço a buzina,
Na tela vou colocando sonhos,
Você entra apressado,
Um sorriso, último fio na agulha
Ganho beijos e abraços,
Finalizo o quarto
Cama e dois corpos suados.
Somos dois seres ouriçados,
Personagens reais
Do meu sonho bordado.

S.094.Sinto-me assim - Lucelena Maia


...Às vezes criança pequena querendo colo,

Outra hora, adolescente rebelde caminhando sozinha
Rejeitando o espelho por estar cheia de espinha.

Na maioria das vezes adulta,
Sem beijos nem abraços,
Sem a rebeldia que me protege

Descubro que em todas as fases
Estou assustada a procura daquela mulher
Que me habita,

Que é forte, decidida
Mas jamais
Consigo encarar.

S.093.Súplica às chuvaradas - Clevane Pessoa de Araújo Lopes


O que é, o que
aquela que cai em pé
e corre deitada,

pergunta-se na popular
adivinhação.

Das nuvens prenhes,
entrechocando-se,
caem cortinas
de águas.

Às vezes, em chuvinha fina,
às vezes, num temporal...
São Pedro abre as comportas
do céu.

A Terra abre milhares
de famintas bocas
para engolir
o presente.

Sob elas, as sementes
incham, no ciclo
vital,
prestes a brotar.

As plantas têm todos os verdes
lavados, folhas a brilhar
a respirar
sem o pó do ar.

Toda a natureza agradece
- mas por favor,
sem excessos
tudo que é demais
provoca estragos,
doenças e podridão...
Não transformem tanto Bem
em tanto Mal!...

S.092.Sou andarilho - Celito Medeiros


Nós dois
Tu e eu
Pouco sei
Tu, o saber!
Andamos juntos
Mas te procuro.
Sê a luz
De brilho intenso
Que como o incenso
Invada por inteiro.
Vem como capa
Que da chuva abrigue
Este andarilho
Na grande procura.
Não fujas
Nos momentos
Em que mais preciso
De tua ajuda.
Não permitas que eu me perca
Em todo este embaraço
Que a vida me mostra.
Sim, eu te busco
Procurei pelo tempo
Vaguei como o vento
Que toca
E se espalha.
Não te vejo
Te sinto
Orgulhoso fico
Pois é um rico
Quem te encontra
E logo te usa!

domingo, 16 de setembro de 2018

S.091.Só pendando naquilo - Celito Medeiros


Dinheiro!
Desgraçado
Abençoado
Amaldiçoado
Te quero
Te gosto
Te espero
Te desejo
Não preciso...
(Sou mentiroso)
Não traz felicidade...
(Se for pouco!)
Não adianta!
(Já disse que minto)
Bastante!
(Na hora certa)
Toda hora!
Vem!!!

Vai trabalhar!...
(Nossa!)
Viste?
{Adoro ser pobre...(já disse que minto!)}

domingo, 19 de agosto de 2018

S.090.Só mostro o que gosto - Celito Medeiros



É muito estranho
Dizem que sou forte
Não é assim que me vejo.
Me esparramo
Me atrapalho
E ainda choro!
Ah, me diga o que fazer...
Ora, não sei
Faça...
Pensam que não erro
Que sempre decido
Acerto!
Mas não é assim
Estou sempre caindo
Me aprumo
Resvalo
Até caio!
Ah, com você não acontece
Tu tem talento
É isso...
Não, não é verdade
Ainda procuro
Não dizer
O que de fato
Escondo.
É que não mostro
É só
É só isto!?...

S.089.Silenciosa mata - Celito Medeiros


Árvores mudas
Planta
Transplanta
Mata difusa.
Acolhe o ninho
Recolhe
Abriga
O pássaro que habita.
Dá o pasto
A comida
Sustenta
O animal que dormita.
Eu te olho
Admiro
Contemplo
Às vezes te invejo!

S.088.Ser um passarinho - Celito Medeiros


Não ser prisioneiro
Sair por inteiro
Da jaula que prende.
Faça tudo de novo
Marque o momento
Pois o belo tempo
Tem tempo ainda.
Não agir é dureza
Quando a pobreza
Insiste em ficar.
Ouça o tom do poeta
A lua que enfeita
A noite só sua.
Olhe da montanha
Ao rio caudaloso
E seja zeloso
Por tudo o que faça.
Desdobre o tino
E feito um menino
Sinta o vento.
Veja o encanto
De ser simplesmente
Diferente dos outros.
Não seja igual
Encontre o rival
Em seu próprio ninho
Aí o passarinho já pode voar!

S.087.Sempre contigo - Celito Medeiros


Vem amor da minha vida
Não deixes só este poeta

Vem ficar para sempre
O amor está todo guardado

Não fui tolo, te esperei
Agora já estás pronta

Não importa o passado
Não é ele que eu quero

Não, não te culpes
É assim mesmo

Vem chorona!
Tenho muitos lenços!...

S.086.Sem luxo - Celito Medeiros


Não tenho luxo
para a vida
o luxo
é ser bem vivida.
Imprimo o passo
Mesmo que lento
Sem fuga
Sem tormento.
Balanço, me afirmo
Tão logo o sonho
Desabrocha.
Que fiz eu que nada fiz?
Apenas usei o giz
Para escrever minha história.
Se errei, tive coragem
Se não venci,
Ainda venço.
Procuro saber onde está
O leme – a guarida
Se existe batalha
Está por ser vencida.
Não sou um perdedor
Apenas aposto.
Apóstolo da vida
Vivida – dividida.
Contudo ainda passo
E a vida passa
Mas continuo
Com vida!

S.085.Se fala, escuto - Celito Medeiros


A decência
Da eminência
Não chega.
Bato à porta
Nem mesmo
Escuta.
Por que se cala?

O poema
Do poeta
Emperra.

Tenho ouvido tanto
Falas que se vão ao vento
E nada consta
Nada fica
Por que espero tanto?

A voz
É viva
Ouço!

S.084.São coisas - Celito Medeiros



Não clamo pela tragédia
Que invade os tempos.
Não canto o sofrimento
Que atropela o incauto.
Não me apego a turbulências
Que mudam o rumo.
Gosto da aventura
Que traz o novo.
Gosto da proeza
Que sacode o trapo.
Gosto da ousadia
Que muda o velho.
Vivo esperando a mudança
Que virá sem grande alarde.
Vivo de olho na liberdade
Que aprisiona a alma.
Vivo confiante
Nos amigos da humanidade.
Quero voltar aos velhos tempos
Ter novamente os atributos!
Da maneira que fui criado.

S.083.Saindo de licença - Celito Medeiros


Um indigesto manifesto
No temporário tempo
Que abrigou no abrigo
Tal o vento na ventania.
Assim ousar com ousadia
Na fiel fidelidade
Do coração à coragem
Morar na moradia
Um desatino destino
Tingiu a tinta
Borrou a borracha
Como o divino vinho.
Então criou a criatura
Acompanhou a companheira
Da vida vivida
Pelo temido temor.
Liberdade para ser livre
Custou a custódia.
Memorizou na memória
Licenciou a lição.
Aprendeu
Mudou
Saiu
Com licença!

terça-feira, 14 de agosto de 2018

S.082.Sabia que eu te amo - Lisiê Silva



Sim, Meu Amor, EU TE AMO!
Te amo sempre que o sol nasce e traz consigo todo o esplendor da vida!
Te amo sempre que o sol se põe e a noite chega trazendo luzes e estrelas.
Te amo em todos os momentos de minha existência!
Te amo quando estou contigo e quando estou sozinha.
Te amo quando estou alegre e quando estou pensativa.
Você é minha razão e minha emoção.
Minha estrela-guia.
Sem você, meu amor, eu não saberia viver.
Beijos com sabor de paixão.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

S.081.Serei sempre tua - Lisiê Silva


Assim como o sol é sempre da lua,
e as nuvens são sempre do céu...
e para você eu quero viver,
Sabendo que o tempo logo passa,
e com a vida tudo se vai,
Sabendo que talvez não exista o amanhã...
e que hoje seguiremos em frente...
vamos vivendo...sentindo...amando...
Como ninguém jamais amou.

Serei sempre tua...
Porque eu quero entrar no teu "eu",
e fazer de você um poeta.
que saiba que tudo na vida,
só depende de uma outra vida,
que sempre estará ao teu lado.
Trazendo para você os melhores momentos
e tudo que eu possa te dar.
seguiremos o mesmo caminho...
não conhecendo a solidão,
eu saberei como te AMAR...
Serei Sempre Tua...

segunda-feira, 30 de julho de 2018

S.080.Se houver amanha - Melliss


Quisera poder prometer a mim mesma
um amanhecer colhido na luz do teu olhar,
orvalhado de emoções vividas
nas secretas madrugadas dos nossos sonhos,
tecido nas carícias que trocamos ...
Porém,
o tempo escoa como areia
entre meus dedos aflitos,
e eu me apego aos momentos preciosos,
que passam velozes,
sempre ansiando pela hora de voltar ...
Quisera prometer a mim mesma
a coragem de não desistir jamais,
de acreditar que o nosso amor será
o entardecer das nossas emoções
no coração enfeitado de luar ...
Porém,
quando a tua voz me falta
e o silencio borda as interrogações
que me atormentam,
eu sinto estremecerem meus castelos
e a escuridão apaga as chamas
acesas pela paz ...
Quisera prometer a mim mesma
um sorriso nascido da lembrança
dos teus beijos,
uma alegria irreverente, que ignorasse os
meus medos,
uma força maior que a minha frágil alma,
uma visão capaz de sempre te encontrar ...
Mas...
quando eu procuro por ti inutilmente,
quando o meu amor reclama o amor que tu me dás ,
ah!,
não há promessas que a saudade sustente
nem
há lugar que seja realmente meu,
se não estás...

S.079.Se eu pudesse - Mahatma Gandhi


Se eu pudesse deixar

algum presente a você,

deixaria aceso o sentimento

de amar a vida

dos seres humanos.

A consciência de aprender

tudo o que foi ensinado

pelo tempo a fora.

Lembraria os erros

que foram cometidos

para que não

mais se repetissem.

A capacidade de escolher

novos rumos.

Deixaria para você

se pudesse
o respeito àquilo
que é indispensável:
Além do pão
o trabalho.
Além do trabalho,
a ação.
E,quando tudo mais faltasse,
um segredo:
O de buscar no interior
de si mesmo a resposta
e a força para encontrar
a saída.

S.078.Sereia - Alessandra Bandeira


Velejando barco a vela
Lampião, luz de velas
Iluminam a escuridão
Do mar, imensidão.
O vento assovia,
O frio arrepia...
Até que uma voz
Flecha o pescador, veloz
Domina-o,
Assassina a solidão,
Enfeitiça o coração
Chama por ele, chama...
Acende a chama da paixão.
Canta, clama por ele,
Diz que me ama!
Mas quem? Ele diz.
Não consigo vê-la!
O vento aumenta,
Apagam as velas...
Ele suplica, grita por mim!
Assim como o vento que assovia,
Não me vê,
Mas me senti, arrepia-se...
Fecha os olhos,
Tentando imaginar o rosto
Entre a melodia da voz...
E num ato fugaz,
O pescador entrega-se ao mar...
Foi quando sentiu meu afago
Adornou-me em meus braços
Meu beijo foi teu ar,
Deixei-o respirar !
E disse:

Deixa eu te amar ?
És meu amado!
Ele abriu os olhos,
Encantado com meu canto,
E percebendo que
Dos meus olhos saiam lágrimas
Ele pergunta: por que o pranto?
E respondo: Não podes me amar!
Pois metade de mim está na terra,
A outra está no mar,
Metade quer andar contigo pelo mundo,
E a outra quer nadar...
Metade de mim é alma,
A outra é corpo,
Alma fêmea !
Pobre pescador,
Não posso cair em sua rede,
Pois enquanto metade de mim é amor
A outra seria dor...
Não combino com seu mundo
Mesmo sendo tão profundo
O que sinto por ti.
Te quero, te amo, te venero
Mas não posso tocá-lo, desespero...
Oh, amor proibido,
Que aflora a libido!
Por que meu Deus?
Por que fazes isso comigo?
Quero ser mulher!
E o pescador me diz:
Mas tu és !
E eu sussurrei:
Não sou! Não sou mulher inteira!
Sou só metade, sou sua sereia.

S.077.Suspiros - Sandra Lopes Fernandes


Suspiro porque sonho,
a realidade não me satisfaz,
Ainda penso que um dia te encontro
perdida diante de tanta tristeza,
Mas um dia pela brisa que te traz,
Não sentirei saudades....
Nunca, nunca mais....

S.076.Súplica - Roraima A. da Costa


Ó meu querido
amor vagabundo !
Por favor,
não me deixe...
Fica comigo,
participa
do meu viver !
Sou
miseravelmente, hoje,
homem solitário
de espírito vazio,
a olhar as sombras
que vagam na imensidão
deste mundo !
Vem para mim
e seja
a luz que ilumina
a minha vida !
Te amo...

S.075.Soneto inacabado - Edna Feitosa


Sinto falta de escrever, como sinto de você
Tento pintar, não consigo e nem encontro o porquê
Diante desse silêncio, sinto o coração vadio
Me vejo assim incompleta, como um abraço vazio.

Você chegou devagar, eu estava descuidada
Desejosa de sentir-me uma mulher muito amada .
Sonhei sempre com um amor em plenitude
E perdi de vez a quietude.

Hoje, nesse lugar de sonho, já não cabe a mais bela frase de amor
É inútil tentar preencher o vazio, tentando pintar ou versejar
Nada, nem o silêncio, consolará tão imensa dor...

S.074.Soneto da surpresa - Oliveiros Litrento


Antes de eu te amar havia o nada

e o mês de abril chorava como um pranto.



Era o teu rosto à noite um doce espanto,

sortilégio sem par da namorada.




De teu sexo a noite se esvaia

e eu via o mar à luz de alguma estrela.




E as águas murmuravam e era bela

a canção de amor que eu então ouvia .




Em teus olhos de sonho uma surpresa :

a praia enluarada e os promontórios

de teus seios de brisa desvendados.




Os sinos repicavam. Indefesa

tu sonhavas despida. Migratórios

só os pássaros fugindo, deslumbrados.

S.073.Soneto do enamorado - Janaina Macedo


A alegria de ver-te embriaga-me!
Fico lépido como uma criança
A alegria de ver te enlouquece-me
Deixa-me emaranhado de esperança.

Ver-te faz meu coração loucamente sofrer
Por saber que o teu coração um dono já tem
Um olhar teu lançado a mim faz-me viver.
Deixa-me a pensar se te amar ainda convém.

Lança-me pelo menos um dos teus olhares
Apesar do sofrer, apesar dos pesares!
Quero tua tão linda face contemplar.

Dá-me uma chance, uma oportunidade...
Deixa-me mostrar que te amo de verdade
Crê-me: eu te amo, e pra sempre eu vou te amar.

S.072.Soneto da busca - Janaina Macedo


Oh, Deus do universo!
Quero encontrar-te...
Onde tu te escondeste?
Está difícil encontrar-te

Oh, Deus do universo!
Onde está neste momento?
Procuro-te sem achar-te
Sem conseguir um só alento.

Tu te escondes de mim
Ora, por favor, não ajas assim
Escuta a minha oração.

Tu te escondes de verdade
Ora, não faças esta maldade
Com esta ovelha que foge à tua mão.

S.071.Soneto da esperança - Janaina Macedo



De repente as trevas se dissipam
As trevas se esmiuçam até desaparecer
De repente a luz começa a brilhar
Uma luz que não vai arrefecer.

Esperança sai da tua toca.
Vem dar nova confiança
À minha ida que está a perecer
Então serei como uma criança.

Quero ver o mundo melhorar
Pois a esperança permite-me sonhar
Quero ver a paz acontecer

Quero ver pessoas a sorrir
Pois o amor em seus corações irá florir
Lindas rosas ao amanhecer.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

S.070.Soneto do amor maior - Vinicius de Moraes


Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

S.069.Soneto do amigo - Vinicius de Moraes


Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.


É bom sentá-lo novamente ao lado
Com os olhos que contém o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.


Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com meu próprio engano.


O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica.

S.068.Soneto do amor demais - Vinicius de Moraes



Não, já não amo mais os passarinhos
A quem triste, contei tanto segredo
Nem amo as flores despertadas cedo
Pelo vento orvalhado dos caminhos.

Não amo mais as sombras do arvoredo
Em seu suave entardecer de ninhos
Nem amo receber outros carinhos
E até de amar a vida tenho medo.

Tenho medo de amar o que de cada
Coisa que der resulte empobrecida
A paixão do que se der à coisa amada

E que não sofra por desmerecida
Aquela que me deu tudo a vida
E que de mim só quer amor - mais nada.

S.067.Saudade de voce - Vilma Galvão


Hoje ao acordar,
senti sua falta,
senti que minha vida,
já não era a mesma.
Sem você aqui,
nada pode estar por inteiro,
sempre me faltará um pedaço,
sempre me faltará o seus olhos,
vigiando o meu dia.
O seu sorriso,
refletindo o meu sorrir.
A sua calma, ninando a minha loucura.
O seu carinho,
saciando os meus desejos.
A sua presença,
completando tudo em mim.

Senti que sem você,
eu não posso ficar,
que não conseguiria seguir a vida
sem tê-lo ao meu lado.

Você entrou no meu caminho de forma tão repentina,
e em tão pouco tempo,
entrou por inteiro...
Mudando tudo,
me devolvendo um felicidade há muito tempo perdida.
Movimentando um lado meu que eu já nem percebia,
o meu lado sonhador e de sentir esperança na vida.
Você conseguiu transformar tudo,
em silêncio,
sem nada pedir,
sem avisar,
sem medo da minha recusa.
Se instalou em meu coração de uma forma serena,
e quando percebi,
já estava te amando.

Senti saudades de você ao acordar,
e esta saudade se arrastou o dia todo,
e por mais que eu tenha tentado,
você não me saiu do pensamento.

Estar te amando assim é bom demais,
não quero deixar de sentir tudo isso,
não vou mais fugir deste sentimento.
Não quero,
não posso,
não preciso fugir mais deste amor,
porque é muito bom,
porque me faz sorrir,
porque me devolve a vida a cada manhã,
porque é tudo o que eu procurei por tanto tempo...

S.066.Saudades de um amigo - Vilma Galvão


Por onde andas?
Sinto saudades dos nossos sonhos,
das nossas noites sem sono,
das nossas alegrias,
dos nossos momentos...
Por onde andas...
já perdi a noção do tempo,
de tanta saudades que sinto.
Por onde andas...
que não me dá notícias,
que me esqueceu,
que nunca mais apareceu.
Por onde andas?
será que já se esqueceu de tudo...
ou não consegue voltar... será...
Onde andas...
onde levou aquela minha alegre vida
de sorrir, de gargalhar,
e gostar muito de estar com você.
Por onde andas...
porque não traz de volta
aquela paz,
aquele encanto,
as suas palavras,
a sua sabedoria,
mas,
não se esqueça de trazer em sua bagagem,
aquela nossa linda amizade...
Onde está você?

S.065.Saudades de mim - Rose Mary Sadalla


Tenho saudades de mim mesma
Do que poderia ter sido e não fui
Dos sonhos sonhados e não vividos
Tenho pena de mim, da ausência que fui
Do presente que poderia ter sido
Vergonha transfundida em rosas
Desabrochadas em lágrimas de noturno
Orvalhadas de mágoas desiludidas
E eu, trancada em meu disfarces vazios
Deixei no silêncio o encontro de mim mesma
Na anulação do tempo de tempos idos
Ignorando todos os sonhos que poderia ter tido.
Tenho saudades de mim mesma
Saudades de remorso e de desprezo
Da minha amarga ausência em meu redor
Da permanência da perda da minha história
Do meu trágico inventário da minha memória.

S.064.Saudades de mim - Vanderli Medeiros


Saudades de mim
saudades do que fui,
do que acreditei,
do que sonhei,
do que idealizei...
Saudades da jovem
que acreditava no amor,
Da criança
que sonhava com príncipes
Da adolescente
que acordada, tecia planos,
crente que o mundo lhe pertencia
Saudades da vida ida,
das esperanças perdidas,
dos beijos não dados,
dos abraços interrompidos,
do amor inacabado,
das palavras não pronunciadas a tempo...
Que saudade de mim!
Ah! Quantas saudades tenho de mim...!

S.063.Saudade de mim - Melliss


Um dia,
sem que eu me desse conta,
olhei no espelho dos meus olhos
e não encontrei o brilho dos meus sonhos ...
Procurei nos arquivos da alma uma lembrança,
mas só achei a imagem desbotada de algum dia,
um momento perdido entre fotografias já sem cor ...
Então eu soube o que é sentir a dor que o tempo traz,
eu soube o que é olhar o calendário e não poder voltar,
chorei as luas, todas, que não vi,
as flores, muitas, que perdi,
o amanhecer que não iluminou o meu olhar ...
Caiu um temporal no coração,
encharcou minha pele, minhas mãos,
salgou meus lábios
escorreu entre o rosário de esperanças
que já não sei rezar ...
-Ah, que saudade de mim !,
saudade do tempo sem tempo,
das horas fiadas no tear dos pensamentos,
dos castelos erguidos no ar,
dos suspiros, dos sorrisos,
das estrelas colhidas nas manhãs,
do céu sem fim estendido sobre os véus do coração ...
Hoje, enquanto a vida lava a paisagem com lágrimas de chuva,
o tempo, indiferente, segue em seu eterno curso,
e eu, como flor de papel colada à vidraça da janela,
finjo que esqueci de me lembrar,
brinco de viver para não chorar ... .

S.062.Saudades - Feeling


O dia amanhece... eu acordo sem você...
A tarde chega... continuo sem você...
Anoitece... eu sem você...
A madrugada chega... onde está você?
Sinto falta da tua presença virtual...
Sinto falta da tua presença real...
Sinto falta de você ! A solidão me cerca...
Me afasta dos que me cercam...
Eu me encolho... me recolho...
E no silêncio do meu canto...
Eu me encanto...
Sentindo você!
Te vejo ao meu lado... sonho sonhado...

Ouço tua voz... falando de nós...
Escuto teu riso... alegre e preciso...
Percebo teu cheiro... gostoso... maneiro...
Sinto teu calor... acalentando minha dor...
Meus braços se estendem ... Toco o vazio...
Meu corpo estremece... mas minha alma se aquece...
Pois sei que mesmo ausente...assim tão distante...

Está sempre presente... em todos os instantes...
E esta saudade virtual...
esta saudade real me faz companhia...
preenche meu dia...
Me ajuda a esperar...
a hora de poder te encontrar...

Somos dois corpos distantes.....
Que a vida mantém afastados...
Mas nos tornamos amantes....
graças aos sonhos sonhados...
Quis o irônico destino...
Proibir que nos tocássemos...
Mas mesmo assim não pôde...
Impedir que nos amássemos...
Irônico destino...
Mantém nossos corpos distantes...
Lindo sonho sonhado...
Nos transformou em amantes...

Resposta:
Esta poesia é o mais pungente grito de amor solitário que já li.
É de uma melancólica e hedionda beleza,
que infelizmente vivi para ver.
É o tipo de poesia que se ama odiando,
porque ela reflete a tristeza e a solidão
que estamos condenados a viver.

Tenho muitas saudades dos parques
de diversões da minha infância,
armados nos terrenos baldios
dos arredores da minha casa,
das musicas do alto falante,
do algodão doce e do saquinho de pipoca,
que substituíam a fria tela do monitor
na conquista do amor da menina de saia rodada.
Desculpe-me pela melancolia do agradecimento....
Pobre dos nossos filhos....
Um beijo por ter me permitido um mergulho
no passado e uma recaída de sensibilidade e bom senso.
Espero voltar a vê-la, quem sabe de saia rodada....
e um lindo sorriso nos lábios...

S.061.Saudades - Florbela Espanca


Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

quarta-feira, 30 de maio de 2018

S.060.Saudades - Vilma Galvão


Saudades do que fui,
das coisas que costumava sonhar,
dos momentos que sorria sem medo,
das horas de silêncio e entrega;
apenas por ser inocente...
Saudades da espera do natal,
dos presentes nos pés da árvore.
Saudades que teima em permanecer,
doer e me transportar de novo
para aquela rodinha de crianças
a gargalhar, sem nada preocupar...
Saudade as vezes gostosa,
as vezes dolorida...
Saudades de mim também
que deixei de ser,
lá naquele passado
que eu já não alcanço...

S.059.Saudade estranha - Edna Feitosa


Saudade de coisas que não vivi , mas sonhei
de coisas que nem sei se realmente são
de caminhos que não trilhei na companhia que idealizai.

Saudade de versos que não li, mas decorei
de risos soltos que experimentei
de caminhos
de ninhos
de fantasias
de nostalgias
de cores
até de dores.

Saudade que não entendi
que não menti
que se acumularam
que machucaram
que envelheceram
que amadureceram.

Saudade de pintar
brincar
cantar
abraçar
escrever
amar
dançar.

Saudade...
melhor que vazio
mais forte que tédio
mais triste que ausência
mais terna que lembranças
mais autêntica que as rimas
que se perderam
tentando explicar
o inexplicável!

S.058.Saudade de voce - José Maciel


Que palavra é esta que só existe em nosso idioma?
Que emoção é essa que nos assola,
nos arrasa, nos aniquila?

Basta tão somente nos afastarmos da pessoa
a quem dedicamos nosso amor, nosso carinho,
que começamos a sentir um arrepio, um frêmito,
um aperto no coração, um frio no estômago,
um calor no rosto, como se estivéssemos febris.

Saudade !!!
Esta é a palavra que define
todos aqueles adjetivos.
Saudade !!!
Essa é a emoção que sentimos,
porque nosso amor não está presente.
Este é o pesadelo que nos atormenta
quando estamos longe do nosso Amor.

Ah, que Saudade estou de Você

S.057.Saudade de voce - Iraima Bagni


Hoje senti uma saudade tão grande de você,
que passei o dia pensando em como te dizer isso.
Ai resolvi mandar este abraço.

Mas cuidado:
não é um abraço comum;
ele é muito apertado.
Com ele , quero demonstrar o carinho que sinto por você.

O desejo que tenho de te ver sempre feliz, sorrindo;
superando todo e qualquer problema
que por ventura possa aparecer.
Desejo que sua vida seja repleta de paz e harmonia !

Que o teu amanhecer seja sempre brindado
com a energia da Luz do Sol !
Que o teu adormecer esteja protegido pela Luz Divina !
Esse abraço é também, para te dizer :
OBRIGADO !
Obrigado por ter me dado a oportunidade de te conhecer
e por você fazer parte de minha vida!

S.056.Saudade - Inez Valeria Heberle


Linha tênue entre tristeza e alegria,
paradoxo de sentimentos.
Tristeza do amor distante,
mãos vazias, carinho, abraço, beijo,
pensamento longe,
solidão na noite fria acendendo o desejo,
corpo ardido de amor, espera.

Alegria de ter lembranças,
doces, de que houve a mão preenchida,
o carinho, o abraço estreito,
o beijo, o amor, desejo saciado,
a voz que não calou - dizer
EU TE AMO!

Benditas lembranças, bendita saudade,
linha tênue entre tristeza e alegria.

S.055.Saudade - Paulo Fuentes


Se a brisa da manhã tocar o teu rosto ...
e num gracejo fogoso
fizer teus cabelos brincar,
saiba que é um carinho meu,
que sem querer dizer adeus,
pedi ao vento para te entregar.
Se ao andar pelas matas
sentir o cheiro da vida,
de folhas secas e molhadas,
perfume de flores,
pode ser jasmim ou qualquer coisa assim,
é ainda a minha mensagem
que vai com o meu perfume,
para você jamais esquecer de mim.
Ao ouvir o barulho de água cristalina,
limpa, pura,
vai te lembrar
minhas loucuras tentando te conquistar.
Uma cachoeira encantada vai te lembrar
minha risada quando eu só existia para te amar...
E ao ouvir pássaros cantando,
em alguns galhos namorando,
recordará algumas canções
que a gente escutava baixinho,
jogados em qualquer cantinho,
deixando a canção dizer
o que havia em nossos corações.
Se uma gota de orvalho
atrevida em tua face pingar
e mais uma outra,
ainda insistente, cair,
é apenas uma lágrima
que escorregou,
é essa imensa
saudade a me consumir.
E, ao cair da tarde,
quando tudo for silêncio,
olhe para o horizonte,
escuta quando a noite chegar.
A mesma estrela vai te dizer
que, mesmo que nunca mais te encontre,
eu jamais vou te esquecer...

S.054.Saudade - Pablo Neruda


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que
nos machuca, é não ver o futuro
que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido..."

S.053.Se essa rua fosse minha - Vilma Galvão



ah! se esta rua fosse só minha...
Eu mandava colocar pedrinhas de brilhantes,
e convidaria todos os meus amigos
para passear por ela...
Se esta rua fosse minha,
convidaria você a vir dar as mãos comigo e brincar...
Convidaria você para morar aqui bem perto,
e todos os dias poderíamos trilhar a sarjetas,
pular amarelinhas,
contar quantos carros passam,
sentar e brincar de passa-anel...
Se esta rua fosse minha,
seria sua também!
Você poderia brincar o quanto quisesse,
lhe daria todos os dias um novo esconderijo
no esconde-esconde.
Lhe contaria as palavras do telefone-sem-fio.
Lembraria você os nomes de flores na brincadeira de "STOP".

Ah! Se esta rua fosse minha!
Seria de todos os amigos que por aqui passassem,
e pularíamos corda contando o "ABC"
e quando alguém errasse, saberíamos pela letra que parou,
quem seria o próximo namorado...

Como seria bom ter esta rua só para lhe oferecer,
brincar, pular, contar, inventar e sorrir...
E ao cair da noite, começaríamos a contar as estrelas que fossem nascendo,
e cada uma delas, fazermos um pedido especial...
Pediria a cada estrela,
que esta rua fosse só minha...
e eu lhe daria de presente...

Se esta rua fosse minha...

S.052.Ser mulher - Silvana Duboc


Ser mulher é viver mil vezes em apenas uma vida,
é lutar por causas perdidas e sempre sair vencedora,
é estar antes do ontem e depois do amanhã,
é desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus atos.

Ser mulher é caminhar na dúvida cheia de certezas,
é correr atrás das nuvens num dia de sol e alcançar
o sol num dia de chuva.
Ser mulher é chorar de alegria e muitas vezes sorrir com tristeza,
é cancelar sonhos em prol de terceiros, é acreditar quando
ninguém mais acredita, é esperar quando ninguém mais espera.
Ser mulher é identificar um sorriso triste e uma lágrima falsa,
é ser enganada e sempre dar mais uma chance,
é cair no fundo do poço e emergir sem ajuda.

Ser mulher é estar em mil lugares de uma só vez,
é fazer mil papeis ao mesmo tempo,
é ser forte e fingir que é frágil pra ter um carinho.
Ser mulher é se perder em palavras e depois
perceber que se encontrou nelas,
é distribuir emoções que nem sempre são captadas.
Ser mulher é comprar, emprestar, alugar,
vender sentimentos, mas jamais dever,
é construir castelos na areia, vê-los desmoronados
pelas águas e ainda assim amá-las.

Ser mulher é saber dar o perdão, é tentar recuperar o irrecuperável,
é entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.

Ser mulher é estender a mão a quem ainda não pediu,
é doar o que ainda não foi solicitado.

Ser mulher é não ter vergonha de chorar por amor,
é saber a hora certa do fim, é esperar sempre por um recomeço.

Ser mulher é ter a arrogância de viver apesar dos dissabores,
das desilusões, das traições e das decepções.

Ser mulher é ser mãe dos seus filhos e
dos filhos de outros e amá-los igualmente.

Ser mulher é ter confiança no amanhã e aceitação pelo ontem,
é desbravar caminhos difíceis em instantes
inoportunos e fincar a bandeira da conquista.

Ser mulher é entender as fases da lua por ter suas próprias fases.
É ser "nova" quando o coração está à espera do amor,
ser "crescente" quando o coração está se enchendo de amor,
ser cheia quando ele já está transbordando de
tanto amor e minguante quando esse amor vai embora.

Ser mulher é hospedar dentro de si o sentimento do perdão,
é voltar no tempo todos os dias e viver por poucos
instantes coisas que nunca ficaram esquecidas.

Ser mulher é cicatrizar feridas de outros e inúmeras
vezes deixar as suas próprias feridas sangrando.

Ser mulher é ser princesa aos 20, rainha aos 30,
imperatriz aos 40 e especial a vida toda.

Ser mulher é conseguir encontrar uma flor no deserto,
água na seca e labaredas no mar.

Ser mulher é chorar calada as dores do mundo
e em apenas um segundo já estar sorrindo.

Ser mulher é subir degraus e se os tiver
que descer não precisar de ajuda,
é tropeçar, cair e voltar a andar.
Ser mulher é saber ser super-homem quando o sol nasce
e virar cinderela quando a noite chega.

Ser mulher é ter sido escolhida por Deus
para colocar no mundo os homens.
Ser mulher é acima de tudo um estado de espírito,
é uma dádiva, é ter dentro de si um tesouro escondido
e ainda assim dividí-lo com o mundo!

S.051.SUPÉRFULO E NECESSÁRIO - CHICO XAVIER



Uns queriam um emprego melhor; outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta; outros, só uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena; outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos; outros, ter pais.
Uns queriam ter olhos claros; outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita; outros, falar.
Uns queriam silêncio; outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo; outros, ter pés.
Uns queriam um carro; outros, andar.
Uns queriam o supérfluo; outros, apenas o necessário.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Crônica.O.008.O destino de cada um - Vilma Galvão



Passamos por momentos
de plena felicidade em nossa vida.
Momentos estes que nos marcam
de uma forma surpreendente.
Nos transformam, nos comovem,
nos ensinam e muitas vezes,
nos machucam profundamente.

As pessoas que entram em nossa vida,
sempre entram por alguma razão,
algum propósito.
Elas nos encontram ou nós as encontramos
meio que sem querer, não há programação da hora
em que encontraremos estas pessoas.

Assim, tudo o que podemos pensar
é que existe um destino,
em que cada um encontra aquilo
que é importante para si mesmo.
Ainda que a pessoa que entrou em nossa vida,
aparentemente, não nos ofereça nada,
mas ela não entrou por acaso,
não está passando por nós apenas por passar.
O universo inteiro conspira
para que as pessoas se encontrem
e resgatem algo com as outras.

Discutir o que cada um nos trará,
não nos mostrará nada,
e ainda nos fará perder tempo demais
desperdiçando a oportunidade
de conhecer a alma dessas pessoas.
Conhecer a alma,
significa conhecer o que as pessoas sentem
o que elas realmente desejam de nós,
ou o que elas buscam no mundo,
pois só assim é que poderemos
tê-las por inteira em nossa vida.

A amizade é algo que importa muito
na vida do ser humano.
Sem esse vínculo nós não teremos harmonia e nem paz.
Precisamos de amigos para nos ensinar,
compartilhar, nos conduzir nos alegrar
e também para cumprirmos nossa maior missão na terra:
Amar ao seu próximo como ama a si mesmo
E para que isso aconteça,
é preciso nos aceitar em primeiro lugar,
e depois olharmos para o próximo
e enxergarmos o nosso reflexo.

Estas pessoas entram na nossa vida,
às vezes de maneira tão estranha,
que nos intrigam até.
Mas cada uma delas é especial,
mesmo que o momento seja breve,
com certeza elas deixarão alguma coisa para nós.

Observe a sua vida,
comece a recordar todas as pessoas
que já passaram por você,
e o que cada uma deixou.
Você estará buscando a sua própria identidade,
que foi sendo construída aos poucos,
de momentos que aconteceram na sua vida,
e que até hoje interferem em seu caminho.

Aproveite para conquistar uma pessoa a cada dia,
dar a elas a sua maior atenção,
e fazer com que você também
seja algo muito importante na vida destas pessoas.

Quando sentir que alguém não lhe agrada,
de uma segunda chance de conhecê-lo melhor,
você poderá ter muitas surpresas
cedendo mais uma oportunidade.

Quando sentir que alguém é especial para você,
diga a ele o que sente,
e terá feito um momento de felicidade
na vida de alguém.

Não deixe para fazer as coisas amanhã,
poderá ser tarde demais.
Faça hoje tudo o que tiver vontade.
Abrace o seu amigo,
os seus irmãos,
os seus filhos.
Dê um sorriso para todos,
até ao seu inimigo.

Se estiver amando,
ame pra valer,
procure viver cada minuto deste amor,
sem medir esforços.

Sinta-se alegre todas manhãs,
mesmo que o dia não prometa nada de novo.

Planeje o seu destino!
Sopre aos ventos os seus sonhos,
eles irão se espalhar pelos ares
e voltar a você em forma de realidade.

Preste bastante atenção em todas as pessoas,
elas poderão estar trazendo
a sua tão esperada FELICIDADE.

Crônica.O.007.O prazer da escrita - Antonio Junior de Barcelona


É uma das escritoras mais célebres do mundo, combativa e versátil: Doris Lessing. O baiano Antonio Júnior conta como em 1998 fez faxina durante algumas horas em sua casa lúdica e foi personagem de um diálogo sábio.
A companheira de habitação, Rute M., uma bela jovem do Sul, faz faxinas em velhas casas vitorianas para pagar seus estudos de inglês em Londres. É um trabalho duro, que inclue passar o aspirador em toda a casa, tirar as folhas secas das varandas, esfregar azulejos e vidros de janelas, deixar banheiros brilhantes e inclusive lavar copos e pratos em pias sempre cheias - os senhores do "primeiro mundo" não primam exatamente pela boa educação higiênica. O sub-ofício apenas feito por imigrantes ilegais tem vantagens: é bem remunerado, leva um máximo de três horas a semana por residência e os proprietários raramente estão presentes, deixando delicadamente um sanduíche frio e o pagamento do dia num envelope. Quando Rute gripou fortemente num inverno impiedoso - ou teria ido passar uns dias em Gales com o namorado escocês? -, pediu a amigos que substituise-a na sua humilde faina. Repartindo a clientela, fiquei com uma casa típica de tijolinhos aparentes num bonito subúrbio. Sabia que vivia ali uma idosa senhora solitária, visitada raramente por um filho cinquentão, e que possivelmente seria escritora. Rute trocara poucas palavras com ela e advertiu-me sobre o maior problema do serviço: livros espalhados por todos os lados como insetos vivos, e a "escritora" não permitia tocá-los nem para tirar o pó. Imaginei uma dessas escritoras românticas fracassadas, tipicamente inglesas e neuróticas. Nem ousei pensar que poderia ser Iris Murdoch ou Muriel Spark, seria como estar na intimidade com Raquel de Queiróz ou Zélia Gattai. Ao tocar a campainha às nove da manhã, coberto por uma névoa gélida que atravessava o meu gorro e o casaco de pele e o forro de lã de carneiro, reconheci imediatamente o par de olhos verdes surgidos pela porta semi-aberta. "Miss Lessing? Sou o amigo de Rute M. Ela está enferma e eu vim fazer o seu serviço". "Pobrezinha. O que tem? Não é nada sério, não?". "Uma gripe", respondi possivelmente pálido, disposto a beijar as mãos daquela mulher de olhos profundos e rosto costurado de rugas. "Como sabe que me chamo Miss...Lessing?", desconfiou. "A correspondência...", menti apontando cartas e jornais no chão. Ela sorriu, cortês, e abriu a porta totalmente. Ao voltar-me as costas, aproveitei para observá-la atentamente: o cabelo grisalho quase naturalmente azulado, em coque, o colete azul elegante e um macacão branco masculino. Aos 79 anos, esta mulher versátil e imaginativa que mais parece uma avózinha de contos de fadas, um pouco gorda, é uma das escritoras mais celébres do mundo e seu nome é sempre referencial para Prêmio Nobel.

A sua novela mais famosa, a quase auto-biográfica O Carnê Dourado (1962), é um êxito mundial, inclusive no Brasil. Lembro quando a Stela Simpson de Tonia Carrero em Água Viva brilhava numa cena lendo-o. Nascida na Pérsia, criada na antiga Rodésia, hoje Zimbabue, é conhecida como uma escritora realista, embora seja autora de cinco novelas de ficção-cientifíca (o ciclo Canopus in Argus Archives). Escreve com segurança e talento sobre o desmoronamento familiar moderno, a permanante crise sentimental e a competição entre casais, além de retratar a mulher dos nossos dias com lucidez e ferocidade. Perguntou se eu queria tomar algo. Não respondi hipnotizado com a escada que levava ao primeiro andar cheia de caixas de livros, e ao entrar na cozinha e no salão de baixo, não acreditei no número de livros desordenados. "Gosta de doce de gengibre?", perguntou afetuosa. Disse que sim, mas preferia começar o trabalho, e que ela não se preocupasse, Rute havia me explicado detalhadamente tudo. Ela sorriu, sorria sempre, e desapareceu escada acima. Limpei toda a parte de baixo por quase uma hora e, ao esfregar os vidros, avistei o jardim selvagem, tomado pelas plantas. O silêncio era completo, não ouvia-se música nem ruídos de passos ou mesmo de uma televisão. Subi as escadas de madeira escura e deparei-me com uma sala com poucos móveis: uma grande mesa sobrecarregada de livros e papéis, almofadas orientais espalhadas pelo chão, alguns pufes e um sofá baixíssimo, sem pés - como uma morada de espírito hippie.Um gato grande e velhíssimo saltou de um livro onde dormia - Satyricon de Petrônio - e notei que tinha somente três patas. Doris Lessing, praticamente imóvel, escrevia a mão sentada numa das almofadas. Ela virou-se para mim e disse: "Este é O Magnifíco. Tem 18 anos e teve um pata amputada porque tinha câncer. Está muito velho, pobrezinho". O gato olhou para mim bastante indiferente e aconchegou-se em cima de outro livro. Poderia ser o gato existencialista da atriz de Horas Nuas de Lygia Fagundes Telles. Tudo para mim era novo, não sabia se me surpreendia mais com a vastidão de livros em vários idiomas, o gato de três patas ou a ágil senhora sentada numa almofada como uma adolescente. Ao levantar-se, sussurrou:"Isto é a velhice. Entende? A velhice é a dificuldade para levantar-se". Iniciei o trabalho enquanto ela mexia em papéis, antes perguntando outra vez se eu não queria tomar algo. Quando a cada minuto voltava-me para olhá-la, os seus olhos levantavam telepáticamente e encontravam os meus. Sorriu uns minutos depois e perguntou:"Como se chama?". "Antonio", respondi sem deixar de tirar o pó dos objetos. "Antonio, você gosta de livros, não?". "Muitíssimo". Ela sorriu e depois de uma pausa demorada, continuou a conversa: "Você chora normalmente?". "Somente no cinema". "Eu também nunca choro. É horrível". "Como joga fora os seus medos?", ousei saber. "Através da literatura. Uma vez passei um ano inteiro sem escrever e vivia de mal humor. A escrita é uma espécie de equilíbrio". Olhei os seus pequenos e intensos olhos verdes e vi a infância dura numa antiga colônia britânica sulafricana, num sítio espaçoso nas montanhas, e depois a fuga aos 14 anos e o casamento aos 18; logo abandonou o marido e os dois filhos, enfrentando o regime racista e machista da colônia.

Uma heroína de filmes de aventura. Uma mulher poderosa e lúcida, de prosa perfeita e caráter fortíssimo, que cultiva a literatura como espaço de domínio e liberdade pessoal. Ao terminar o trabalho, que gostaria que fosse interminável, aceitei o chá e o doce de jenjibre. Boa anfitriã, ela sentou-se ao meu lado na mesa da cozinha, colocando a chaleira, as xícaras e o doce entre livros. Ela sorria sempre - lembrarei dela eternamente sorrindo. "Escrevo também. Sou um aprendiz", confessei. "Imaginei". "Não consegui nenhum êxito", afirmei."
Cada livro tem sua própria vida. Todos os livros tem que a lutar a princípio contra a negatividade e a indiferença. A maioria de meus livros recebem violentas reações negativas. Na verdade não é importante que a gente goste deles, o importante é o prazer de escrevê-los". Foi uma conversação delicada, cheio de evidentes e mútuos desejos de nos entendermos. Ao final, Miss Lessing me presenteou com um livro - A Proper Marriage (Um casamento convencional, 1964) - e insistiu que levasse um pedaço de doce de gengibre para Rute M. Não tive coragem de beijá-la, um abismo transparente e sagrado nos separava. "É preciso sobreviver às piores circunstâncias, meu caro amigo", aconselhou, sábia, enquanto me entregava o envelope com o pagamento da faxina. Não o aceitei, ela insistiu, não o quiz de forma nenhuma. Enfrentei a rua insultada pelo inverno rigoroso, em direção a estação de trem. As lágrimas corriam pela face, e na cabeça: o prazer da escrita, as alegrias intensas e a excitação de conhecer uma criatura resistente e indômita.

Crônica.O.006.O que trazemos e o que levamos - Osho


Você vem ao mundo sem coisa alguma. Assim, uma coisa é certa: nada lhe pertence. Você vem absolutamente despido, porém com ilusões. É por isso que toda criança nasce com as mãos fechadas, cerradas, acreditando que está trazendo tesouros - e aqueles punhos estão vazios. E todos morrem com as mãos abertas. Tente morrer com as mãos cerradas - até o momento ninguém conseguiu. Ou tente nascer com as mãos abertas - ninguém conseguiu também. A criança nasce com as mãos fechadas, com a ilusão de que está trazendo tesouros ao mundo, mas não há nada nas mãos. Nada lhe pertence, então você está preocupado com qual insegurança? Nada pode ser roubado, nada pode ser tirado de você. Tudo o que você está usando pertence ao mundo. E um dia você terá que deixar tudo aqui. Você não será capaz de levar coisa alguma com você. Será que estou no caminho certo? As indicações de que você está no caminho certo são muito simples: a)-Suas tensões começam a desaparecer. b)-Você fica mais e mais senhor de si. Mais e mais calmo. c)-Encontrará beleza em coisas que jamais concebeu pudessem ser belas. d)-As menores coisas começarão a ter imenso significado. e)-O mundo inteiro se tornará mais e mais misterioso a cada dia. f)-Você se tornará menos e menos culto e mais e mais inocente - como uma criança correndo atrás de borboletas, ou pegando conchas do mar numa praia. g)-Você sentirá a vida não como um problema, mas como uma dádiva, uma benção, uma graça. Essas indicações crescerão continuamente se você estiver na pista certa. Se estiver na pista errada, acontecerá exatamente o oposto.

Crônica.O.005.O Amor - Luiz Fernando Verissímo



- Quando você está solteiro e vê um casal aos beijos e abraços no meio da rua você sente a maior inveja; - Você já se pegou escrevendo o seu nome e o da pessoa pelo qual você está apaixonada no espelho embaçado do banheiro, ou num pedacinho de papel; - Você já se viu cantando o mantra "Toca telefone toca" em alguma das sextas-feiras de sua vida, ou qualquer outro dia que seja; - Você já enfiou os pés pelas mãos alguma vez na vida e se atirou de cabeça numa "relação" sem nem perceber que você mal conhecia a outra pessoa e que com este seu jeito de agir ela te acharia um tremendo louco; - Você, assim como nos contos de fada, sonha em escutar um dia o tal "E foram felizes para sempre" Bem , preciso continuar? Ok, acho que não... Negue o quanto quiser, mas sei que já passou por isso, e se não passou, não sabe o quanto está perdendo.... "O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda chance" "Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos."

Crônica.O.004.O Grito - Bruno Kampel



Penélope pulou da cama com a impaciência impondo-lhe o ritmo. A despeito da tremedeira incontrolável que dominava cada um dos músculos do seu corpo, e do receio insuportável que ocupava cada um dos seus sentidos, trotou alucinadamente até o outro lado do quarto, onde se encontrava o armário. Decidida a elucidar o grande mistério que a atormentava, posicionou-se frente ao guarda-roupa, ao mesmo tempo em que fechava os olhos, cumprindo à risca a primeira etapa do plano que traçara enquanto tratava infrutiferamente de reconquistar a calma e afundar no sono, e abriu-lhe a porta com a urgência inerente àqueles que, por razões de variada e quase sempre desconhecida origem, necessitam constatar questões de vida ou morte, assuntos inadiáveis, situações intransferíveis, ou decisões irreversíveis. Quando Penélope considerou que estava bem posicionada em relação ao espelho - o qual ocupava toda a parte interior da porta esquerda - decidiu dar o grande e temido passo, e numa lentidão que lembrava muito a letárgica sinuosidade do caracol - talvez porque na verdade o que ela realmente desejasse fosse adiar "sine die" a chegada do momento crucial - foi entreabrindo os olhos até que estes ficaram literalmente desorbitados, e então, ao focalizar a vista na imagem refletida no espelho, suas pobres e enfraquecidas pernas, contrariando todos os prognósticos médicos, conseguiram sustentar o peso da enorme aflição que a invadira, pois o recado que o espelho lhe mandava era claríssimo e confirmava que seus temores tinham fundamento, pois o pesadelo ainda continuava. Sim. O espelho, certamente em conluio com seus dramas mais profundos, devolvia-lhe como única resposta à sua presença frente a ele, tão somente a imagem bem delineada do perfil nada apolíneo de um patético grito de dor pungente, o qual, numa atitude abertamente provocativa, caçoava dos olhos febris que o seguiam, galopando pela superfície do cristal, indo e vindo, sem pressa nem rumo, emitindo essa bem conhecida e repulsiva sonoridade - dilacerante e arrítmica - que apenas os silêncios mais profundos sabem executar com mestria. Ante a constatação de que o desespero sem freio ainda era dono e senhor do seu destino, Penélope foi invadida por uma sensação de impotência que não lhe era estranha, e que, como em outras tantas e tantas vezes, tomou conta de cada canto dos seus olhos, imprimindo neles uma opacidade monocromática e assustadora, transformando-os outra vez em fiéis depositários do pânico sem fronteiras.

Sim. Penélope, cativa do pavor irracional que o grito lhe inspirava - e ainda pior, consciente de que seria a vítima e não a heroína do último capítulo da novela da sua vida - entreviu com o rabo dos olhos como a perplexidade, recém parida pelo estupor que a dominava, somava-se ao monólogo em preto-e-branco que desde o espelho o grito desafinadamente declamava.

Quase vencida, e convencida da certeza da derrota iminente, Penélope escorregou para fora de si mesma e caiu no pântano da mais profunda insanidade, enquanto a penumbra circundante começava a empapar-se com lágrimas de dor insuportável, e o grito intolerante, exigindo o protagonismo que julgava merecer, respondia sem mais delongas, solfejando um desespero nu e cru que até então escondia no fundo da cartola, começando a delirar um discurso gutural que não deixava a menor margem para dúvidas quanto ao final previsto dessa luta desigual e sem quartel, entre Penélope e seus fantasmas. As lágrimas de fel - elaboradas com a mais pura, cristalina e legítima angústia existencial - iniciaram uma corrida cega e sem freio pela escorregadia pendente vertical em que se havia transformado a sua face, e o grito infame, para não fazer por menos, cuspia desde o espelho o seu doloroso lacrimejar de vidro e raiva, enquanto a desesperança, atônita ante a cena que presenciava, oficiava a cerimônia nupcial que unia para todo o sempre a loucura e o abismo. A madrugada, que naquela hora por ali passava, fazia de conta que nada disso era com ela, espiando pela janela sem se dar por aludida. Penélope então, num último e desesperado intento de autodefesa, tratou de fechar os olhos usando as poucas forças que ainda lhe restavam, procurando com tal gesto escapar da cilada que a vida lhe havia tendido, mas para não fugir à regra que rege as circunstâncias de todas as tragédias, quando o tentou já era tarde demais, pois o grito indigno - num salto acrobático - alcançou-lhe a garganta e lá instalou-se soberano, rasgando em pedaços mil gemidos sem sentido, cujos restos sonoros macularam para sempre o silêncio asséptico do amanhecer no quarto 22 da clínica psiquiátrica. Penélope morreu gritando - uma morte totalmente afônica - e como é de praxe em todos os crimes que pretendem ser perfeitos, as impressões digitais do grito assassino esvaíram-se silenciosamente, instalando no ar o tão conhecido e habitual eco da impunidade, ao passo que o amanhecer, cumprindo fielmente o seu horário de funcionamento, espreguiçava-se despreocupadamente senconstado na janela do quarto, e a enfermeira de turno, alheia a todos os dramas que não fossem os próprios, ordenava à arrumadeira que trocasse os lençóis, na expectativa da chegada de um novo paciente.

" Quem é que nunca teve um Marcelo, um Felipe, um Ricardo, um Júlio ou um Alexandre na vida? Tudo bem, pode ser uma Júlia, uma Ana, uma Patrícia ou uma Aline... Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo! A ""fila"" anda, a coleção de ""figurinhas"" cresce, a conta de telefone é sempre altíssima. Mas e aí? O que isso te acrescenta? Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca logo na sua vida??? Se o tal ""amor"" é impontual e imprevisível que se dane! Não adianta: as pessoas são impacientes! São e sempre vão ser! Tem gente que diz que não é... ""Eu não sou ansioso, as coisas acontecem quando tem que acontecer."" Mentira! Por dentro todo ser humano é igual: impaciente, sonhador, iludido... Jura de pé junto que não, mas vive sempre em busca da famosa cara metade! Pode dar o nome que quiser : amor, alma gêmea, par perfeito, a outra metade da laranja... No fim dá tudo no mesmo. Pode soar brega, cafona... Mas é a realidade. Inclusive o assunto ""amor"" é sempre cafonérrimo. Acredito que o status de cafona surgiu porque a grande maioria das pessoas nunca teve a oportunidade de viver um grande amor. Poucas pessoas experimentaram nesta vida a sensação de sonhar acordada, de dormir do lado do telefone, de ter os olhos brilhando, de desfilar com aquele sorriso de borboleta azul estampado no rosto... Não lembro se foi o ""Wando"" ou se foi o ""Reginaldo Rossi"" que disse em uma entrevista que se a Marisa Monte não tivesse optado pelo ""Amor I love you"" e que se o Caetano não tivesse dito ""Tô me sentindo muito sozinho.."" eles não venderiam mais nenhum disco. Não adianta, o público gosta e vibra com o ""brega"". Não adianta tapar o sol com a peneira. Por mais que você não admita: - Você ficou triste porque o Leonardo di Caprio morreu em Titanic"" e ficou feliz porque a Julia Roberts e o Richard Gere acabaram juntos em ""Uma Linda Mulher""... - Existe pelo menos uma música sertaneja ou um pagodinho"" que te deixe com dor de cotovelo; "

Crônica.O.003.Os cavaleiros do apocalipse - Arnaldo Jabor


O sonho acabou. Adeus às ilusões. Good bye, globalização, esperança liberal, abertura de mercados, razão ocidental e utopias tecnológicas. O mundo vai mudar muito. Já estão aí os quatro cavaleiros do apocalipse, com suas bestas galopando para o Juízo Final: Osama, Saddam, Kim Jong II e, claro, Bush. Parece misticismo, loucura holística, mas eu estava nos USA quando senti que a barra ia pesar. Foi quando aconteceu aquela “comidinha” noturna de Clinton na Monica Lewinsky. Senti um arrepio quando vi que o presidente dos anos 60, o babyboomer que ria e seduzia o mundo, tinha pisado na bola. E aí, começou a vingança da direita cristã republicana, os horrendos seres góticos que são a banda podre dos USA, e que desde 91 tinham planos imperiais e ficaram desesperados quando o Clinton expeliu papai Bush do poder. Tudo começou com o espantoso ataque de Kenneth Starr, o procurador de enrustida sexualidade que dedicou sua vida a destruir Clinton, o “pecador” amante de Monica, filha de republicanos que morava no edifício Watergate, com sua “caixinha” de Pandora, de onde começaram a surgir os males do mundo atual, como uma ejaculação maldita. A sexualidade foi o ponto de partida. Depois, tivemos a fraude eleitoral e, em seguida, o 11 de setembro, legitimando tudo. E agora temos essa guerra anunciada, que vai se passar exatamente entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia, onde nasceu a civilização há oito mil anos. Será que vamos morrer onde nascemos? Pois, trata-se de uma batalha entre dois deuses: fanáticos do Alcorão contra fanáticos da Bíblia, os dois lados possuídos de raios e relâmpagos e adoradores da morte, da castidade e da ausência de prazer. Bush reza com assessores antes de despachar, como o Osama no deserto, que, aliás, é uma espécie de aliado do Bush. Osama criou Bush, estimulou-o, foi o Viagra que o tornou potente, fez dele um lugar-tenente para destruir tudo que o Ocidente criou no século XX, tudo que aprendemos na luta contra o nazi-fascismo, contra o stalinismo, tudo que foi conquista democrática, valores ecológicos, sexuais, raciais. Osama talvez seja o maior estrategista da História: sozinho, desestabilizou o planeta, usando as armas do inimigo e fazendo seu líder obedecê-lo como um robô idiota e desengonçado. Há algo de conjunção astral maligna, algo que talvez se tenha sentido nos anos 30, quando Hitler crescia. Osama fez o inconsciente bárbaro irromper de novo entre nós. A partir de agora, sob o comando de Bush, só vamos errar. Há períodos históricos em que parecemos precisar da morte. Surge uma fome de irracionalismo, como que uma libertação burra e animal dos freios da civilização.

É como se o Bush e sua turma apavorante dissessem: “Chega de frescuras de democracia, tolerância, bom senso europeu, cultura, arte... Chega de veadagens! Vamos botar pra quebrar!” Goya fez gravuras de guerra com o nome “Tristes pressentimentos do que há de
acontecer”. Na minha mediocridade, também arrisco profecias: acho que nosso
futuro vai ser um passado. O futuro para o Bush é o passado: “gimme that old time religion!”, como cantam os fanáticos. Bush é a vitória de “Forrest Gump”, a vitória do estudante fracassado, coisa de que ele se vangloria. Bush vai dividir a Europa e a Otan. Bush odeia a inteligência e só valoriza a força militar. “Dane-se o saber e a tradição dos europeus: quantas divisões eles têm?” — parece perguntar, com sua boquinha de desprezo por todos nós. Bush vai desmoralizar a ONU, esse “antro” de democracia, onde todos os países seriam “iguais”. Bush tem o entusiasmo funéreo do paranóico no poder. Quanto mais for odiado, mais se sentirá certo. Bush não confia a longo prazo na Arábia Saudita; quer se instalar para sempre sobre o mar negro de petróleo, e controlar o Oriente de dentro. Isso provocará um estado de guerra permanente, pois sabemos da obstinação islâmica para a vingança fria. Nascerão exércitos de novos homens-bomba. Milhares de atentados acontecerão. Aumentará muito mais a insegurança da América e da Europa. Meu pavor maior é que haja o surgimento de uma “cultura da morte”, uma cultura de eterna paranóia que justifique uma fascistização institucionalizada nos USA. Tenho muito medo que Bush consiga neutralizar e paralisar para sempre a reação dos democratas americanos, que ele consiga estruturar uma cultura bélica e estúpida, uma cultura do medo, que será sempre realimentada por filhos e netos de Osamas e Saddans... para sempre. O grande perigo é nascer uma cultura tecnológica, fria e puritana, “científica” e cristã, pragmática e mística, com um fundamentalismo que acabe de vez com a odiosa “complexidade” democrática da “boa” América. E tem mais: Bush ou um de seus filhos de guerra, um dia, ainda vai realizar o desejo da bomba nuclear, nem que seja apenas contra algum país “patife”. O grande desejo da cultura da morte é a raspagem, a limpeza higiênica dos detergentes. Bush vai lavar mais branco, como Truman fez em 45 em Hiroshima. Bush vai instalar no mundo a cultura da guerra, do puro poder das armas. Já está se preparando para seus novos inimigos, esses, sim, muito mais perigosos que terroristas barbudos. Bush já vai titilar a China para o grande duelo que um dia virá. Bush vai inaugurar uma política comercial com força militar.