terça-feira, 26 de setembro de 2023

C.118.Cochichando - Rosa Pena


Em suas mãos (bem escondidos) permanecem cativos os fios do tempo (em que sonhávamos).
Eles não se rompem (nem se romperão) e se confundem com as linhas de vida da sua palma.
A distância entre seus dedos é igual a nossa (pequena e grande) e eles (por hora) não fazem o V da vitória.
Estão sem a alegria de outrora.
O amor nos deixou frágeis (sempre deixa), sem a coragem de sermos o que fomos até ainda pouco (nós nos achávamos uma fortaleza).

Em suas mãos (bem escondidos) os fios farão uma ramagem que você sentirá quando eu (volta e meia) aparecer em suas lembranças (não vou deixar você me esquecer).
O amor desconhece o prefixo ex, (quando verdadeiro, ainda que passageiro).O nosso é.

C.117.Caça - Pastorelli / Ana Luísa Peluso


Sejamos a caça
Já nada podemos fazer
Enquanto presas
Que somos.

Até o dia da liberdade
Que concederemos
A nós mesmos:
Nossa liberdade.

E então cantaremos
A nossa realidade.

Em ecos de gritos
Para humanidade
Contando os dias
Antigos,
Nossa vaidade
Que agora, apenas história
- e seus covardes -
fizeram da glória
de nós cidadãos,
apenas punhado
de alavãos.

Sejamos a caça
A caça atraente
Há mais graça
No viver pulsante
Mais atrativo
Há mais prazer
Convidativo
Desde que nós não
Nos entreguemos numa
Bandeja de prata.

É... sejamos enfim, caça.
Só de pirraça.
Do passar dos dias.
E vejamos do que trata
a tal caça e com quem.

E preparemos o alvo
para não ser bombardeado.
Que seja avisado
de antemão!
Para não sermos comidos
faz-se necessário conhecer
o inimigo.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

C.116.Celebração da Realidade - Rosa Pena


Ele se foi sem se despedir dela, caso contrário Ângela teria lutado para que ele não partisse. Seu filho morreu por conta de um marginal que o assassinou por um celular Vivo, o aparelho, seu menino Morto.

Ela não consegue sentir vontade de indultar quem o matou. Sente muita raiva do marginal -bomba, dos malditos direitos humanos que insistem em só abraçar a escória.

Ângela virou uma nuvem carregada de tristeza, uma neblina ambulante com constantes chuvas na menina dos olhos, que agora virou uma velha quase cega.

Mas, além da perda do filho (como se fosse pouco), ainda é obrigada a conviver com a culpa de não saber perdoar, de ter pensamentos de vingança. Sim! A paranóia reinante é não se enlutar, não dar vazão ao choro, que dirá desejar o pior para aquele que acabou com sua vida. Faz mal!

A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?

A Márcia Cabrita (atriz), recentemente numa crônica, afirmou que não nasceu para ser heroína. Ela não tirou de letra o câncer que apareceu em seu ovário. Não conseguiu imaginar a quimioterapia como uma viagem à Disney. Chorou todas e mais algumas e ficou muito grilada com seu justo sofrimento, pois diziam para ela, que só sobrevivem as doenças, pessoas de alto astral. Fique muito doente e sorria. Sofreu duplamente por não conseguir encarar um câncer com otimismo. Faz mal!

A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?

Quando eu parei de fumar entrei numa depressão terrível e não consegui sentir a tal felicidade que os “fodões” garantem como certa.
— É uma delícia viver sem nicotina! Estranhamente eu só conseguia pensar no Fernando Pessoa com o olhar entre fumaças na Tabacaria.

Já se passaram trinta meses e agora gosto demais do meu cheiro e de menos de minha contradição ao sem lenço e sem documento. Meu cagaço venceu minha liberdade. Costumo dizer que vou voltar a fumar quando completar setenta e cinco anos. Já ouvi diversos avisos: Cuidado com esses pensamentos contrários, pois assim você volta agora ao vício. Faz mal!

A quem? Isso de negatividade atrai! Atrai o quê?

Atrai. Atrai. Atrai! Afinal... Atrai o quê? Castigos?
Quanta presunção dos mortais! Desde quando Deus classifica quem vai se dar bem ou quem vai só sofrer? Ele tem suas razões que a nossa razão desconhece. Que fé é essa que obriga as pessoas a mascararem seus sentimentos?

É permitido, mais ainda, é saudável chorar de dor, de medo, temer a morte, pedir castigo para o algoz que lhe feriu, sonhar que o ex morreu, ficar injuriada de abrir mão de um prazer e apesar de tudo acreditar que as coisas ruins acontecem assim como as boas num sistema de cotas. Cada um tem as suas.

Ele pode (sensação que vem com o luto) ter perdido a mão numa tela, mas a aquarela permanece com todas as cores e certamente novas serão pintadas com cores vivas, bem vivas como a Vida.

C.115.Cadê - Pastorelli


Com passos pequenos separando uma perna da outra em passadas férteis de sono, ele andava dentro da sua condição de humano apenas para constatar sua existência no mundo. Mas não se chateava, tendia às vezes para uma excêntrica depressão aos poucos eliminada no correr do dia.
Fazia frio. Enfiou as mãos nos bolsos da calça
Tiritava, não conseguia soltar os músculos que tensos fazia seu corpo tremer alucinado. Nunca gostou do frio. O vento gelado cortava sua pele adormecida feito gelo.
Com o dedo enluvado comprimiu o botão chamando o elevador. Droga! Chegara na hora do pico. Os elevadores vinham abarrotados. Às vezes era obrigado a esperar três, quatro ou cinco elevadores, e assim mesmo quando conseguia entrar.
Por incrível, naquele dia entrou no primeiro. Estava vazio! Não tinha ninguém! Apertou o botão. A porta fechou e ele encostou-se ao fundo. O elevador subia silencioso, lento, quase não se sentia seu movimento. Parava em todos os andares. E o gozado é que ninguém subia.
Ele estava completamente sozinho...
Foi sua constatação quando saiu para o corredor. Tudo vazio. Onde estava o pessoal? Normalmente essa era a hora intensa de um vai e vem de funcionários...Será que é Domingo? Não, não poderia ser! Será!?!? Ter-se enganado?! Continuou andando. No fim, virou à direita. Vazio!? Estranho! O que acontecia?
Não, só pode ser Domingo. Olhou o calendário. Não, não era Domingo. Era Quarta-feira, dia 20. Então onde estava o pessoal?
Indeciso parou um instante diante da porta. Quando estendeu a mão para girar o trinco, de supetão a porta foi aberta. Ele precisou recuar dois passos para trás. Quase cairá. E no susto, pego de surpresa, não conseguiu ver quem tinha saído.
Respirou. Abriu a porta e entrou.
A sala estava no maior silêncio. Para seu alívio não era Domingo, não. Estavam todos ali, sentados em suas mesas trabalhando. Todos de cabeça baixa sobre os papéis. Ninguém parece, notou a sua entrada.
Encaminhou-se para o seu lugar. Era dificultoso, pois as mesas estavam quase encostadas umas as outras. Havia um exíguo corredor entre elas, que mal dava para passar. E o seu lugar era quase perto do banheiro, logo depois da loira.
Ninguém notava sua presença, nem o pessoal que por qualquer coisa insignificante, gostavam de fazer piadas, tirar sarro. Estavam todos silenciosos, quietos, dava até nos nervos. Talvez estivessem de mau humor.
Com muito custo chegou ao seu lugar.
Parou... Surpreso o seu lugar estava vazio, sem a mesa. Olhou para os lados pronto a reclamar. Ninguém parecia nem vê-lo, mesmo assim perguntou:
- Cadê a minha mesa?
Silêncio. Não ouviu resposta.
Perguntou mais uma vez:
- Cadê minha mesa?
Novamente o silêncio.
Virou para a loira tocando seu braço.
- Onde está a minha mesa?
A loira nem se mexeu, continuou carimbando os papéis. Dirigiu-se ao rapaz.
- E você! Pode me dizer alguma coisa a respeito?
O rapaz olhou para ele com um olhar perdido na distância além dele. Seguiu o olhar do rapaz e viu o gerente fazendo sinal. Será que é comigo? Pensou. Foi até o chefe. Talvez ele tenha alguma explicação para dar, quem sabe?
- Pois não... Cadê minha mesa?
O chefe olhou para ele com um olhar duro
- O que o senhor faz aqui?
- Ora! Que pergunta, chefe! Vim trabalhar. Hoje não é Quarta-feira? Então, vim trabalhar...
- Acontece que vou lhe fazer uma confissão, meu rapaz.
- Que confissão, chefe?
- Desde ontem o senhor não trabalha mais aqui, o senhor foi despedido.
- O que?
- Não te comunicaram? O senhor foi demitido, mandado embora, rua...
Diante da mudez dele continuou
- Vá embora que esta atrapalhando os que querem trabalhar.
Deu as costas para ele e entrou na sala deixando-o no meio da seção. Com passos pequenos separando uma perna da outra andou dentro da sua estupefata mediocridade, saiu da sala.
Ninguém mais soube dele.
E creio que nem ele mesmo soube.

C.114.Crepúsculo da vida - Lucelena Maia


Quando eu respirar novos ares no remanso de diferente poente com sol entardecido, morrente, eu saberei de outros lugares...
Talvez eu me veja num jardim envolvida por flores infinitas rodeada por pessoas em visita ou por, entre, anjos querubins
Florirei essa nova morada com as mais belas poesias dos cochichos de meus dias com minha alma inspirada
Serei feliz nos braços da lua, se não chorarem a minha paz, na lápide, mandem crivar; mais uma alma que perpetua...
Com lembrança tenra e serena, os homens de boas entranhas brindarão o meu adormecer louvando o verde das montanhas.

C.113.Crepúsculo em branco - Lizete Abrahão


Se eu amanhã me for, o tempo é a mortalha,
Meu corpo nu volta nu de onde veio,
Nada mais a cobrir-me, a noite me agasalha.
E não lamentem, vou feliz com o que creio...
É o meu ocaso, hora em que quero dormir
Por trás das tardes dos meus dias exauridos.
Que seja cor de sangue o véu a me cobrir,
Igual às nuvens sobre os mares incendidos...
Silêncio é o que peço, não quero blasfema ,
Para eu poder ouvir o canto de um pardal,
Esqueçam preces, diga um poeta um poema,
Na sua voz serei princípio e meu final...
Quando eu me for, e pode ser amanhã mesmo,
Saibam que deixo aqui meu único lamento:
O de ter sido um verso branco escrito a esmo,
Sem poesia que me seja luz e relento.

C.112.Calmaria - Conceição Pazzola


Na casa vazia ao sol clamei
Por luz e calor esquecidos
Em portas e janelas fechadas
Há muito tempo perdidos

Na casa vazia em vão busquei
Por um brilho de teu olhar
Nem as estrelas fulgurantes
Com mil fagulhas radiantes

Poderiam se equiparar
Clamei na casa vazia, esperei!
Indícios de risos aconchegantes

Nem as musas de belas canções
Com suas vozes mais delirantes
Devolveriam ao seu lugar
Na casa vazia ainda uma vez
Anseio pelos passos e abraços
Daqueles a quem tanto amei.
Nem os sons mais suaves

Mostraram o mais leve traço
Pela casa vazia ecoa a pergunta
Onde se perderam os meus laços?
Encontro o céu de nuvens juntas
São elas as moradas esparsas?
Procuro agora a fórmula mágica
Capaz de levar-me ao espaço.

C.111.Com o sol em capricórnio - Clóvis Campelo


Vocês verão
com o sol em Capricórnio,
vocês verão
com o sol nos olhos dela -
janela da alma,
tranquila, serena
e calma -
que o passado
é tão somente
um velho filme
guardado
nos porões
da mente
e se agitar
é lance
de Sagitário.
Pois é preciso coragem
pra mexer
no lado acidental
dos corações;
pois é preciso coragem
pra mexer
no lado ocidental
de velhas transações.

C.110.Crepúsculo de um onanista - Herculano Alencar


Tocava na fanfarra da escola
um instrumento tosco qual cuíca.
No vai e vem fazia pulitrica,
como se suas mãos fossem de mola.

Era um menino feio e bom de bola!
Nunca sentiu olhares de desejo!
E se alguém um dia deu-lhe um beijo,
prendeu-lhe o passarinho na gaiola.

E foi crescendo enquanto inda tocava,
e foi tocando enquanto inda crescia,
até ejacular, em poesia,
as musas que pra si imaginava.

Hoje, que já não toca na fanfarra,
faz farra nas sessões de terapia.

C.109.Catarse - Angélica T. Almstadter


Será que deveria revelar meu disfarce, Expor de cara lavada meus dotes tímidos? Talvez assustasse meu medo e a catarse Que escondo atrás desses gestos insípidos.

Delicadeza de palavras morrem à míngua, Onde a presença nem sempre se nota. Sobra hipocrisia quando falta papas à língua; Circo e platéia para o bobo da moda.

Não vale um tostão a vaidade da verdade, Só há mesmo escombros na realidade, Que vale tão menos que a sinceridade...

Pois que morra como nasceu o segredo; Forte e imbatível como um rochedo, Hoje não faz mais sentido tanto medo.

C.108.Caminho, Pedra, Pensamento - Lucelena Maia


Passo
Apressada
terra "pisada"
pedras   pesadas
Atropelando
caminho
 
Piso
Nas grandes
Chuto
As pequenas 
 
Passo
Lento
terra "pesada"
pedras   pisadas
Atropelando
Caminho
 
Piso
Nas pequenas
Recolho
As Grandes
 
Passo
e   Piso
Chuto
e   Sinto      
Pedras
Atropelando
Pensamento...

C.107.Com a alma seca - Lucelena Maia


Na secura da inspiração tenho vivido
Há mais tempo do que tu, amigo poeta
A sofrer de fome, diante de tanta dieta
Porque versos não me são servidos
 
Já penso em procurar a um doutor
Que diagnostique o que há comigo
Em não havendo cura, saiba meu amigo
Deitar-me-ei no horizonte do labor...
 
Na seca imagem poética viverei
Como de seca alma vive um fora-da-lei
Assaltando versos de outros poetas
 
Para enxergar no pôr do sol alheio
A inspiração que não me vem do seio
Mas embala-me de forma discreta.

C.106.Cotidiano - Lucelena Maia


São seis da manhã, Um galo que canta
Encanta as horas
Hora da preguiça
De cobrir o corpo
De bem cochilar
De não despertar
 
O galo insiste
As horas se vão
Noutra direção
Abrir o chuveiro
Para eu acordar
Co´a água corrente

Levanto da cama Dispo-me do pijama
Escovo os dentes
O banho está quente
Expulso a moleza

Apressada, estou Qualquer roupa vale
Coloco sapato
E, bolsa ao ombro.
 
Café está pronto Pão na torradeira
Manteiga no pão...
 
Volto pro espelho De novo os dentes
Depois o batom...
 
Na mão, guarda-chuva Celular ao ouvido
Penso em promoção
Melhor não pensar.
 
Adentro o carro Ligo o  notebook
Depois o motor
Engato a primeira
Bendigo as notícias
 
Observo a rua Sem me observar
E dou marcha ré
Para estacionar...
No trabalho estou
O dia nem começou

C.105.Cata-vento - Lucelena Maia


Leva-me pro vento,
Memória, me leva...
Pra linha do tempo,
Lá eu tenho história,
Reservas da vida
Que não se traduz,
Acervo somado
A tanta emoção:
Escrita co´os olhos,
Firmada co´a alma
Vivida a dois.

Leva-me por vento,
Memória, me leva...
Ao túnel do tempo,
Urgência que eu tenho,
De ver meu enredo,
Mudar os mistérios,
Os vícios inglórios,
Alegre avental,
Fechado no peito,
Aberto ao despeito,
Velado no armário.

Leva-me pro vento,
Memória, me leva...
Cruzando o silêncio,
Gritando meus medos,
Soprando-os à sorte,
E pondo-me inteira,
Segura e fecunda,
No leito da estrada,
Ousando pegadas
Escritas co´os olhos,
Firmadas co´a alma.

C.104.Corredor da Vida - Lucelena Maia


No corredor da vida pisarei o chão
Tateando sozinha os primeiros passos
Sem pelar-me de medo e inquietação
Olharei à frente sacudindo os braços.

Será o futuro que tentarei alcançar;
As estações, para início de viagem,
E, cada uma delas, haverá de mostrar-me
A linha do tempo sem maquiagem.

A primavera florida, em esperança
É tudo que precisarei na partida.
Embarcar com fé e confiança
Para no verão não me sentir perdida.

Como as folhas que no outono caem,
Eu me deixarei, na vida, ceifar,
Amadurecida no bem e mal-me-querem
Renascerei inverno, de um difícil brotar...

Na chegada, saberão da mecenas,
Protetora da própria história
Que um dia começou pequena,
Mas grandiosamente fez a trajetória.

C.103.Como dormir - Lucelena Maia


Ao deitar-me, na extensa cama fria,
numa noite sem promessa de outros braços
sem o calor de um corpo em meu cansaço
forcei-me a virar a página da saudade,
mas tropecei nas linhas da ironia:
dormir só, naquela cama, eu não podia
no lençol de seda sangravam emoções
envoltas a avalanches de recordações
a machucar o orgulho dessa fera
ressentida com a faltosa rotina,
dantes inconveniente e perigosa,
agora distante e misteriosa,
causadora da secura na garganta
e da sede em saber...
...como dormir!

C.102.Coragem, Maria! - Lucelena Maia


Havia noites, o barulho das ondas em impacto com o rochedo de infinita solidão, a sustentar a casa de Maria, falava-lhe ao ouvido como que se lhe cobrasse autorremissão pelos atos não cometidos.
Assombrava-lhe pensar desarranjado o hoje porque deixara de aventurar-se no ontem.
O seu lado sensato, não menos inseguro, jamais audacioso, levava-a para caminhos sem volta, ao esconderijo de si mesma.
Solitárias, na areia, suas pegadas eram vistas.
Quantas vezes traira-se, desde que ali chegara, escrevendo poemas saudosos na areia, ao dizer da necessidade do brilho de um olhar que lhe esquentasse a alma, sobre romântico afago nos braços do luar, uma noite de amor embalada pelo som das mansas águas. Nomes, dera nomes aos poemas, sempre, o mesmo nome, lidos pelas ondas e em seguida lambidos por elas.
Tentava recordar-se firme, engenhosa e convicta mas, quanto mais insistia, intensos ficavam os sons nas rochas.
Fugira da turbulenta rotina isolando-se na casa de praia em busca de dias amenos para usufruir do silêncio do ambiente, com intenção de ser seduzida pela simplicidade, porque queria reconfortar-se na varanda a observar o infinito do mar, os muitos navios que ao fundo navegam até sumirem a visão. Desejava ver a felicidade dos pássaros em revoada recepcionando o dia, entregues ao cenário perfeito da natureza. Ver, também, sem esforço algum, o sol acariciando as folhas das palmeiras no início de mais uma manhã, a secar o sereno da madrugada. Observá-lo despontar dourado no céu e, mais tarde, vê-lo despedir-se apoteótico; era só o que pedia Maria ao fechar as cortinas do próprio espetáculo.
O lugar propiciava paz. Até mesmo descer por entre as rochas e chegar na praia dava-lhe prazer pela pitada de aventura física e exercício de resistência corporal. Tudo parecia e poderia ser perfeito não fossem os gemidos constantes das águas nas pedras, quando a noite chegava, a tilintarem em seu pensamento.
Do quarto, observava a redonda lua na mesma candura e romantismo dos tempos pregressos, um verdadeiro candelabro a iluminar as águas que, quanto mais ela tentava não as ouvir, escalavam as rochas a molhar em intenção seu angustiado coração.
Assim eram todas as noites de Maria.
O vento acariciava-lhe a face, soprando-lhe ao ouvido...
"...Coragem, Maria!"
Mas ela não o entendia.
Porém, noturnamente ele insistia...
"...Maria, coragem!"

C.101.Caminho - Lucelena Maia


Que no caminho eu me perca descalça,
De caminhar, eu me vergue cansada...
Sem fala, silencie a carência da alma,
Do silêncio no peito, eu resgate a oração
Desfaça-me em voz, dizendo à sorte:
- Desconheço acaso ou predestinação.
Caio, levanto e sigo;
Ganho, perco e digo:
- A vida oferece a estrada,
mas as pegadas sou eu...

C.100.Camponesa - Lucelena Maia


Fosse eu dama de verdes colinas,
Onde finda o desfolhar do entardecer
E o ocaso fulge na despedida do dia,
Deitaria olhos no côncavo do firmamento,
Por um pé-de-vento me deixaria levar,
Rumo ao infinito, nos braços da madrugada,

Ao cheiro almiscarado, render-me-ia,
Minhas vestes, penduradas nos ciprestes,
Recolheria, uma a uma, quando um novo dia
Se espreguiçasse na janela,
Anunciando...
... Dia de buscar água na mina.

C.099.Caia, mas caia de pé - Douglas Farias


Até então gozava de seus triunfos
Questão de honra se manter de pé
Continuar escalando era necessário
Olhar para baixo ninguém quer

Seja cuidadoso, vá com calma
Outra vez provaste o sabor da derrota
Então tens que cair para aprender
Como em épocas remotas

Se for cair, caia lutando
Caia olhando para cima
Caia de pé para ter impulso
Suba lutando e não desanima

C.098.Contente - Dpuglas Farias


Viver contente
Me faz contente
Em dizer contente.
E contente
Te vejo contente
Com sorriso contente.
Mais contente
Só muito contente
Do jeito contente.
Estou contente
Pois contente
Fico contente.
Então contente
Digo que contente
Sou feliz contente.
Enfim contente
Vivo contente
A vida contente.

C.097.Caminho de volta para o amor - Alex Fletcher e Sophie Fisher


Tenho vivido com uma sombra por cima da cabeça
Tenho dormido com uma nuvem sobre minha cama
Tenho estado sozinha por tanto tempo
Presa no passado, eu não consigo seguir em frente

Tenho escondido todas as minhas esperanças e sonhos
Apenas no caso de eu precisar deles de novo algum dia
Tenho reservado tempo
Para apagar um pouco de espaço nos cantos da minha mente

Tudo o que eu quero fazer é achar um caminho de volta ao amor
Eu não posso superar sem um caminho de volta ao amor

Tenho observado, mas as estrelas se recusam a brilhar
Tenho procurado, mas eu não vejo os sinais
Eu sei que está em algum lugar
Tem que haver algo para minha alma em algum lugar

Tenho procurado alguém para emitir alguma luz
Não apenas alguém para passar a noite
Eu poderia usar alguma direção
E estou aberto para suas sugestões

Tudo o que eu quero fazer é achar um caminho de volta ao amor
Eu não posso superar sem um caminho de volta ao amor

E se eu abrir meu coração de novo
Eu acho que estou esperando que você esteja lá para mim no final

Há momentos em que eu não sei se isso é real
Ou se alguém se sente como eu me sinto
Eu preciso de inspiração
Não apenas outra negociação

Tudo o que eu quero fazer é achar um caminho de volta ao amor
Eu não posso superar sem um caminho de volta ao amor

E se eu abrir meu coração para você
Eu espero que você me mostre o que fazer
E se você me ajudar a recomeçar
Você sabe que eu estarei lá para você no final

C.096.Como uma oração - Glee


A vida é um mistério
Todos devem permanecer sozinhos
Ouço você chamar meu nome
E me sinto em casa

Quando você chama meu nome
É como uma pequena oração
Estou de joelhos
Eu quero te guiar
À meia-noite
Posso sentir seu poder
Igual a uma oração
Você sabe que o levarei lá

Ouço sua voz
É como um anjo suspirando
Não tenho escolha
Ouço sua voz
Me sinto voando
Fecho meus olhos
Meu Deus, acho que estou caindo
Fora do céu
Fecho meus olhos
Paraíso, me ajude

Como uma criança
Você sussurra suavemente para mim
Você está no controle
Igual a uma criança
Agora estou dançando
É como um sonho
Sem fim e sem começo
Você está aqui comigo
É como um sonho
Deixe o coro cantar

Assim como uma oração
Sua voz pode me guiar
Como uma musa para mim
Você é um mistério
Igual a um sonho
Você não é aquilo que parece
Igual a uma oração, sem escolha
Sua voz pode me guiar

Assim como uma oração, te guiarei
É como um sonho para mim
Igual a uma oração, eu te guiarei
É como um sonho para mim

C.095.Cheiro de mãe - Thaina Santiago


Logo de cara...
no primeiro olhar
havia tanta emoção
Somente em tua voz
há mansidão
Teus braços
meu porto seguro
Os teus carinhos
melhores que
de outra pessoa
Teus beijos
verdadeiros
Tua garra e valentia
mostram quem tu és
Em teu seio
adormeço
Teu corpo, somente ele
possui tal fragrância
exalam teu cheiro
Cheiro de mãe

C.094.Coração valente - Anderson Freire


Circunstâncias dizem que não dá
Falam que você está tão perto de parar
Coração valente é assim que quero hoje te chamar
É normal na guerra se ferir
e pra não morrer ás vezes pensa em fugir
Cego pelo medo não vê que o gigante
é bem menor que a mão de Deus
Não quero contar uma história que você morreu
Se por um tempo você só adormeceu

Coração, por três dias Jesus parou de respirar
Pra fazer você ressuscitar
Tudo bem de carne você é
Mas sua estrutura é a fé
Coração valente você não pode parar

C.093.Como as estrelas - Douglas Farias


Nós dois somos como as estrelas
Que brilham com sua luz quando a noite se revelar
Nós dois somos como as estrelas
Que traçam nossos destinos em seu orientar

Nós dois somos como as estrelas
Onde ascendem as paixões mais distantes
Nós dois somos como as estrelas
Onde fascinam-nos com seus movimentos deslumbrantes

Nós dois somos como as estrelas
Que com suas formas criam segredos
Nós dois somos como as estrelas
Que dão imaginação aos nossos desejos

Nós dois somos como as estrelas
Onde posso ver seu sorriso
Nós dois somos como as estrelas
Onde semelhante é ao seu rosto liso

Nós dois somos como as estrelas
Que dá razão na sua existência
Nós dois somos como as estrelas
Que explodem e dividem sua essência

Nós dois somos como as estrelas
Onde você faz parte da minha constelação
Nós dois somos como as estrelas
Onde torna real o que pretende o coração

C.092.Coração Guerreiro - Douglas Farias


Ainda não acabou você não desistiu
Ano após ano nessa guerra
Lutando com todas as forças
Para voltar para sua terra

Mesmo muitas vezes caindo
Ergue-se mais forte
Travando muitas batalhas
Encarando muitas vezes a morte

Seja como for ou aonde for
No céu ou no mar
Até diante do impossível
Nada poderá te abalar

C.091.Com o meu amor - Douglas Farias


Se o sim ou não
Já não bastar
Por que fugir
Certas situações
Dependem de você aqui

Levanta, vai
Termine o caminho
Que deixou pra trás
Toda essa dor
Há de ser curada
Com o meu amor

Teu sofrer
Não pode extinguir
A vontade de viver
Conte comigo
Sempre que precisar
Terás um verdadeiro amigo

Levanta, vai
Termine o caminho
Que deixou pra trás
Toda essa dor
Há de ser curada
Com o meu amor

Posso curar toda sua dor
Tirar esse seu sofrer
Acabar com que te faz parar
Tudo que você precisa 
Está em seu coração
Estou aqui...

C.090.Como tudo foi difícil - Thaina Santiago


Se o senhor soubesse como dói ser abandonada, tão frágil e pequena, necessitando de um herói em minha vida...
Sabe o quanto é nojento um homem ter tentado me agarrar em supermercado, um coroa ter me acariciado, outro ter me chamado para um forró, e um cara ter me assediado?
Você nem sabe como que passar por tudo isso foi difícil. O que mais me doeu é que você nunca esteve perto.
Perdoe-me, mas, você não foi o melhor pai, e me perdoe por estar te culpando. Ainda assim posso dizer que eu te amo, papai!

C.089.Com você - Douglas Farias


Com você creio no impossível
Com você posso continuar
Com você tenho a quem estender a mão
Com você há para quem voltar