quinta-feira, 30 de abril de 2020

P.076.Ponta dos Pés - Lucelena Maia


A música toca convidativa
Fazendo pernas se agitarem
Com sapatilhas em ponta
Caminhando leves a se expressarem.

A barra sustenta pernas em alongamento
Braços vão e voltam sem parar
Alongando musculaturas em movimentos...
Coreografia perfeita, sem o menor risco de errar.

Enquanto pernas ganham o ar
Braços interpretam o sentir
Do bailarino que dança só pra doar
Seu corpo ao que a música pretende exprimir.

P.075.Pensamentos - Lucelene Maia


Meus pensamentos se perderam em alto mar
Quando minh'alma abraçava-se ao frio e ao vento
A deriva eles rumaram sem me darem tempo
De vê-los através da neblina, fugir, a contento.

Pode ser que tenham afundado em alto mar,
Ou presos ficaram entre as rochas em silêncio
Quem sabe a tempestade os tenha libertado
Da tormenta de estarem a mim sempre presos.

As lembranças, unidas, também se foram,
Impossibilitando-me resgatar memórias
Vazia de tristeza senti no frescor da brisa
Momento de jogar âncora e desacorrentar alma

P.074.Passar a Limpo - Lucelena Maia


Depois de rascunhar, rabiscar, apagar e
Reescrever cada palavra na memória
Elas ganharam reticências e
Adendos sem entonação
Para não deformar o sentido do
Passar a limpo
Que significada
Show da vida,
Curiosidades,
Acontecimentos,
Meras lembranças,
Confidências,
Memória dos...
Segundos que correram com o vento,
Das lágrimas que encharcaram coração,
Da felicidade movida por momentos,
Do sentimento exercitando paciência,
Do peso de frases amigas na balança das decisões,
Do comportamento retratando personalidade,
Da insatisfação mergulhando em reflexões,
Das reflexões emergindo satisfação,
Do acreditar sem dúvida ou desacreditando,
Dos encontros que se tornaram desencontros,
Da preocupação que se dissolveu em resultados,
Da falta de sono por problemas infundados,
Dos segundos vividos como eternos momentos,
Do desperdício por preciosidade una,
Da ganância imortalizada pela necessidade,
Do desabafo certo em momento errado,
Dos acertos aos grandes desafios,
Da oportunidade perdida gerando experiência,
Da experiência que levou à oportunidade,
Da timidez ao receber aplausos,
Do próprio aplauso ao superar timidez,
Da felicidade que não passou de sonho,
Dos sonhos que geraram felicidade,
Enfim...
Memória dos anos
Passados a limpo
Na memória...

P.073.Paixão - Clevane Pessoa de Araujo Lopes


Ardo-me, qual um sol muito quente,
veranico de escaldar,
embora antes fosse morna
de signo lunar...

Molho-me,
chovo-me,
sinto-me desmanchada
em lágrimas, quando separada
de ti-pois és como o ar:
se me faltas, posso
diluir-me em mim...

Teu beijo me alimenta
néctar de meu Olimpo
particular.
Basta-me teu olhar
para fazer valer
meu dia a começar...
E se me abraças
viro um bebê de colo
a quem precisas ninar...

És meu complemento,
meu encantamento
e se sei que esta fase vai passar
para tornar-se Amor
ou em Nada se tornar
neste momento
o que desejo de fato
é mesmo te respirar...

P.072.Paisagem - Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Sob as montanhas vigilantes
de verdes tons faiscantes.
Há minas de diamantes
há geodis e cristais
dizem até que há duendes e gnomos
e todos elementais.

Ao pé dessas belezas seculares,
cochila um manso lago
sem aves aos bandos, sós ou em pares
que agitem-lhe a superfície.

Diz a saga do lugar
que uma jovem apaixonada
ao saber-se preterida
pelo moço de seus sonhos,
jogou-se intimorata
do alto de uma pedra escarpada,
perfumando o ar
com seu corpo, ao flutuar.

E as águas mansas
abriram uma grande boca de renda
para receber a oferenda.

Nunca mais, no entanto,
nada, nem ninguém
foi capaz de agitá-las.
Viraram sepultura líquida
da juventude sacrificada...

P.071.Procurando a verdade - Celito Medeiros


Vem saudade e me pega
Para descobrir o que se passa
Pois já estou sem graça
Em não saber o que é isto.
Tenho um grande sentimento
Que carrego aqui por dentro
Como uma força viva.
Parece que no passado
Eu tivesse apostado
Em algo que não sei.
Vou procurar descobrir
Para voltar a sorrir
Quando tiver encontrado.
Se parecer esquisito
É como eu tenho dito
Não fico na ilusão.
O que carrego comigo
Não pode ser um castigo
Preciso de compreensão.
Coisas ruins não se procura
A princípio é só doçura
Mas transformam e enganam.
E eu não sou um piano
Que espera ser tocado
Por um mestre malvado
Saído não sei de onde.
Por isso é que procuro
Sair deste escuro
E abraçar a liberdade
Desde a tenra idade
Tenho sonhado promover
Para o mundo todo saber
Que existe vida melhor
E sabendo lidar com o pior
Encontrarei a tal verdade.

P.070.Por que a pressa - Celito Medeiros


Por que tanta pressa?
Descanse, pense
Ainda tem tempo
Calma, devagar...
Isto é loucura
Não, é devaneio
É não ter recreio
Nesta vida que passa.
Tangido pela mordaça
Ainda que impeça
O indivíduo se lança
Na pura desgraça.
Por que tanta pressa?
Olhe o sol
Aprecie as nuvens
Volte...
Pise no chão
Sinta o que toca
Segure a mão
Daquele que foge.
Por que tanta pressa?
Não fuja da vida
Para que a vida não fuja.
Se embrenhe
Suspire...
O susto que aspire
Vai logo embora
Mas você, fique!

P.069.Pobre eu não fico - Celito Medeiros


Dinheiro não traz felicidade
(Se for pouco me diz alguém)
Porém se tiver de verdade
E souber como convém
Desfrutar de tal benefício
Me diga em qual idade
Você fará melhor isso.
Poderá dele desfrutar
Mas me dê para gastar
Uma pequena fortuna
Que na idade que emplacar
Não deixo nenhuma lacuna.
Ser rico não é defeito
É isto sim uma tragédia
Achar que pobre é satisfeito
Mesmo na sua comédia.
Quem é rico que desfrute
Como melhor lhe convier
Ainda que pobre mamute
Quero comer um caviar
Não posso ser um folgado
Para um dia desfrutar
Como aquele rico danado
Que só soube me esnobar.
Deixem pra lá o dinheiro
Não traz felicidade
Burro do trambiqueiro
Que não cai na realidade.
Se der duro o ano inteiro
Terá a mesma facilidade
Deixem pra cá o dinheiro
Se for rico é perdição
Me tornarei muambeiro
Será essa minha profissão
Mas pobre e no galinheiro
Isto eu não fico não

P.068.Persistência - Celito Medeiros


Voa, não sossega
O que é isto?
E eu velado
Calado
O que vejo?
Não sou percevejo
Percebo
Vejo.
Procura uma ajuda
De onde?
Está muda.
E eu ao lado
Percebo
Não sou analista
Nem pessimista
Sou apenas eu.
E eu que faço
Dou um abraço?
Me iludo
Me satisfaço.
O que mais posso?
Posso?
Sim, acho que posso!
Não estou neste poço
Darei mais que um abraço
Serei como um osso
Não desisto
Insisto...
E consigo!

P.067.Procuro meu caminho - Vanderly Medeiros


Pelas estradas da vida eu vou
traçando metas
desviando das retas
caminhando pelas curvas incertas...

Da vida,
sentindo o ardor do sol da despedida
a chuva da desilusão
o podre da ingratidão
o pranto da devassidão
a ânsia da solidão...

Pelos caminhos traço e (des)traço
meus (des)caminhos e (des)compassos
O (des)sabor de viver sozinha
A dor do coração sem carinho
A ingratidão se estar sozinha

Pelas curvas do meu caminho
sempre só,
triste,
amarga,
desleixada,
abandonada,
desamada,
desesperançada,
angustiada...

Pelas curvas do caminho,
procuro meu ninho
meu cantinho
meu carinho
meus filhotinhos,
A razão de meu existir
A confiança do meu amanhã
A fé nos seres...

Procuro nas retas e curvas dos caminhos,
Meu desejo de viver
De não morrer ainda em vida
ansiando cada minuto pela partida...