domingo, 30 de junho de 2019

D.041.Despedida - Lupércio Mundim


O caminho da estação,
que marcou a nossa infância,
nos deixou a sensação
que o amor supera a distância.

Com os olhos inundados
e o coração ressecado,
com você, de braços dados,
troquei o último recado.

Já apitando o maquinista,
o último passageiro chamando,
e eu na porta como um equilibrista,
a sua boca loucamente beijando.

Arranca o trem, fumaça soltando,
muitas vezes voltarei para essa cidade,
seu rosto vai ficando distante, chorando,
sinto que nos amaremos toda a eternidade.

D.040.Duas de mim - Lucelema Maia



Preciso ouvir vozes externas
Chamando por mim
Num som alto que supere
A voz interna que me condena,
Insistindo que não vou a luta,
Torturando meu caminhar,
Meu olhar, meu jeito de ser
E a forma de me portar.

Já não suporto conviver com o
Onipresente interior,
Decidido a super-star,
Egoísta ao não se exteriorizar,
Culpando-me e inibindo-me
Sufocando-me,
Sem que eu consiga me soltar.

É desconfortável ter por dentro
A bondade disfarçada de madrasta
Retalhando decisões
Trancando a coragem
Quando vislumbro reações...

Ah! Essa voz interna me arrasta
Sem que a voz externa
Dê um basta...

D.039.Debutei na Avenida - Lucelena Maia


O sonho de princesa
no primeiro baile desmoronou
joguei fora vestido e saiote
depois a maquilagem lavei
e com o rosto limpo
rapidamente me troquei.
Usando vestido surrado,
sandália velha
deixei às jovens da minha idade
o papel de mulher que nunca busquei.
Me arrumei e fui a luta
atrás dos meus ideais
para a jovem inocente,
um adeus pra nunca mais.
Era chegado o momento
de ganhar respeito, ser forte
e mesmo quando despida
de toda e qualquer intenção
presunçosamente vestia
a mais convincente razão...

Tornei-me madura
sem aprender valsar
mas conhecedora dos passos
que iam do rap
salsa, samba, frevo ao tcha...tcha...tcha.
Galguei o posto de rainha da bateria
em uma escola em ascensão
e ao desfilar na avenida
me emocionei
como se estivesse debutando
de corpo, alma e coração...

Debutei
meus quinze anos,
minha maturidade,
a avenida e
minha sagacidade.

D.038.Droga de Tentação - Celito Medeiros


Dá um tempo....
Não estou com saco
De fingir que gosto
Aplaudir o chato.

Dá um tempo...
Vê se te manca
Não sejas potranca
Tão prestimosa.

Dá um tempo...
Sossega
Respira
Retranca.

Dá um tempo...
Te dou um tempo e,
Tens todo o tempo
Enquanto é tempo!

Dá um tempo...
Dá um tempoooooo..............!!!!!.
Ou cai fora!
Voltei para a vida.

D.037.Desculpe, sou direto - Celito Medeiros


Vou confessar
Que não gosto de galinha
Sou homem
Não combina!
Se não gosto de titica
Por que me sujar
Existem poleiros
Não no meu altar.
Confesso
Não aprecio tal risoto
Pois fico com arroto
Só em pensar.
Mude
Vire gente
Ou vá para o galinheiro
Onde é seu lugar.
Não diga que sou xarope
Pois não sou o remédio
Para tanto tédio
Que não posso curar.
Somente um vagabundo
Que vaga
Pelo mundo
Consegue te aturar.
Agora confesso
Meu forte sempre foi
Ser honesto
E saber a quem amar!

D.036.Decidir é preciso - Celito Medeiros


O que é que eu sinto no peito
Que me intriga e me assola
Feito um pulsar de mola
Fere assim desse jeito?
O que se passa comigo
Fico só e sem abrigo
Para defesa imediata?!
Por que não saio desta
Pouco ainda me resta
Para ser utilizado?!
Por que fico calado
Não dou o grito da liberdade
Tirando toda maldade
Que insiste em me prender?
Ora, chega!!!
Vou dar um basta
Não sou alterdeterminado
Para viver enojado.
Vou lidar com ousadia
Não quero mais companhia
De tristeza ou solidão.
Vou levar para o rumo norte
Meu barco com vento forte
Nesta eu não fico não!

D.035.De tudo um pouco - Celito Medeiros


Eu gosto da chuva
Eu gosto da borrasca
Eu gosto dos trovões
Eu gosto das tempestades!
Também gosto do sol
Também gosto da sombra
Também gosto do calor
Também gosto da luz!

Gosto da vida
Gosto de viver!
Ainda gosto do passado
Amo muito o presente
Gostarei do futuro!
Gosto de mim
Gosto de todos!

Também gosto de ser
Também gosto de ter
Também gosto de fazer
Também gosto de mudar!
Eu gosto de escrever
Eu gosto de ler
Eu gosto de tudo enfim
Eu gosto de dizer!!!

D.034.Dando o Pulo - Celito Medeiros


Olho para o lado
Aprecio, aprovo.
Depois adiante
Que é isto?
Assim não!
Não gosto.
Mudo
Não sigo passos.
Percebo tudo
Mas mudo.
Não, não me calo
Apenas mudo
É assim que falo.
Faço a medida
Calculo ele,
O pulo.
Saio para a vida
A vida faço,
A minha!

D.033.Dando Duro - Celito Medeiros


O tempo que passa
Fere e amordaça
Aquele que se lança
Na mesma dança.
O império desmorona
Ao sujeito na lona
Que não produz trabalho
Só procurando o atalho.
Ainda que duvide
Vem logo o revide
Encontrando-se só.
O que precisa é dar de si
Pois ainda é pior
Ficar no frenesi.
É bom ver o resultado
Do esforço danado
Na luta que se apega.
Voltei ao lado do vento
Que tem me guiado tanto
Pois não conheço o rumo.
Estou seguindo a intuição
Para não ficar parado
Esperando a sorte chegar.
Então saio pelo mundo afora
Procurando uma morada
Onde eu possa enraizar.
É tão tolo ficar inerte
Passando pela vida
Sem ver a vida passar.
Vou cruzando por caminhos
Somando conhecimentos
Que podem me dar o sustento
Trazendo luz em vez de espinhos.

D.032.Don Juan - Silvana Duboc


Diga-me afinal
o que houve entre nós dois
porque depois
pretendo me afastar de você
e com mais ninguém do seu tipo me envolver

Diga-me em que momento
as coisas foram mudando
e você de mim se afastando

Explique-me se houve um real motivo
ou se apenas eu lhe cansei
porque sobre isso
muito eu já pensei
e a uma única conclusão cheguei

Corações como o seu
não se envolvem, nem se dão
porque precisam sempre estar de prontidão
para envolver um outro coração

Foi aí que eu me machuquei
porque muito tempo eu levei
para aceitar essa realidade
que Don Juan não se apaixona
apenas faz da nossa vida uma passagem

No entanto fica em mim uma certeza
em algum momento
um porto eu encontrarei para atracar
e de lá, sozinho lhe verei naufragar

Ah...uma terrível solidão vai lhe lamber
como se fosse uma onda do mar
e nesse momento eu vou estar
nos braços de alguém que sabe amar
e de você nem vou lembrar.