terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

C.042.Cantato Sacro 0 Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Mesmo quando as tempestades são duras
Minha alma quer manter-se pura e intocada
Erguendo-se, qual condor, nas alturas
De energia, gastando quase nada...

De costas para o vento, vai flutuando
Conduzida pelas bolsas de ar quente
Não há desgastes nem cansaço: voando
Faz-se parte do Cosmos, resiliente...

Alvo de flechadas, tiros, pedradas
Protege-se subindo mais e mais
Além das nuvens, no azul absoluto

E acha, asas abertas, não rasgadas,
Em átomos infinitesimais,
Deus, que mesmo sendo tudo, é impoluto...

C.041.Confiteor - Clevane Pesoa de Araújo Lopes


Eu morro de Amor
E ninguém conhece
O lento processo
por que passa,alado
meu espírito atado
ao corpo, sem cor,
a morrer sem prece...

Eu morro de amor
Em cada instante de vida,
Pois vivendo, vou cravando
Em todos pontos vitais
Adagas em pura brasa
Espinhos mortais...

Eu morro de amor,
Em cada prazer
em cada sorriso
Porque sempre preciso
Esconder que sofro
A me desfazer...

Sob o peso da angústia
Pareço balerina
Lentíssima, levíssima...
Dentro de mim,ao giro
dessa espiral, transfiro
O eixo da ironia fina...

Eu morro de amor!
Eu morro de amor
Porque esse amor-ausência
Aos poucos me extermina...
Em pianíssimo eu morro
Cisne a morrer fremindo...

Querem que eu dance mais,
Sem parecer que morro
Para o aplauso total
Até às notas finais
sem notarem que eu morro
de verdade, afinal...

C.040.Certas Palavras - Clevane Pessoa de Araújo Lopes


há palavras de fogo a pirografar
um momento,indelevelmente marcadas
na pele da alma,cuja queimadura,
em abrasão,estará exposta
à dor da relembrança...
Quando uma história de amor
está prestes a se acabar
chispas de brasas
ficam no ar...
ferro em brasa ,a desenhar
hieróglifos que somente o portador
poderá decifrar...

C.039.Creio em Ti - Thais Arrighi


Estou aqui
Com a felicidade
Dentro de mim...
Esta mistura de saudade
E a esperança de te encontrar
Você chegar...
E não mais sair daqui
Dentro de mim
Do meu coração
Assim...Como a felicidade
Pois ela é você!
Então...Caminho porque...
Creio em ti...No seu amor
No meu amor...
Em nosso amor
Em nossa vida
Por caminhos paralelos
Mas que no final
Seguirão as leis...
Mas fugirão às regras
Pois se encontrarão!
Porque creio em ti
Creio em mim
Cremos no...Amor!

C.038.Cantos de pedra - Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Silêncio de pedra
dizem os mortais
quando querem expressar
uma ausência total
de quaisquer sons...
No entanto, as pedras gemem
falam,reclamam
ao lento perpassar de cada instante
em todas as lentas eras...

e sob a terra, onde dormita
na aparência da imobilidade absoluta
a pedra gesta magníficas formas
enquanto canta os sons inaudíveis
do perfeito construir-se...
A pedra canta, assim como as gestantes
-e quando se divide, ao ser arrancada
das profundezas,é que chora
a violência dessa dor,
chora células de cristais e outra preciosidades
que não deveriam ter preço...

Exposto ,bipartido, fatiado,
limpo e polido pela maciez da flanela,
o geodi bem baixinho pranteia
carpindo a perda do ventre maior,
sagrado, ignoto e cheio de mistérios...

A pedra não silencia:
o silêncio não é de pedra
e as pedras não são pedras...

C.037.Contudo, gosto - Celito Medeiros


Não corrijo a poesia
Eu me corrijo
Ela fica
Eu passo
Mas volto.
Não vivo dela
Vivo com ela
Que me sustenta
E não cobra.
É como uma pérola
Que muito vale
Para a musa
Que
Usa.
Com ela
Sou forte
Abalo.
Caminho
Até vôo
Para longe
Ou
Para perto.
Acho graça
Fico completo
Uso
Ou
Abuso.
Com tudo aprendo
Contudo, gosto!

C.036.Confiar é preciso - Celito Medeiros


Socorro!
Nos salva,
Se não morremos todos...
Socorro!
Fui pego,
Muitos estão comigo...

Calma!
Tem calma
Estou aqui,
Sempre estive!
Pensa...
Tu és forte
Todos são fortes
Estou convosco!
Agora...
Olha para a luz
Segue este rumo
É a saída!
Confia...
Sou teu amigo
Não me chamaste?!...

C.035.Com ciência - Celito Medeiros


Por que tanta queixa
Me deixa
Não estou nesta.
Gosto da ameixa, da amora
Me implora...
Fica nua!
Sem nada, limpa
Dengosa, serena vadia
Vá dia!
Ainda pensa
Envolve, sacode
Me empina!
Se empepina.
Enferruja, atola
Doce memória
Da dança da vida.
Me chateia!
Gloriosa lacuna
Preenche o tempo
Que traz com o vento
O sabor da flora,
Que aflora.
Mimosa melodia
Uma flor agora!?...

C.034.Clonagem - Celito Medeiros


Por que querem clonar
Um Ser quase perfeito
Procurando com outro jeito
A natureza modificar?
Ora, não sabe tal cientista
Que pode ficar na lista
De sua idéia bestial!
Já que somos um animal
Dito pela psicologia
Não é nada racional
Usar de tal estratégia.
Mas eu que sou um espírito
Nego tal tragédia
Só tenho corpo animal!
Um corpo já tão sacrificado
Que por muitos é usado
Para suas aberrações.
Não brinquem com coisa séria
Criatura de tanta grandeza
Não precisa fazer miséria
Brincando com a natureza.
Mas querem fazer clonagem
Pensando ter a solução
O que fazem é bobagem
E dói muito no coração.
Vou pedir ao meu divino
Que faça este cretino
Mudar a direção
Trabalhar com tal primor
E fazer com todo o amor
Sua obra agradar
Pois precisamos de fato
De talento quase nato
Ajudar a humanidade.
Tanta coisa para fazer
E o homem reerguer
Sua antiga honestidade.

C.033.Cinco Poemas - Antonio Júnior


Não há regresso.
tornar a enxergar vastidões de relâmpagos,
de rústicas madrugadas.
sabás do que nem sei,
do que nunca suspeitei: uma plenitude,
um sinal celeste, o demoníaco
fio que conduz ao inumano,
neste tempo de enganos.
não há regresso.

sou um cântico
esmagado dentro do silêncio
um cigano
uma estrada imunda até à lua
eu sou a lua
um retrato
de um bar numa longínqua madrugada
um fósforo de faíscas púrpuras
um tubarão em oceanos nunca mergulhados
um deserto escarlate, uma chuva generosa
uma chuva de seiva - fácil, única
uma carta que não sabe onde você mora,
não encontra o diáfano caminho
que guarda palavras em todas as línguas,
todas as preces
e interroga:"que acontecia se eu voltasse,
se você voltasse?"

lobos existem, assim como raposas e víboras, mas
o que tenho não merece cobiça:
um nome que é um hábito impertinente
que nem sequer exala o bálsamo
de tantas folhas miúdas
que nascem subitamente ao amanhecer.

escuto o silêncio.
é coisa para doidos, como esperar a nudez
de um amanhecer cinzento
ou seguir em transe uma abelha de
flor em flor.
a música
do silêncio-jazz.
para não extinguir a esperança
do inominável mistério.
mistério meu, que muito quero.
aceitando tudo, vomitando tudo.
aproximo os ouvidos: não existe terra,
não existe céu. tão somente a vida é lenda.
escuto, escuto. o silêncio-jazz.

vou por onde acaba o nascimento,
por entre pressentimentos.
a inquietação - como roer a arte, a vida, Deus? - é
protagonista de minha história comum
de minha história em mim que me
persegue e me foge
conflito por dizer que vivo que consigo ver
enquanto chove nesta escuridão lisboeta
de dezembro
e caminho à margem do Tejo
constelação líquida de todas as águas do mundo
e poderei viver ao sabor de uma conversa abstrata
enquanto se fala e se volta a esquecer
o essencial