sábado, 31 de agosto de 2024

E.178.Esta é a forma fêmea - Walt Whitman


Esta é a forma fêmea:
dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
ela atrai com ardente
e irrecusável poder de atração,
eu me sinto sugado pelo seu respirar
como se eu não fosse mais
que um indefeso vapor
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
— artes, letras, tempos, religiões,
o que na terra é sólido e visível,
e o que do céu se esperava
e do inferno se temia,
tudo termina:
estranhos filamentos e renovos
incontroláveis vêm à tona dela,
e a ação correspondente
é igualmente incontrolável;
cabelos, peitos, quadris,
curvas de pernas, displicentes mãos caindo
todas difusas, e as minhas também difusas,
maré de influxo e influxo de maré,
carne de amor a inturgescer de dor
deliciosamente,
inesgotáveis jatos límpidos de amor
quentes e enormes, trémula geleia
de amor, alucinado
sopro e sumo em delírio;
noite de amor de noivo
certa e maciamente laborando
no amanhecer prostrado,
a ondular para o presto e proveitoso dia,
perdida na separação do dia
de carne doce e envolvente.

Eis o núcleo — depois vem a criança
nascida de mulher,
vem o homem nascido de mulher;
eis o banho de origem,
a emergência do pequeno e do grande,
e de novo a saída.

Não se envergonhem, mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
— vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.

A fêmea contém todas
as qualidades e a graça de as temperar,
está no lugar dela e movimenta-se
em perfeito equilíbrio,
ela é todas as coisas devidamente veladas,
é ao mesmo tempo passiva e ativa,
e está no mundo para dar ao mundo
tanto filhos como filhas,
tanto filhas como filhos.
Assim como na Natureza eu vejo
minha alma refletida,
assim como através de um nevoeiro,
eu vejo Uma de indizível plenitude
e beleza e saúde,
com a cabeça inclinada e os braços
cruzados sobre o peito
— a Fêmea eu vejo.

E.177.Esquecimento - Walmir Becker


Agorinha mesmo,
Sem mais nem menos,
Em meio a tantos pensamentos,
Lembrei-me que te esqueci.

É que andei ocupado,
Por todos esses tempos,
Com pensamentos
Que não pensavam em ti.

E.176.Escuto a América cantar - Walt Whitman


Escuto a América a cantar, as várias canções que escuto;
O cantar dos mecânicos – cada um com sua canção, como deve ser, forte e contente;
O carpinteiro cantando a sua, enquanto mede a tábua ou viga,
O pedreiro cantando a sua, enquanto se prepara para o trabalho ou termina o trabalho;
O barqueiro cantando o que pertence a ele em seu barco – o assistente cantando no deque do navio a vapor;
O sapateiro cantando sentado em seu banco – o chapeleiro cantando de pé;
O cantar do lenhador – o jovem lavrador, em seu rumo pela manhã, ou no intervalo do almoço, ou ao por-do-sol;
O delicioso cantar da mãe – ou da jovem esposa ao trabalho – ou da menina costurando ou lavando – cada uma cantando o que lhe pertence, e a ninguém mais;
O dia, ao que pertence ao dia – De noite, o grupo de jovens, robustos, amigáveis,
Cantando, de bocas abertas, suas fortes melodiosas canções.

E.175.Entre tópicos e trópicos - Lucas Menezes Maida


Garota carioca, o seu rosto é Laranjeiras
Sua pele que me toca, o teu corpo é Mangueira
Curva
Da Urca, gira enfeitiçada da Tijuca
Que girou
Me sinuca, me truca
Pede 6
E desce do Troncal 3
Eu quero 12
Você na areia fazendo pose

Outro close, escolhe qual foto que você quer
Não quero um romance igual o do Buscapé
Quero jongo à luz do luar, sal e o sol que me consome
Quero escola de samba, mas sem Beija-Flor de codinome

É por mim, por você, por Ogum e Iansã
É pela terra, pela carne, pelo samba no morro
Vou guardar o seu amor toda manhã
Com senha e corrente num cofre boca de lobo

Do topo da favela numa varanda
Penso em uma sacada pra te impressionar
Uma que te deixe mais contente
Do que qualquer uma de frente pro mar

Entre caminhos e passeios pela orla
Ela é prata como a areia que pisamos
Dois pássaros soltos da gaiola
Presos na liberdade que criamos

Somos todos um bando de perdidos
Nos encontrando nos desencontros
Procurando, em lojas 24 horas, livros já lidos
Com finais de frases sem três pontos

Entre tópicos e trópicos, quero andar aí
Estar aí, de Cosme Velho até o Andaraí
Ver o Pôr do sol tingido de laranja, resfriando o calor
No asfalto de Ipanema, indo pras pedras do Arpoador

Ela é tão preto e branco, mas cheia de cor do lado
Um amor panóptico de cima do Corcovado
E a cidade não estava mais cinza
O Cristo rasgou as nuvens do céu nublado

E.174.Enquanto eu ponderava em silêncio - Walt Whitman


Enquanto eu ponderava em silêncio,
Retornando sobre meus poemas, considerando, muito demorando-me
Um Fantasma ergueu-se diante de mim, de aspecto desconfiado,
Terrível em beleza, idade e poder,
O gênio de poetas de antigas terras,
Como se a mim direcionasse seus olhos feito chama,
Com dedo apontado para muitas canções imortais
E voz ameaçadora, O que cantas tu?, disse;
Não sabes que há senão um tema para bardos sempiternos?
E que esse é o tema da Guerra, a fortuna das batalhas,
A feitura de soldados perfeitos?

Que assim seja, pois, respondi,
Também eu, altivo Vulto, canto a guerra – e uma maior e mais longa do que qualquer outra,
Travada em meu livro com fortunas várias – com fuga, avanço e retirada – a Vitória trêmula e deferida,
(No entanto, creio, certa, ou quase o mesmo que certa, afinal,) – O campo o mundo;
Pois a vida e a morte – para o Corpo, e para a Alma eterna,
Vede! também venho, entoando o canto das batalhas,
Eu, sobretudo, promovo bravos soldados.

E.173.Enfermidade Sulnheira - Nathaly Guatura


Suado.
Oco.
Atônito e faminto.
Visivelmente perturbado te negava e me aventuro novamente a dormir.
Naquela manhã sou tão Maiakóvski...
“Transtornado, tornado louco pelo desespero”.
Abro os olhos e o ultrarromantismo de serem salgadas, no deserto, as minhas fontes,
Deus meu, como me há ainda de doer.
Delírio, desisto de fatigá-lo, entojá-lo, socá-lo em ferro, em fogo, em pau, em pedra...
Desista, tu, de mim, pois não te sou direito nem direto.
Eu quis ser só um sujeito transitivo por aí, mãe,
Vagoso sem verbo, com complemento singular e indefinido.
Naquela noite eu sou subordinada à qualquer oração ou prece que me coubesse.
Mas em tudo sou acessório, mãe,
E eu quis teus braços! Me acorde!
Me acode! Me sacode!
Mãe, deixe que eu seja um bicho.
Eu não precisei ser integrante.
Deixe eu ser expletivo, vão, qualquer,
Futilizado porém lúcido.
Me deixe qualquer coisa, mãe!
Só não me deixe mais sonhar!

E.172.Ela pra mim - Lucas Menezes Maida


É a voz pro Cazuza
É a maquiagem pro Kiss
É a Ipanema pro Tom
É o peixe grande pro Tim

É o amarelo pra faixa
É o azul pro céu
É o preto pra Pérola
É a independência pro Padre Miguel

É o verde pro Marcelo
É o espelho pro João
É a onda pro Cassiano
É a sétima corda pro violão

É a palhetada pro Hendrix
É a margem pro Ferréz
É a cor pro Djavan
É o improviso pro Jazz

É o breque pra bateria
É o Patriarca pro Vantuir
É o templo pra Udaipur
É o tempo pro Dalí

É o cortiço pro Aluísio
É a água pra Dona Celestina
É a viola pro Paulinho
É a cuíca pro China

É a serotonina pro químico
É a anatomia pra Meredith
É a fruta pro Arcimboldo
É o cachimbo pro Magritte

É o morro pro Bezerra
É a ginga pro malandro
É a área pro Romário
É a Pessoa pro Fernando

É o líquido pro Bauman
É o instrumento pra seresta
É o sereno pro boêmio
É a poesia pro poeta

E171.E isto é o amor? - Gregório de Matos Guerra


Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.

O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira

E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda

O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

E.170.E dai? - Walmir Becker


Na escola achava, cada amigo mais chegado,
que ele viria a ser um homem celebrado;
pensando o mesmo, ele viveu com esse humor,
fartando os seus vinte anos de labor;
E daí?" "E daí?" - cantou o fantasma de Platão. Tudo o que ele escreveu, tudo foi lido; Depois de certos anos tinha já obtido dinheiro suficiente para sua precisão, e amigos que deveras foram seus amigos; "E daí?" "E daí?" - cantou o fantasma de Platão. Seus sonhos mais felizes realizaram-se: uma velha casinha; esposa, filha; um filho ele houve, e em seu quintal cresciam ameixeira e couve; poetas e intelectuais juntavam-se-lhe à mão; "E daí?" "E daí?" - cantou o fantasma de Platão. "A obra está feita", pensou ele, envelhecido, "segundo o que em menino dei por decidido que os tolos raivem, eu não me desviei em nada, alguma coisa eu trouxe à perfeição"; "E daí?" - cantou mais alto a sombra de Platão.

E.169.Entre nós - Jelane Agyei


Entre nós olho dentro dos teus olhos e observo a imensidão a ser desvendada
e com jeitinho chego e me embriago nessa fonte tão rara
nela quero me envolver cada vez mais para te-la perto de mim
e sentir que cada dia só tem começo e nunca um fim
e descobrir no intimo do seu ser
o quanto é prazeroso em meu braços poder te ter
é com isso cada vez mais poder crescer
e ter um romance eterno com você.

Entre nós a cada manhã rola aquele lance de conquista
deve ser por que quando nossas almas se juntam ela se identificam
te quero todos os dias desde o amanhecer quando rola o primeiro olhar do dia
ate quando deito quando você pergunta como foi seu dia
nosso amor não tem limites nem dimensão muio menos hora para ser consumado
e você me faz tão feliz que ter você ao meu lado me sinto presenteado
e como um presente a ser aberto adoro te despir
e cada vez é uma surpresa pois gosto de te-la perto de mim.

Entre nós adoro nossos lances, nossas trocas de mensagens
adoro mesmo que a distância da sua vida fazer parte
nossa paixão exala essência e magnitude
e podermos nos amar não importa a forma se torna uma virtude.
se para alguns o céu é azul anil para mim é vermelho quando pinta seus lábios 
e me convida a sentir teus beijos
e é tão provocante que em seus ouvidos declaro que eles são tudo que almejo
e fico descontrolado com o coração pulsando a mil batidas por minuto
o com seu olhar malicioso um outro lado de mim descubro.

Entre nós falo baixinho em seus ouvidos afim de te arrancar suspiros 
e arrancar o mais puro dos seus gemidos
rola entre nós uma maravilhosa química em explosões de alegria
e por onde passamos nosso amor as flores contagia
elas desabrocham ficam tão lindas sem ser estação da primavera
e tudo começa a ficar com um clima agradável cheirando as floras raras da terra
faço orações agradecendo a Deus por te-la em minha vida
e fico amarradão quando me acorda desejando um bom dia.

Entre nós adoro como agente se completa é como goiabada com queijo
e minhas pernas bambeiam quando sinto o gosto do teu beijo
sua benevolência amor já faz parte de mim
e te digo eita qualidade boa de sentir
e nosso amor é regado a paixão e protegido pelos querubins
e tão intenso que é abençoado pelo exercito de serafins
debaixo das asas dos anjos eu te admiro
tão intensa e radiante com seu brilho.

Entre nós tenho um segredinho você que me desperta o libido
e em seu corpo sacio minha sede com teu afeto não me sinto sozinho
alias tenho outro não tenho medo de dizer TE AMO na frente de todos
e como é apaixonante essa sensação de quando nos amamos
por fim só tenho a dizer que estar com você me torna mais amável
e fico bobo com esse sentimento tão puro e notável 
e em sou sorriso encontrei a luz que precisava
e hoje posso dizer que você é a parte que me faltava...