quarta-feira, 8 de novembro de 2023

D.107.Desculpem-me, sou carnívoro - Um Poeta Vagabundo


                Desculpem-me, sou carnívoro, saboreio cadáveres cozidos, fritos, assados ou grelhados, aprecio aquela  gordurinha  bem tostada de uma picanha ou contra-filé, adoro o cheirinho do frango girando na porta da padaria.               
Pobres bichinhos, escravos, nascidos e criados confinados, detento sem crime, condenados pelo meu paladar, pelo meu bel prazer humano, humanizo a dor, acho normal, justifico –me  “é para comer”, mas é para comer que desmatam as florestas  da Amazônia para criar gado, é para  comer que desmatam o pantanal, cada dia mais assoreado por conta das fazendas , é para comer que mudam a legislação para favorecer pecuaristas, e é para lucrar que morre tanta gente com os efeitos nocivos da carne vermelha e ainda assim é fomentado o seu uso, é para comer que transformam campos e florestas em plantações de soja para gado de gringo comer, enquanto um sem número de humanos morrem de fome, é para comer que as vacas tem suas tetas cheias de pústulas sangrando de tanto serem sugadas, mas nas embalagens de laticínios sempre tem uma vaca feliz, alegre, sorridente  e saudável, nos doando leite cheia de satisfação,   e os pobres touros tem seus testículos  esmagados, mutilados para engordarem rápido,  e os porquinhos, tão inteligentes como os cães,  sentem e percebem seu triste destino, que azar ser um torresminho ambulante, bacon, pernil, costelinha, pururuca, bisteca, que delícia, azar o deles não terem nascido cachorro, de preferência cachorro de madame, melhor tratado que muita gente por aí, sorte dos cães não terem a carne saborosa(embora os chineses apreciem)                
As vezes me pergunto:  se uma  outra espécie   vier do espaço, se elas forem mais fortes e ou mais engenhosas que nós e por isso acharem-se superiores a nós  “humanos” e se colocarem   no topo da cadeia alimentar, seria justo ou lícito nos criar  como seus escravos, forçando-nos a reprodução? Seria legítimo  nos castrar e nos  confinar até o dia em  que resolverem nos matar das maneiras mais cruéis  para depois nos destrinchar, esquartejar  e nos colocar exposto em balcões de açougue?  Seria hediondo girar nossos pedaços em espetos e festejar com nossa carne e dar nossos ossos para os animais “inferiores”?               
Ainda bem que não tenho do que me preocupar, somos o topo da cadeia alimentar.

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