quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

O.139.O Filho do Lubisomen - Eliane F.C.Lima


Havia um grande boato sobre um lobisomem, rondando, à noite. Um disse me disse, um viu aqui, o outro, acolá, ferrolhos na porta, mal escurecia, mesas ajudando a trancar. Uma noite, um deu um tiro no breu, duas botucas vermelhas, olhando, dizia. O bicho sumiu para sempre. Nessa mesma noite, sem mais nem menos, o pai de Honório, depois que todos dormiram, pegou suas roupas e se foi, sem acordar a mulher. Já andava falando em cidade grande há algum tempo. O povo juntou tudo e garantiu que ele era o lobisomem morto, por mais que a mulher mostrasse as roupas sumidas. Honório herdou o destino. Meio sorumbático desde menino pela saudade do pai, as pessoas fugiam dele. “Andar de noite, nem pensar”, implorava a mãe. Um vivente corre menos perigo em uma megalópole do que em estúpido lugarejo do interior. Não namorava, não dançava em festas. Se chegasse à quermesse da igreja com a mãe, o pessoal ia arredando, mudando de barraca. O pobre, sem jeito, desistia e ia embora. Até que chegou ao local uma mulher, cabelos até os ombros, alguns fios brancos. Pensãozinha no banco, muito sisuda e viúva, também do interior, não dava trela a vizinho, ciosa de sua reputação e da língua alheia. Vivia trancada em casa. Mas falaram... e não foi de sua honradez. As conversas eram agora sobre uma bruxa que havia na cidade: ela. O destino, porém, que não quer saber de mitos folclóricos, levou Honório para capinar o terreno de Alzira – a feiticeira –, sem emprego fixo, o coitado, por pura rejeição de todos. E trocou telhas e pintou a casa e acabaram se amando. No casamento, a mãe dele, madrinha, uns poucos primos e primas de outra cidade. E o padre, muito aliviado e abençoando o casal. A cidade, contudo, ainda tinha munição: o assunto então era a dúvida sobre que tipo de tinhoso iria nascer dos dois.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário